Nossa história começou em 1989, quando fizemos o antigo segundo grau juntos - éramos amigos, muito amigos, daquele tipo que um guardava o lugar para o outro na sala.
Naquele tempo, era feio a menina mostrar interesse pelo rapaz, ou melhor, se declarar apaixonada. Então eu fiquei esperando a iniciativa dele!
Acabamos o colégio e nada aconteceu - achei que, por eu ser muito levada, gostava de fazer bagunça, isso o afastava de mim.. Ah! Lembrando que eu tinha um namorado e ele uma namorada (eu não gostava desse namorado).
E fomos viver nossas vidas. Nos anos 90 não tinha Internet como hoje, nem celular, facebook e insta nem se fala. Sem nenhuma rede social!
Quando o Orkut surgiu, nos encontramos aleatoriamente. Ele estava casado e eu namorando; ele gordo e barrigudo e eu muito linda!! kkkkkkk
Tinha meus 36 anos. Demos um oi e só.
Aos 42 encontrei um amigo que estudou com a gente e ele teve a ideia de juntar a turma, fazer um encontro. Cada um tinha uma pessoa da turma como amigo e fomos nos juntando num grupo no WhatsApp.
Formamos 12 pessoas, organizamos um jantar de reencontro e foi tudo muito legal. Lembramos da nossa época de estudantes, nossos professores, histórias engraçadas - até as 2 horas da madrugada.
Mas antes do dia do jantar é que tudo mudou pra mim. Ele me chamou no privado e disse: “sabia que eu era apaixonado por você na escola?” Rapidamente respondi: “eu também”.
E começou um grande desenrolar de paixão. Minha vida mudou por completo - antes, eu estava solteira, morava com meu filho, dedicava muito tempo ao trabalho. Meus dias nunca mais foram os mesmos, ficávamos até uma, duas horas da manhã conversando.
Foi um grande aquecimento para o dia do jantar. Quando esse dia chegou, nosso encontro foi avassalador - uma paixão, um amor, um grude, uma sensação de muita alegria, tudo brilhava - pra mim e pra ele.
Nosso ritmo continuou acelerado e em 4 meses estávamos morando juntos na minha casa.
Ele me levava até o metrô e me buscava todos os dias. Me protegia, cuidava de mim como nunca fui cuidada por um homem.
Tomou tudo pra ele, não só meu coração mas também tudo que eu tinha em casa para pagar - eu já não pagava nada, só o que era do meu filho.
Ele muito bem empregado, me ofereceu muitas coisas boas, viagens, conforto - não que eu não tivesse, mas eu não podia fazer tantas coisas ao mesmo tempo sem um planejamento. Eu tinha, enfim, a vida que eu queria ter - tudo do bom e do melhor sem pagar nada, meu dinheiro era só meu e para o meu filho.
Tudo ia muito bem até que aconteceu algo que eu não esperava - ele não queria casar. Foi um balde de água fria. Isso me deixou triste e me abalou bastante - por muita força ele casou, mas não foi só por minha causa. Ele decidiu pedir transferência para o interior de São Paulo e eu disse que só iria casada. Nos casamos em 2017!
Chegamos dia 4 de fevereiro de 2019 no interior. Esse também foi o ano em que o meu casamento começou a ruir - foi quando ele começou um relacionamento extraconjugal.
Tudo caiu pra mim, eu não acreditava no que estava acontecendo - ele chegava em casa todo arranhado, com marcas pelo corpo e DIZIA QUE ERA O PINGENTE DO CORDÃO QUE ARRANHAVA.
Um dia que não estava nem muito frio ele colocou uma meia. Achei estranho porque ele tem 140 kg. Pra ele sentir frio tem que estar muito frio. Bem, passou um tempo e ele achou que eu ia esquecer - olhei o pé dele e tinha uma marca roxa enorme.
Eu perguntei o que era e ele me respondeu: “Ué, marca de nascença”.
É pra matar qualquer uma.
Eu respondi: “Eu conheci você com 14 anos, fazia natação com você e nunca vi essa marca. Durmo com você há anos e nunca vi essa marca”
...[por conta do limite de 4000 caracteres o restante da história está apenas no áudio]
Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, para cuidar de todas de uma vez! Manda a sua história pra mim: ghostwriter@maabbondanza.com
Quando a postagem sobre o podcast Sozinha de Si chegou ao meu Instagram, pensei: quero escrever. Escrever sempre foi minha forma de cura e de liberdade.
Por muitos e muitos anos vivi um relacionamento abusivo, controlador e narcisista.
Eu tinha 15 anos quando o conheci. Começamos a namorar em 23.10.1992. Desde o início ele demonstrou ciúmes louco. Doentio. Fazia eu trocar de roupas. E perdi todas as minhas amizades. Principalmente as masculinas.
Com 17 anos estava grávida. Primeira relação. Primeiro contato. Primeiro tudo. Descobertas.
Ele gritava comigo.
Bebia.
Me fazia repetir a história diversas vezes.
Me falava que eu fazia isso.
Que fazia ele fazer isso
Se eu estava apaixonada? Hoje sei que não. Adolescente e autoestima baixa. Necessidade de viver tudo com intensidade e sem orientação. Sem educação sexual. Entregue de corpo e alma a um relacionamento doentio, com uma pessoa doentia (ele tomava medicação controlada desde os 11 anos, se sentia “o rejeitado” e nunca obteve um diagnóstico correto de sua doença).
Tínhamos a mesma idade, mas ele falava que eu era mais experiente, que eu o manipulei e que fiquei grávida para o segurar. Eu? A última coisa que queria era ser mãe e a penúltima era casar. Falava também que eu não estava grávida dele. Que o usei.
São tantas as histórias e momentos de dor que me lembro, que poderia escrever vários livros.
Vou escrever uma delas. O dia que corri, corri muito, muito. Para bem longe dele, mas ainda não foi o suficiente para eu ser livre.
Era fevereiro de 1994. Calor. Carnaval. Minha cidade do interior lotada como sempre. Tínhamos o carnaval mais intenso e melhor da região.
Eu estava com 4 meses de gravidez. Minha barriga já aparecia. Estava com um vestido de flores coloridas grandes e fundo vermelho. Rabo de cavalo. Eu amava esse vestido. Ficava bonita nele. Meu pai falava que ficava linda grávida com ele.
A rua cheia, o som do batuque e músicas de carnaval.
Eu, angustiada porque não queria estar ali, minha barriga grande, medo que acontecesse alguma coisa, porque ele era totalmente imprevisível.
Medo dos gritos dele me culpando porque teria olhado para alguém ou qualquer coisa parecida.
Ele bebia, e isso me deixava mais vulnerável às agressões dele.
O som do carnaval, os gritos dele, as pessoas olhando, ele segurando no meu braço, minha barriga grande, meu vestido vermelho de flores. Neste momento me virei e corri. Corri. Ele me alcançou, me puxou pelo meu rabo de cavalo. Lembro do tranco para trás; mas mesmo assim não parei, peguei mais fôlego e corri mais, mais...
Morava em um local que precisava subir um aclive, era o "morro do colégio Lameira". Corri muito naquele morro. Corri. Eu não olhei para trás, mas sei que ele estava lá. Correndo atrás de mim. Eu não olhei para trás.
Até chegar à porta da minha casa. Entrei suada, chorando, correndo e descabelada. Mas hoje, e agora escrevendo, entendo porque me senti feliz e livre. Porque eu corri. Eu tive coragem.
Olhei pela janela e ele ficou a noite toda, até o amanhecer, sentado lá embaixo na subida do morro esperando eu sair. Eu não sai. Eu corri dele. Eu tive coragem
Se pudesse voltar naquele dia e momento, eu diria para aquela menina de 17 anos, grávida de 4 meses que ela não precisava ter medo dele. Que ela tinha escolhas, sim, que ela não era ele. Que ela poderia viver tudo que ainda queria viver, que ela sim, poderia ser uma escritora, que ela, sim, poderia fazer a faculdade de jornalismo, que ela, sim, era forte. Que seria feliz.
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Gosto muito do conteúdo da página, poderia virar um livro.
Sou uma mulher autista e aos 34 anos queria muito ser mãe, mas ninguém se interessava por mim, não conseguia um casamento. Um colega de trabalho me pediu em casamento repentinamente, havia boatos que ele gostava de mim, eu não tinha certeza. Aceitei o pedido e em menos de seis meses estava casada e grávida do meu filho José Renato, hoje com 13 anos.
No início do casamento achei estranho que de cara ele não deixava eu sair sozinha, dizia que casamos para vivermos juntos, sairmos juntos, estarmos juntos. Não era um homem carinhoso, nem atencioso, mas gostava muito de sexo, mas de forma muito fria. Eu não me importava, não tinha tido outros parceiros e não sabia que aquilo não era normal para quem dizia amar tanto.
Nascido o meu filho, fui trabalhar certa vez e deixei o bebê com ele muito doente, quando cheguei meu filho chorava muito e ele estava trocando mensagens por sms que era o que tinha na época com uma colega do trabalho dele, mensagens que pareciam estar me traindo com ela, mas na hora pensei no meu filho, discuti um pouco com ele e deixei o assunto pra lá.
Tive o segundo filho dois anos depois, Samuel com 11 anos agora, Samuel bebê ainda peguei mensagens novamente dele com uma moça do trabalho, essas já declarando um caso explicitamente, passado dois dias ele foi internado com grave problema no nervo ciático e ficou quase um ano sem andar, o caso foi esquecido.
Depois que ele melhorou começaram as ofensas, ele dizia que eu era feia, mal arrumada, sem graça, que se não fosse ele ninguém iria se casar comigo, se ele me largasse ninguém mais iria me querer, que me achou largada na rua. Depois começou a fazer passeios só com os filhos e eu ficava sempre em casa, moramos na praia, ele nunca me levava, era assunto de homem ele dizia, assim minava minhas forças e autoestima.
Começaram as dívidas, ele fez três cartões de crédito com valores altos e estourava todos todos os meses e não conseguiamos pagar, me pedia para fazer empréstimos no meu nome para ajudar, assim me endividou muito.
Ao me ver totalmente derrotada como pessoa, toda endividada, confessou que tinha outra mulher, na hora pedi a separação e não quis mais, senti que era a hora da minha libertação. Ele se recusou a sair de casa, disse que ali estava a sua esposa e filhos e jamais sairia, eu me recusei a ter intimidades com ele, deixei claro que não continuaria aquele casamento.
Ele passou a ser agressivo, sabia meus gatilhos e como provocar crises características do autismo, me dopava e eu ficava no quarto, deitada por dias, sem alimentação e meus filhos presenciando tudo. Dizia para ele que isso não adiantaria que eu não iria ceder, ele começou a bater nos meus filhos, racionar comida, dar comida azeda e repetir o cardápio o mês todo.
Eu não cedi, um conselheiro tutelar para quem pedi ajuda me aconselhou a denunciar, caso contrário seria cúmplice dos maus tratos às crianças e poderia perder a guarda, assim fiz, no mesmo dia consegui medida protetiva e a polícia tirou ele de dentro de casa.
Depois disso ele continuou me ameaçando e perseguindo, obtive mais duas medidas protetivas, por fim após 5 meses de separação ele pediu vistas dos filhos, passado 3 meses, ele agrediu fisicamente e de forma grave o filho menor. Registrei BO e fiz a representação criminal.
Após 2 anos de separação ainda luto com dificuldades na justiça para o fim de todo o processo de divórcio e questões relacionadas aos filhos, um processo desgastante, estressante e posso até dizer violento que irá deixar sequelas dolorosas em mim e nos meus filhos.
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Durante a infância, o alcoolismo do meu pai aterrorizava meus dias, juntamente com a escassez de comida. Quando eu tinha treze anos, a minha mãe separou do meu pai.
Casou logo em seguida. O que faz uma mulher casar logo em seguida a um casamento extremamente violento? Não sei.
Eu não tive tempo de respirar fundo, iniciou outro tormento, os abusos do meu padrasto. Logo no início ele demonstrou que gostava de abusar de garotas. Quando minhas amigas iam pra minha casa ele ficava passando a mão nas nádegas delas. E por várias vezes, eu acordava com ele alisando as minhas pernas.
Eu falava pra minha mãe, mas ela não acreditava em mim.
Aos 14 anos conheci o homem que idealizei, que dizia não gostar de bebidas alcoólicas e que me amava. Casei com ele muito jovem, aos 17 anos. Eu esperava encontrar no meu marido o companheirismo, a cumplicidade e a proteção que tanto precisava. Sim, eu esperava me sentir segura, já que o meu pai e a minha mãe não me ofereceram essa segurança.
Não quero me aprofundar sobre os 17 anos de casada, quando convivi com o que eu mais temia: o alcoolismo do meu marido, os estupros maritais, o desprezo, as humilhações. Nunca fiz terapia, mas hoje eu posso dizer que perdoei o meu pai, o meu padrasto, a minha mãe e o meu ex marido.
Mas falta eu me perdoar por ter viajado no carnaval de 1997. A minha cunhada, irmã do meu ex marido, me convidou para ir para uma cidade do interior pra passar o carnaval, já que eu iria ficar sozinha em casa com o meu filho, que na época tinha 1 ano e meio. O meu marido ia curtir o carnaval em outra cidade.
Eu adorava uma blusa preta que tinha a frase Noite do terror. Viajei com ela. Foi essa blusa que um sujeito usou para cobrir o rosto enquanto destruía o brilho da minha vida. Por volta das 20hs, a minha cunhada foi curtir o carnaval com o marido e os amigos. Eu fiquei na residência, assistindo tv na sala.
Eu e meu filho caímos no sono ali mesmo, meu filho dormindo por cima de mim. Eu acordei com uma pessoa passando a mão nas minhas partes íntimas. Apontando uma arma pra mim, falando pra levantar devagar pra não acordar meu filho, ameaçando atirar no menino caso isso acontecesse.
Durante todo aquele terror, eu só conseguia pensar na hipótese do meu filhinho acordar.
Não sei exatamente quanto durou o ato, que pra mim foi uma eternidade. Ao escutar o trinco da porta abrindo juntamente com as vozes do pessoal chegando, de imediato, tentei gritar alto, mas o meu choro abafou. O pessoal correu atrás do criminoso, mas não conseguiram pegá-lo.
A noite de terror não parou ali, tinha a segunda parte. Fui conduzida a uma delegacia caindo aos pedaços. Dois policiais homens me interrogaram. As perguntas foram sádicas, cheias de acusações e insinuações. Me acusaram de conhecer o abusador, de ser amante dele. Eu fui vítima de violência sexual, me sentia desolada, dilacerada e saí da delegacia pior, me sentindo culpada, suja e um lixo. Fui julgada, humilhada. Nunca pensei encontrar tanta maldade numa cidade tão pequena. Eu fico pensando se eu tivesse ficado em casa, talvez não tivesse acontecido nada, ou talvez sim. Eu nunca saberei a resposta.
Nunca mais voltei àquela cidade, mas até hoje lembro do cheiro podre que ela exalava, lembro dos olhares maldosos e das pessoas antipáticas. Naquele momento, eu precisava de apoio. Nenhuma mão segurou a minha, nem a do meu marido, que provavelmente também concordava com os policiais, de que o abusador era meu amante. Até hoje, tento perdoar aquela garota de 19 anos que inocentemente foi passar o pior carnaval da vida dela e da minha.
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Nunca quis ter filhos, mas a minha visão aos 30 anos mudou, decidi que seria mãe.
Nesse meio tempo conheci uma pessoa que me prometeu acima de tudo amizade. Sempre tive problemas com minha mãe e ele apareceu como porto seguro.
Foi praticamente o meu primeiro homem, antes dele tive apenas 4 relações sexuais. Os sinais de que viveria uma relação abusiva foram se mostrando logo de cara: a nossa primeira vez foi sem o meu consentimento, pois estava com medo. Depois do prazer dele, ele me abraçou e disse que me amava. Fiquei tão confusa que comecei a acreditar que era amor. Vim me dar conta que foi abuso aos 35 anos, quando estava numa sessão de terapia.
Sempre fui independente, tenho meu apartamento e ele ia pra minha casa todo final de semana. Brincávamos de casinha, onde eu era a Amelia, como na música.
Ele era bem popular e ainda no primeiro ano de relacionamento via conversas dele com outras mulheres e me sentia mal. Começaram então as crises de ciúmes. Noivamos com todos os indícios de que não era bom pra mim. Aos poucos fui me anulando da minha família e das poucas amigas que tinha. Ele dizia que elas tinham inveja de mim, sabia me controlar, pois eu já estava nas mãos dele emocionalmente.
O relacionamento durou 3 anos 8 meses, quando tive a certeza de que me traía. Tinha um caso há dois anos e um dia antes de eu descobrir, ele queria porque queria que fizéssemos um vídeo no Instagram do dia dos namorados.
Eu planejava casar e ter um filho, ele sempre me enrolava e eu não enxergava.
Nesse tempo, conseguiu mudar minhas roupas, calçados, gostos musicais, livros. Vivia falando mal do brega/sofrência que gostava de ouvir e dos meus livros de romance.
Entrei na academia por influência dele, quando comecei a perder peso ele atribuía essa conquista minha a ele, dizendo: "olha pra tu, a mulher que você é hoje é por minha causa" e isso martelava na minha cabeça como um mantra que ficou sendo verdade.
Ao descobrir a traição pelo whatsapp dele, confesso que contei pra 4 pessoas, pois já estava infeliz e sabia que seria minha forma de não voltar atrás, pois teria vergonha caso voltasse.
Nesse tempo minha mãe já tinha falecido, e tive o apoio desses 4 anjos na minha vida que não me deixavam sozinha aos finais de semana e me ajudaram bastante.
A dor foi grande. Não conseguia me olhar no espelho pois pensava "quem vai me querer aos 34 anos!? Já estou velha".
Desde então faço terapia, e não imaginava que chegaria aos 36 anos da forma como estou. Pensava que estaria casada, com um filho, um cachorro e carro na garagem. Minha vida está totalmente diferente do que planejei, mas quando olho pro meu passado, vejo o quão forte me tornei e desejo o mesmo a todas aquelas que passam por qualquer tipo de abuso.
O título que me dou hoje é: ORGULHOSA DE MIM.
Mesmo depois de tudo que passei, vejo o quanto amadureci ficando mais observadora e mais analítica, consigo identificar mais fácil sinais que não condizem com o meu propósito de vida, verbalizo e estipulo limites, dizendo "não" sempre que necessário.
O sonho de construir uma família tradicional ainda existe, e é o que mais dói, tenho esperança que um dia aconteça, e enquanto isso sigo em frente.
Voltei a estudar, estou fazendo outra formação, voltei a correr, tenho meu apto e meu carro, precisei provar pra mim mesma que seria possível conquistar o mundo sem uma presença masculina, simplesmente porque eu sou forte, porque nós somos fortes.
Não estou exatamente no lugar que eu desenhei na minha infância e adolescência, mas sou muito grata pela mulher que me tornei, quebrando padrões estéticos da sociedade e pelos bens que conquistei.
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Olá a todas e a todos!
Aqui quem fala é Mayra Abbondanza e Júlia Lopes. Nós, que fazemos o podcast Sozinha de Si com tantas outras mulheres, estamos passando para avisar que estamos num intervalo e voltaremos em março.
Desde dezembro, quando foi veiculado o último episódio de 2024, estamos nos preparando para lançar a nossa segunda temporada.
Enquanto não recomeçamos, continuamos com algumas atividades. Estamos preparando um texto para apresentar essas histórias em seus pontos em comum e diferenças, pensando em ampliar nosso campo de leitores. Continuamos nas redes sociais, produzindo material sobre escrita, e, muito importante, continuamos recebendo histórias de mulheres que estiverem sozinhas em suas dores.
Essa mensagem vai, então, principalmente para essas mulheres que querem ou precisem de uma escuta atenta e solidária, sem julgamentos. Estamos aqui para que você consiga escoar as dores e ecoar seus desejos de liberdade e autonomia. Estamos aqui para fazer companhia e dizer que você não está sozinha.
No ano passado, falamos com mais de 30 mulheres e em 2025 pretendemos trazer mais outras 30 histórias. Recebemos seus relatos por email, whatsapp e via redes sociais. Recebemos relatos das mais diferentes formas, alguns muito detalhados, outros mais gerais.
Nosso trabalho é transformar esses relatos em texto para ser lido e então veiculado pelo Podcast. Nós não revelamos a identidade dessas mulheres, pensamos em sua intimidade e proteção - a não ser que seja um pedido expresso dela.
É isso, a gente volta jajá, esperando contar com a sua escuta, também.
#ghostwriter #historiasanonimas #rededeapoioentremulheres #podcastsozinhadesi #cura #escrita
E-mail: ghostwriter@maabbondanza.com
WhatsApp: 11 999669935 (Mayra) ou 21 979126874 (Júlia)
A minha história é muito comum e ao mesmo tempo muito particular. É uma história como dos grandes romances, mas também a mesma de meninas que viviam o trabalho doméstico como um fator de transformação na minha época. Continua sendo minha história, com o meu sotaque, derrotas e, claro, as minhas vitórias.
Venho de uma família mística, étnica. Meus avós maternos foram minha referência de amor e cuidado. Vó Rosa, indígena da Tribo Tremembés de Acaraú, rezadeira, parteira, pessoa que entregou sua vida à caridade e amor ao próximo; e Vô Antônio Gabriel, filho de imigrantes italianos que vieram fugidos da Segunda Guerra Mundial, chegaram ao Ceará e foram para uma localidade batizada por Gênova, que hoje chama-se Bela Cruz.
Minha mãe Maria da Conceição Pessoa é a filha mulher mais velha, de sete irmãos. Ela, muito rebelde, engravidou aos 15 anos e foi expulsa de casa por meu avô, que não aceitava ter uma filha mãe solteira. Nessa noite, quando se viu sozinha, foi dormir no cemitério do povoado, Aranaú, distrito de Acaraú, onde mora até hoje aos seus 71 anos.
No dia seguinte, ela foi acolhida por Dona Rosa, a proprietária da pousada do povoado. Dona Rosa, era muito conhecida de todos como uma mulher corajosa, forte e decidida. Era também discriminada por ser considerada "cafetina," pois as mulheres sem amparo da família eram acolhidas por ela em seu comércio ou eram enviadas para Acaraú, Fortaleza, São Paulo. Minha mãe foi enviada para Acaraú onde foi abrigada por Dona Maria Bertold, essa sim, dona de um prostíbulo.
Assim minha mãe teve seus filhos - sou a quarta filha de clientes. Meu pai, Eudes, tirou mamãe do prostíbulo e foi viver com ela em Aranaú. Ele, porém, tinha sua esposa, duas filhas, e depois de 12 meses voltou para casa, foi visitá-las. Encontrou a esposa grávida de outro homem, e a matou. Foi preso. Minha mãe teve que se esconder, pois os irmãos da esposa de meu pai queriam matar-los, Minha tia, irmã de meu pai, conseguiu tirar mamãe do local, às pressas. Meu genitor foi morto.
Por favor, gostaria que meu nome fosse colocado junto com a história, pode ser? Francisca das Chagas Pessoa.
Minha mãe foi viver em Fortaleza por uns anos, eu e meus irmãos ficamos com meus avós. Nesse tempo eu tinha cinco anos. Ela voltou depois de um tempo, mas eram mesmo meus avós quem cuidava da gente.
Minha infância no interior foi muito especial, apesar de tudo. Fui uma criança livre sem violência. Estudava, ia para a roça com meus avós, tinha meus amigos, brincava muito, ia a praia. Adorava os festejos da igreja católica, tinha muita alegria, comida, circo, Parque de Diversões, a casa de farinha era muito bom!! Colher frutas, verduras, pescaria, lavar a roupa na lagoa. Isso mudou quando em 1986, tia foi me buscar pra ir morar com ela, em Fortaleza.
Tia morava na Praia de Iracema. Tudo era muito diferente ao que estava acostumada, as crianças com quem fiz amizade eram diferentes e para elas meus trejeitos do sertão eram motivo de piadas e risos. Eu também ria junto por não entender que as brincadeiras eram sobre mim mesma, tamanha era minha inocência, tão matuta…
Nunca tinha visto água saindo da torneira na pia, chuveiro, refrigerantes, biscoito recheado, picolé, sorvete, maçã, uva, frango assado na máquina. Imagina então um Boneco gigante na praia em desfile de carnaval? Sim, fiquei muito assustada quando vi a Banda de Iracema e o bloco Periquito da Madame passando na Avenida Beira Mar em desfile. Corria assustada para abraçar a tia aos prantos, haha... Enfim, aos poucos fui me acostumando com as novidades da capital cearense.
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Aos 53 anos seriam muitas histórias, mas deixo essa para o momento.
Em fevereiro deste 2024 conheci Carlo do mesmo modo como conheci tantos outros - por aplicativo de paquera. Mas algo naquela conversa era diferente.
Logo depois dos primeiros contatos, pediu meu número de celular, disse que ia a um passeio de Fusca e na volta me chamaria. Duvidei porque ele poderia ser como muitos que deixam suas conversas pelo caminho. Mas num domingo, às 17h30, na volta do passeio, ele mal chegou e já me chamou - “Oi, estou aqui, quer conversar?”
E longas conversas vieram.
Bastaram três dias para que ele quisesse me conhecer pessoalmente. No encontro, fui surpreendida pela beleza desse homem. 56 anos, personal, com 3% de gordura no corpo, vaidoso, músculos à mostra, muitas tatuagens, roupa e acessórios singulares. Foi gentil desde o primeiro minuto.
Me levou em um espaço diferente, um café que ficava num contêiner, todo decorado de forma diferente. Ali escolhemos um suco pra mim e um capuccino gelado pra ele. Foi uma tarde inteira de muita conversa descontraída. Apesar da imagem forte do início, ele era meigo e tímido; me fez uma flor de guardanapos, me entregou... Pagou a conta, pegou na minha mão e fomos embora de carro. E desde então não nos separamos mais.
Os dias foram passando e o sentimento aumentando. Nossa rotina se ajustou tanto, era tão perfeita em tão pouco tempo, que eu não me continha de alegria. Ficávamos grudados de sábado à noite até segunda pela manhã. Muita comida boa, passeios, filmes e muito tempo juntos... Demonstração de amor, cuidado, sexo maravilhoso… Quarta e quinta tudo se repetia. Às sextas, era dia dele cuidar da sua filha de 14 anos, então não nos víamos.
Dois meses se passaram como se fossem anos. Coisas que não se explicam, mas se sente com muita intensidade! Durante a Semana Santa, passamos o Sábado de Aleluia juntos, no Domingo de Páscoa trocamos chocolates... Depois do almoço, mais abraços, grudados um no outro.
Segunda pela manhã, como de costume, ele me deixou em casa. Dentro do carro me abraçou, beijou, eu olhei para ele e de repente, de forma completamente inesperada, me veio no pensamento ACABOU. Era a coisa mais absurda que poderia pensar naquele momento perfeito.
Nós nos despedimos, combinamos de nos falar depois.
Em casa, entrei em surto... Pensei mil coisas. Até ciúmes da filha, medo de ele terminar comigo... Coisas que até então nunca tinha pensado. Sem pensar muito peguei o celular e escrevi muitas coisas, questionamentos sem fundamento para um encontro de dois meses, cobrei coisas que não tinham sentido.
Ele respondeu que precisava ficar em silêncio e digerir minhas palavras. Fui abatida pelo incerto. E o silêncio durou uma eternidade.
Domingo era aniversário da minha neta, em uma chácara, e minha família estaria lá. Ele e a filha também deveriam ir, mas nada dele responder minhas mensagens e ligações. Com a
correria do aniversário, almoço, bolo, docinhos, só pude sentir a angústia do sumiço.
No caminho para casa resolvi tentar mais uma vez ligar para ele. Peguei o celular e meu mundo veio abaixo. A foto do status, do celular, e também insta e face... Em todas as redes, uma imagem com os dizeres “Ato de despedida de Carlo Vinícius Andreatta…” Velório e sepultamento no mesmo lugar…
Enlouqueci, quis descer do carro, um abismo se abriu, eu não queria acreditar no que estava lendo. Minha mãe e filho precisaram me acalmar... Eu não conseguia entender o que estava acontecendo… Carlo morreu? Como? Quando? De que?
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Há cerca de cinco anos, minha mãe sofreu seu primeiro AVC (Acidente Vascular Cerebral Isquêmico), que comprometeu sua função cognitiva. Após esse episódio, ocorreram alguns AVCs transitórios. Como consequência, ela desenvolveu Demência Vascular, cujos sintomas são semelhantes aos do Alzheimer.
Passei por quase todos os processos de enfrentamento de algo extremamente doloroso e difícil de aceitar: negação, revolta, profunda tristeza e, por fim, aceitação. Pulei a fase da barganha, que seria a segunda nessa lista. Minha relação com Deus não admite barganhas; tudo o que acontece tem um propósito.
Mas, para mim, conviver com essa nova realidade tem sido complicado. Lidar com a confusão mental dela, as constantes mudanças de humor e o fato de ela não reconhecer a casa, as coisas e até as pessoas é muito desafiador. O que mais dói, porém, é vê-la sofrer como se estivesse vivenciando a morte de sua mãe, pai e irmãos, repetidamente experimentando a angústia do luto.
Enquanto isso, sinto como se estivesse em luto por uma mãe que ainda vive. Às vezes, chego a sentir saudades dela. Nesses momentos, me agarro à ilusão de que, se eu gritar “mãe, aqui é sua filha”, ela olhará para mim com aquele olhar amoroso, aquecendo meu coração com seu abraço, permitindo que eu chore em seu colo enquanto acaricia meu cabelo. Escuto-a dizendo que tudo vai passar, que continuará comigo e que nunca esquecerá de mim.
O ser humano é extremamente carente de amor; afinal, em nossa essência, somos feitos de amor. Diante da minha imperfeição, sofro quando, às vezes, ela não me reconhece como filha, me privando do seu amor. Resta-me pedir a Deus que permita que ela passe mais tempo aqui comigo e que eu nunca perca a esperança de ver sua lucidez voltar, mesmo que entre delírios e alucinações.
O dia a dia com ela é bastante desgastante. Quando chega a noite, sinto como se tivesse participado de uma maratona. Não tenho muito apoio dos familiares, inclusive dos meus outros três irmãos. Uma irmã tem Parkinson precoce (eu também tenho), a outra não ajuda porque diz que também é doente, e meu irmão afirma que não tem tempo. Recentemente, contratei uma pessoa para me ajudar com as atividades de casa, pois não estava mais aguentando fazer tudo sozinha.
Durante o dia, minha mãe tem episódios de lucidez, mas, na maior parte do tempo, ela fica desconectada da realidade. Isso traz delírios, alucinações e até agressividade. Ela puxa meus cabelos, arranha meus braços... Mas não sinto raiva quando isso acontece, pois sei que não é ela que age assim. Minha mãe nunca faria isso; ela nunca bateu em nenhum dos filhos.
A respeito da minha infância e adolescência, essa é uma outra história que pretendo contar posteriormente, se vocês permitirem. Quando divulgarem, acredito que alguém irá lacrimejar. Não é uma história bonita, mas garanto que é verdadeira.
Hoje, ao olhar para minha mãe, percebo um olhar vazio, como se a alegria de viver estivesse se extinguindo para sempre. Nos momentos em que ela se desconecta da realidade, costumo dizer que ela vai para outra órbita ou planeta. Mas quase todas as noites, quando vai dormir, ela retorna desse lugar para me dar a bênção: “Deus te abençoe, minha filha”, ela diz. Para mim, isso soa como um bálsamo que aquece minha alma. É nesse momento que escuto a voz de Deus dizendo: “Filha, não se preocupe, estou cuidando de vocês.” Aí, consigo adormecer sentindo o imenso amor de Deus por mim.
Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, para cuidar de todas de uma vez! Manda a sua história pra mim: ghostwriter@maabbondanza.com
Se você não trabalha, vai fazer uma unha, limpar uma casa, vai construir teu império. É sempre nisso que eu penso quando vejo as mulheres que estão passando pelo que eu passei. Na minha história, a violência não apareceu em forma física, nem de imediato, levou 12 anos pra que o meu então marido começasse um comportamento tóxico. Foi por essa época também que eu comecei a ter dúvidas quanto ao casamento.
Na minha adolescência, meu pai casou de novo com uma mulher que era… muito ruim. Não sei definir de outro jeito. Não sei o que ela queria, se marcar território com o meu pai ou algo assim, mas ela mentia e nos fazia mal - éramos três irmãs. Não nos dava comida, jogava comida fora, quando eu contava pro meu pai ele não acreditava e ela sustentava a mentira.
Ele era um homem bruto, durão, sempre indiferente ao nosso dia a dia. Quando fiz 17 anos, conheci um rapaz por quem eu me apaixonei. E era recíproco. Ele então foi até a nossa casa me pedir em namoro para o meu pai, que nunca nos deixava levar ninguém. Aceitou. Em meu coração, moravam a paixão e a vontade de sair de casa. Não deu outra: engravidei.
A gravidez exigiu o casamento e durante 12 anos desse casamento eu tive uma vida tranquila. Eu não questionava quase nada porque não sabia que podia, imaginava que era pra ser assim - eu cuidava da casa, das crianças, ele trabalhava fora. A família dele toda funcionava assim, todos eram muito legais, mas não se levantava nenhuma dúvida sobre nada.
Ao fim desses 12 anos o jogo virou, tudo passou a ser diferente. Ele saiu do banco onde trabalhava, se frustrou com a rotina, com o que imaginava que era sua carreira. Não sabia fazer mais nada e ficou em casa. Eu, então, comecei a cumprir horário como massagista.
Então imagina o antes: eu em casa com as crianças e os serviços domésticos - de limpeza, cozinha e cuidado. Café da manhã, almoço e jantar sempre prontos. Sem salário. Ele no banco, também com as muitas atividades que o emprego exigia, mas sendo remunerado por isso.
E agora o depois: um homem desempregado, com depressão, deitado o dia todo. E uma mulher pegando condução, trabalhando, recebendo a remuneração necessária para pagar as contas e… trabalhando também em casa. Tripla jornada, cansativa, injusta. Já seria suficientemente ruim se não fossem os ataques silenciosos para acabar de vez com o que poderia ser ainda um bom casamento: quando eu ia dormir, ele acordava. Ligava a televisão, começava a bater martelo. Não existia mais nenhuma paz.
A gota d'água que fez clarear e transbordar a minha decisão de sair dali foi quando uma das minhas irmãs (nós somos muito ligadas) me disse: “olha, presta atenção que esse homem não tem depressão nenhuma. Quando você sai pra trabalhar ele vai passear de carro, vai pra churrasco, vai tomar cerveja no bairro”. E aí eu dei um basta e fui descobrir a mulher que eu era.
Planejei sem avisar ninguém: fui atrás de um lugar pra mim. Eu queria fugir e encontrei uma casinha muito boa, de uma senhorinha que gostou de mim e topou esperar uma semana para que eu pudesse pagar o primeiro aluguel.
Enquanto fazia o meu plano de fuga, conversei com as minhas irmãs, que me deram muito apoio, e a irmã dele, que me questionou a decisão. Mas eu finquei pé. Quando falei com os meus filhos, também recebi todo o suporte. Eles até disseram: “você tá fazendo o certo, mãe, essa vida que você leva não é vida”.
Então, em um dia que ele foi ao médico eu simplesmente fui embora. Levei minha mala comigo, entrei no carro e fui, deixando todo o resto. Móveis, dinheiro, tudo. Me despedi dos meus filhos, e fui.
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A história que vou contar começa aos meus 24 anos, quando conheci meu futuro marido. O romance avança rapidamente. O casamento veio quatro anos depois, e nós nos mudamos para uma nova cidade, onde ele tem uma loja de calçados e confecções. Eu, que sempre tive uma paixão pela educação, arranjo um emprego como professora em um colégio local e, mais tarde, em uma escola em um município vizinho. A vida parecia promissora, com todas as coisas em seu lugar.
Mas as dúvidas e os problemas estavam ali, à espreita. No dia a dia, ele começa a demonstrar uma grosseria crescente em palavras e atitudes. Eu continuo apaixonada, pensando que esses momentos eram típicos de qualquer relacionamento, com seus altos e baixos. O amor faz silenciar minhas inquietações e seguir em frente, tolerando comportamentos que, mais tarde, revelariam ser sinais de um padrão abusivo.
Quando nossa filha nasce, decido me dedicar à família. Para isso, peço exoneração de um dos empregos. Em compensação, passo a trabalhar na loja do marido e, apesar das minhas preocupações pessoais, me entrego à tarefa de dona de casa e da loja, de corpo e alma. E então, logo depois, decidimos expandir o negócio, comprando um terreno vizinho para aumentar a loja.
A rotina se intensifica: durante o dia na loja e à noite na escola. É um ciclo cansativo, mas a ideia de dar uma vida melhor à filha me motiva. Mesmo com o desgaste, me sinto realizada.
Aos dois anos da pequena, vem a escolinha e eu me vejo com mais tempo para correr atrás dos meus sonhos. Ufa! Vou poder cursar Direito, coisa nunca permitida pelas circunstâncias. Agora, com o apoio do marido, eu podia me matricular na faculdade… Mas, que apoio? Ora, ele não demonstra nenhuma simpatia pelos meus projetos. Ao contrário: ele afirma que a relação não sobreviverá a essa decisão. Estupefata, eu ignoro os avisos e me matriculo, decidida a pagar a mensalidade com o salário de professora.
Os dias se tornam cada vez mais corridos, com criança, faculdade e loja, e eu preciso fazer um grande malabarismo para dar conta de tudo! As aulas da faculdade são em outra cidade, 50 km de distância a serem percorridos, e a única ajuda dele tem sido com o transporte. Me organizo para que a rotina da filha não seja afetada e, em meio a provas e trabalhos, consigo um estágio no fórum. Vitória! Essa oportunidade é uma válvula de escape, permitindo que eu ganhe experiência prática, embora não seja remunerado. O trabalho tinha se tornado uma paixão!
Infelizmente, a alegria logo se transforma em uma fonte de tensão. O marido pressiona, alegando que não estou dando atenção suficiente à filha e que o estágio só gera brigas. Sim, o estágio. Não ele, com a falta de parceria. Minha vitória se transforma em derrota e eu saio desse trabalho, continuando meus estudos em casa. Não uma derrota completa: continuo achando que é uma fase, e que, uma vez formada, tudo se resolverá.
O tempo avança, e o desejo de ter outro filho começa a surgir. Um sonho se choca com outro e eu percebo que preciso esperar a conclusão do curso. E eis que os dois desejos se realizam: a defesa do TCC acontece com a barriga já crescendo. O problema continua sendo ele, que não vai à defesa de teste nem à colação de grau. Quem perde é a minha paixão por ele, que vai diminuindo. Na mesma proporção, sabe o que cresce? Meu amor pelas minhas conquistas.
Vocês sabem que todo mundo que faz o curso de Direito precisa de aprovação da Ordem dos Advogados do Brasil para advogar. Sem essa carteira, a pessoa que concluiu o curso é bacharel em Direito, não é advogada ainda. É um momento único em nossa carreira e uma grande conquista. ... O que ele diz? “Você não vai passar, não adianta”.
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Tenho 42 anos, sou mãe de dois - uma de 24 e um de 5 anos. Tive um relacionamento com um rapaz mais novo durante 14 anos, 10 morando juntos - o menino de 5 anos é dele, uma paixão, a desses dois! Ele trabalhava demais, mas fora isso não tínhamos grandes problemas. O emprego fixo ele complementava com uma renda extra. Vivíamos bem até que veio o sonho de ter um apartamento próprio. Eu tinha muito receio mas dei uma força, conseguimos financiar.
Esse passo parece ter sido maior que as nossas pernas e com a angústia vieram as drogas. Com as drogas, as brigas, as dívidas e muitos desentendimentos. No dia a dia, ele me consumia de tanta cobrança. Ele ficava com as contas maiores, eu ficava com despesas menores e a presença com a criança para festas e passeios, já que ele estava sempre muito ocupado com o trabalho. Eu queria a separação, mas ele achava que conseguiríamos superar.
Em agosto de 2023, no dia dos pais, fizemos um almoço. Lembro que ele comeu muito, era panqueca, e foi trabalhar. Nunca imaginaria que fosse a última vez, o último almoço, o último abraço... À noite nos falamos por telefone e na segunda já não apareceu. Surtou uma semana gastando todo dinheiro na rua. Já não me atendia, não queria falar comigo nem com nosso filho. Na segunda seguinte ele me ligou, coisa de meio dia dizendo que não tinha mais jeito, que era pra eu cuidar do nosso filho.
Não levei a sério, achei que era mais uma crise por causa da droga. Nesse dia fui trabalhar sem desconfiar que minha vida seria transformada para sempre e à noite recebi a pior notícia: ele se suicidou na casa do pai…
Estou há um ano sem conseguir entender. Me restou a dor, a saudade, as dívidas… Nos mudamos para a casa da minha mãe, que tem me dado muito apoio. Além de tudo me sinto traída… O tanto que me dediquei! Tudo que abdiquei pra ter nossas coisas! Carrego um luto ainda não vivido pois não pude parar pra sofrer, vivo no automático e ao mesmo tempo esperando que ele chegue a qualquer minuto…
Sempre tive uma relação boa com a família dele, mas isso mudou um pouco. Sou mais chegada à minha sogra, mas decidi me afastar porque fui julgada e condenada como se eu tivesse culpa. Os irmãos dele nunca me perguntaram se eu ou meu filho precisávamos de alguma coisa. Meu coração está confuso entre a solidão e a mágoa, o luto adiado, a exaustão do dia a dia. Como imaginar que meu marido ia desistir de viver?
Ele jamais tinha me deixado sozinha.
Mas eu decidi viver e terminar o que ele deixou pendente. Decidi não desistir de mim, com muito esforço ano que vem termino minha faculdade de pedagogia, hoje já trabalho na área. A vida me trouxe muito sofrimento e muitas perdas, mas pelos meus filhos eu me levanto todos os dias. Não consigo imaginar uma superação, mas eu espero um dia voltar a ser feliz.
Se eu pudesse falar bem alto eu diria para as pessoas aproveitarem cada minuto com quem se ama e procurarem ajuda quando a dor é grande demais. Ninguém precisa sofrer sozinho. Eu tive que aprender a ser forte na marra, e hoje agradeço por estar aqui.
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Em nosso primeiro contato ele já foi ríspido. No restaurante, pedi uma cadeira e ele, de forma grosseira, respondeu: “pode pegar, é pra sentar mesmo”. Mal sabia eu que esse seria o cenário dos próximos cinco anos.
Os primeiros contatos vieram pelo Facebook, logo depois fomos para o whatsapp e rapidamente começou um namoro. Que foi pesado, desde o início. Ele era viúvo, com dois filhos e eu era 25 anos mais nova. Você pode se perguntar: por que eu me envolvi com ele? Eu, aos 24, com um filho não planejado de três anos, tinha parado a faculdade que era o meu sonho, não esperava grande coisa na vida.
Me sentia um fracasso e acreditava que não podia piorar. Ah, mas eu estava enganada. Casei com quatro meses de namoro e fui para o castelo de horror. Começaram os julgamentos, os empurrões, estupros, chacoalhões no meu filho, manipulação psicológica. Com um ano de casada descobri que ele conversava com mulheres, porém colocava o nome de outro homem pra eu não descobrir.
Eu quis sumir, mas fiquei. Mudamos de cidade, fui fazer faculdade, ele quis me fazer desistir, e eu continuei. Ele proibia que eu trabalhasse e ao mesmo tempo não me dava o que eu queria, só o que ele achava que era necessário. Comecei a responder aos abusos e perseguições, até que um dia eu me cansei de ouvir que ele iria me matar e planejei minha saída.
Bem, não foi tão planejada assim. Éramos líderes da igreja, então isso me perturbava. Como os irmãos da igreja veriam isso? Numa de nossas discussões ele pediu o divórcio e foi pra casa da mãe. Eu fui embora, mas acabei voltando porque ele insistiu que Deus não aprovava o divórcio. Foi só colocar os pés no castelo de horror que eu tive uma crise de ansiedade. Decidi ir embora de vez, pra nunca mais voltar. Hoje sou feliz, só eu e meu filho.
Esses foram os últimos abusos que passei na vida. Não quero mais. Decidi romper com esse ciclo de violência que começou com uma infância complicada. Não fui planejada e meus pais nunca viveram juntos. Minha mãe era muito nova e com cinco filhos não conseguiu cuidar de todo mundo; por vezes nos deixava sozinhos. Até que um dia aconteceu uma tragédia: a lamparina caiu no berço e matou minha irmã ainda bebê. Nós sobrevivemos a o fogo por milagre.
Aos 6 ou 7 anos eu não quis mais viver com ela, sofri abusos do meu padrasto, então juntei minhas roupas e fui viver com meus padrinhos de batismo. Assim eu cresci, sendo a filha criada - como meu padrinho dizia. Tive depressão aos 13 anos, o que foi muito duro de viver.
Estudei numa escola federal, o que me abriu portas, porém eu sofria porque não sabia reagir a tudo que sentia… Também não soube lidar quando, aos 20 anos, me envolvi com um homem manipulador, que não queria que eu estudasse. Quando soube que eu estava grávida, ele me seguia pela cidade e até a igreja que eu frequentava ele ia mesmo não sendo convidado.
Fez inúmeros boletins de ocorrência e denúncias ao conselho tutelar dizendo que eu queria abortar. Quando o meu filho nasceu, foram acusações de maus tratos. Atualmente ele me processa, porque deseja a guarda, não fala comigo e se peço ajuda ele me trata mal. Ele auxilia apenas com a pensão muito pouca, e fica com meu filho nas férias.
Hoje, honestamente, não tenho interesse afetivo sexual por ninguém, tenho receio de relacionamentos e sinto que perdi muito tempo. Sempre sonhei em passar em um concurso e ter estabilidade financeira, acredito que é a isso que quero me dedicar agora. Fazer a vida ser minha, de mais ninguém, de nenhum abusador. Tenho muito pouco em bens materiais, mas tenho a mim novamente. Se eu pudesse voltar, eu falaria para aquela mulher, jovem e imatura: você está aí dentro, acredite em você, esse pesadelo vai acabar e você será livre.
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O que tenho para compartilhar é um relato recente escrito entre lágrimas.
Sou uma mulher de 50 anos, trabalho como autônoma e crio meu filho de 11 anos sozinha. Me separei do pai dele quando ele tinha 4 anos. Meu filho apresenta traços de autismo. Nós nos damos bem em nosso cotidiano, é um menino maravilhoso.
Por causa dele, comecei a trabalhar em casa, servindo pensões mensais e refeições. Moramos apenas nós dois. Para o trabalho que faço, preciso de colaboradores, ou seja, ajudantes e entregadores.
Há cerca de dois anos, resolvi contratar um parente muito próximo, para a função de entregador. Sempre nos respeitamos como irmãos. Tudo ia bem. Éramos três: eu, ele e uma moça que me ajudava na cozinha. Aos domingos, no final do expediente, dividíamos uma cerveja, já que a segunda-feira era nosso dia de folga. Compartilhávamos tudo entre nós três, desde os lucros até os segredos. Éramos uma equipe.
Em março deste ano, a moça saiu porque encontrou algo melhor. Ficamos felizes por ela, e eu decidi não contratar outra pessoa para seu lugar, já que ela estava comigo há quase seis anos. Ficamos apenas eu e meu parente.
Nem tanto tempo havia passado, e já notava traços autoritários nele. Não atendia aos meus pedidos como antes e queria folgar dois dias na semana. Discutimos sobre isso e eu expliquei que não era possível para mim. Comecei a me sentir como se estivesse trabalhando para ele, e não o contrário. Expliquei que não poderia ficar sem entregador aos domingos.
Ele concordou em trabalhar aos domingos, mas disse que eu precisava falar com ele de maneira adequada. Que maneira seria essa? Eu era a mesma.
Mas eu já estava decidida a fazer mudanças mais radicais e dispensei os serviços dele. Antes de sair, ele pediu para que eu pensasse melhor. Os dias passaram, e eu consegui encontrar outro entregador. Embora ele falasse normalmente comigo, percebi que não gostou da mudança. Depois disso, veio durante o dia, tomou um café meio sem graça e foi embora. Não o vi mais por 10 dias.
Num domingo, após terminar minhas tarefas, fiz toda a limpeza, pedi uma pizza para meu filho e abri uma cerveja, como é meu hábito no final de domingo. Deixei o portão aberto aguardando a pizza e me distraí com o celular e a cerveja, quando ouvi meu primo entrando e chamando pelo meu sobrenome, como sempre fazia. Ele estava visivelmente alterado, parecia ter bebido bastante. Cumprimentei, ofereci um copo e perguntei de onde ele estava vindo e onde havia bebido. Ele respondeu que tinha vindo de casa.
A pizza chegou, dei um pedaço a ele, servi meu filho e fui para a área. Notei que ele tentava me tocar enquanto conversava e eu pedi para que ele conversasse sem encostar em mim. Ele alegou que estava passando mal, eu disse que fosse para casa, pois não queria que me desse trabalho. Ele riu e disse que estava brincando. Continuamos a conversar sobre coisas triviais, e ele foi ao banheiro da área várias vezes, o que achei normal, considerando que parecia ter bebido bastante.
Tal momento ele fingiu que estava chorando, dizendo que todo mundo o abandonava. Eu disse que, embora não trabalhássemos mais juntos, ainda podia vir de vez em quando para conversar ou tomar um café. No entanto, ele continuava tentando se aproximar e eu me esquivava.
Desconfiei de suas intenções e tentei gravar um vídeo. Coloquei o celular no colo e liguei a câmera, mas ele se movia muito. Então coloquei uma cadeira do outro lado da mesa e pedi que ele se sentasse afastado. Ele desconfiou e perguntou se eu estava gravando, eu disse que não e mostrei o celular desligado.
Foi então que me senti realmente em perigo. Ele se aproximou de mim com os olhos arregalados e expressão fechada, sem dizer uma palavra.
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Esse espaço é seguro, não é? Posso falar o que precisa ser dito? Tenho pensamentos muito fortes e no momento em que eu soube que o marido que eu tinha, pai dos meus filhos, era pedófilo e se insinuou para as nossas filhas, eu quis matar esse homem.
Me separei por causa disso. Se ficasse com ele, faria alguma coisa e eu poderia ser presa. Quem iria cuidar dos quatro? Ser mãe é uma tarefa e eu quero desempenhá-la da melhor forma possível.
Desde pequenos, conversava com eles sobre drogas, colocando medo e falando que mesmo a maconha pode ser veneno porque a pessoa pode ter alergia e até experimentar poderia ser fatal (não cheguei a checar a informação, mas eu queria mesmo era assustar!). Diante do que vivi, ensinei a não confiar no ser humano, nem em pai, nem em mãe, só em Deus, que é o verdadeiro amor. Ensinei que os filhos são emprestados para a mãe cuidar até que eles saibam andar com as próprias pernas.
Mas deixa eu contar como cheguei aqui. Comecei a namorar esse futuro marido aos 16 anos. Até os 26 já tínhamos dois filhos. Foi um pouco antes de completar 26 que começamos a frequentar a igreja e lá fomos orientados a casar. E assim fizemos. Depois vieram mais duas crianças e a vida estava relativamente tranquila. Ele ganhava um bom dinheiro que nos sustentava, eu administrava a casa e as crianças. Nessa época, a responsabilidade de tudo, absolutamente tudo, era minha. Pra mim, tudo bem, gostava de cuidar da casa e dos filhos.
A mais velha começou a namorar e o pai ficou furioso. Foi aí que começou a transformação.
Ele se afastou da igreja e voltou a beber, fumar e usar drogas. Quando começamos a namorar, ele praticava fisiculturismo e tomava bomba. Entre as sequelas, a pior era a irritabilidade. Era impossível sair com ele, sempre passava vergonha por suas grosserias. Não sou santa nem quero me vitimizar, só estou dando a minha versão. Nos eventos da empresa, ele levava apenas os filhos. Eu só participava de eventos familiares, mercado, feira e Igreja.
A minha filha mais velha começou a namorar por volta dos 13, 14 anos e ele me bateu. A partir daí, não quis mais ter relação com ele. Ele contou pras tias dele e elas vieram me aconselhar já que na Igreja o casamento é "até que a morte nos separe". Quando contei que ele me agrediu, elas me deram apoio.
Continuei casada, sem saber o que ia acontecer. Pedia a Deus me livrar dele. Num dia, minha filha, já maior de idade, chegou vomitando. Eu já estava dormindo. Ele pediu pra eu cuidar dela, eu disse que não, porque ela tinha bebido. Começou uma discussão e ela no fervor da briga disse que odiava o pai porque ele acariciou os seios dela enquanto ela dormia. A outra mais nova disse que ele dava dinheiro pra ela desfilar nua.
Eu não sabia o que fazer. Várias vezes o flagrei dormindo sem roupa pela casa, mas como ele bebia, não imaginava tal coisa. Fiquei sem chão, tinha que manter a calma porque se eu fizesse o que queria, ia ser presa e os meus filhos precisavam de mim. Com vergonha de contar pra polícia e pros parentes, me fechei. Falei que era segredo, mas só Deus sabe como eu estava rasgada por dentro. Até hoje dói lembrar. Vem a vontade de vomitar.
Estava com ele desde os 16 anos e me divorciei com 38. Voltei a beber, saí da Igreja porque não me senti acolhida em um momento tão delicado. Hoje entendo que não é a placa da igreja que salva, e sim Deus.
Foi um período difícil. Eu não imaginava, mas estava prestes a viver algo parecido, de novo.
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Queria começar minha história dizendo que não tenho raiva. Ao ouvir o que vou contar talvez você se esqueça disso, porque minha história é muito pesada, com muita violência e violações. Mas te peço que não se esqueça: não tenho raiva. O que tenho é vontade de que você saiba quem sou e que o que aconteceu comigo nunca mais aconteça com nenhuma outra criança.
Pedi para a Mayra abrir uma exceção e divulgar o meu nome. Eu sou Maria Lucimar Gonçalves, mais conhecida como Mazinha. Nasci em Jardim, uma cidade do extremo sul do Ceará, na região do Cariri, no ano de 1980. Tem uma matéria sobre mim no G1 de Presidente Prudente, cidade onde moro desde a adolescência.
Meu nascimento foi a previsão de como seria minha vida. Grávida de sete meses, minha mãe foi espancada pelo meu pai. Uma cena cotidiana lá em casa. Quando eu e minha irmã fechávamos as janelas, a mãe abria as portas da casa e dizia pros vizinhos: “é cinema, pode ver, é de graça”. Todos da rua sabiam, ninguém da família ignorava a situação.
Ainda assim eu tenho boas memórias dele, meu pai violento e agressivo. Ele me ensinou a dançar. Não sei se ele tinha alguma deficiência ou se era só escroto. Ao longo da minha infância, passamos muita dificuldade, com frequência faltava comida em casa. Eu sempre tinha fome.
Por causa dessa fome eu aceitei ir passear de carro com um amigo do meu pai. Aceitei que ele passasse a mão em mim, que ele fizesse o que quisesse. Ele tinha me prometido comida, mas não entregou. Eu fiquei com muita vergonha. Até meus 30 anos eu tinha vergonha disso, de ter sido enganada. Achava que a culpa era minha.
Por muitos anos, a minha infância e adolescência foram assim. Aceitei que me tocassem em troca de comida e de promessas de uma vida melhor. Muitas vezes fui enganada. Eu era só uma criança.
Por causa dessa pobreza e dificuldade, fui entregue pela mãe e pelo pai para a minha avó paterna. Os abusos sexuais, lá, só aumentaram. E eram meus tios, que se revezavam para me violentar. Não sei se era um esquema deles ou se eles só vinham na hora que queriam. Foram anos assim.
Dessa vez não tinha comida, era só maldade deles. Eu aprendi que ficar parada era melhor que lutar. Quando eu ficava parada acabava mais rápido.
Um dia contei pra minha avó o que acontecia. Eu tinha 11, 12 anos. Ela me levou ao conselho tutelar. Quem nos atendeu foi um homem. Quando me ouviu, disse que eu podia ser presa porque na certa eu provoquei. Ele achava que a culpa era minha. Por eu ser uma criança alegre, muito sorridente, extrovertida, porque gostava de conversar, a culpa era minha. Minha avó concordou.
Num dia em que a família toda estava na casa dela, uma tia, casada com outro tio meu, viu um deles em cima de mim. E gritou pra família toda ouvir. Então, minha avó me mandou embora. Fiquei morando na rua. Depois eu lembro que a minha irmã acabou indo pra rua também.
Não lembro de muita coisa. E depois vem tudo de volta pra minha cabeça. Quando começo a falar, lembro. Mas nem sempre, às vezes quero lembrar e não consigo. E tem coisa que eu lembro, mas que não consigo pronunciar.
Aos 14 anos eu fui presa, me acusaram de roubo em um restaurante em que eu trabalhava. O dono desse restaurante, que era o pai de uma amiga, tinha me colocado no colo e eu lembro que foi aí que perdi a virgindade porque apareceu sangue na minha roupa. Ele prometeu casar comigo, eu sonhava em casar e ter uma casa. Mas depois ele me acusou de ter roubado umas coisas no restaurante.
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Tem dias que eu me sinto como uma usuária de drogas. Mas o que consumo não é nem cocaína, nem crack. É o olhar, o toque, as migalhas de atenção que ele me dá. Quando não nos vemos, vem a crise de abstinência, o choro, a solidão.
Na infância, minha família vivia dificuldades financeiras: meu pai era omisso em casa e minha mãe ao mesmo tempo autoritária e ausente. Éramos cinco filhos, sendo as duas mais velhas, numa diferença de 10, 12 anos, e nós, os 3 mais novos, em idades próximas.
Aos 16 anos comecei a namorar aquele que seria meu primeiro marido. O primeiro homem que me bateu e me traiu diversas vezes. Mas a casa era organizada e não passávamos fome, o que me fazia viver uma confusão em relação a isso, por não entender essa contradição. Fico ou vou embora? Tive dois filhos com ele e me libertei aos 27 anos, quando me divorciei - ele tinha engravidado uma amante. Até me casar pela segunda vez, passei fome e humilhação com esses dois filhos. Ainda bem que no segundo casamento foram 12 anos tranquilos. Mas ele, infelizmente, faleceu.
A vida então seguiu seu curso e por isso mesmo as coisas foram mudando. Os filhos foram conquistando sua autonomia, eu tinha mais tempo e mais espaço na vida, só não tinha habilidade em lidar com isso. O dia parecia ter horas demais, a casa estava sempre tão bem cuidada, parecia que nem ela precisava mais de mim. Veio então a pandemia e tudo piorou: a solidão e o sentimento de que não tinha mais função nem lugar.
Foi mais ou menos por aí que eu percebi ainda mais a presença do vizinho. Já o achava prestativo, simpático… Charmoso. Ele fazia pequenos serviços de manutenção lá em casa, com muita gentileza. Uma vez ele me surpreendeu: eu tinha ficado doente e ido ao médico. Logo depois recebi uma mensagem dele, bem atenciosa, perguntando como eu estava. E duas horas depois, quase a mesma pergunta: e aí, melhorou? Dessa vez ficamos até as 23h conversando.
Éramos vizinhos desde jovens e tínhamos muito o que trocar. Não demorou muito e eu estava apaixonada. Ele parecia estar também, mas… Era casado. Prometeu se separar e de fato isso aconteceu, seis meses depois que nos tornamos mais próximos. Saí com ele pela primeira vez depois de separado.
Enfim ficamos juntos e foi maravilhoso. Os momentos me preenchiam e não me importava que ele não tivesse dinheiro. Que no Dia dos Namorados fosse eu a comprar o jantar. Que eu sempre estivesse querendo agradar dando presentes, sapato, roupa, até eletrodomésticos para a nova casa dele, sem receber nada em troca.. Quer dizer… Dava aflição, sim, mas estar com ele devolvia toda a minha crença de que aquilo tudo era possível e era meu.
Mas essa falta de recursos virou minha vida do avesso. E um dia ele me disse que voltaria a morar com a ex pois estava em dificuldade financeira, pagando 2 aluguéis: o dele e o dela. Como disse a Maysa, a cantora, meu mundo caiu, e terminamos.
A saudade e a ausência operaram em mim um desespero que meses depois, quando ele me procurou, eu voltei feliz, mesmo que esse amor agora fosse clandestino. Dessa vez não teve como a religião me segurar, a obsessão era mais forte. E potencializada pela situação, toda controlada: os encontros, as mensagens pelo celular… Eu fiquei em segundo lugar em sua vida.
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No dia da morte dele, eu fui a única que comprou uma coroa. Se foi a compaixão que sinto por qualquer ser vivo, se foi para coroar a morte do meu primeiro abusador - meu pai - que me violentou por toda infância e adolescência, não sei.
Minha primeira lembrança de abuso aconteceu quando eu tinha seis anos. Nessa noite acordei com ele me batendo na sala. Eram muitos tapas e socos. Lembro do xixi quente na minha roupa. Só não lembro de quando parou de bater. Ele me espancava com frequência e sem motivo. Nunca entendi porque estava apanhando. Quando ele não batia, me beijava na boca, de língua. Eu paralisava, não reagia, não entendia que era abuso, sentia muito medo dele.
Morávamos no interior, numa casa de madeira antiga, sem forro. Eu tinha uma irmã e um irmão mais velho. Dormíamos juntos em uma cama de casal.
Noutra noite, meu irmão chegou correndo e disse: "o pai está vindo te pegar". Assustada, levantei e pulei a janela. Atravessei a cerca de arame que separava a casa de um pasto enorme. Corri todo o pasto, passando por cima de planta, boi dormindo, quase cai, mas cheguei do outro lado. Então segui correndo em direção ao cemitério, na rua seguinte à nossa. O muro era baixo, pulei novamente, correndo pelo corredor central, passando por uma cruz rodeada de velas.
Bem no meio do cemitério encontrei um túmulo todo de piso bege. Não havia placa, nem nomes ou datas. Parecia um travesseiro, era quentinho e sem vasos. Eu deitei em cima do túmulo, fiquei olhando o céu. No cemitério, eu estava segura, em paz no silêncio. Eu não tinha mais medo, tinha um refúgio para não apanhar do meu pai. Por várias vezes, eu ouvia minha mãe me chamar pelas ruas, mas não respondia. Quando eu sentia que ninguém mais me procurava, eu ia para casa da minha avó materna, ela já sabia o motivo, me acolhia. E assim foi a minha infância, regada de violência de todas formas, seja comigo, seja com minha mãe ou com os meus irmãos.
Na adolescência vivi um intervalo de tranquilidade, quando estava internada no convento das freiras. Cheguei lá aos 9, demorei para me adaptar. Mas quando isso aconteceu eu fiquei muito bem. Estava feliz com a rotina de oração, cuidados e estudos. As freiras gostavam de mim e eu delas. Não passava fome, como em casa. E essa vivência me sustentou por muito tempo.
Decidi, porém, sair, para ficar perto da minha mãe. Tinha então 14 anos e estava com o coração mais leve. A vida, que pena, cuidou de me lembrar como era antes disso. Numa noite de domingo, quando voltava pra casa depois de uma matinê na discoteca do bairro, fui agarrada por um rapaz e estuprada na porta de uma igreja. Ele bateu minha cabeça no chão, rasgou meu jeans até que tive a ideia de fingir náuseas. Funcionou: ele se afastou e eu corri, bati na primeira casa e fui socorrida. Foi nessa noite que perdi a virgindade.
Fui à delegacia com a minha mãe, mas o rapaz não foi preso e o irmão dele passou a me perseguir. Foi período difícil.
Próximo de completar 15 anos, conheci o pai dos meus 3 filhos. Namoramos quase 3 anos; logo depois fomos morar juntos porque eu estava grávida. Meu casamento foi um inferno. Fui agredida quando meu filho nasceu: o bebê chorava de fome e meu marido me batia por isso. Na primeira vez, recebi um murro de mão fechada no rosto e ouvido. Eu cai no chão, levantei, mas ele deu outro, então eu cai e fiquei no chão chorando. Foram 12 anos sobrevivendo a uma relação de violência, humilhação, miséria e doenças.
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Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, para cuidar de todas de uma vez! Manda a sua história pra mim: ghostwriter@maabbondanza.com
Namorei meu futuro marido dos 19 aos 21 sem ter relações sexuais. Era como era naquela época: a gente precisava esperar o casamento. Mas ele pressionava por ter relações e duvidava de mim: “Você é virgem mesmo?”, ele perguntava. Até que decidi ceder. No dia seguinte a desconfiança continuou: “Nada me tira da cabeça que você não era virgem”. Fiquei dilacerada. Eu nunca tinha tido ninguém!
Cheguei em casa e decidi dar um fim à vida. Tomei muitos remédios com coca-cola. Na madrugada minha irmã me salvou: percebeu que eu estava muito mal e contou pra mãe sobre os remédios. A ambulância veio, fui pro hospital e depois da lavagem no estômago, restou o mal estar na família, o medo e a raiva. Mas mesmo assim continuei com ele e nos casamos. Eu devia estar muito apaixonada ou cega. Como foi que eu deixei isso acontecer?
As décadas seguintes foram de dependência financeira, mudança de cidades, tormentos, exploração da minha força de trabalho, assédio moral, estupro marital, assédio sexual de meninas, entre elas minha sobrinha e minha irmã, as duas menores de idade, violência psicológica... Vou contar um pouco os acontecimentos desses 42 anos de opressões.
O primeiro abuso veio com três meses de casada. Morávamos em São Paulo e numa dessas enchentes eu voltei pra casa bem depois do horário normal. Já estranhei muito porque vi os maridos e os familiares das outras mulheres esperando no ponto do ônibus, mas ele, não. Quando cheguei em casa a primeira coisa que ele disse, com muita raiva, foi: “não jantei, nem tomei café. Vai preparar”. Para em seguida me mandar escolher, ou eu ficava no casamento ou eu trabalhava. Mas... Como eu ia separar depois de três meses?
Eu nunca pensei que eu pudesse alugar uma casa, morar sozinha, sei lá, alguma coisa desse tipo. E também não queria voltar pra casa dos meus pais, eles provavelmente diriam: “Ué, já se separou?”. Resultado: saí do serviço que era muito bom, que eu gostava demais. Eu ganhava até mais do que ele. E então começou a minha dependência financeira. Precisava pedir tudo. Ele usava isso pra me chantagear, me usar e me humilhar.
Quando fiquei grávida do nosso primeiro filho, ele decidiu ir morar em Juiz de Fora, terra da mãe dele. Essa mudança aconteceu eu estava com oito meses. E lá fomos nós, pra roça. Foi o pior ano da minha vida, eu com filho pequeno e inexperiente para cuidar de criança sozinha.
Depois disso passamos uma temporada em São Paulo, mas voltamos para Minas Gerais de novo. Foi o tempo que eu mais trabalhei. Trabalhei na roça, trabalhava em casa como empregada, que naquela época, em Minas, era quase escravidão, né?, fiz serviço em obra de construção, mesmo enquanto estava grávida. E depois cuidando da mãe dele, que era diabética.
Em casa ele fazia coisas para me torturar. Entrava com sapato sujo da roça. Pedia comida no meio da noite, mas era só pra me ver levantar, quando eu esquentava ele não queria mais. Pedia café quando eu sentava pra ver televisão. Pedia tudo, não fazia nada.
De tanto eu ser rejeitada eu comecei a ter nojo e a não querer mais. Quando acontecia, era... Eu ficava com uma raiva, já ia logo tomar banho, não gostava. Ele começou a falar que parecia que eu gostava era de mulher.
Comecei a ter crises de labirintite e desenvolvi uma doença autoimune. Me isolei de todo mundo. Eu não tinha amigos, não saía. Fiquei mais de três anos sem visitar os meus pais. Mas até a crise explodir, foram muitos anos.
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Fui adotada por uma família composta por pai, mãe e quatro irmãos.
Aos 2 anos, meu pai foi embora e nunca mais voltou, nem procurou nenhum dos filhos. O tempo passou e, aos 13 anos, fiquei sabendo por uma vizinha sobre a minha adoção e a minha mãe adotiva apenas confirmou.
Comecei a entender as palavras agressivas, a rejeição e até o amor sufocante que eu recebia.
Em um momento de raiva, minha mãe contou que foi levar almoço para o marido e o ouviu falando com uma voz feminina que o pressionava: "Se você não largar a sua mulher, eu pego a menina de volta".
Ele respondeu: "Mas ela já pegou amor na menina" - a menina era eu.
Soube depois que nesse momento a minha mãe adotiva fez as malas dele e o mandou embora. Ou seja, o meu pai adotivo era também o biológico e muito provavelmente sou filha da amante, que me deu para ser adotada pela família dele.
Aí começou o meu pesadelo. Fiquei sem rumo, com três irmãos e uma irmã que me culpavam pelo pai não vir vê-los. Eles não sabiam da suposição de que a amante era a minha mãe biológica.
Fui abusada e não sei por qual dos três meninos.
Eu vivia machucada e, aos 14 anos, fugia para a rua, voltando para dormir quando não estavam. Minha mãe me escondia embaixo da cama para eles não me verem.
Engravidei aos 18 anos, sem poder lembrar quem era o pai. Tive mais um filho nessa situação, também por abuso. Eu bloqueei essas lembranças.
Tenho aversão a um deles, fiz terapia durante 20 anos e preferi não querer saber, somente me afastar. Sempre ach ei difícil de entender como a minha mãe adotiva aceitou muito bem as duas vezes em que fiquei grávida.
Nesse período, passei por internações em hospitais psiquiátricos.
Os meus filhos sabem das internações, pois iam me visitar no hospital, mas nunca falei dos abusos.
Aos 14 anos, conheci Anjo, um namoradinho. Minha família não aceitou e nunca mais o vi. Mais tarde, consegui trabalho e segui morando com minha mãe e meus dois filhos.
Conheci então um outro rapaz que dizia me amar e engravidei novamente. Fui diagnosticada com transtorno bipolar e tive episódios maníaco-agressivos, passando por muitas internações.
O pior ainda estava por vir: meu companheiro e uma amiga decidiram ficar com minha filha recém-nascida - a minha terceira.
Entrei em crise novamente, mas Deus me guiou e me ajudou a contar a verdade sobre o nascimento dela. Precisei provar a minha lucidez perante a lei e, em três meses, consegui ter minha filha de volta aos meus braços.
Em 1998, reencontrei Anjo.
Minha filha caçula havia caído e quebrado metade do dente. Saí correndo e quase fomos atropelados por uma perua. A partir daquele momento, Anjo se tornou o meu protetor: cuidou de mim e dos meus filhos.
Eu tinha 28 anos e ele 33. Ele nunca havia se casado nem tido filhos. Disse que sempre me procurou, mas não me encontrou, pois não tínhamos celulares ou redes sociais na época.
Fui retornando à vida, ao trabalho e me fortalecendo. Parei de tomar remédios, até mesmo para dor de cabeça. Chegaram a conclusão de que eu não era bipolar, e sim vítima de vários diagnósticos errados.
Meu pai adotivo morreu sem que eu soubesse se aquela versão da história era verdadeira. Eu também nunca soube o nome da amante que se tornou sua esposa.
Quando o meu pai faleceu, a minha mãe foi chamada para receber pensão, que ficou para a esposa e para a mãe dos filhos. Ela aproveitou e levou o meu RG e perguntou para a funcionária se tinha visto a foto da outra que receberia a pensão também. A funcionária ficou em choque, tamanha a semelhança, e disse: “não mexa nesse vespeiro”!
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Sozinha de si é um projeto de histórias silenciadas de mulheres despedaçadas, contadas anonimamente, para cuidar de todas de uma vez, manda a sua história pra mim: ghostwriter@maabbondanza.com