A psique às vezes nos apresenta inseguranças que acabamos por ficar interditados. A insegurança é criativa e destrutiva. Descubra aqui o porquê. A questão muitas vezes não é a insegurança, mas a vontade de controle.
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A beleza não tem usado espelhos, não possui perfil nas redes sociais, não está na décima segunda cirurgia de plástica. Na arte, Afrodite aparece tão pouco e ainda mesmo não é percebida. A beleza sumiu do mundo. Afrodite, a dourada, a deusa da beleza, do amor, dos beijos mais doces, fugiu do mundo. E aqui estamos nós, procurando-a.
Não existe uma cultura sequer que não fez do sol um símbolo. O simbologia do sol é vasta e não caberia aqui neste artigo. Fico somente com a ideia que presenciamos hoje. Neste mundo atual em que, como aponta Byung Chul Han, o indivíduo sente-se impelido em ser cada vez mais performático, produtivo, poderoso, positivo e dono de si, não é difícil associar a estrela que deu a vida ao planeta ao devir do indivíduo massificado. A onipotência que experenciamos diante do sol está relacionada com aquilo que o ego quer se tornar.
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Existe tamanha identificação coletiva com a Barbie que isso me chamou atenção. E se ela fosse humana? Não seria um culto? Felizmente, para a psicologia junguiana e hillmaniana, tudo o que afeta é real. Existe um ser que habita a boneca. E por isso vou fazer uma breve análise psicológica dela. Imaginemos que ela sentou na poltrona da clínica, olhou para você e começou a contar sua história.
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Neste cenário contemporâneo, o indivíduo se vê constantemente dividido entre a demanda de produtividade representada pela “máscara do colaborador” e a necessidade vital de sua alma, muitas vezes negligenciada, conduzindo a um estado de angústia e exaustão. A máscara do trabalho e a ansiedade gerada por ela obscurecem a conexão do indivíduo com a sua essência, muitas vezes levando ao esgotamento e à autodestruição. Paradoxalmente, a ideia de lazer foi corrompida pela lógica produtivista, se tornando um palco para autopromoção em vez de um espaço para descompressão. Reconhecer a angústia e reivindicar um lazer verdadeiro são passos essenciais para restaurar a conexão com a alma e construir uma existência mais plena e autêntica.
Nesse episódio, Gabi e eu comentamos sobre a série "Respire" da Netflix. Uma jovem sobrevive à queda de um avião no meio da selva canadense. Assim, ela precisa aprender a lidar com a natureza e com seus próprios demônios.
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No conto, Dorothy é levada por um ciclone, juntamente com seu cão Totó e sua casa no interior do Kansas - lugar cinza e permeado de conflitos, até um mundo novo e mágico, vibrante em cores, chamado OZ. Entretanto, quando lá chega seu maior desejo é poder voltar para casa, o que foi lhe dito que somente OZ, um poderoso mago e regente, situado na Cidade das Esmeraldas, poderia tornar possível. E assim inicia sua busca por encontrar o poderoso mago. Este episódio analisamos o Mágico de Oz pela alquimia e à luz da Psicologia Analítica de C. G. Jung.
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Estou apaixonado, e agora?
Escrevemos tanto sobre a paixão e tentamos explicá-la tanto quanto foi insuficiente esta empreitada para entende-la. De autores mais consagrados e suas inspirações momentâneasaté aqueles casais apaixonados que vimos no metrô e afetou-nos de algum jeito. Ainda tem aquela famosa frase que sempre nos perguntamos: como saber se estou apaixonado? Basta sentir o deus atravessando.
Eros, como Cupido, é tanto um deus como um demônio (assim como todos os outros, claro)– brincando de criar namoros, destruir casamentos, inspirar obras expressivasartisticamente e incitar guerras (lembremos da Guerra de Tróia).
Rene Magritte, Los Amantes
Seria arrogância escrever aqui sobre as flechas de Eros e ele mesmo. Como descrevê-lo complemente? Podemos imaginar somente da parte da consciência: um envenenamento (perceba Vênus agindo aqui) pela flecha, provoca um pensamento obsessivo e inexorável, um sentimento unilateralizante e viciante, uma sensação enganada que percebe o amante em tudo e em todo lugar bem como uma explosão de hormônios, lubrificações e taquicardias; e uma intuição paranóica, sincronística e fantasiosa. A verdade é que a mulher e o homem apaixonados são irreconhecíveis.
Vale percebermos que esta descrição não parece o encontro entre duas pessoas, mas entre um mortal e um imortal, entre o humano e o divino. É, sem dúvidas, um apagar da racionalidade medíocre e incapaz a qual a humanidade agarra-se tanto, em prol da irracionalidade aterrorizante e deliciosamente vertiginosa. Na imagem: é o deus alado nos abraçando, assim como fez com Psique, e nos arrastando para os céus e para os infernos. Neste momento, inspirando-se em Kierkgaard, podemos compreender o quanto a angústia (angst- como aperto e abraço) é uma liberdade e como a liberdade pode angustiar.
Paixão do Grego provém de "Pathos": sofrimento e afeto. E além de paixão, cria palavras como "patologia", "patético" e diversas outras palavras. Como não é possível descrever o que é a paixão, Eros e suas flechas, só podemos compreender que ela é um afeto, um sofrimento, chegando a adoecer e nos colocar em uma posição que muitas vezes consideramos patética.
E a maneira que concebemos a ideia de patético (ou de apaixonado) faz a maior diferença. Os patéticos que se entregam à paixão de Eros, isto é, às risadas, choros e fantasias de luz, sombra e eróticas, compreendem e honram a passagem do deus, colocando-se no lugar de humano, de mortal e venerando e respeitando a passagem vertiginosa descrita acima. Para o humano nunca é fácil, mas é possível aprender a ser um mediador do que ali provém: as expressões mais belas e impactantes é Eros quem fecunda.
Para indivíduos que estão mais inflados, ligados ao racionalismo, e também aqueles mais materialistas, possessivos e controladores, que tratam o outro como objeto e que jamais olharam para dentro de si; ao sentir o patético em si, sente-se também humano, mas este sentimento de mortalidade e de entrega lhes é inconcebível. Não renunciando à sua inflação, o que lhes resta é a tentativa falha de controlar a paixão, possuir o amante e tentaracorrentar Eros a fim de acabar com a sua passagem e o que dela pode provir. Para estes o Mistério é o pior inimigo. A meia luz erótica parece-lhes perigosa demais. E talvez seja mesmo.
Se para todo controlador existe um controlado, para todo possuidor existe um possuído, temos que tomar cuidado para a entrega à patetice não ser feita ao humano do outro lado. Isto é, acabamos também por crer que o deus do Amor é o outro ser humano, o outro patético. Ledo engano. Quando isso ocorre, acabamos por renunciar a personalidade em nós para viver de acordo com as expectativas do outro. Rebaixamo-nos, subjulgamo-nos. Para este outro, o mundo nunca fora tão confortável: sente-se completo, visto que agora parece que ele relaciona-se concretamente com sua anima ou animus.
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O sol levanta, o despertador toca e lá vamos nós novamente para o nosso cotidiano. Aquela espreguiçada é ótima para acordar o corpo. A partir daí, o relógio do dia começa a seguir, maquinalmente. Assim como o ponteiro faz a mesma volta fatídica, nós também acabamos por seguir com nossos automatismos, retornando aos mesmos afetos, raciocínios, entre outros.
As preocupações do trabalho chegam, delírios de uma futura demissão bate à porta. O namorado ou a namorada não mandou mensagem de bom dia. "Será que ele me ama?"; "onde ele está? o que está fazendo?". O gato espirra e já pensamos em uma possível pneumonia. A foto postada na rede me afeta porque meus dois amigos saíram sem mim: "será que eu tenho amigos de verdade?"
Mal o relógio da parede deu uma volta e nós já demos cinquenta voltas em torno do sol com nossas mentes. Não porque tudo o que foi pensado aconteceu, mas porque nós, seres humanos, tendemos, naturalmente, a pensar sempre em cenários negativos de futuro, a fim de garantir e antecipar o sofrimento, antecipando uma possível resolução. O fato é que muito do que fantasiamos, não acontece.
Esse caminho automático de buscar a m*rda é comum. É uma atitude de vida que, sem consciência, acabamos por seguir facilmente. Sobre isso, as moscas já fazem esse caminho há milhões de anos. Elas são grandes recicladoras da natureza. Porém, nós humanos, superamos esses seres alados e buscamos as m*rdas futuras!
Muitos de nós, presos nesse automatismo, buscamos a m*rda, comemos m*rda e defecamos a m*rda e comemos de novo – é um ciclo infinito. Pois, assim que já defecamos já temos o alimento fresquinho. Diferente das moscas, nós buscamos tanta m*rda que não existe tempo hábil para as reciclagens, aliás, não existe nem matéria prima para isso, já que toda essa montanha de m*rda é uma antecipação.
Seria mais fácil não procurar a m*rda, afinal, as m*rdas da vida, querendo ou não, caem sobre nossas cabeças numa quarta-feira à tarde, subitamente, no momento em que nos damos o direito de relaxar um pouco. Essas, ao contrário das supracitadas, são menos ilusórias. E, sim, fazendo o papel de mosca, deveríamos reciclá-las, isto é, refletir, levar para terapia, em prol de uma solução.
Outro inseto tão importante quanto a mosca nos habita: a abelha – a grande produtora de mel! Isso, simbolicamente, o elixir dos deuses. O processo de produção do mel envolve várias etapas e ocorre nas colmeias, onde as abelhas vivem e trabalham. A primeira coisa que uma abelha melífera faz é a coleta de néctar! Elas voam de flor em flor coletando néctar, que é uma substância açucarada produzida pelas plantas. Elas usam sua língua, chamada de probóscide, para sugar o néctar das flores.
Aqui já percebemos que deixar de buscar a m*rda para produzir o mel é mais dificultoso, pois esse processo demanda de uma prontidão e de uma determinação do indivíduo, seja da abelha, seja do ser humano. Já, na atitude "mosca" está tudo pronto. Isto é, no começo não é automático igual a m*rda, precisamos daquilo que se chama consciência!
O mel psíquico aqui é o que está em foco. Quando nos policiamos diante da atitude de buscar as m*rdas e começamos a tentar encontrar néctar e produzir mel, estamos agindo não somente em prol de nós mesmos como em prol da comunidade, da sociedade, da diversidade e da alteridade.
O símbolo do mel é diverso. Como vemos: Fertilidade e reprodução; Saúde e cura; Imortalidade e vida após a morte; Sabedoria e conhecimento; Abundância e prosperidade; União e harmonia.
Aqui não quero defender uma ou outra atitude de vida. Afinal, precisamos ser moscas para reciclar as verdadeiras m*rdas que nos chegam. Reciclando elas, teremos um belo de um adubo para assim fazer as plantas cresceram, florescerem e, então, buscarmos o néctar para produzir o mel. Ou seja, minha proposta é ser mosca e abelha na medida certa! Uma não vive sem a outra.
Leonardo Torres, analista junguiano.
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Muito tem-se falado de Carl Gustav Jung e sua teoria dos arquétipos e do inconsciente coletivo, isto é, padrões universais compartilhados por todas as culturas e civilizações. No entanto, é importante salientar que, segundo sua teoria, a "ativação" dos arquétipos é um processo que não pode ser manipulado diretamente. Por vezes, Carl Jung utiliza o termo "ativação", mas não se referindo ao ego como um agente da ativação. Afinal, como ele afirma: o arquétipo impõe-se.
Os arquétipos, de acordo com Carl Gustav Jung, são formas, estruturas psíquicas inatas de experiências humanas, que se manifestam por meio de símbolos, mitos e histórias, isto é, representações arquetípicas. Aquilo que é manifesto, portanto, não é o arquétipo em si, mas uma imagem manifesta. Essas imagens e padrões arquetípicos emergem do inconsciente coletivo, que é uma parte profunda e compartilhada da psique humana, provinda da herança cultural, histórica e evolutiva humana (ou do universo). O inconsciente coletivo difere do inconsciente pessoal, que é formado por experiências individuais e vivências pessoais.
É importante esclarecer que Carl Jung não considerava possível "ativar" arquétipos de maneira deliberada, intencional ou consciente. Em vez disso, os arquétipos emergem de forma espontânea do inconsciente coletivo, moldando e influenciando a experiência e o comportamento humano.
Os arquétipos, segundo Jung, manifestam-se por meio dos sonhos, da imaginação ativa, dos transes e rituais. Todas essas formas de manifestação demandam de um rebaixamento da consciência para que o inconsciente coletivo possa adentrá-la, totalmente diferente do que estão praguejando nas redes sociais: "concentre-se nas características da imagem que você baixou do pinterest!".
Para Jung, portanto, é impossível somente a consciência criar um símbolo (uma representação arquetípica); o processo se dá quando há um encontro entre inconsciente emergindo e a permeabilidade da consciência. Ou seja, a relação entre essas instâncias, é de suma importância. O arquétipo, ou melhor, a imagem arquetípica emerge em um processo espontâneo e natural, que não pode ser forçado ou manipulado intencionalmente. Falar em ativar arquétipos de forma deliberada seria contraproducente, já que isso poderia levar a distorções na compreensão e interpretação da teoria junguiana.
Além disso, os arquétipos existem e não existem e não podem ser reduzidos a representações concretas ou simplistas. Eles são multifacetados e se manifestam de diferentes formas em diferentes culturas e indivíduos. O arquétipos não são nem bons, nem maus, são ambos; não são nem morais, nem imorais, são ambos e nada disso.
A tentativa de ativar ou manipular um arquétipo de forma direta e consciente pode resultar em uma compreensão limitada e estereotipada, ignorando a riqueza e a complexidade das experiências humanas que os arquétipos representam para a teoria junguiana.
É essencial reconhecer que o trabalho de Carl Gustav Jung com os arquétipos e o inconsciente coletivo não se baseava na ideia de que os arquétipos podem ser ativados ou controlados. Em vez disso, ele enfatizava a importância de explorar e compreender a psique humana, incluindo os padrões arquetípicos e o inconsciente coletivo, através do processo de individuação. Esse processo envolve o reconhecimento e a integração das várias facetas da personalidade, incluindo aspectos conscientes e inconscientes, a fim de alcançar uma maior harmonia e autocompreensão. Por isso, a meta não é tornar-se perfeito, rico, poderoso. Mas, completo, do céu ao inferno.
Leonardo Torres, analista junguiano.
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A paixão chegou e é correspondida; o emprego que tanto desejou caiu de lambuja nas mãos. "Ah! A vida está se tornando perfeita!", comentaríamos. A primeira semana no emprego é de aprendizado; já com seu novo amor, fazer o mercado nunca foi tão maravilhoso. O salário caiu e a alegria desabrochou; e, no mesmo dia, seu amor disse "eu te amo" pela primeira vez.
Tudo vai maravilhosamente bem. Até que dentro da sua mente aparece uma formiguinha. Aquelas bem miúdas, fazendo cócegas por onde passa. Achamos até uma graça, mas ao mesmo tempo pensamos "talvez ela não deveria estar ali".
De repente, outra formiguinha, igual a primeira, seguindo aquela que abriu caminho na mente, no mesmo ritmo de passos. Subitamente, aparece a terceira, a quarta, a quinta e quando você percebe, o formigueiro chegou. Em um ritmo maquinal, afinal elas são boas trabalhadoras.
Assim que o formigueiro é instalado, percebemos que cada formiguinha da mente trouxe consigo uma frase, que nela estão embutidos um pensamento, um sentimento e uma emoção. Não qualquer frase, afinal as formigas são ótimas em selecionar coisas.
Existem várias seleções, claro. As mais comuns são: "eu sou fraco e incapaz para esse namoro/trabalho", "Não sou bom o suficiente para meu namorado/trabalho", "Não sou tão forte quanto as outras pessoas". Essas frases acompanham sentimentos e pensamentos que fazem a vítima do formigueiro sentir-se fracassado, criar em si baixa autoestima e descrença em suas habilidades.
Frases mais elaboradas também surgem: "já que eu sou insuficiente para meu parceiro, com certeza ele está me traindo!"; "eu não mereço esse emprego, eu gaguejei na apresentação", e por aí vai as formiguinhas marchando.
Evidentemente, chega o momento delas irem descansar, mas no outro dia elas voltarão com vigor e continuarão a fortificar seu formigueiro na mente. Elas são grandes trabalhadores, sabem que devem trazer muitas frases como as mencionadas acima para se salvaguardarem no inverno. E é isso que acontece, quanto mais elas trabalham em nossas mentes, mais acumularão e mais o indivíduo se isolará no mais frio inverno da vida.
Essa imagem na qual estamos agora é inspirada no termo Automatic Negative Thoughts, isto é, ANTs – formigas em inglês, de Steven D. Hollon e Phillip C. Kendall. Sinteticamente, as formiguinhas são pensamentos negativos que ocorrem de forma automática e frequentemente sem uma base concreta/factual. Eles podem ser desencadeados por estresses, desafios, situações negativas e são parte de nossa personalidade; e tendem a se concentrar em falhas, fracassos e limitações. Esses pensamentos podem ter um impacto significativo na autoestima, saúde mental e relacionamentos, isto é, na vida.
Atenção: não adianta tentar fugir das formigas, elas te encontrarão! Não adiante tentar matá-las. Na realidade, elas apesar de parecerem inimigas, podem ser grandes contribuidoras para reconhecermos quem somos nós. Quem quiser eliminá-las de uma única vez está ainda bebendo do individualismo, do perfeccionismo e do egoísmo.
No entanto, é possível reconhecer e lidar com esses pensamentos negativos automáticos. Sim, chamar as formigas para tomar um café, e se possível, com muito açúcar! Até o ponto no qual C. G. Jung nos escreve: "quem tem a percepção de sua sombra e sua luz, contempla-se a si mesmo de dois lados, e, com isso ocupa o centro.
Na psicologia junguiana, lidar significa questionar e refletir sobre os pensamentos e sentimentos "formiguinhas". Isto é, encontrar evidências que os dissolvam. Vamos lembrar que tudo o que uma formiga não quer é encontrar água pela frente! Exemplo: às vezes desconsideramos um feedback positivo de um parceiro ou de um chefe de trabalhando, achando que a formiguinha que nos fala à mente é mais verdadeira do que o feedback. Por que não questioná-la: "mas então, dona formiga, o meu chefe diz o contrário de ti! E agora?".
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Meses ou anos se passam de um casamento, de uma amizade ou de uma sociedade. De repente você e seu parceiro estão na fila do self-service, no almoço rápido para retornar ao trabalho. O companheiro serve-se de jiló – um fruto polêmico.
Surge o comentário na sua mente: "ué, mas ele nunca gostou disso!". O pensamento se faz voz e o companheiro retruca: "eu sempre gostei, talvez você que nunca percebeu", ou então "eu comecei a gostar desde a semana passada". A resposta incomoda ambos, de alguma forma.
Ao sentarem-se, um pensamento fica em você: "ele nunca gostou e está dizendo que gosta"; e na mente do companheiro "que comentário bobo, parece que está querendo controlar meus gostos".
Nesse embate do Jiló, existe uma tendência a já se julgar conhecedor(a) daquele outro diante de ti. Julgamento ilusório e propício para manter uma falsa segurança do relacionamento. Melhor seria se perguntar: "por que eu nunca percebi isso ou por que essa conversa me incomoda?".
A palavra "incomodar" é interessante e não podemos passar por ela sem mais. É uma palavra que nos tira dessa falsa segurança da relação e/ou então que evidencia nossas expectativas sobre o outro. Incomodar tira-nos do cômodo. Que pode ser até ampliado como um compartimento de uma casa, toda organizada.
Tendemos a querer enxergar o outro como um cômodo em nossas vidas. Mas, o incomodo lembra-nos que o outro não é um objeto ou uma ordem, mas um sujeito que possui uma alta complexidade e caos. Que pode ter gostos e comportamentos dos quais você jamais esperaria.
Estar em um relacionamento, seja ele qual for, é um dos maiores desafios e uma das maiores oportunidades do ser humano para promover o autoconhecimento. Reconhecer-se diferente e respeitar essa condição significa que você enxerga o outro e a si. O nome disso é alteridade.
Pode parecer fácil no começo, quando se trata do jiló, contudo, essa tarefa de nada é fácil quando pensamos nos aspectos da vida como poupar dinheiro, forma de demonstrar amor, comunicação entre os parceiros, filosofia de vida e espiritualidade.
Todos nós carregamos memórias, sentimentos e afetos que nos dão referência de vida. A correspondência perfeita dessas preferências é ilusória. Por isso, presenciamos muitas pessoas em busca incessante e infrutífera de um par ideal. Temos sim correspondências próximas, mas não perfeitas.
Essa busca incessante pelo par ideal depõe contra a alteridade e nos mantém em um estado psíquico infantil. Levando ao caminho oposto do autoconhecimento. E ainda, pesamos a relação ao acreditar que a frustração que sentimos é da responsabilidade do outro. E o outro deveria mudar. Isso, no entanto, é um mecanismo de defesa. Chamamos isso de projeção. Muitas vezes ela é importante para mantermos certa integridade da psique, por outras, ela é um impeditivo para os relacionamentos.
Quando, por exemplo, um cliente traz esse tema, gosto que imaginar com ele que existe tanto um(a) parceiro(a) de fora quanto um(a) de dentro. Um reside em sua psique, o outro no mundo de fora. Por isso, mesmo tendemos a confundi-los. Às vezes, tanto o de dentro como o de fora tem a mesma atitude, mas, em outras, são totalmente opostas, gerando a frustrações.
Se escutarmos somente o parceiro de dentro, o de fora tende a perder o seu valor. Se escutarmos somente o de fora, perderemos nossa própria referência de vida e ficaremos cegos à alma. Se escutarmos os dois, confrontando e reconhecendo tanto dentro como fora, nos tornaremos mediadores, e poderemos suportar as frustrações quando vierem e respeitar o parceiro de fora. Gerando, por fim, autoconhecimento e uma relação funcional.
No fundo, tudo isso é uma corda bamba a qual nos jogamos! A harmonia só vem a partir do confronto com fora e dentro, sempre pelo caminho do respeito. O que surge disso não possui outro nome senão: Amor.
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Marie Louise von Franz nos fala que talvez a arte maior de Carl Gustav Jung, fundador da Psicologia Analítica,tenha sido sua capacidade de adentrar nas sombras humanas e encontrar a mão de Deus em meio a tudo isso. E enquanto analistas, nós seguimos esse movimento de C. G. Jung.
Na análise, encontramos de tudo! Brigas conjugais, ciúmes exagerados, ressentimentos reprimidos, fantasias sexuais, preocupações financeiras e muitos outros que perpassam por todos nós ao longo da vida. Ninguém escapa. Tanto analista quanto cliente acabam por adentrar em todo contexto e circunstância humana, demasiadamente humana.
Muitas vezes presenciamos clientes se perguntando o porquê – a origem – de determinado sofrimento. O porquê tenta evidenciar a razão. E como sabemos desde os tempos escolares, a razão é uma parte somente. Seria como tentar reduzir os movimentos da vida a um único movimento responsável por todos os outros. Isso é mera ilusão.
Eu costumo brincar que com os clientes que me questionam sobre o porquê eles terem esse ou aquele pensamento, sentimento, comportamento: "se nem os filósofos acharam uma resposta para os porquês da vida, imagina a gente!"
A arte de C. Jung estava em se perguntar o para quê do sofrimento. Ele conduzia o seu cliente para um objetivo, ou melhor, um telos. Por exemplo, um cliente um dia me perguntou o porquê de seu pai ter o abandonado quando criança. Com essa pergunta, não chegamos a nenhum lugar!
Nem se perguntássemos para este pai seria possível descobrir – muito provavelmente a sua justificativa teria mais a ver com os seus mecanismos de defesa do que o que realmente aconteceu.
No entanto, sugeri ao cliente se perguntar para quê o pai o abandonara. Ele com prontidão me respondeu: "para que eu visse nos meus professores uma figura paterna e no meu avô também, que foi um grande trabalhador. Isso, de certa forma, me formou... Hoje sou professor e amo o que faço!" Encontramos aí uma pequena parte da mão de Deus!
Podemos entender Deus como um ser metafísico. Mas, podemos também reconhecê-lo como um movimento psíquico que leva o indivíduo a ser quem ele é. Em termos da psicologia analítica seria o ego realizando o Si-mesmo.
Não é uma tarefa fácil, mas, com toda certeza, quando adentramos o fundo do lodo turvo e confuso, encontramos ouro.
Leonardo Torres, analista junguiano.
Clarice Lispector em: Todas as Crônicas, Ed. Rocco, 2018.
Leia neste podcast: Das Vantagens de Ser Bobo
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O despertador toca. Em um ritmo e em uma altura que adrenalina e cortisol invadem seu corpo como um tiro. Simultaneamente a isso, aquele outro em você, ansioso e preocupado com o trabalho, sim, aquele que te fez dormir tarde da noite fazendo você repassar suas tarefas e agendas já voltou a te contaminar com suas intempéries. Talvez ele nunca tenha dormido, só sentou em sua cadeira e esperou ansiosamente o "eu" acordar para retomar tudo de novo.
Desperto, os sonhos já se vão em segundos. Quiçá, dê tempo de pensar “eu sonhei com algo”. Mas seu coração já está de tal maneira acelerado devido ao outro em você, demandando de toda atenção que os sonhos voltam para o mundo dos sonhos. Outro tiro e num piscar de olhos, você já está no trabalho. Pergunta-se “eu fechei a porta?”; “eu tomei banho?”. “Acho que sim, meus cabelos estão molhados!”.
Tudo tornou-se tão automático que não somente os sonhos, mas cuidar de si também é levado para o inconsciente com o intuito de automatizar banalidades, deixando o foco e a atenção somente para o que importa. E o que importa? Ora, aquele outro em você sabe de tudo o que importa.
Para ele o que importa é sua performance. Ele é o seu treinador – o coaching. Ele quer números cada vez melhores. Afinal, o que podemos fazer a não ser melhorar cada vez mais? E o melhor disso tudo é que ser melhor não tem limites. O seu treinador acredita piamente em você. Ele te transformará, talvez, no melhor do seu setor, o mais rápido em galgar cargos e status, o melhor na academia pegando cada vez mais pesos, o melhor no sexo, a ponto de se esperar a frase provinda do outro: “foi o melhor sexo da minha vida”, mesmo que o outro diga isso de forma iludida por ter se envolvido no momento ou de forma mentirosa para acalentar você. Se isso tudo acontecer, o treinador em ti vai se orgulhar por um segundo ou menos. E depois, exigirá de ti ainda mais. Afinal, se você alcançou a meta, agora ela já é passado! "Precisamos de novas metas!”, diz ele.
Neste momento você percebe que o treinamento vai continuar e que as metas são ilusões criadas por ele para te convencer a continuar. Afinal, ele é um exímio desenvolver pessoal, sabe de todas as táticas e estratégias para você não fugir da performance. Mas, não há fim. É um abismo no qual os olhos não conseguem ver o chão. Todo aquele empreendimento para ser o melhor, é um vazio sem fim. Isso faz seu corpo estremecer. Momento de grande oportunidade para a sua Alma, contaminada pelas Erínias, acender o seu corpo com mais adrenalina, cortisol, ativando sua amídala fazendo o medo e a vertigem te possuírem. Não é mais uma simples contaminação.
É uma possessão da Alma de forma sombria para criar em você atitudes. Ela sente que precisa te interditar para você reconhecer outra dinâmica além da do treinador. Poderíamos nos perguntar: “mas por que sombria?”. Ora, se ela viesse acolher e acalentar, muito provavelmente você continuaria nessa dinâmica da performance. O ser humano precisa da crise e da tensão para se transformar. Mas muitas vezes é em vão.
Graças aos treinadores que habitam cada um de nós e suas demandas por performance, a Ciência já desenvolveu remédios que aplacam as demandas da Alma de forma mais ou menos eficiente. A Alma pode vir de diversas formas. Hoje denominamos, popularmente, suas empreitadas como: "síndrome do impostor”; “burnout”; “disfunção sexual”; “ejaculação precoce”; “enxaqueca”; “infarto”, “TAG – transtorno de ansiedade generalizada”, entre outros. Não à toa Byung Chul Han diagnostica a contemporaneidade como a sociedade do cansaço.
Apesar de querermos desviar os olhos do abismo, Nietzsche estava certo: ele está olhando para você desde sempre. O abismo é vazio, é a falta que cada um de nós encontra ao percorrer a estrada da performance.
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Quantas vezes não nos pegamos lá longe no passado relembrando acontecimentos alegres, tristes, traumáticos? Acabamos por passar o fato várias e várias vezes em nossa mente. "E se eu tivesse feito diferente?"; "eu deveria ter feito melhor?"; "se eu soubesse onde isso iria dar...". Ou então, engasgados com nossas agendas do trabalho e com o cotidiano, vamos ao futuro, tentando prever cada ação, cada passo, cada respiração. Surge os "tem que": "tenho que fazer isso ou aquilo". Viver tanto de um quanto do outro (e, ás vezes, transitando entre os dois), nos arranca do presente.
O presente é difícil. Ele é um gerúndio inexplicável. É o momento entre o milésimo de segundo passado e o milésimo de segundo futuro. Por isso é tão difícil de estar nele. É a corda bamba circense. Mas encontramos ele ao cortar tomates, por exemplo. Se você não ficar no presente nesse momento corre o risco de cortar o dedo. E quem já não cortou o dedo?
Para algumas filosofias e para a psicologia, tanto passado quanto futuro são imagens psíquicas. Vem como narrativa. E muitas vezes são úteis quando não engessadas em uma única narrativa. Por isso, na clínica, quando o cliente conta sua história, muitas vezes peço para ele contar a sua história fora do personagem do "eu". "E se a sua cadeira, o seu computador, o seu celular, ou sua cama contasse a sua história?", pergunta o analista. E outras narrativas aparecem, escondidas até então.
Por serem imagens psíquicas, podemos brincar. Podemos imaginar, então, que passado, presente e futuro são salas de um prédio. A sala do presente é quase imperceptível, inicialmente. Podemos até dar à ela outro nome: a sala da consciência. Nela, o "eu" possui a consciência de estar consciente. Seria o autor presunçoso ao pontuar a dimensão da sala do passado ou a do futuro. Talvez não exista. E por isso mesmo, é mais fácil de nos perder por lá.
É na sala da consciência que existe uma única luz. Essa luz acaba iluminando as outras salas, que não possuem portas entre si (algumas pessoas colocam portas, mas não vem ao caso). Mas como sabemos, ao adentrarmos mais e mais, o breu toma conta.
É neste breu, muitas vezes viciante, que os deuses, os fantasmas, os demônios e outros personagens (os complexos) aparecem e nos pegam de supetão e nos contagiam com diversas enfermidades. E esgotados, torna-se mais difícil pegar na mão de um deles para levá-lo até a sala da consciência.
Mais fácil seria se ambos fizessem um movimento duplo. O "eu" caminha até onde pode se enxergar vultos e convida o aquele outro desagradável para ficar um pouco mais à luz, tomando um chá. Ah, como seria mais harmonioso se "eu" conseguisse transitar entre as salas sem se perder por completo!
Popularmente, muitos dizem que esse breu do passado chama-se depressão; e o breu do futuro chama-se ansiedade. Mas, devemos considerar muito mais do que isso, afinal não sabemos o que vem de lá do escuro. E se o autor começasse a elencar aqui, estaria novamente sendo presunçoso. O fato é que sabemos quando nos perdemos nestes breus temporais.
Outra coisa importante a se registrar é o fato de que o "eu", quando perde-se no breu, não está mais sob a luz da consciência. Qualquer ser, portanto, pode dominar o comportamento do indivíduo. A sala da consciência fica vulnerável sem o "eu". E quando o "eu" voltar para a sala (se voltar), a luz da sala estará crepitante, os móveis e as gavetas remexidos. E somente o "eu" pode reorganizar tudo de novo e de novo (porque isso é inevitável).
Não é possível executar uma simples tarefa diária como cortar tomates se o "eu" estiver perdido na sala do passado ou do futuro.
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Existem pessoas que vão e vem na vida de cada um. Algumas realmente parecem ser tão importantes que, quando se vão, deixam aquele sentimento de falta na alma, não importa se elas foram amores ou amigas, o que importa é intensidade vivida do lado da pessoa. Apesar da vida de cada um ser única, os encontros, desencontros e despedidas da vida são inevitáveis.
As despedidas são inúmeras: entre amigos que vão deixar se encontrar recorrentemente pois um deles mudará de cidade; entre neto e avô ou avó vendo a vida deste último findar e similares; entre amores, que mesmo juntos até o final da vida, há um final para estes. A dor é certamente inevitável, pois toda despedida é acompanhada de certo luto.
A única coisa que acompanha a vida de alguém por completo é esse alguém mesmo, ou melhor, o si-mesmo. E é comum negar veementemente a vida inteira o si-mesmo. Se não entrarmos em um processo de análise, tendemos a colocar nossas dificuldades, nossas vulnerabilidades e sombras no outro; afinal, é mais confortável para o ego que o outro seja o portador de suas mazelas; assim, ao findar com ele, cria-se uma catarse – uma expiação das sombras. Ledo engano. O si-mesmo vem para apontar todas as incongruências, absurdos e sombras no outro dia.
Há quem procure ainda uma resposta fora e causal sem perceber que a questão é interna e psíquica. Acabam por usar as ferramentas mânticas de forma equivocada e literal. Vale a ressalva que pode até funcionar momentaneamente, mas a sombra retorna se não conseguiu o que queria.
Estes que habitam cada um de nós tem seu valor e confrontam o eu o tempo inteiro. Muitas vezes querem medidas unilaterais e primitivas – querem rasgar a carne – mas só querem pois não não escutados. Passei por um período, recentemente, que não quis escutá-los, mas no fim, eles ganharam, o ego perdeu e houve um acordo final, ou semi-final.
Uma tarefa difícil é perceber que os encontros daqueles que se foram são importantes para o ego tornar-se quem ele deve ser. A cada encontro há contágio de pensamentos, sentimentos, emoções e afetos; a cada encontro, se houve afeto, o ego se torna um pouco o outro e vice versa.
Os encontros possuem dois movimentos: o primeiro redutivo causal e o segundo projetivo. Alguém conhece outro alguém porque em um determinado momento do tempo/espaço houve um encontro. Mas também, se algum afeto foi criado, cabe a cada um perguntar: "para quê eu tive que conhecer esta pessoa?".
Quem disse que tudo foi por acaso? Quem disse que o ciclo vivido não foi já uma vida? Devemos respeitar os desígnios do si-mesmo e reconhecer que nessa dinâmica o eu deve aprender que controle, planejamentos, planos e querências são ilusões.
Boris Cyrulnik aponta que na vida, diante de traumas, muitos indivíduos encontram no outro uma tutoria de resiliência – não há a necessidade deste outro ser humano, pode ser um animal, um objeto, um lugar, etc. Tais tutores oferecem, nada intencionalmente, um suporte para o traumatizado seguir sua vida social bem como reestabelecer sua vida intrapsíquica. Por isso, para alguns encontros é muito comum entender que ali o fenômeno da sincronicidade ocorreu, ou seja, uma co-incidência altamente significativa para alguém, ampliando a consciência.
Por isso valorizar-se é tão importante. Aqui não estou falando de valorizar o ego, mas reconhecer o valor dos que me habitam. Não há ninguém que não possa ensinar nada para alguém. Por isso o fim com parcimônia nos ajuda a reconhecer as lições da vida.
Artigo: https://blog.ijep.com.br/contagio-psiquico-na-psicoterapia/
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Este artigo tem o objetivo de compreender o papel do Contágio Psíquico no setting terapêutico, desmistificando e reanimando a relação entre cliente e analista.
O espírito de nossa época nos faz conceber a realidade a partir do egoísmo, do individualismo e da alta performance, mesmo para os junguianos, que há muito já discutem o fenômeno da multiplicidade da psique, do impulso ao servir à coletividade e a ideia de que perfeição não é sinônimo de totalidade.
Como analista, é difícil desvencilhar-se de uma ilusão de responsabilidade de responder questões proferidas pelos clientes, como “o que eu faço?”, “o que esse sonho significa?”. Quem nunca se pegou pensando e exigindo de si uma palavra naquele silêncio aparentemente interminável no decorrer da sessão. Esse impulso de resolução nos parece, analisando fugazmente, um sintoma desse espírito da época. Talvez, por isso, um dos maiores desafios do analista é despojar-se das vestimentas do conselheiro, do curador, do resolutor e da ilusão de poder que sua poltrona nos concede.
Mas não somente o analista. Muitas psicologias, pautadas ainda pelo espírito da época, tornam-se cegas àquilo que acontece num campo inconsciente entre cliente e analista. Ou, quando percebem aquilo que acontece inconscientemente, fogem como se estivessem diante do diabo. E talvez, essa seja uma metáfora interessante, afinal, o diabo é Lúcifer, o portador da luz, que ao impulso do Si-mesmo, vem desestruturar uma possível persona rígida do analista.
O que seria “aquilo que acontece inconscientemente?”. Não podemos desconsiderar que ao escolher um analista, já existe de antemão uma expectativa, uma fantasia, uma projeção do cliente. E, ao entrar em contato com o cliente, é humanamente impossível afirmar que o profissional está em uma posição de neutralidade e imparcialidade diante do analisando. Ao meu ver, a expectativa do indivíduo de se tornar cliente de um determinado analista já evoca algo no próprio analista.
Isso acontece, pois o egoísmo e o individualismo são relativas ilusões. As raízes da psique de cada pessoa se entrelaçam da mesma forma que as raízes das árvores se entrelaçam numa floresta. Reconhecemos a floresta não como diversas árvores, mas como um coletivo de árvores, ou melhor, um organismo vivo. As expectativas não são somente conscientes, pelo contrário, muitas vezes elas não passam sequer pelo campo da consciência, permanecendo inconscientes e atuantes na vida do indivíduo – são também raízes entrelaçadas. Por isso mesmo, a ilusória neutralidade do analista, na teoria junguiana, significa negar um dos principais princípios da Psicologia Analítica: o coletivo.
A limitação da consciência no tempo e no espaço é uma realidade tão avassaladora, que qualquer desvio desta verdade fundamental é um acontecimento da mais alta significação teórica, pois provaria que a limitação no tempo e no espaço é uma determinante que pode ser anulada. O fator anulador seria a psique, porque o atributo espaço-tempo se ligaria a ela, consequentemente, no máximo como qualidade relativa e condicionada. Em determinadas circunstâncias, contudo, ela poderia romper a barreira do tempo e do espaço, precisamente por causa de uma qualidade que lhe é essencial, ou seja, sua natureza transespacial e transtemporal [coletivo]. (JUNG, OC 8/2, § 813)
Se tomarmos essa ideia de um coletivo vivo, abandonando a ideia individualista, compreenderemos que a relação entre cliente e analista antes mesmo de iniciar-se conscientemente já acontece. O encontro analítico nada mais é do que uma possibilidade de caminho para que as imagens produzidas no subsolo eclodam.
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O surto coletivo de ansiedade ocorrido na Escola Estadual de Referência em Ensino MédioAgeu Magalhães, em Recife, chocou a todos e reverberou nos jornais nestes últimos dias, gerando opiniões e comentários diversos. É necessário, no entanto, termos um olhar científico para o ocorrido. Na ciência, atualmente, denominamos o caso ocorrido de Contágio Psíquico e não mais de Histeria Coletiva como no passado. A História mostra-nos que casos como o de Recife ocorrem devido a uma imposição política e social dogmática, podendo ser somada a um contexto de escassez e também a uma falta de expiação dessas emoções coletivas, o que antigamente era garantido nos rituais.
No caso de Recife, não sabemos ao certo o que ocorreu. Mas, se essas emoções são fortemente reprimidas e toda repressão faz pressão, elas tendem a sair de algum jeito e com força. No caso, tornou-se o sintoma da ansiedade coletiva, ou seja, falta de ar, ansiedade, desespero e crença de morte. Não é de se admirar se outros surtos como o de Recife comecem a eclodir no país a partir de agora se não houver uma política séria agindo em prol da população.
Atualmente, podemos considerar que existem alguns fatores que podem ter influenciado nesta “pressão”, o que levou à eclosão do surto na escola recifense. No âmbito micro: a volta às aulas e a necessidade de relacionamentos interpessoal que foi pouco desenvolvida pelas crianças na pandemia e no isolamento, bem como o pânico social gerado pelo coronavírus nestes últimos anos podem ter contribuído para o quadro. Mas também em âmbito macro: já que o país empobreceu, a violência cresceu, o dogmatismo religioso se consolidou ainda mais, a fome e a miséria aumentaram e ainda o Brasil vive um momento de incertezas sociais e políticas. Esta descrição atual do momento no país é muito semelhante ao período da Idade Média, momento em que temos diversos registros de surtos coletivos, como surtos de riso, choro, dança, freiras miando para a lua, a caçada às bruxas, etc.
Os surtos acontecem sem motivos aparentes e podem demorar dias ou meses para findar. Possuem uma tendência a ocorrer em indivíduos de um mesmo grupo, como alunos de uma mesma escola ou torcedores de um mesmo time, por exemplo, pois existe aí certa vinculação emocional e psíquica entre eles. Apesar de parecer um problema pensando no ocorrido em Recife, o Contágio Psíquico garantiu a sobrevivência de várias espécies (também a humana). Ele é o responsável por um grupo sentir fome e sono (o bocejo) em um mesmo horário, ou até de fazer um indivíduo vomitar quando vê seu companheiro vomitando. É como se, inconscientemente, pensássemos: “se o meu semelhante está vomitando é porque comeu algo estragado, então, é melhor eu vomitar antes que eu passe mal”.
Existe ainda a soma da variante social e das ideias no ser humano, que também podem evocar essas emoções contagiantes. A neurociência já explica que todo pensamento, por mais racional que seja, possui raízes nas emoções. E por que elas são contagiantes? Porque, diferentemente do que acreditamos hoje em dia, nós possuímos uma extrema e profunda ligação psíquica entre nós. C. G. Jung denominou de Inconsciente Coletivo, Gilbert Durand de Imaginário e Edgar Morin de Noosfera. É de lá que esses conteúdos com potentes cargas emocionais eclodem e dominam os indivíduos, fazendo-os desmaiar, dançar, sentir falta de ar, etc.. As crianças, por ainda estarem desenvolvendo a personalidade egóica, que se finda aos 21 anos, são mais suscetíveis à atmosfera psíquica da família, do grupo e da nação.
No livro "Contágio Psíquico: a loucura das massas e suas reverberações na mídia”, da editora Eleva Cultural, demonstro que o caso de Recife não é único, ocorreu e ainda ocorre diversas vezes em escolas pelo mundo. Existem epidemias de ansiedade e pânico, como a que aconteceu recentemente, mas também de diversas outras emoções.