O Caminho da Liberdade Interior
Parte 7 - A Morte e o Legado
O discípulo, mais sábio e sereno, contempla os grandes mistérios da existência: a morte e o valor de uma vida vivida com propósito.
O vício, que outrora lhe obscurecia a visão, tornou-se ponto de partida para uma jornada de consciência e transformação.
Neste encerramento, não há fuga, há aceitação, gratidão e o compromisso de deixar marcas no caminho.
A sua travessia torna-se exemplo e o seu silêncio ensinamento para os que ainda procuram sentido.
Mestre… hoje pensei na morte. Não com medo, mas com curiosidade. O que fica quando partimos? O que vale, no fim?
A morte é o último mestre. E o mais silencioso. Ela não rouba — apenas revela. Mostra o que foi essencial e o que foi ruído.
Antes, eu vivia para fugir. Agora, vivo para compreender. Mas será que isso é suficiente?
Se viveste com propósito, é mais do que suficiente. O valor da vida não está na duração, mas na direção. Muitos vivem longos anos sem nunca acordar. Tu despertaste.
E o legado? O que deixo?
O Caminho da Liberdade Interior
Parte 6 - O Tempo e a Vigilância
Mais maduro e marcado pela travessia interior, o discípulo contempla o tempo e a impermanência como verdade da existência. Já não se trata apenas de vencer o vício, mas de sustentar a liberdade conquistada com atenção constante.
Ele compreende que a transformação é apenas o início e que a vigilância interior deve permanecer como farol, protegendo o espírito da distração e do esquecimento.
A sabedoria é agora vivida no silêncio da disciplina e na lucidez da presença.
Mestre… tenho pensado muito sobre o tempo. Ele passa, escorre, transforma tudo. E percebo que até a liberdade é frágil se não for cuidada.
O tempo é como o vento: não o podes agarrar, mas podes aprender a navegar com ele. E sim, até a virtude precisa de atenção constante — como uma chama que se mantém acesa com vigilância.
Às vezes sinto que estou seguro. Que já dominei o vício. Mas depois, num momento de distração, ele sussurra de novo. E percebo que a queda está sempre à espreita.
Porque nada é permanente, nem a força, nem a fraqueza. O sábio não confia na estabilidade — confia na prática. A liberdade não é um estado fixo, é uma escolha renovada todos os dias.
Então, nunca posso baixar a guarda?
O Caminho da Liberdade Interior
Parte 5 - Tornar-se Espelho
Após trilhar o caminho do despertar da consciência, o discípulo já não carrega as marcas da superação.
Fortalecido, partilha o que aprendeu, tornando-se guia para outros que ainda caminham na escuridão do vício.
A sua presença inspira e lembra uma possibilidade viva para todos os que ousam enfrentar a própria escuridão.
Aqui, mestre… algo novo aconteceu. Alguém veio ter comigo. Estava perdido, como eu estive. Falou-me do seu vício, da sua vergonha, da sua vontade de mudar. E eu… escutei. Não julguei. Apenas partilhei o que vivi.
Então agora és mais do que discípulo. És espelho . És ponte.
Não me senti superior. Senti-me igual. Vi nele o que fui. E percebi que o que aprendi não é só para mim — é para ser passado.
O Caminho da Liberdade Interior
Parte 4 - Enfrentar o vício
Ao iniciar o combate ao vício, o discípulo dá um passo corajoso, aplica os ensinamentos do mestre na prática. Cada tentação torna-se uma prova de autodomínio e cada escolha revela a força interior, que não é teórica, é vivida.
Nesse caminho, o saber transforma-se em sabedoria, e a luta torna-se jornada de libertação e despertar.
Mestre, hoje enfrentei a tentação. Ela veio como sempre: suave, familiar, quase amiga. Mas desta vez… eu parei. Respirei. Lembrei-me das tuas palavras.
E o que fizeste?
Não cedi. Não por orgulho, mas por clareza. Vi que o prazer que ela prometia era o mesmo de sempre — curto, vazio, seguido de culpa. E escolhi esperar. Escolhi sentir o desconforto sem fugir.
Então, começaste a ser livre.
Foi difícil. O corpo queria. A mente argumentava. Mas havia uma parte de mim — pequena, mas firme — que dizia: “Não precisas disto.”
Essa parte é a tua razão desperta. Ela estava adormecida, mas agora começa a erguer-se.
Depois senti algo estranho… não foi euforia, nem orgulho. Foi paz. Silêncio. Como se tivesse recuperado um pedaço de mim.
Porque recuperaste. Cada vez que escolhes a tua liberdade em vez do impulso, reconstróis-te. Não és apenas alguém que resiste — és alguém que se transforma.
Mas sei que ela voltará. A tentação. O impulso.
Claro que voltará. Mas agora tu sabes que tens escolha. E isso muda tudo. O vício perde força quando deixas de ser seu prisioneiro e passas a ser seu observador.
Então a luta continua?
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Parte 3 - O Primeiro Passo
No combate ao vício, o mestre orienta o discípulo para despertar a consciência, ao enfrentar as raízes emocionais e mentais que sustentam a dependência.
Cada passo, nesta jornada, é um ato de libertação, onde a dor é acolhid e a força emerge.
É o início de um novo olhar sobre si mesmo.
Mestre, como sei que estou a mudar? Que estou a sair do ciclo?
Quando deixas de lutar contra o vício como se fosse um inimigo, e começas a escutá-lo como um mensageiro. A mudança começa quando há compreensão, não apenas resistência.
Mas às vezes sinto que estou a dar passos para trás.
O caminho não é uma linha reta. É como subir uma montanha com nevoeiro. Às vezes tropeças, às vezes perdes a vista do cume. Mas cada passo consciente é uma vitória — mesmo que pareça pequeno.
E o desejo… ele não desaparece.
Não precisa desaparecer. Precisa ser compreendido. O desejo é energia — pode destruir ou pode construir. Quando o dominas, ele torna-se força criativa.
Então posso transformar o vício em algo útil?
Podes transformar a tua dor em sabedoria. O impulso em disciplina. A repetição em ritual. O mesmo fogo que queima pode aquecer — depende de como o usas.
E como mantenho essa clareza?
O Caminho da Liberdade Interior
Parte 2 - A Compreensão da Raiz
Combater o vício não é apenas romper com um hábito, é mergulhar nas camadas profundas da mente e da memória, onde vivem os traumas e padrões que sustentam a dependência.
Ao encarar a raiz do vício, o discípulo começa a despertar a consciência, abrindo espaço para escolhas mais livres e ações mais autênticas.
Mestre… e se o vício for tudo o que conheço? Se ele for o único alívio que tenho?
Então estás a viver com uma bengala que te impede de andar. Parece apoio, mas enfraquece-te. O verdadeiro alívio não te prende — liberta-te.
Mas sem ele, sinto um vazio. Um silêncio que me assusta.
É nesse silêncio que começa o teu reencontro contigo mesmo. O vício fala alto, mas não diz nada. O vazio parece escuro, mas é fértil. É nele que podes plantar algo novo.
Disciplina. Propósito. Relação contigo próprio. Não precisas de grandes gestos — apenas de pequenos atos repetidos com consciência.
Mas às vezes sinto que não sou forte o suficiente.
A força não está em nunca sentir fraqueza. Está em não te deixares definir por ela. Cada vez que escolhes a razão em vez do impulso, estás a fortalecer o músculo da liberdade.
O Caminho da Liberdade Interior
Diálogo sobre o vício, o tempo e o sentido da vida.
Texto João Zarco
Parte 1 de 7 - O Início da Jornada
O vício é como uma névoa silenciosa que se instala sobre a mente. Obscurece escolhas e aprisiona o espírito.
Neste diálogo o mestre desvenda ao discípulo não apenas os mecanismos que sustentam a prisão invisível do vício, mas também os caminhos para reencontrar a liberdade interior.
Mestre, sinto-me fraco. Há um vício que me domina. Tento resistir, mas volto sempre ao mesmo.
Então estás doente, mas não perdido.
Doente?
Sim. O vício é como a febre — não é o mal em si, mas o sinal de que algo dentro de ti está em desequilíbrio.
Mas a febre queima. E o vício também.
A mente mente. Nunca negoceies com ela, pois é excelente a contar mentiras convincentes, especialmente a ti próprio.
Cada vez que argumentas com a mente, cais no autoengano. Perdes tempo, claridade, força. Ela deve de seguir ordens, não comandar.
Se, num momento de dúvida, abrires a porta ao diálogo com a mente, não te estás a preparar para seguir em frente, mas para falhar.
Sabes como a negociação mental começa. Primeiro justifica, depois minimiza, encontra atalhos e, no fim, faz-te desistir.
A mente é persuasora. Conhece-te. Sabe como usar as tuas fraquezas com lógica.
Se a mente mente e boicota os teus objetivos todos os dias, porque confias nela?
Confias porque dá-te boas ideias. Inventa. É altruísta e orienta-te quando erras.
Confias na mente porque é tudo o que tens. Cria histórias para interpretar o mundo e os teus sentimentos. Mesmo que essas narrativas sejam distorcidas, dão-te direção.
No entanto, a mente é especialista em contradições. Diferentes partes têm desejos opostos e sem consciência, essas partes entram numa guerra silenciosa.
Deseja segurança com liberdade, amor sem intimidade. Quer ser autêntica, mas teme ser julgada. Apetece-lhe aventura, mantendo a rotina e a zona de conforto. Quer estar só, com espaço e silêncio, mas sente o vazio. Anseia por ser amada, mas sem mostrar vulnerabilidade. Sonha com independência, exigindo segurança. Anseia por paz e alimenta conflitos internos. Rumina, julga e comparar.
Estas contradições existem, porque a mente não é uma entidade única. É um conjunto de vozes, com desejos e medos contraditórios.
O segredo está em não confiar na mente. As armadilhas constantes, a que ela te sujeita, têm origem na evolução humana. Foi moldada para te proteger, não para te mostrar a verdade. Ela evita o desconforto para preservar a energia e garantir que o ser humano sobreviva numa sociedade com pouco alimento e com muito exercício, o que é completamente contrário ao que acontece nos dias de hoje.
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Lidamos com as emoções à flor da pele. Acumulamos frustrações de tal forma, que uma pequena contrariedade nos mergulha num estado emocional sombrio.
A revolta surge como uma reação de oposição a algo considerado injusto. Pode ser externa, associada à indignação social ou política, ou interna, formada pelo desacordo dos nossos desejos.
A revolta interna acontece quando duas partes de nós estão em discórdia. Uma procura equilíbrio e bem-estar, a outra mantém-se agarrada a impulsos que nos seduzem.
O ser humano é complexo. As vozes da razão e da emoção nem sempre falam em concordância.
A consciência sabe que algo nos prejudica. Queremos mudar e, ao mesmo tempo, manter o que nos dá prazer imediato.
Revolta-nos as injustiças, conflitos pessoais, morte, doença, falta de liberdade, dificuldade em perdoar.
Revoltamo-nos a traição, promessas não cumpridas, violência, destruição ambiental, guerra.
A família despoleta também muitos sentimentos de revolta. A comparação, crítica, falta de reconhecimento ou favoritismos são algumas das razões que estimulam a revolta no seio familiar.
Na filosofia estoica, a revolta interior acontece quando resistimos à realidade e desejamos que o mundo se comporte segundo os nossos caprichos e não conforme a sua natureza.
Esta postura gera sofrimento inútil. Por mais que tentemos, nunca alteramos o que está fora do nosso alcance, o comportamento alheio, a sorte, a saúde, o passado.
Epiteto diz-nos que ficamos revoltados por exigirmos do universo uma justiça ou um conforto que ele nunca nos prometeu.
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A ansiedade alimenta a ansiedade e caracteriza-se por uma preocupação excessiva. Acompanhada de tensões físicas e psicológicas, relacionadas com a perceção de um perigo, é uma resposta saudável a desafios, mas facilmente ultrapassa os limites e se torna crónica. O batimento cardíaco acelera e surge a falta de ar, dores no peito e dificuldade de raciocínio.
As causa mais comuns da ansiedade incluem o medo do futuro, insatisfação com o passado, problemas financeiros, eventos traumáticos ou mudanças na vida.
O estoicismo oferece ferramentas eficazes para lidar com a ansiedade, enfatizando o foco no presente, o controlo das emoções e a aceitação da incerteza do futuro.
O caminho para lidar com este problema passa por aprender a distinguir a realidade da perceção e a dominar os pensamentos negativos.
Os pensamentos distorcidos, também chamados de distorções cognitivas, são padrões de pensamento que influenciam negativamente a interpretação da realidade. Por exemplo, a catastrofização assume o pior cenário possível. Julgamos que se cometermos um erro no trabalho somos despedidos ou se não nos comportarmos de determinada maneira seremos odiados. Outro exemplo de pensamento distorcido é o ilusão de estar sempre certo, que nos leva a esforçar-nos a provar que as nossas opiniões e ações são as corretas.
Estas e outras distorções cognitivas intensificam a ansiedade, criando um ciclo de preocupação e sofrimento emocional.
Para além de questionar os pensamentos distorcidos, devemos verificar se a ansiedade surge por algo que não controlamos. Se assim for, focamo-nos apenas no controlável, as nossas ações, pensamentos e reações. O que está fora de controlo, o futuro e a opinião dos outros, não deve consumir a nossa energia.
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O ritmo frenético da sociedade moderna têm impacto na saúde mental. A pressão para ser produtivo, a constante exposição a estímulos digitais e a falta de tempo para descanso criam um ambiente propício ao desenvolvimento de transtornos psicológicos.
Para além dos normais fatores que melhoram a saúde mental, exercício físico, sono, alimentação equilibrada e bons relacionamentos, interessa-nos o contributo do estoicismo para a promoção do equilíbrio emocional.
Esta filosofia é um complemento valioso para as terapias de saúde mental, embora não substitua o aconselhamento médico.
Somos seres humanos pouco adaptados à sociedade atual, que nos sobrecarrega de informação, nos expõe excessivamente à tecnologia e impõe altos padrões de beleza e de felicidade.
Melhoramos a saúde mental quando aprendemos a aceitar o que está fora do nosso controlo.
Gastamos quantidades imensas de energia com o que não controlamos. Não conseguimos alterar o facto de nem todas as pessoas gostarem de nós, mas sofremos com isso. Reclamamos com as inevitáveis tarefas domésticas. Martiriza-nos a doença, a morte de pessoas queridas, o fato de que todos cometem erros. Angustia-nos o envelhecimento, o não termos tudo o que queremos, as regras no trabalho, a hora de acordar, a personalidade dos outros, a existência de problemas inesperados.
Todos estes aspetos são incontroláveis, mas permitimos que nos roubem energia, nos esgotem e adoeçam mentalmente.
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A energia humana não se manifesta apenas fisicamente, mas também na força emocional e na intensidade dos pensamentos. O modo como direcionamos esta energia afeta as relações, o bem-estar e a capacidade de superar desafios.
A energia emocional é uma força que impulsiona o comportamento e o estado de espírito. Pode ser positiva, quando sentimos alegria ou entusiasmo, ou negativa, perante a raiva ou a tristeza.
Já a energia utilizada pela mente apresenta-se como o combustível do pensamento.
As energias mentais e emocionais estão conectadas. O entusiasmo promove a concentração, o stresse e a ansiedade anulam a criatividade e prejudicam o raciocínio.
Evitar perdas de energia é essencial, pois dela depende a saúde, a produtividade e o bem-estar.
Poupamos energia quando aceitamos o que não controlamos e nos empenhamos no momento presente. Reviver o passado gera depressão, projetar o futuro promove a ansiedade.
Poupamos energia quando evitamos discussões, mantemos a calma diante dos desafios e dizemos não a sobrecargas de trabalho.
Do ponto de vista estoico, praticar a dicotomia do controlo é essencial para impedir o gasto desnecessário de energia. Aceitar o que está fora do nosso alcance impede o desgaste causados por preocupações infundadas.
Perante as adversidades, separa-nos das emoções é outra forma de preservar a energia.
Assumir uma postura de observador dos pensamentos e das emoções permite analisar os eventos com mais clareza. Este distanciamento intencional evita a ruminação mental, que drena energia e nos prende a uma espiral de preocupações.
Segundo o estoicismo devemos aceitar que o cansaço faz parte da experiência humana e não esperar pela vontade de agir. Simplesmente, fazer o que precisa de ser feito, pois a ação gera motivação.
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A vingança surge como uma reação emocional diante duma injustiça.
Está associada ao desejo de retribuir, ao suposto agressor, o sofrimento que causou.
A vingança não traz satisfação. Leva a um alívio temporário, mas prolonga o sofrimento e impede o crescimento pessoal.
O estoicismo defende que a melhor resposta a uma injustiça é manter a serenidade e agir conforme a razão.
A vingança e a raiva estão profundamente conectadas. Quando a raiva não é controlada, produz o desejo de vingança, gerando um ciclo destrutivo que mantém a mente presa ao sofrimento.
Marco Aurélio aconselha a responder ao mal com o bem e a não permitir que as ações injustas dos outros corrompam a nossa conduta.
Vivemos numa sociedade organizada, onde as grandes injustiças são menos frequentes. No entanto, o sentimento de vingança surge em pequenas disputas do dia a dia.
Enganam-nos numa compra, barafustamos como o vendedor. Apropriam-se do mérito do nosso trabalho, denunciamos o oportunista. Recebemos uma encomenda errada, protestamos com a empresa de entrega. Passam-nos à frente numa fila, reagimos agressivamente.
As relações familiares também desencadeiam sentimentos de injustiça. Laços de sangue não garantem a harmonia. O nível de intimidade leva a que pequenas contrariedades tenham um forte impacto emocional e se transformem em reações conflituosas.
Pequenos detalhes facilmente se transformam em gatilhos, que despoletam o desejo de vingança e criam rancores domésticos.
Algo simples, como a casa desarrumada ou um tom de voz agressivo geram raiva explosiva, amuos prolongados, sarcasmo, indiferença ou fuga ao diálogo.
Estes comportamentos não resolvem problemas, Prolongam a infelicidade no lar, aprofundam distâncias nas relações e criam ressentimentos.
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A impulsividade é a tendência de agir sem pensar nas consequências, movido pela emoção.
Em condições normais, o cérebro analisa uma incidente antes de tomar uma decisão. Recebe informações do ambiente, compara-as com experiências anteriores, efetua uma avaliação, para prever consequências, e, por fim, escolhe a melhor ação a ser tomada.
Num ato impulsivo, este processo é ignorado, levando a reações imediatas, conflitos e arrependimentos.
A impulsividade tem raízes na evolução humana como um mecanismo de sobrevivência. O corpo, ao perceber uma ameaça, ativa o estado de luta ou fuga, amplamente detalhado no episódio 36 deste podcast.
Atualmente, existem poucas situações de perigo ou emergência, no entanto, teimamos em ativar este estado de alerta desnecessariamente, injetando no corpo grande quantidades de cortisol, que nos torna agressivos e prejudica a tranquilidade.
Na filosofia estoica, a impulsividade é vista como uma fraqueza. Valoriza-se a autodisciplina e a razão, como guias para uma vida equilibrada, acreditando que o agir impensado afasta-nos da virtude e da paz interior.
Segundo Marco Aurélio, a sabedoria consiste em educar as paixões e a razão.
A impulsividade provoca sofrimento desnecessário, enquanto o autocontrolo e a reflexão levam ao conhecimento interior.
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A tranquilidade é um estado em que a mente e o corpo encontram paz e equilíbrio e é essencial para alcançar a sabedoria e a felicidade.
É como um lago calmo a refletir o céu azul. Sem pressa. Sem ruído. Onde tudo flui sem resistência.
No estoicismo, a tranquilidade não se encontra presa a momentos, mas em todas as situações do dia a dia.
Manter a tranquilidade na sociedade moderna, que aprecia o apego material, é um desafio enriquecedor.
A valorização dos bens materiais, como símbolos de sucesso, dificulta a nossa tranquilidade. No entanto, há maneiras de cultivar a paz interior mesmo nesse contexto.
É comum julgar que só vivemos sem preocupações se possuirmos poucos bens, mas tal não acontece.
Ao aplicar os princípios estoicos, verificamos que sofrer quando perdemos algo, quando somos roubados ou enganados é uma penosa forma de encarar o sucedido.
Como posso estar tranquilo perante um roubo, um telemóvel perdido ou um computador estragado?
Com posso não me incomodar com o desaparecimento dumas chaves, o extravio de uma encomenda ou o tempo desperdiçado numa fila de espera?
Epiteto responde de forma admirável a esta dificuldade, com exemplos do seu tempo: Uma gota do teu óleo derramou? A tua sopa foi roubada? Diz para ti mesmo: “Este é o preço a pagar pela liberdade da paixão! Este é o preço de uma mente tranquila!'
Esta maneira de encarar a perda, demonstra de forma perfeita, que é possível aceitar contrariedades como parte natural da vida, sem deixar que perturbem a paz interior.
No estoicismo, o foco está no controlável, na nossa reação e no aceitar serenamente o que está fora do nosso alcance.
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A mente é naturalmente inclinada a projetar aspirações no futuro. Sonhamos com um amanhã próspero, mas esta é uma promessa que se pode ou não cumprir, conforme desejamos.
Ao colocarmos a paz interior no porvir, tornamo-nos reféns da desilusão e ansiedade.
Na filosofia estoica, desejar o futuro é uma armadilha que nos afasta da serenidade.
A felicidade não deve depender de algo que pode ou não acontecer. É como desejar que o vento empurre um barco na direção certa, sem ajustar as velas.
Séneca, na frase “Deixarás de temer quando deixares de ter esperança” alerta para os perigos de antecipar realizações.
Epiteto, por sua vez, reforçava a ideia de que o que está fora do nosso controlo não deve ser fonte de sofrimento.
A expetativa e a esperança causam desconforto porque projetam um futuro incerto. Enquanto a expetativa envolve uma antecipação de um acontecimento provável, a esperança manifesta-se num desejo de que algo positivo aconteça, sem uma garantia concreta.
Quando estudo para um exame, tenho a expetativa de atinfir uma boa classificação. Se não me preparo, ainda assim, mantenho a esperança que o exame irá correr bem.
Ao candidatar-me a um emprego, perante uma entrevista perfeita, tenho a expetativa de ser selecionado. Se não recebi qualquer resposta, mantenho a esperança de ser escolhido.
ouvir episódio 032 dicotomia do controlo
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O estoicismo é uma filosofia que ensina a virtude, o autocontrolo e a aceitação como caminho para a felicidade.
Com um imenso potencial para ultrapassar problemas modernos, surpreende por ser uma filosofia simples e prática.
O estoicismo é fácil, independentemente da formação, capacidade intelectual ou estilo de vida de cada indivíduo.
Para praticar esta filosofia, o estoico apenas necessita de compreender dois princípios: dicotomia do controlo e separar-se das emoções.
A dicotomia do controlo divide o controlável do incontrolável, a separação das emoções evita decisões impulsivas e fortalece a inteligência emocional.
A dicotomia do controlo encontra-se detalhada no episódio 32 deste podcast.
Controlamos apenas pensamentos e ações. Não controlamos tudo o resto, acontecimentos externos e atitudes dos outros.
Não compreender esta separação resulta em angústia e desgaste emocional.
Iludimo-nos ao imaginar que modificamos as leis do Universo, mas ele é indiferente à nossa vontade.
Por muito que me queixe, nunca altero o passado. Por mais que sofra, perante uma ofensa, não transformo o comportamento dos outros.
Posso sentir frustração de manhã à noite, mas essa dor não para o envelhecimento, não melhora o clima, nem traz de volta um emprego perdido.
Posso viver angustiado para o resto da vida, que a angústia não devolve um amor não correspondido ou um familiar falecido.
Nas relações humanas, posso viver em discórdia, mas a discórdia não altera as pessoas com quem partilho a vida.
Em vez de combater o que não controlo, aceito tudo o que acontece, pois faz parte do curso natural da existência. Não adianta lutar contra o inevitável. O melhor é viver satisfeito com o que me é dado.
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O sofrimento é uma experiência que envolve dor ou desconforto e pode ser físico, emocional ou psicológico.
Na filosofia estoica, o sofrimento é inevitável, mas a mameira como o interpretamos é que determina a influência que tem na forma como vivemos.
Surge pela doença, perda, ansiedade, conflitos externos ou internos e manifesta-se de várias formas, como tristeza, angústia, medo, raiva ou desespero.
Para os estoicos, o sofrimento surge ao atribuir importância exagerada a coisas externas, ignorando que o verdadeiro poder está nas nossas atitudes.
Só sofremos com o que nos incomoda. Se nos incomoda é porque estamos perante uma fraqueza, uma debilidade que precisamos de dar atenção para sermos pessoas mais capazes.
O sofrimento é, portanto, um alerta, uma campainha que sinaliza o caminho que, no momento, necessitamos de percorrer.
Se estivermos atentos à mensagem do sofrimento, se encontrarmos significado na dor e não a abafarmos com distrações, álcool, ansiolíticos ou compras supérfluas, desenvolvemos uma incrível capacidade de resiliência, para superar momentos mais difíceis.
Há diversas causas para o sofrimento. Relações humanas, desejo, medo, apego e pensamentos ruminantes, mas todas são alimentadas pelo pensar e o agir.
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O não é uma palavra que estabelece limites e é essencial para o crescimento pessoal.
Para Marco Aurélio, saber quando dizer não, é um sinal de sabedoria.
Se nunca disséssemos "não" a nada, a vida tornava-se insustentável, por falta de limites e por sobrecarga mental e emocional. Dizer "não" é crucial para proteger o nosso bem-estar e dar prioridade ao que importa.
Dos 60 mil pensamentos que temos por dia, metade são decisões conscientes ou inconscientes. Dizer sim ou não a estas decisões influencia a qualidade de vida de cada um.
Podemos dizer não a solicitações exteriores, como convites, críticas, compras ou interiores, a desejos, distrações, angústia, raiva, impulsividade.
No estoicismo, dizer "não" a certas emoções e ao que está fora do nosso controlo é um pilar fundamental desta filosofia.
Dizer "não" às emoções que nos aprisionam, como culpa, raiva ou medo, é um ato de libertação pessoal, que nos permite investir a energia em objetivos e sentimentos mais construtivos. É também uma forma de aceitar que há aspetos da vida fora do nosso controlo, o que, por si só, alivia a ansiedade e reduz frustrações desnecessárias.
várias versões queres ser livre
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O projeto estoicismo 2.0 possui um canal musical, cujo link se encontra na descrição deste podcast.
O canal difunde música estoica, assente no desenvolvimento da capacidade de lidar com as circunstâncias da vida.
A música molda o comportamento humano. É, portanto, uma ferramenta poderosa para integrar hábitos estoicos e distinguir o que controlamos, como os pensamentos e as ações, e o que não controlamos, como o comportamento dos outros e os acontecimentos externos.
A música estoica desafia a mente a estar presente no aqui e no agora, com mensagens claras de como orientar as interpretações que fazemos do mundo.
A canção “Queres ser livre?” oferece uma excelente solução para qualquer incómodo emocional:
Queres ser livre?
Para a liberdade
Só há um caminho
O desprezo das coisas
Que não dependem de ti
Todos queremos ser livres, mas o que é ser livre?
Ser livre é agir e pensar sem imposições externas ou sem imposições internas?
Ser livre é viver de acordo com a vontade ou contrariamente à vontade?
Para Epiteto, quanto mais desejamos, menos livres somos. Este filósofo ensina que a liberdade surge quando escolhemos como reagir aos desafios que o mundo nos coloca.
Quem faz o que quer, quem segue os seus desejos, não pode ser livre!
Ser livre significa não ser escravo da vontade e desprezar as coisas que não dependem de nós.
“Para a liberdade
Só há um caminho
O desprezo das coisas
Que não dependem de ti”.
O caminho para a liberdade varia de acordo com a experiência de cada indivíduo. Na perspetiva estoica, só há um caminho, que é “O desprezo das coisas que não dependem de nós!”