Neste capítulo, Winnicott mergulha na delicadeza do vínculo entre mãe e bebê durante a amamentação.
Através de duas cenas — uma em uma instituição, outra no lar — ele revela que o que alimenta verdadeiramente o bebê não é apenas o leite, mas a presença viva e imaginativa da mãe.
Cada gesto, pausa e olhar compõe o cenário invisível da confiança, onde o bebê descobre que há uma pessoa por trás de cada ato de cuidado. E é nesse espaço entre o seio e a boca, entre o contato e o afastamento, que nasce a primeira forma de amor humano.
🎙️ Leitura por Alexandre Spinelli Ferreira
Neste capítulo, Winnicott expande a metáfora da digestão para além do corpo: o bebê não apenas digere o alimento, mas também as experiências que recebe.
O que entra — leite, afeto, presença — precisa ser transformado, assimilado e, finalmente, eliminado. Assim nasce o primeiro ciclo de trocas com o mundo.
Entre o orgânico e o simbólico, o autor revela como o processo digestivo inaugura o modo humano de lidar com o que se recebe, o que se retém e o que se precisa deixar ir.
🎙️ Leitura por Alexandre Spinelli Ferreira
Neste capítulo, Winnicott continua sua reflexão sobre a alimentação, mas agora desloca o foco: o que acontece depois que o alimento é recebido?
Mais do que uma questão biológica, ele explora como o bebê transforma a nutrição em experiência psíquica — como digerir, no corpo e na mente, aquilo que recebe do outro.
O alimento torna-se símbolo do amor que alimenta, da presença que acolhe e da ausência que também ensina. Um texto sobre o começo da vida emocional, onde o bebê aprende não só a mamar, mas a introjetar o mundo.
🎙️ Leitura por Alexandre Spinelli Ferreira
Neste capítulo, Winnicott nos conduz ao coração da relação entre mãe e filho, mostrando que alimentar vai muito além do ato físico de nutrir. É um encontro afetivo, uma forma de comunicação silenciosa, onde corpo e emoção se entrelaçam.
Entre o instinto e o cuidado, o autor revela que o vínculo emocional é o verdadeiro alicerce da alimentação — e que, quando esse vínculo flui naturalmente, o bebê e a mãe se ajustam um ao outro com harmonia.
Um texto sobre o amor que se dá em gestos cotidianos, sobre o prazer de nutrir e ser nutrido, e sobre a simplicidade essencial que sustenta a vida.
🎙️ Leitura por Alexandre Spinelli Ferreira
Neste episódio, leio o terceiro capítulo de A Criança e o seu Mundo, de D. W. Winnicott — um texto que fala sobre a confiança, o instinto e o milagre da vida em movimento.
Winnicott nos lembra que o bebê não é uma tábula rasa, mas uma organização em marcha, uma vida que já pulsa e cresce por si mesma. À mãe, cabe oferecer o solo, a água, o calor — e, sobretudo, a presença viva e confiante que sustenta sem sufocar.
Entre metáforas de sementes, gestos cotidianos e o prazer silencioso do cuidado, ele nos convida a perceber que amar também é saber não interferir — e que a saúde psíquica começa no espaço onde o bebê pode simplesmente ser.
🎙️ Leitura e reflexão por Alexandre Spinelli Ferreira
Neste episódio, leio o segundo capítulo de A Criança e o seu Mundo, de D. W. Winnicott — um dos textos mais ternos e reveladores sobre o vínculo primordial entre mãe e bebê.
Aqui, Winnicott nos convida a enxergar a maternidade não como instinto, mas como um processo de transformação, em que uma mulher vai, pouco a pouco, descobrindo o ser humano que cresce dentro e fora dela.
Entre gestos simples, olhares, toques e o ritmo das mamadas, ele mostra que o bebê é, desde o nascimento, uma pessoa inteira — e que o encontro entre mãe e filho é também o nascimento de uma nova forma de amor, de presença e de cuidado.
Um texto sobre o milagre cotidiano da dependência e sobre o poder silencioso do começo.
🎙️ Leitura e reflexão por Alexandre Spinelli Ferreira
Leitura do Capítulo 1 de “A Criança e o Seu Mundo”, de Donald Winnicott
Neste primeiro capítulo, Winnicott fala diretamente às mães — mas o faz a partir de um lugar inusitado: o de um homem que reconhece o mistério do que jamais poderá viver.
Entre humor e humildade, ele descreve o vínculo primordial entre mãe e bebê como a base da saúde emocional e da vida em sociedade.
Mais do que um manual, é um convite à escuta e à observação do que há de natural, instintivo e profundamente humano na maternidade.
Winnicott lembra que não há inteligência, técnica ou teoria que substitua o gesto simples e silencioso de uma mãe dedicada ao seu filho.
Uma leitura sobre amor, cuidado e presença — e também sobre o que nasce em nós quando ousamos sustentar a vida de outro ser.
🎧 Voz e leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
📚 Obra: A Criança e o Seu Mundo (Donald W. Winnicott)
Neste primeiro episódio, damos início à leitura de A Criança e o Seu Mundo, um dos livros mais acessíveis e humanos de Donald Winnicott.
Escrito originalmente em 1957, ele reúne reflexões e experiências que nasceram do contato direto com mães, pais e bebês — o terreno onde Winnicott desenvolveu sua compreensão mais viva da natureza humana.
Aqui, o autor propõe uma delicada inversão: em vez de ensinar às mães o que devem fazer, ele convida a reconhecerem o que já sabem.
Para Winnicott, os “instintos maternos” florescem não a partir de regras, mas da confiança em seus próprios recursos, da intimidade e da presença suficientemente boa.
A introdução do livro apresenta também uma reflexão social e simbólica: a saúde emocional do indivíduo e da cultura depende do reconhecimento do papel da mãe — essa mulher comum que, ao sustentar o bebê nos primeiros momentos de vida, sustenta também a civilização.
Negar esse papel é perpetuar o medo da dependência, medo que mais tarde se transforma em resistência à ternura e ao vínculo.
Com esta leitura, abrimos caminho para uma escuta que vai do colo à cultura, acompanhando Winnicott em sua busca pela origem do humano — onde a mãe e o bebê se encontram antes mesmo de existirem como dois.
“Todo ser humano saudável está em infinito débito com uma mulher.”
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui, de forma alguma, a leitura do livro impresso.
Livro publicado pela Zahar Editores (1965).Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Outubro de 2025
No encerramento desta obra fundamental, Winnicott desloca o foco da primeira infância para a adolescência, explorando suas complexidades emocionais, desafios e potências criativas.
Ele mostra como este período da vida é atravessado por buscas de identidade, confrontos com a autoridade, necessidade de pertencimento e experimentação de limites e como tudo isso se conecta ao brincar e à experiência cultural discutidos nos capítulos anteriores.
A partir dessa compreensão, Winnicott propõe reflexões sobre a função da educação no nível superior: não apenas transmitir conhecimento, mas oferecer espaço para o amadurecimento pessoal e para a sustentação de um self criativo e real.
“Educar é, também, oferecer um espaço onde o adolescente possa ser, experimentar e criar.”
Com este capítulo, concluímos a leitura integral de O Brincar e a Realidade, acompanhando Winnicott do início ao fim de sua investigação sobre o brincar como fundamento da experiência humana.
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui, de forma alguma, a leitura do livro impresso.
Livro publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio.
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Agosto de 2025
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Winnicott aprofunda sua investigação sobre como a vida emocional se constrói para além da força bruta dos instintos. Aqui, a lente recai sobre as identificações cruzadas: um campo onde o self e o outro se encontram, se confundem e se diferenciam.
Ele mostra como essas trocas sutis moldam a possibilidade de intimidade, confiança e crescimento emocional.
"Na brincadeira, como na vida, o encontro só é real quando cada um permanece sendo si mesmo."
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui, de forma alguma, a leitura do livro impresso.
Livro publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio.
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Agosto de 2025
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Neste capítulo profundamente sensível, Winnicott nos convida a refletir sobre uma pergunta simples, mas fundamental: O que o bebê vê quando olha para o rosto da mãe? A resposta, segundo ele, é que vê a si mesmo.
Partindo da noção de que o rosto materno funciona como espelho nos estágios iniciais do desenvolvimento emocional, Winnicott explora o impacto desse reflexo, ou de sua ausência, na formação do self, na criatividade e na maneira como nos sentimos reais. Ele contrapõe sua abordagem ao famoso “estádio do espelho” de Lacan, traçando um percurso próprio, mais íntimo e ambiental, centrado na experiência do bebê com o rosto da mãe e da família.
“O vislumbre do bebê e da criança que se veem no rosto da mãe e, mais tarde, no espelho, abre espaço para uma maneira de observar a análise e a tarefa psicoterapêutica.”
“Psicoterapia não é fazer interpretações perspicazes e apropriadas. Em grande medida, é devolver constantemente ao paciente aquilo que ele mesmo traz.”
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui, de forma alguma, a leitura do livro impresso.
Livro publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio.
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Agosto de 2025
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No episódio de hoje, mergulhamos em uma das reflexões mais poéticas e fundamentais de Winnicott: onde, afinal, vivemos?
Entre o dentro e o fora, o real e o imaginário, há um espaço transicional em que a experiência acontece e é justamente ali que Winnicott localiza o viver mais autêntico. Este capítulo amplia as noções desenvolvidas anteriormente sobre brincar, criatividade e cultura, situando-as não como eventos isolados, mas como modos de habitar a vida.
“O espaço potencial não é nem interno nem externo: é um lugar onde se vive.”
Winnicott nos convida a pensar a existência como algo que não se reduz à realidade objetiva, tampouco à fantasia privada. O “lugar em que vivemos” é essa área intermediária, onde nos encontramos com o outro, com a arte, com o mundo e com nós mesmos. E, principalmente, onde podemos ser.
Neste episódio, a leitura integral do capítulo é acompanhada pela intenção de resgatar esse espaço essencial, tão ameaçado pelo excesso de realidade ou pela evasão fantasiosa. Ouça com presença e, quem sabe, reencontre esse lugar em você.
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui, de forma alguma, a leitura do livro impresso.
Livro publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio.
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Agosto de 2025
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“O brincar é sempre experienciado como estando situado em algum lugar.”
Neste capítulo, Winnicott amplia sua reflexão sobre a zona intermediária entre realidade interna e externa, introduzindo o conceito de espaço potencial como o lugar onde a cultura se instala. Ele propõe que a experiência cultural (a arte, a religião, o simbolismo, o brincar) não está nem dentro do sujeito, nem puramente no mundo exterior, mas localizada numa área transicional partilhada.
A cultura, assim, é fruto de uma continuidade psíquica com a experiência infantil do brincar, sendo sustentada por um ambiente suficientemente estável para permitir a vivência simbólica. A internalização desses espaços e objetos transicionais é o que permite ao adulto criar, significar e pertencer.
Destaque: toda expressão cultural autêntica exige um solo psíquico fértil: e esse solo é criado na relação.
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui, de forma alguma, a leitura do livro impresso.
Livro publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio.
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Agosto de 2025
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Hoje nos debruçamos sobre uma ideia que, embora pareça simples, reverbera profundamente em nossa prática clínica: o uso de um objeto.
Até aqui, falamos muito da relação com objetos, do vínculo, da projeção, da identificação. Mas a noção de uso, esse verbo tão direto, ainda não foi suficientemente explorada. E é justamente o que Winnicott nos propõe nesse capítulo, baseado em sua longa experiência clínica.
Ele reconhece que só nos últimos anos de sua prática se sentiu capaz de esperar pela transferência emergir com naturalidade, sem precipitar interpretações que, muitas vezes, interrompem o processo criativo do paciente. Porque, quando conseguimos esperar, o paciente chega às suas próprias compreensões criativamente, e com alegria.
O ponto central aqui é: não basta se relacionar com um objeto. É preciso poder usá-lo. E para isso, o paciente precisa nos colocar fora da área dos fenômenos subjetivos, ou seja, nos perceber como algo externo, real, separado de sua fantasia.
A relação de objeto pode ser descrita em termos do sujeito. Mas o uso do objeto exige uma realidade compartilhada. O objeto precisa ser reconhecido como algo que existe por si, não como projeção, nem como extensão do self.
E o que acontece entre uma coisa e outra?
A transição entre relação e uso não é automática. Ela passa por um momento absolutamente crucial e delicado: o sujeito destrói o objeto. Não no mundo real, mas na fantasia inconsciente. E se o objeto sobrevive a essa destruição, ele se torna utilizável.
O paciente pode, então, dizer:
“Eu te destruí. E você está aqui. Agora posso te amar. Agora posso te usar.”
Esse processo marca a construção da realidade externa. A destruição do objeto não é sinal de patologia, mas condição para que ele se torne real, pois só o que é real pode ser destruído, e só o que sobrevive pode ser usado.
Na clínica, isso significa resistir ao impulso de retaliar ou interpretar precipitadamente os ataques do paciente. É preciso sobreviver a eles, silenciosamente. Como uma mãe suficientemente boa que, ao invés de moralizar a mordida do bebê no seio, entende esse gesto como parte do desenvolvimento emocional.
Assim, o analista, enquanto objeto real, se torna parte da realidade do paciente, e não apenas uma figura projetiva. Muitos pacientes chegam já com essa capacidade constituída. Mas outros precisam que o analista sobreviva aos seus ataques para, enfim, poder usá-lo.
A sequência proposta é:
O sujeito se relaciona com o objeto.
O objeto é encontrado, em vez de criado.
O sujeito o destrói.
O objeto sobrevive.
O sujeito pode usá-lo.
É nesse pano de fundo de destruição inconsciente que nasce a possibilidade de amor verdadeiro: amor por um objeto real, que não se confunde com a onipotência do self.
Usar, nesse contexto, não é explorar. É nutrir-se de algo que vem de fora, que é outro e que, por isso mesmo, transforma.
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui, de forma alguma, a leitura do livro impresso.
Livro publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio.
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Agosto de 2025
“O indivíduo criativo sente que a vida vale a pena ser vivida.”
Neste capítulo, Winnicott nos convida a mergulhar nas raízes da criatividade. Mais do que talento artístico ou produção simbólica, a criatividade aqui é compreendida como uma forma de estar no mundo: um estado de vitalidade e presença que nasce da experiência viva, e não da submissão à realidade imposta.
Ele diferencia uma existência criativa de uma existência submissa, revelando como a ausência de um ambiente suficientemente bom pode bloquear a capacidade de criação. Ao longo do capítulo, o autor propõe que a criatividade tem seu início nas primeiras experiências de ilusão vividas com a mãe; experiências que, quando sustentadas com sensibilidade, permitem ao bebê criar o mundo antes de percebê-lo.
Destaque: a criatividade, segundo Winnicott, não é um dom, é um direito psíquico.
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui, de forma alguma, a leitura do livro impresso.
Livro publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio.
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Agosto de 2025
“É no brincar, e apenas no brincar, que o indivíduo é criativo e utiliza toda a sua personalidade. Somente sendo criativo, ele descobre o self.”
Neste episódio, Winnicott aprofunda a ligação entre criatividade, confiança e a formação do self. O brincar é entendido não apenas como atividade lúdica, mas como espaço essencial para a existência psíquica. O autor discute a importância do espaço potencial, da amorfia e da não exigência de sentido, trazendo implicações diretas para a prática clínica.
Com exemplos vívidos e reflexões provocadoras, somos convidados a repensar a função do terapeuta: não como intérprete apressado, mas como quem sustenta o silêncio fértil onde algo novo pode emergir.
“Se o terapeuta é incapaz de brincar, não está apto para o trabalho clínico.”
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui a leitura do livro impresso, que inclui imagens, esquemas e ilustrações fundamentais.
Livro publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio.
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Julho de 2025
Neste episódio, Winnicott se aventura no coração do livro: uma teoria do brincar. Para ele, brincar não é apenas atividade lúdica da infância: é um acontecimento psíquico essencial, que marca o desenvolvimento do self e inaugura um território entre realidade interna e externa.
“A brincadeira é sempre uma experiência criativa, vivida como real. Essa é a essência.”
E é neste “espaço potencial”, onde a criança cria o mundo e o descobre ao mesmo tempo, que nascem também a cultura, a arte e a possibilidade de estar com o outro.
Winnicott diferencia o brincar do jogo, do fazer-de-conta e do uso defensivo da fantasia. Explora as condições para que ele emerja, sua importância nos processos terapêuticos e seu papel como experiência existencial.
Mais do que teoria, este capítulo é quase um manifesto: sem brincar, não há saúde psíquica.
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui a leitura do livro impresso, que inclui imagens, esquemas e ilustrações fundamentais.
Livro publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio.
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Julho de 2025
Neste capítulo, Winnicott mergulha num terreno clínico e poético: a tênue e vital diferença entre fantasiar, sonhar e viver. Com base no acompanhamento de uma paciente, ele revela como o devaneio, muitas vezes confundido com imaginação, pode se tornar prisão dissociativa. E como, paradoxalmente, apenas ao tocar a realidade do sonho, a vida pode ser recuperada.
“Sonhar e viver aparentavam ser duas coisas da mesma ordem, enquanto o devaneio seria de outra.”
O caso clínico apresentado é pungente. Uma mulher talentosa e promissora, mas eternamente paralisada em um estado dissociado de fantasia estéril. Vivia num entre-lugar onde tudo acontecia dentro, mas nada se realizava fora. Suas fantasias, criadas ainda na infância como substitutos do gesto e da presença, tornaram-se muralhas. Murais pintados do lado de dentro, enquanto o mundo seguia do lado de fora.
“O suicídio não representa uma solução, mas apenas o fim da luta.”
Winnicott revela como, na análise, os sonhos começaram a surgir. E com eles, uma reconstrução do self. O material dissociado começa a escorrer para o campo do simbólico. A paciente sonha, pela primeira vez, com uma filha. E esse sonho a conecta à infância negada, à sexualidade silenciada, ao desejo interditado pela história de abandono e desilusão precoce com a mãe.
“A fantasia interfere na ação e na vida do mundo real externo. Mas ainda mais do que isso, interfere no sonho e na realidade interna psíquica.”
É neste ponto que Winnicott propõe uma palavra que ecoa como símbolo: amorfia. A ideia de que o sonho é o molde do que ainda não tem forma. A paciente percebe que nunca lhe foi permitido ser amorfa, sempre teve de se moldar às expectativas dos outros, sem espaço para se tornar.
“Ela ficou extremamente enraivecida. Qualquer resultado terapêutico dessa sessão seria majoritariamente derivado dessa raiva. Uma raiva direcionada, não uma fúria, mas sentimento com motivação lógica.”
Neste episódio, acompanhamos uma trajetória íntima de reconstrução psíquica. Não se trata de diagnóstico, mas de escuta. Não de teoria aplicada, mas de um testemunho clínico que nos convida a pensar: onde termina a fantasia improdutiva e começa a imaginação viva?
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui a leitura do livro impresso, que inclui imagens e estruturas textuais importantes.
O Brincar e a Realidade, publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Julho de 2025
Neste episódio, entramos no núcleo conceitual do pensamento de Winnicott: o objeto transicional e os fenômenos transicionais: aquilo que nasce entre o que é “meu” e “não meu”, entre o seio e o cobertor, entre a fantasia e a percepção objetiva.
Com a elegância teórica que o caracteriza, Winnicott descreve a área intermediária da experiência: esse território fértil onde habitam o brincar, o gesto criativo, o sonho e a cultura. Uma área que o bebê ocupa antes de separar com nitidez o que vem de dentro e o que chega de fora — e que, no adulto, continua viva na arte, na religião, no amor, nos fetiches e até nas mentiras mais bem contadas.
“Trata-se de uma área que não é posta à prova, já que nada se afirma a seu respeito, a não ser que ela deve existir como local de repouso para o indivíduo.”
O autor nos convida a abandonar dicotomias simplistas. O objeto transicional não é nem interno nem externo, mas uma ponte viva feita de afeto, cheiro, uso, e, sobretudo, de ilusão tolerada. É nesse espaço que a realidade começa a ser negociada.
Ao longo do capítulo, ele articula conceitos centrais da psicanálise (como onipotência, simbolismo, ilusão e desilusão) com uma série de observações clínicas que mostram a riqueza dessa experiência nos bebês e suas possíveis falhas ou excessos. Do paninho sujo que não pode ser lavado ao barbante transformado em sintoma, vemos como o objeto transicional sustenta o processo de separação sem colapso.
“Não existe a menor possibilidade de o bebê passar diretamente do princípio do prazer para o princípio da realidade, a menos que se tenha uma mãe suficientemente boa.”
“O objeto transicional não é uma alucinação. Mas também não é algo totalmente externo. Existe um acordo entre nós e o bebê de que nunca faremos a pergunta: ‘Você criou isso?’”
Também é aqui que reaparece a figura da mãe suficientemente boa, cuja adaptação ativa permite à criança criar o seio ao mesmo tempo em que o recebe. Uma mãe que ilude para depois desiludir, numa coreografia que permite ao bebê sair da magia para encontrar o mundo sem que o mundo o destrua.
Este capítulo é uma travessia teórica e sensível. É Winnicott em sua forma mais radical: recusando os extremos, valorizando o paradoxo, e apontando que o essencial da vida psíquica se dá... entre.
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui a leitura do livro impresso, que inclui imagens e tabelas fundamentais para a compreensão.
O Brincar e a Realidade, publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Julho de 2025
Damos início à leitura de O Brincar e a Realidade, de Donald W. Winnicott, publicado pela Ubu Editora, com tradução de Breno Longhi e revisão técnica de Leopoldo Fulgêncio. Este não é um livro apenas sobre o brincar, mas sobre aquilo que torna possível a existência de uma realidade compartilhada, algo que só pode emergir na zona de transição entre o dentro e o fora, entre o eu e o outro, entre o gesto e o significado.
Neste primeiro episódio, ouvimos os agradecimentos e a introdução da obra. Winnicott começa reconhecendo seus interlocutores (editores, colegas, pacientes) e já sinaliza o que virá: a ideia de que a experiência transicional é universal, embora profundamente singular.
Ele retoma seu artigo seminal de 1951, Objetos Transicionais e Fenômenos Transicionais, ampliando a investigação sobre esse espaço intermediário da experiência humana: aquele onde a criança cria, brinca, fantasia e descobre, aos poucos, que existe. Mais do que o objeto em si (o pano, o ursinho, a chupeta), interessa-lhe o uso que se faz dele, e o paradoxo que esse uso sustenta: aquilo que é “meu” e “não meu” ao mesmo tempo.
Winnicott nos propõe uma postura diante desse paradoxo: não solucioná-lo racionalmente, mas tolerá-lo e respeitá-lo. Pois, ao tentar explicá-lo, corre-se o risco de matá-lo. É dessa tolerância que nasce a possibilidade de jogo, cultura e subjetividade.
Nesta introdução, ele também compartilha suas inquietações sobre o risco de classificar o inclassificável, como se o uso do objeto transicional pudesse ser encaixado em uma tipologia. O rosto humano, ele diz, também se rebela contra classificações: basta um movimento, um gesto, para escapar de qualquer molde.
Trata-se, portanto, de um convite à escuta atenta e ao olhar clínico, mas também à poesia. A teoria aqui não é um fim em si, mas uma ponte para compreender aquilo que acontece quando a criança brinca, e com isso se constrói como sujeito.
Este é apenas o começo da travessia.
Este audiobook é um apoio ao estudo da obra, mas não substitui a leitura do livro impresso, que inclui imagens, esquemas e ilustrações fundamentais à compreensão do pensamento do autor.
O Brincar e a Realidade, publicado pela Ubu Editora
Leitura: Alexandre Spinelli Ferreira
Julho de 2025