No início da meditação, da prática da meditação eu tenho que ter claro qual é o meu objectivo, para quê que eu faço isto?
E o objectivo último, maior da meditação é entender e reconhecer esta identidade, a verdade sobre quem eu sou, a identidade entre o indivíduo e o todo que não é uma união, uma fusão, uma vez que nunca estiveram separados, é o reconhecimento, a visão de que são um só!
Vários outros podem ser os pequenos ganhos alcançados, a tranquilidade, a paz, o foco a concentração, mas o objectivo maior é a clareza em relação à verdade de quem sou eu.
O momento de meditação é uma oportunidade especial para eu estar comigo mesma, mesmo que por alguns minutos, nestes minutos eu reconheço e acolho a pessoa que sou, reconheço e acolho a minha própria limitação devido à minha humanidade. Com objectividade procuro ver as minhas limitações mas também tudo aquilo que tenho e que me permite viver a vida.
Eu não preciso de ser diferente daquilo que eu sou como pessoa, mas eu posso ser se achar necessário, fazer algumas mudanças. Querendo eu tenho o poder de fazer algumas mudanças e aplicando de novo a objectividade perceber aquilo que não esta nas minhas mãos mudar.
Quando eu entendo a natureza do espaço, quando vejo que ele tudo permeia, percebo que ele não pode ser dividido, que é um único, mas que através de diferentes pontos de referência parece limitado e múltiplo. O factor de limitação torna-se aparente, mithya, efectivamente ele não limita o espaço, porque agora eu entendo a sua natureza, vejo que é tudo permeante e um único, um só, livre de limitação.
Assim como a consciência, uma consciência que tudo permeia, que não tem uma forma específica, que é livre de forma mas que parece assumir várias formas, a consciência, que eu sou eu, é a consciência que tudo permeia, que permeia todo o universo.
Na natureza, prakriti, existem 3 grandes poderes - o poder de desejar, o poder de conhecer, o poder de agir.
Estes poderes não estão na mão do indivíduo, não é uma escolha que possamos fazer, mas uma força da natureza, para o funcionamento de tudo é necessário que haja o desejo, o desejo para conhecer, para realizar, o desejo que antecede a acção, o desejo como um mortor. Mas este mesmo desejo pode ser também um instrumento de ilusão e de confusão na vida do ser humano.
O primeiro compromisso de uma vida de yoga é a coerência, entre as 3 acções: a acção, a fala e o pensamento. O exercício de colocar estes 3 em harmonia.
As acções, as palavras e o meu pensar devem estar em harmonia, coerentes, esse alinhamento exige uma meditação, uma atitude de grande atenção.
Que as minhas palavras possam traduzir o que eu penso e sinto, que as minhas acções possam traduzir aquilo que eu digo, penso e sinto…
Eu, como pessoa, sou parte integrante de todo o universo. Pessoas, natureza, animais, plantas, o oceano, lagos, lagoas, o vento, o fogo, o sol, a lua, as estrelas, todo o universo e cada um de nós enquanto indivíduo, faz parte de um cosmos, de forma inseparável.
Este cosmos, obedece a leis, leis que não falham, que podem ser estudadas pela ciência, que não são governadas por nenhum de nós, mas que em si só são inteligentes e infalíveis, são significativas.
Do ponto de vista do sujeito, eu sou sākshi, a testemunha, a luz que ilumina vários pensamentos e a natureza desta testemunha é luz, livre de envolvimento, mas sempre presente.
Uma Presença, livre de acção, que ilumina todas as acções, mas que é ela mesma livre de acção, como o sol, livre da acção de iluminar ou de parar de iluminar, mas por natureza é luz. O iluminar não se faz por uma acção mas sim pela sua própria natureza de ser.
Neste vigésimo episódio falei com o Miguel Homem sobre a sua experiência de 20 anos de prática de meditação e alguns mitos que se criaram em torno deste tema. Falámos também sobre o propósito desta prática, os benefícios que podemos extrair dela, mas também os obstáculos que podem surgir no caminho!
Esperamos que gostem e que vos possa esclarecer de algum modo.
Uma vez que o foco na meditação é a mente, para me ajudar a ver o que é a base da mente, o que é isto que está sempre presente, livre de qualidades, que não nasce, nem desaparece… que está sempre lá, para ver isso fazemos japa - a repetição de um mesmo mantra, o mantra como um pensamento, só que sendo sempre o mesmo mantra, permite que a mente se foque.
Esta é a razão para fazermos japa - não há qualquer magia ou mito - trata-se de uma técnica de concentração que nos permite olhar para a mente e ver o que está na sua base.
Sempre que a mente se dispersa, pensa noutras coisas, sem me irritar, sem reagir, sem criticar eu trago a mente de volta ao objecto de meditação que é o mantra, neste caso.
Neste processo eu posso olhar tranquilamente para o mantra e ver que antes e depois dele, existe um silêncio.
Na meditação o nosso foco, é a mente, uma mente com a capacidade de focar, de se concentrar e de estar disponível para uma apreciação sobre mim mesma, mim mesmo. Mas quanto mais subtil é o entendimento que se quer ter mais difícil se torna a concentração, exige muito mais da nossa mente.
Quando o que eu quero entender é o meu corpo físico, é mais fácil, evidente e concreto, quando o foco é a mente e o seu entendimento é muito mais difícil e subtil, mas existe uma conexão entre o corpo e a mente.
Estou presente, e este estar presente acontece se eu reconheço a existência de uma inteligência, na manifestação, uma ordem em tudo.
Quando eu reconheço a ordem, uma ordem inteligente, que eu vislumbro e aprecio quando olho para a natureza, eu sei que o universo não conspira contra mim.
O mundo “ não se uniu para me tramar” como diz a canção, não está contra mim.
Eu deixo de lado mais esse papel que às vezes assumimos para nós mesmos de vítima e reconheço que, a mesma inteligência que mantém tudo no devido lugar, guia o funcionamento do meu próprio corpo, o funcionamento da mente, e tudo aquilo que eu faço e que posso fazer é aprender sobre o funcionamento do corpo e da mente para poder usá-los mais adequadamente.
Eu observo o pensamento, ele é um objecto, eu o observador , o pensamento o objecto observado, seja ele de desejo, raiva, preocupação, lembrança, raciocínio, todos são objectos observados por mim. Quando eu sou capaz de ver isto cria-se uma pequena distância entre eu e o pensamento, eu vejo que o pensamento é um objecto e eu aquele que observa, testemunha dos objectos. Testemunha na forma de presença e consciência.
A consciência acolhe o fluxo de pensamentos, sem ela não há pensamento, eu sou a consciência que ilumina o pensamento, que o revela, que é a base para o fluxo de pensamentos.
A meditação é uma prática diária, o momento reservado para estar comigo mesmo, mas para começar é necessário que a mente esteja disponível para esse momento.
Mesmo que a meditação seja guiada, quem faz a meditação sou eu, se eu não estou disponível para este momento, ninguém poderá fazê-lo, por melhor que possa ser o guia ou a meditação guiada.
Quando sento para meditar sozinho, nem sempre me vejo sozinho. Algumas pessoas vivem dentro e fora de mim. Algumas pessoas enraivecem-me. Algumas datas que marcam determinado acontecimento, enraivecem-me, o mundo externo faz-me responder de forma além do meu controlo.
Quando vemos a natureza, o céu estrelado, o bailado das aves, o florir das árvores, não existe insatisfação ou queixa interna. Eles não fazem nada para nos satisfazer, mas o ser essencial e satisfeito que somos aparece porque não queremos que nada do que vemos no momento seja diferente do que é.
Nesta meditação recordamos os básicos, descortinamos as dificuldades e ajudamos a criar soluções para quem começa a meditar e se vê confrontado com o seu próprio silêncio. Lidar com o corpo e aprender a relaxar, com o fluxo de pensamentos e aprender a largar, abraçar e acolher a presença silenciosa que somos isso é a base da meditação.
Ao cumprir o meu propósito e ao descobrir uma satisfação e um amor por mim mesma, naturalmente sem esforço algum eu abro mão da tristeza, da depressão ou da sensação de estar fora do lugar, quanto mais eu aprecio a minha contribuição no mundo e me sinto valorizada por isso, mais sem esforço algum eu abro mão da menos valia, da dúvida sobre o meu próprio valor.
"The Guru is not someone great but someone who shows you the greatness in you.” À luz desta frase do Swami Dayananda, olhamos para nós e reconhecemos uma grandeza, uma apreciação pela pessoa que sou.
Uma grandeza que não tem o sentido de comparação com ninguém, eu não sou maior ou melhor do que ninguém eu sou grande por natureza. A minha natureza de pertença faz com que eu tenha o tamanho do Universo, eu tenho todo o Universo em mim.
Não há como me sentir pequena, separada ou alienada, mas ainda assim, muitos de nós sentem-se exactamente assim. É nessa altura que eu procuro um professor, um guia, alguém que possa dissipar a confusão, levantar o véu para que eu possa ver.
Neste episódio a voz está no masculino ;)
No silêncio eu encontro-me. O silêncio não é um enorme vazio mas um espelho da paz que sou eu.
Meditar não é uma tentativa de controlar a mente para que esta passe a ter apenas pensamentos e tranquilidade e alegria, meditar permite-nos sim conhecer melhor a natureza da mente e, a partir desse entendimento, abrir a possibilidade de apreciarmos o imutável e livre que somos, apesar da dualidade da mente e do Universo. A esse momento de clareza e visão em que temos a percepção não dual da consciência sempre presente que somos chamamos de samadhi, esse é o objectivo da meditação.
Esta é uma sessão um pouco diferente. Usamos a respiração como uma ferramenta para trazer para a mente algumas características de uma mente meditativa: foco, tranquilidade e introspecção.
Fazemos juntos o nādī śodhana, que consiste em respirar alternadamente e com ritmo por cada uma das narinas, e que é feito na Índia antes de muitos rituais e da própria meditação, como uma forma de purificação interna que nos prepara para o vem a seguir. Para além deste propósito, o pranayama tem um efeito evidente e imediato no sistema nervoso e há vários estudos científicos que comprovam esta relação directa entre respiração -sistema nervoso.
Eu guio alguns ciclos de nādī śodhana pranayama para que possam acompanhar sem tensão depois, tendo aprendido, poderão praticá-lo ao vosso próprio ritmo antes de iniciarem uma meditação, sobretudo naqueles dias em que se sentem mais agitados.