Juli Hirata
Numa conversa franca, espontânea, e muito divertida, totalmente fora de uma sequência lógica num menu de podcast de viagem, os "alfinetes no mapa" não seguiram exatamente a ordem cronológica. Pelo contrário! O que indicou a sequência dos assuntos foram as divertidas experiências, sentimentos aflorados e mais presentes em nós, Mulheres Cicloviajantes.
Juli dispensaria apresentações no meio do Cicloturismo. Mas são tantas as possibilidades de conversas e descobertas sobre os mesmos assuntos e, logicamente, de assuntos em cenários extremamente longínquos da maioria de nós, habitantes deste planeta Terra, que é importante fazer um breve histórico de seu caminho. Que foi desenhado para partir do extremo Norte da América e chegar ao extremo Sul. No projeto denominado Extremo das Américas.
Muito além de falar de lugares como o próprio ponto inicial de sua longa e não terminada viagem de bicicleta, o Alasca, nossa conversa foi caminhos adentro, percorrendo sentimentos, conceitos congelados de valores, propriedade, conforto, finitude, tempo, distâncias.
É impossível conversarmos, justamente nós duas que mergulhamos fundo nesta viagem interior, propiciada em uma viagem solo e nos atermos a um padrão de conversas sobre viagens, com dicas de lugares, apenas e toda beleza exterior que, definitivamente, esteve tão presente nesta sua viagem.
Partir do Alasca foi a sua decisão mais acertada para a sua "primeira vez". Ter de enfrentar situações extremas de clima, de condições de estrada impedaláveis, de vulnerabilidade, de vento, neve, de exposição aos animais, inclusive, ursos polares que Juli descobriu ali que têm, por natureza, homens na sua cadeia alimentar. Dificuldades, medos, a constante exposição a decisões onde a prioridade era a sobrevivência acima de tudo. Protegendo-se do frio extremo que chegou a -32⁰, a dificuldade de alimentar-se ou hidratar-se, pelo simples fato da água congelar-se em poucos minutos e obrigá-la a aquecer a água a cada vez que precisasse tomar água. Um pacote que foi um grande ensinamento para fortalecê-la em todas suas nuances. Força física. A tranquilidade mental. A serenidade na alma casada à certeza de ter tomado a decisão certa. Aquela lição que você vai carregar para sempre e puxar a carta da manga toda vez que se deparar com outras dificuldade no caminho. Que, logicamente, parecem bem menores agora.
Lidar com o medo diariamente, com o novo, totalmente diferente de tudo jamais visto, é um aprendizado que sou pode viver, quem se atreve a ir ao seu encontro.
Juli ainda aborda com propriedade temas delicados e importantes, geralmente tratados de forma superficial ou romantizada que nada contribuem para a segurança numa vida aventureira, em meio a natureza. É preciso ter responsabilidade para conhecer equipamentos e ter autossuficiência. Pois é muito comum associar a aventura ao improviso. Como se improviso fosse sinônimo de liberdade e isso isentasse o aventureiro a planejar, a ter consigo equipamentos mínimos para sua segurança. Clichês como "larguei tudo e fui" como se não fosse necessário levar algo consigo.
Ter o olhar aberto às aprendizagens que não param de acontecer à volta é a grande riqueza do caminho. Perceber os olhos de uma coruja no meio de um branco total em torno dela, próximos a ela, de repente, a fez perceber o quanto eles são invisíveis enquanto ela, Juli, está ali exposta a todos. Cercada de olhos de coruja, num desenho psicodélico que a mente cria, quando se vê como o único ser humano pisando no mesmo chão que todos animais. Como, apenas e meramente, mais um animal em meio a eles.
"O Alasca me colocou no meu lugar!"
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