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Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Flavia Prando
14 episodes
5 days ago

Esta série de episódios traz as histórias da músicas gravadas no álbum Violões da Velha São Paulo, trabalho fruto da pesquisa de doutorado que Flavia Prando defendeu na ECA/USP. A instrumentista, em sua pesquisa, trouxe à tona a história da música para violão na São Paulo do século XIX, período anterior à formação do circuito de partituras para o instrumento, o que significa que muitas das obras do disco foram resgatadas de manuscritos ou arranjadas a partir de versões para piano. 
Cada música ganha um episódio, são treze capítulos, nesta primeira temporada, que trazem a história do compositor, da obra e do contexto da cidade de São Paulo, no intuito de enriquecer a audição da gravações e divulgar a trajetória dos artistas e da cidade sob um ponto de vista musical. 
Aborda-se um pouco da história do violão brasileiro e das valsas, mazurcas, gavotas e choros cultivados no país. 
Flavia Prando

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Esta série de episódios traz as histórias da músicas gravadas no álbum Violões da Velha São Paulo, trabalho fruto da pesquisa de doutorado que Flavia Prando defendeu na ECA/USP. A instrumentista, em sua pesquisa, trouxe à tona a história da música para violão na São Paulo do século XIX, período anterior à formação do circuito de partituras para o instrumento, o que significa que muitas das obras do disco foram resgatadas de manuscritos ou arranjadas a partir de versões para piano. 
Cada música ganha um episódio, são treze capítulos, nesta primeira temporada, que trazem a história do compositor, da obra e do contexto da cidade de São Paulo, no intuito de enriquecer a audição da gravações e divulgar a trajetória dos artistas e da cidade sob um ponto de vista musical. 
Aborda-se um pouco da história do violão brasileiro e das valsas, mazurcas, gavotas e choros cultivados no país. 
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Episodes (14/14)
Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Céu do Paraná - Leopoldo Silva - Epsódio 1 - temporada 2 - Flavia Prando

No primeiro episódio da segunda temporada do podcast "Histórias dos Violões na Velha São Paulo", Flavia Prando apresenta a trajetória do compositor Leopoldo Silva, destacando especialmente sua valsa intitulada "Céu do Paraná". Este episódio mergulha na história pouco conhecida de Silva, músico que, apesar de sua relevância no cenário musical paulista do início do século XX, deixou poucos registros pessoais ou oficiais.

O episódio explora os rastros deixados por Silva através de seus discípulos, como Antonio Giacomino, conhecido como Lourinho, que se destacou como compositor nos anos 1930. A relação entre mestre e discípulo é enfatizada por meio do arranjo conjunto da gavota "Tu e Eu", composição originalmente de Alphons Czibulka, músico austro-húngaro conhecido por suas peças de sucesso nos salões europeus e latino-americanos do fim do século XIX. A peça foi publicada no Volume 4 da coleção "Violões na Velha São Paulo", reforçando como o violão incorporava e adaptava repertórios que circulavam pela cidade, das modinhas às melodias internacionais.

Leopoldo Silva é também reconhecido pelos manuscritos encontrados na Coleção Ronoel Simões, destacando-se a "Fantasia sobre O Guarani" de Carlos Gomes, e transcrições como o Hino Nacional Brasileiro e a tradicional "Canción de Cuna" espanhola. Esses trabalhos sugerem tanto uma vocação didática quanto uma atuação destacada em pequenos concertos.

O episódio resgata ainda um episódio marcante na carreira de Silva: sua passagem por Ponta Grossa, Paraná, em 1921, onde foi recebido com entusiasmo, segundo registros do jornal "A República". Esse momento histórico inclui uma célebre citação atribuída ao grande violonista paraguaio Agustín Barrios: "Você não toca melhor do que eu, mas tão bem quanto eu", indicando o reconhecimento do talento de Leopoldo Silva entre seus contemporâneos.

Em São Paulo, Silva participou ativamente do circuito musical, integrando audições ao lado de nomes como João Avelino, Oswaldo Soares e Aristodemo Pistoresi. Uma dessas audições ocorreu no prestigiado Salão Germânia, onde sua presença confirma sua inserção nas redes musicais relevantes da época. Outra apresentação destacada ocorreu no salão da revista "A Cigarra", dedicada especialmente à imprensa paulistana, sendo amplamente aplaudido e reconhecido por seu estilo interpretativo marcadamente sentimental.

Apesar da relevância de Leopoldo Silva, o podcast ressalta o mistério em torno de sua figura, ressaltando que não existem imagens ou documentos precisos sobre datas fundamentais da sua vida. Este silêncio histórico, no entanto, amplifica a escuta das composições que sobreviveram ao tempo, permitindo que sua obra permaneça viva na memória e nas execuções contemporâneas.

A valsa "Céu do Paraná", única peça solo identificada de Silva, está disponível na íntegra no Spotify, gravada em um violão histórico construído por Francisco Pistoresi, oferecendo uma sonoridade autêntica à época em que a música foi criada.

O podcast, narrado e produzido por Flavia Prando, conta com dramatizações de Artur Mattar, voice-over de Biancamaria Binazzi e trilhas cuidadosamente selecionadas para acompanhar a narrativa, proporcionando uma experiência sonora rica e contextualizada da história musical paulista.

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4 months ago
13 minutes 15 seconds

Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 13. Recordação. José Alves da Silva, o Aimoré

Olá, pessoal, muito bem-vindos! No último epsódio da nossa primeira temporada, vamos falar sobre o choro Recordação, de José Alves da Silva, Aimoré - Redenção da Serra 1908 – São Paulo 1979

Regional da Rádio Cosmos, Aimoré (José Alves da Silva); Garoto do Banjo (Aníbal Augusto Sardinha) e Petit (Hudson Gaia).

As atividades de Aimoré (1908-1979) na radiofonia paulistana foram variadas e intensas. No ano de 1934, executou o Choros nº1, de Heitor Villa-Lobos, na cerimônia de inauguração do Centro Social dos Sargentos da Força Pública, que foi irradiada pela Rádio Educadora Paulista. Ele foi chefe do regional da rádio Cruzeiro do Sul, que contava com José Sampaio, violão; Santana, cantor; João Carrasqueira, flauta; e Mário Portela, violão tenor. Pouco depois, em 1941, organizou, a convite de Nicolau Tuma, diretor da Rádio Difusora, o regional da emissora, com Miranda, cavaco; Antoninho, clarinete; Ernesto, violão e Petit, que o havia recrutado no início da carreira, também ao violão. Na emissora também executava composições de Agustín Barrios e Francisco Tárrega. No ano seguinte organizou o conjunto regional da Rádio Piratininga, onde também tocava solos ao violão. Atuou ainda na Rádio América, dirigindo o regional desta emissora. Participou do regional da Rádio Record com Armando Neves (1947).

Na indústria fonográfica, deixou algumas gravações, transitando entre o repertório erudito e popular. Em 1953, acompanhou Vanja Orico ao violão na trilha sonora do premiado filme O Cangaceiro, de Lima Barreto. Em 1958, trabalhou com Camargo Guarnieri na trilha sonora do filme Rebelião em Vila Rica, de Geraldo dos Santos Pereira e Renato dos Santos Pereira. A partir de 1950, começou a trabalhar como arquivista do Theatro Municipal, onde permaneceu por onze anos. Durante todo esse período, continuou como professor do instrumento, até o final de sua vida, sendo Francisco Araújo (1954) seu discípulo mais expressivo.

Apesar de toda esta diversificada e rica trajetória, Aimoré segue pouco conhecido, mesmo entre os violonistas. Ficou conhecido por ter feito dupla com Garoto e por uma composição, Choro Triste, gravada pelo violonista paulistano Antônio Rago (1916-2008) e pelo célebre músico Mário Zan (1920-2006)[5]. Aimoré sabia ler e escrever partituras e editou algumas músicas de Armando Neves. Ao que tudo indica, o arquivo de partituras de Aimoré foi incorporado à Coleção Ronoel Simões. Ele fez parte do regional da Rádio Cosmos, com o trio formado por Garoto, no banjo e Petit e Aimoré, violões:

Festa da Garoa, segunda-feira no Santana

Sob a orientação artística de Milton Amaral, autor da valsa “Folhas ao vento”, realizar-se-á, segunda-feira próxima no Theatro Santana, a Festa da Garoa, em homenagem ao speaker, Dr. Nicolau Tuma e ao cantor paulista Gastão Formenti.

O programa organizado não poderia ser mais completo, nele tomando parte os “ases” do “broadcasting” paulista, como também carioca, vejamos: Alzirinha Camargo […], José Lucas, Nuno Rolando, Paraguassú, Pedrinho Romano, Raul Torres, a dupla Ranchinho e Alvarenga e outros mais. O acompanhamentos serão feitos pelo “jazz” da Rádio Difusora e o Conjunto Regional da Rádio Cosmos, assim organizado: Garoto do Banjo, Petit e Aymoré.

Num dos intervalos, Gastão Formenti, que também é exímio pintor, receberá significativa homenagem de Milton Amaral, o organizador do espetáculo.

Recordação é um choro tipicamente paulista: composto em duas partes, em forma ternária ABA, em tonalidade menor, mais lento que os choros cultivados na capital federal e que se firmaram na radiofonia e na fonografia brasileiras. Voice-over: Biancamaria Binazzi
Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar
Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.
Música incidental: O que faria Vera?, violão Aimoré, José Alves da Silva.
Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando

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1 year ago
8 minutes 20 seconds

Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 12. Paulista. João Reis dos Santos

No episódio de hoje, vamos falar sobre o choro Paulista, de João Reis dos Santos

Rio de Janeiro, 29 de julho de 1886 – 02 de setembro de 1950.

João dos Santos foi um violonista de bastante destaque no cenário paulistano das décadas de 1920 e 1930. Sua obra é praticamente desconhecida atualmente e pouco se sabe sobre este músico, cujo nome completo era João Reis dos Santos. Felizmente, diferente da maioria dos violonistas deste período, muitas de suas obras solo sobreviveram em versões manuscritas em diferentes acervos particulares e públicos. Hermínio Bello de Carvalho levantou a hipótese de que João dos Santos fosse paulista:

Bandolim de Ouro, da Rua Uruguaiana, “ponto” dos artistas da época, onde se encontrava facilmente João dos Santos, compositor bastante divulgado por Dilermando. Ao que se sabe era paulista. Além dos Batuques n°1 e 2, conhecem-se também o Paulista, o Alma Brasileira. Gostava de escrever choros com modulações inesperadas para “derrubar” seus companheiros de roda, prática musical da época[1].

[1] CARVALHO, Hermínio Bello de. Mudando de conversa. São Paulo: Martins Fontes, 1986, p. 107.

A julgar pelas notícias dos periódicos, ele deve ter residido na capital paulistana entre 1920 e 1936. Publicou um método prático com seu nome completo, João Reis dos Santos.  A exemplo dos demais violonistas do período, o repertório de João dos Santos era eclético, composto de obras de sua autoria, danças de salão e músicas de Francisco Tárrega. Recebeu a quinta maior votação como violonista no concurso da Rádio Gazeta (1931), com mais de 30 mil votos, e participou ativamente no certame, organizando programas na mesma emissora para promovê-lo.

Era um compositor inventivo. Embora simples harmonicamente, suas obras exploram o idiomatismo do instrumento, utilizando paralelismo, que é o uso de uma mesma posição de mão esquerda transitando em diferentes casas do violão. No piano, tal progressão seria dificultada pela constante mudança de molde da mão. Este recurso pode ser encontrado abundantemente nas obras de João Pernambuco e Villa-Lobos, mas ainda não era tão frequente no início dos anos 1920. Além disto, a utilização de contracantos típicos do gênero revelam uma técnica composicional sofisticada e moderna. A grande quantidade de violonistas que grafaram as peças de João dos Santos, entre eles, entre eles Ronoel Simões, José Lansac, Vital Medeiros, Atílio Bernardini, Maurício Nogueira, Edmar Fenício e Paulo César Faria (Paulinho da viola), aponta para uma difusão considerável de suas obras entre os pares de diversas gerações e formações.

Além de se apresentar e promover programas em emissoras de rádio, João dos Santos organizava recitais do instrumento, e um deles, no Salão da Sociedade Germânia, chamou atenção pela presença de violonistas de diversas formações e gerações, citados ao longo dos episódios do nosso podcast.

De todas as composições de Santos, Paulista foi a única que recebeu edição, pela Fermata do Brasil (1966), com digitação de Ronoel Simões e nome de Arrufos. Datada de 1925, pode-se ouvir nela os princípios da linguagem que Garoto desenvolveria nas décadas posteriores, e não por acaso. Certamente Garoto, quando ainda era chamado de Moleque do Banjo, conviveu e foi influenciado por João dos Santos. Os dois transitavam no ambiente das rádios, circos, cafés, cinemas e lojas e fábricas de instrumentos paulistanos, trabalhando em diversos conjuntos instrumentais, chamados de Regionais de Choro.

Voice-over: Biancamaria Binazzi
Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar
Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.
Música incidental: Carioca, João dos Santos, Flavia Prando, violão.
Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando

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1 year ago
7 minutes 44 seconds

Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 11. Cruzeiro - Theotonio Côrrea

O violonista e compositor Theotonio Côrrea (1881-1941), filho de Theotonio Gonçalves Côrrea (violonista pioneiro na cidade, tratado no episódio 2), participou do início da radiofonia e da fonografia elétrica em São Paulo. Em 1929, apresentou-se em duo com José Martins Duarte de Mello, o Melinho de Piracicaba  (1873-1960), e meses depois, João Avelino Camargo (abordados nos episódios 8, 9 e 10) somou-se ao duo. Juntos, formaram o primeiro trio brasileiro de violões do qual se tem notícias, o trio Três Sustenidos. Theotonio teve dois choros registrados na fonografia pelo trio (1930): Cadê o cruzeiro e Bancando o Nazareth.

CLUBE DAS PERDIZES - SARAU LITERÁRIO-MUSICAL

Organizada pelo Sr. Luiz Assumpção, essa festa vem despertando um vivo interesse e se revestirá certamente de desusado brilhantismo. Foi organizado um excelente programa, que ficou a cargo dos elementos de destaque do nosso meio artístico e social como se vê abaixo:

Dr. Plinio Ferraz, em anedotas, Antonio Gouvea, em canções, José Galante, em fados, Marcelo Tupinambá, em suas composições, cantadas por Sr. Edgard Arantes, Trio de violões pelos Srs. Theotonio Correa, João Avelino e José Mello[1].

[1] Correio Paulistano, 31 de outubro de 1929, p. 7.

A música foi editada como maxixe e com o nome de Cruzeiro,  pelos fabricantes de violão Di Giorgio e também por Del Vecchio, ambas com revisão de Atílio Bernardini (c. 1930). Este é o período em que as fábricas de violão Di Giorgio, Del Vecchio e Giannini passaram a editar métodos e partituras para o instrumento. Estas fábricas, certamente com intuito de auxiliar as vendas, passaram a exercer elas mesmas o papel que as grandes casas editoras só assumiriam na década de 1940 e publicaram métodos e partituras para violão. Além do mais, estes estabelecimentos tornaram-se ponto de encontro entre os músicos: promoveram aulas, saraus, recitais, discos. Criaram, assim, um circuito que, se alimentava as vendas, ajudava também na expansão das práticas em torno do instrumento.

Composto em três partes, na forma rondó ABACA, o choro apresenta a primeira parte em Fá maior, uma tonalidade nada usual, que complica um tanto a vida do intérprete, devido a grande quantidade pestanas que a tonalidade demanda. No entanto, trata-se de uma música bastante idiomática. A parte B está na tonalidade de dó maior e o trio em si maior e seguem o padrão do choro tradicional, alternando as melodias sincopadas com os contracantos nos baixos típicos do gênero.

Voice-over: Biancamaria Binazzi
Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar
Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.
Música incidental: Cadê o Cruzeiro, Theotonio Côrrea. Trio Três Sustenidos, selo Brunswick, 1929.
Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando

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1 year ago
5 minutes 55 seconds

Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 10. Edith - João Avelino de Camargo

João Avelino era um compositor inspirado, autor de melodias contagiantes e suas peças representam a síntese do repertório cultivado pelos violonistas neste período: músicas de salão e choros, explorando os idiomatismos do instrumento e deixando transparecer, aqui e ali, o sotaque caipira que insistia em permanecer na música e nos costumes da metrópole em crescimento. Ele foi tema dos episódio 8 e episódio 9, quando tratamos do choro Sabãozinho e da gavota Iole. Participou ativamente de apresentações públicas, em 1931, por exemplo, apareceu ao lado da soprano brasileira Elsie Houston (1902-1943) em apresentação no Portugal Clube:

Antes de mais uma viagem para a Europa, Elsie Houston participou da “Tarde Musical” organizada pelo compositor Luiz Gonzaga Assumpção no dia 08 de janeiro de 1931 no salão do Portugal Clube. Encarregaram-se das interpretações, além de Elsie Houston, Jayme Redondo, Edgard Arantes, Antônio Marino Gouvêa, Maria Graccho e José Galante. Elsie Houston interpretou Porque sou triste, de Decio Abramo, e Papai, de Assumpção Fleury. Os acompanhamentos foram feitos, ao piano, pelo próprio L. Gonzaga Assumpção. A apresentação reuniu, também, músicos populares como Gaó (piano); Jonas; Zezinho (banjo, cavaquinho); Petit (violão); Calazans; Sampaio (violão); Theotônio Corrêa (violão); Pinheirinho (cavaquinho) e João Avelino Camargo[1]. 

[1] BERTEVELLI, Isabel. Elsie Houston e o canto nacional dos anos 1920 a 1940: trajetória profissional da “genuína voz brasileira”. Revista Brasileira de Música, v. 29, n. 2, p. 365-397.

Na biblioteca de Isaías Sávio, pertencente à Coleção Ronoel Simões, as duas obras de Avelino, as gavotas Edith e Iole, aparecem com dedicatória do compositor paulista ao violonista uruguaio recém chegado ao país naquele momento. Assim, sabe-se que, no ano de 1933, Avelino esteve na capital federal. Além de evidenciar a relação entre os dois músicos, trata-se de uma demonstração evidente de que Isaías Sávio tinha conhecimento do movimento do violão na cidade de São Paulo já no início da década de 1930.

Edith foi executada também por João dos Santos, personagem que será abordado no episódio 12 deste podcast. A última aparição de Santos em concertos públicos noticiada pelo jornal foi em 1936, participando de um duo com um violonista chamado Antonio Mastrangelo, quando executaram a peça Edith, de João Avelino de Camargo e Una Lagrima, de Sagreras.[1]

Foi publicada inicialmente por Bernardini & Di Giorgio em 1931, e depois, no início dos anos 1940, também pela Casa Del Vecchio, sempre com revisão de Atílio Bernardini, professor de violão da cidade, um dos responsáveis pela implementação do circuito de partituras na cidade. Em forma rondó, com uma pequena introdução de quatro compassos, que apresenta a tonalidade de ré maior e os materiais temáticos da primeira parte da dança. A segunda parte, também em ré maior, utiliza a técnica dos harmônicos naturais, recurso bastante utilizado no final dos anos 1920, muito provavelmente impulsionado pelo advento das gravações elétricas que possibilitavam a captação das sutilezas dos instrumentos. Já o trio, em sol maior, apresenta uma sequência de tríades arpejadas que caminham acelerando em direção descendente e cuja voz mais grave desenha uma melodia, conferindo mais movimento ao trecho.

Edith não foi registrada na fonografia, mas foi bastante executada, inclusive pelo trio Três Sustenidos em apresentações públicas pela cidade. Além da gavota Iole e do choro Sabãozinho, o trio gravou o choro Negrinha de filó, todas de autoria de Avelino Camargo.

Voice-over: Biancamaria Binazzi
Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar
Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.
Música incidental: Eh Jurupanã
Coco do Norte de motivo popular em arranjo de Elsie Houston
Gravado por Elsie Houston, acompanhada Hekel Tavares, João Pernambuco e Jararaca
Disco Columbia 7.053-B, matriz 380587
Gravado em dezembro de 1929 e lançado em 1930.
Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando

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1 year ago
6 minutes 54 seconds

Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 9. Iole - João Avelino de Camargo

O violonista paulistano João Avelino de Camargo (1880-1936) e seu filho Américo Piratininga de Camargo (1903-1928) teriam sido dois dos melhores amigos e alunos de Barrios na cidade. Consta que o violonista paraguaio se hospedava na casa de Avelino quando estava em São Paulo. Em 1929, ao chegar para sua segunda turnê na cidade, foi surpreendido pela notícia da precoce morte de Américo, vitimado pela tuberculose, e teria composto o Choro da Saudade. Estas informações encontram-se na Coleção Ronoel Simões, anexadas a uma cópia manuscrita do citado choro, datada de 1935, que teria sido escrita por João Avelino de Camargo, segundo o documento. Ronoel Simões adquiriu, de um sobrinho de João Avelino de Camargo, diversas partituras manuscritas que pertenceram ao violonista paulista, entre elas a citada cópia do Choro da Saudade. Abaixo, a transcrição de um excerto do documento localizado na citada coleção:

Choro da Saudade. Composto em novembro de 1929, na casa de João Avelino de Camargo, na Rua Barão de Iguape, 58, no Bairro da Liberdade, em S. Paulo, Brasil. O Américo Piratininga de Camargo, filho de João Avelino de Camargo, nasceu em São Paulo, em 01/06/1902 e morreu em São José dos Campos, estado de São Paulo, em 20/10/1928, de tuberculose. João Avelino de Camargo nasceu em 27/05/1880 e faleceu, de câncer na próstata, em 26/02/1936, com 56 anos de idade. João Avelino de Camargo e Américo Piratininga de Camargo foram alunos de Barrios e quando Barrios estava em São Paulo, hospedava-se na casa de João Avelino de Camargo [1].

[1] Trecho do documento anexado à cópia manuscrita do Choro da Saudade, pertencente à Coleção Ronoel Simões.

A partitura exibe ainda a data de morte de Agustín Barrios como tendo sido em 1934, evidenciando que a inverídica notícia se espalhou entre os violonistas paulistanos, conforme já citado no episódio 7. João Avelino, que faleceu em 1936, provavelmente não soube que a notícia da morte do mestre e amigo era falsa.

Paulo Prata, autor de uma biografia de João Pernambuco, gentilmente cedeu uma cópia da carta citada no episódio 8 para que fosse possível comparar a letra de Avelino com a caligrafia de manuscritos constantes na Coleção Ronoel Simões. Pela semelhança da letra, o excerto abaixo é parte de um manuscrito autógrafo da gavota Iole (s.d.). As peças de João Avelino representam a síntese do repertório cultivado pelos violonistas naquele período: músicas de salão e choros, explorando os idiomatismos do instrumento e deixando transparecer, aqui e ali, o sotaque caipira que insistia em permanecer na música e nos costumes da metrópole em crescimento.

Outro exemplar de Iole, também localizado na Coleção Ronoel Simões, trouxe a dedicatória do compositor para o luthier paulistano Romeo Di Giorgio.

Esta gavota em ré maior, composta em três partes, na forma rondó, recebeu versão para trio e foi gravada em 1929, pelos Três Sustenidos, selo Brunswick e recebeu edição para violão solo pela Casa Manon e impressão dos Irmãos Vitale. O violonista e professor Antônio Rebello, avô dos irmãos Abreu, realizou duas cópias da Iole, uma em 1930 e outra em 1940, indicando que a obra circulou no ambiente violonistico da então capital federal, Rio de Janeiro. Foi bastante executada na radiofonia e nos palcos paulistanos, tanto na versão em trio como na versão para violão solo.

Voice-over: Biancamaria Binazzi
Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar
Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.
Música incidental: Maxixe de Agustin Barrios, execução Agustin Barrios, NAXOS of America Maxixe · Agustín Barrios Mangoré Segovia & Contemporaries, Vol. 11: Rio de la Plata Guitarists ℗ 2017 DOREMI.
Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando



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1 year ago
6 minutes 43 seconds

Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 8. Sabãozinho - João Avelino de Camargo


No episódio de hoje, vamos falar sobre o choro Sabãozinho, de João Avelino de Camargo

(São Paulo 27/05/1880 - São Paulo 26/02/1936)


João Avelino de Camargo foi aluno e amigo do paraguaio Agustín Barrios, e as informações sobre sua atuação e trajetória são bastante dispersas. As primeiras notícias nos periódicos sobre ele surgiram no ano 1921, embora seja bem provável que ele tenha iniciado sua atuação anteriormente. Seguindo o mesmo padrão de repertório de seus contemporâneos, mesclava obras clássicas transcritas para o instrumento, peças características e obras de sua autoria.

Apresentou-se no Conservatório Dramático e Musical[1] e na Associação do Rosário Perpétuo do Brás[2]. Em 1924, apresentou-se na União Católica Santo Agostinho, tocando, além da mazurca Iole e Una Lagrima, de Sagreras, a mazurca Recordação Saudosa, de Theotonio Gonçalves Côrrea (pai), abordado no segundo episódio do nosso podcast.

Com muito brilho, realizou-se sábado último na sede da União Católica Sto. Agostinho, o festival oferecido às famílias dos associados. A segunda parte do programa se iniciou com três solos de violão pelo professor João Avelino, que interpretou “Recordações saudosas”, “Yole”, de sua composição e “Lágrimas”, de Sagreras, arrancando demorados aplausos da assistência[3.

[1]  Correio Paulistano, São Paulo, ano LXII, n. 21.803, 19 mar. 1924, p. 4.

[2] Correio Paulistano, São Paulo, ano LIX, n.20664, 10 jan. 1921, p. 2.

[3] Correio Paulistano, São Paulo, ano LIX, n. 20942, 23 out. 1921, p. 4.

Duas citações sobre Avelino em livros que se restringem ao território musical do choro carioca — “nasceu presumivelmente em São Paulo, por volta de 1870, e deve ter falecido também na capital paulista, lá por 1940”, em citação de Ary Vasconcellos[4] e “violonista de mérito, discípulo do grande Barrios. É de São Paulo. Vive ainda, pesado de anos”[5], em verbete no célebre livro sobre o Choro e chorões, de Alexandre Gonçalves Pinto, o Animal, nos fazem crer que Avelino frequentava o ambiente musical da então capital federal. Avelino era próximo de João Pernambuco, a quem endereçou uma carta, em 1924, quando se referiu a um período passado no Rio de Janeiro, durante o carnaval daquele ano. O conteúdo da carta é interessantíssimo para o rastreamento da rede de sociabilidades em torno do instrumento:

[4] VASCONCELLOS, Ary. Panorama da música popular brasileira na “Belle époque”. Rio de Janeiro: Livraria Sant'Anna, 1977, p.262.

[5] PINTO, Alexandre Gonçalves. O choro: reminiscências dos chorões antigos. Typ. Glória, fac-símile, 1936 p.250.

Destaca-se a citação sobre Mário Amaral, personagem abordado no episódio 5. Avelino ainda teve destaque na radiofonia com o grupo Três Sustenidos (1929), com Melinho de Piracicaba e Theotonio Correa (filho, que será abordado no episódio 11) e algumas de suas obras sobreviveram, seja pelas gravações do trio, ou através de partituras manuscritas e editadas.

O choro Sabãozinho foi registrado pelo trio Três Sustenidos na fonografia paulistana (1929), pelo selo Brunswick e a gravação é raríssima.  O choro recebeu transcrição e arranjo do violonista Edmar Fenício (1942) e é utilizado como vinheta do nosso podcast. Trata-se de uma joia do repertório paulistano, sendo uma bela síntese dos processos culturais em ação naquele momento.

Composto em três partes, ABACA, a primeira parte, em sol maior, é um maxixe, com uma linha de baixo bem marcada e característica do gênero. Já a segunda parte, em ré maior, apresenta uma melodia que remete à música caipira e idiomatismos típicos da viola, com portamentos e sequências de terças, que externam características rurais que resistiam nos hábitos da cidade em rápido processo de urbanização. Na tonalidade de sol menor, a terceira parte externa a grande influência do tango argentino na música brasileira, em um período em que os gêneros populares urbanos estavam ainda em decantação.  Sabãozinho é um belo exemplar da música urbana paulista daquele período.


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1 year ago
7 minutes 54 seconds

Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 7. Crepúsculo - Antonio Giacomino

Também conhecido como Lourinho, Giacomino foi aluno de Leopoldo Silva. Não foram encontrados dados sobre ano de nascimento e morte deste músico paulistano. É grande a possibilidade do seu sobrenome ter se confundido com o do célebre violonista Américo Jacomino, o Canhoto, embora não haja relação de parentesco entre os dois violonistas.

Existem registros que o identificam também como Antônio Jacomino ou ainda Jacomini. Nesse período, os nomes estrangeiros eram mal compreendidos e registrados com alterações e erros, gerando uma série de alterações e multiplicidades, sobretudo de sobrenomes. 

 O jornal A Gazeta, em 1933, em ocasião do Grande Concurso de Música Brasileira[1], publicou um perfil de Giacomino, com o subtítulo de “Um virtuose do violão”, do qual destacamos o seguinte trecho:

Giacomino nasceu em S. Paulo […]. Estreando em um lindo festival do nosso Conservatório, Giacomino já realizou com sucesso diversas excursões pelo interior do nosso Estado […]Giacomino nos oferece ainda uma circunstância interessante: embora possuindo este nome, nenhum parentesco há entre ele e o saudoso Jacomino (Canhoto) […] Exímio intérprete do violão, Antônio Giacomino (Lourinho), constitui uma revelação da arte brasileira.  O seu método é o de Dionísio Aguado. A sua especialidade, a música estrangeira. Não importa que assim seja: mormente quando sabemos que, de quando em vez, ele nos delicia com os acordes caprichosos de seus originais, entre os quais destacamos: Uma noite na roça (cateretê), Meiranita, (valsa) e Cruzeiro do Sul, (marcha).

[1]A Gazeta, São Paulo, ano XXV, n. 7551, 13 abril 1931, p. 2.

É surpreendente a difusão da obra de Giacomino em manuscritos para piano, o que não era usual. A circulação de obras para violão em versões editadas para teclado é compreensível, uma vez que o mercado de partituras para piano já era consolidado, representando uma possibilidade comercial para os compositores violonistas divulgarem suas obras. No entanto, o trânsito de obras para violão transcritas para piano indica uma divulgação da obra entre os pianistas, independente dos mecanismos tradicionais de distribuição.

Antônio Giacomino realizou ainda a primeira edição para violão da célebre valsa Abismo de Rosas de Américo Jacomino, em 1936, pela editora Derosa, a edição foi baseada na em uma versão para piano da peça (c. 1918). Suas valsas e mazurcas traduzem bem o ambiente seresteiro da virada do século XIX para o XX. Giacomino foi importante no estabelecimento do circuito de impressão de partituras para violão, tendo publicado muitas obras no início do estabelecimento do circuito de partituras para violão em São Paulo. Além disto, a difusão da sua obra extrapolou o mundo do violão e alcançou o do piano.

Deixou dois discos, registrando quatro músicas, sendo elas Mimosa, de Isidoro Bacelar e o cateretê Festa na Fazenda, de autoria própria, em 1932 e, em 1936, Solidão e Recordações de A. Barrios, ambas composições de Giacomino.

Crepúsculo é um belo indício da razão da obra de Giacomino ter extrapolado o circuito do violão, trata-se de uma mazurca contagiante, que consegue manter em suas três partes o clima dançante, vivo e brilhante, aliado a melodias inspiradas que grudam no ouvido.

Voice-over: Biancamaria Binazzi
Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar
Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.
Músicas incidentais: Festa na Fazenda (Antônio Giacomino) Gênero: Cataretê Ano: 1932 Disco: Art Fone Matriz: 4037A
Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando

Ouça a peça Crepúsculo no álbum Violões na Velha São Paulo: https://open.spotify.com/intl-pt/track/5Wa1qh9xOUu0hN3uGNr8i1?si=21e319cf89414b57

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Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 6. Panamby. Antonio Estanislau do Amaral

Olá, pessoal, muito bem-vindos! No episódio de hoje, vamos falar sobre a valsa Panamby, de Antonio Estanislau do Amaral

Antonio Estanislau do Amaral (07/06/1869-08/09/1938) era botânico, filho de José Estanislau do Amaral, rico fazendeiro paulista, conhecido como “o milionário”, dono de mais de 20 fazendas no Estado de São Paulo.

Entre tantas outras atividades, Antonio e seu irmão José foram proprietários do Teatro São José, atual Shopping Light, localizado no Viaduto do Chá, até 1920.

A Light and Power acaba de adquirir o Theatro São José, de propriedade dos drs. Antonio e José Estanislau do Amaral pela quantia de 1.300 contos […] a Light and Power não pretende explorar o Teatro São José, mas sim transferir para ali os seus escritórios […]. Para este fim, essa antiga casa de espetáculos passará por grande obras de adaptação[1].

[1] Correio Paulistano, 24 de julho de 1920.

 Partes do antigo teatro foram aproveitadas na construção da Vila Itororó, na região da Bela Vista, na capital paulista. É possível ver estátuas, adornos e colunas do Teatro São José na Vila que foi inaugurada em 1922.

José teve como filha a célebre pintora Tarsila do Amaral e Antonio e José eram tios de Mário Amaral, compositor tratado no episódio número 5 do nosso podcast. Estes personagens posicionam o violão no seio da modernidade paulistana e permitem o rastreamento de uma rede de sociabilidades ligada à elite cafeeria.

Impressões de um Conto, de Alberto Baltar, autor tratado no episódio 4, foi dedicada a Antônio Estanislau do Amaral, a peça foi executada pelo violonista paraguaio Agustin Barrios em 1917, em São Paulo. A valsa Panamby recebeu  arranjo de Aristodemo Pistoresi, violonista que inaugurou os concertos de violão nas rádios paulistanas (1925), tendo sido discípulo de Josefina Robledo e filho do construtor de violões pioneiro na cidade Francisco Pistoresi. Aristodemo teve destaque na década de 1920 e mereceu um verbete no famoso dicionário de violonistas do argentino Domingo Prat, que o definiu como um violonista que “possuía uma cultura musical embasada, como poucos cultores do nosso instrumento naquele país”. Assim, revela-se um circuito de relações entre os violonistas e as figuras da elite local, diversificando a narrativa que confinou o instrumento às classes menos privilegiadas, possibilitando um alargamento da nossa visão sobre as práticas que envolveram o instrumento na sociedade paulista do período.

Panamby é uma composição inspirada, melodiosa e ritmada, bem ao gosto das valsas de salão do período. Ela foi impresa em edição de particular, de autor, provavelmente na década de 1920, sendo anterior ao estabelecimento do circuito de partituras. Apresenta três partes (ABACA), a primeira em lá menor, apresenta caráter solene, de abertura, a segunda em dó maior, viva e brilhante, com frases que caminham para o agudo, entremeadas pelo ritmo da valsa que conferem um caráter de dança contagiante ao trecho. O trio está na tonalidade de lá maior e segue em caráter brilhante e vivo, apresentando melodias nos baixos respondidas por tercinas que remetem às alegres valsas e polcas apresentadas nos cafés e circos do período.

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Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 5. Saudosa. Mário Amaral

Episódio 5. Saudosa. Mário Amaral

Veja a transcrição completa dos episódios e mais informações em: flaviaprando.com

https://flaviaprando.com/historia-dos-violoes-na-velha-sao-paulo-ep-5/

O paulistano Mário Amaral (ce.1895-1926) talvez seja a figura mais enigmática do circuito do violão da Velha São Paulo. Há muito pouco sobre ele nos periódicos e nada foi localizado sobre sua vida, apenas que faleceu jovem. Pelas parcas informações disponíveis, presume-se que tenha falecido de tuberculose. Era primo da pintora Tarsila do Amaral e sobrinho de Antonio Estanislau do Amaral, compositor da valsa Panamby, que será abordada no próximo episódio, número 6.

Em 1922, Menotti Del Picchia descreveu um sarau no célebre ateliê da artista Tarsila do Amaral. Trata-se de um importante relato que coloca Mário Amaral no centro da intelectualidade modernista paulistana, num claro deslocamento da posição de instrumento de malandro comumente atribuída ao violão.

Em 1924, ele mereceu um grande artigo escrito por Eustáchio Alves, violonista que atuou no Rio de Janeiro e foi aluno de Josefina Robledo. Alves, no texto que recebeu o título “Um Grito D'alma: Impressões sobre o violonista brasileiro Mário do Amaral e Souza”, dirigindo-se a Amaral, iniciou uma digressão sobre sua própria ligação com o violão.

Entretanto, a mais curiosa menção sobre Mário Amaral veio de outro Mário, o de Andrade, juntamente com o que parece ser o único resquício de sua obra: a melodia de uma valsa lenta chamada Saudosa, que o poeta paulistano registrou na segunda parte do Ensaio Sobre Música Brasileira (1928), em “Exposição de Melodias Populares”.

A valsa Saudosa recebeu arranjo (2021) elegante e moderno do violonista e compositor Edmilson Capelupi, que remete às composições de Francisco Mignone.  Embora tenha atualizado a linguagem, o arranjo de Capelupi consegue retratar o ambiente seresteiro que a melodia de Mário Amaral inspira, seja na condução das vozes ou na introdução de respostas características dos contrapontos dos tradicionais regionais de choro. Trata-se de uma valsa nostálgica, lenta, composta em tonalidade de lá menor, composta em duas partes.

Voice-over: Biancamaria Binazzi

Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar

Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.

Músicas incidentais: Tarsila do Amaral - Rondo d'amour (Elke Riedel, soprano; Durval Cesetti, piano)

Josefina Robledo Capricho Árabe de Francisco Tarrega.

Mario de Andrade, Viola Quebrada (Ivan Vilela e Ary Kerner ) Instrumental SESC Brasil

Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando

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Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 4. Bonjour, papa! Alberto Baltar

Olá, pessoal, muito bem-vindos! No episódio de hoje, vamos falar sobre a mazurca Bon Jour, papa! De Alberto Baltar

Alberto Baltar foi um violonista e professor português radicado em São Paulo, cujas datas de nascimento, morte ou chegada à cidade não foram localizadas.

Em 1931, o violonista João dos Santos — em uma reportagem para o jornal A Gazeta, em ocasião do “Grande Concurso da Música Brasileira”, fez referência a Baltar, nos permitindo supor que o violonista chegou em São Paulo na última década do século XIX:

“Termino as minhas lembranças fazendo uma ligeira referência à competência mundialmente reconhecida de Alberto Baltar, que, modestamente e quase ignorado, vive entre nós há perto de 40 anos. Baltar, em composições para o violão, é incontestavelmente, o rei!”.

Esta notícia corrobora a informação trazida pelo uruguaio Isaías Sávio, de que “Baltar foi um dos mais antigos professores de violão erudito de São Paulo que se tem notícia”. O violonista paraguaio Agustín Barrios executou em 1917 a versão de Baltar de Romance sem palavras (Mendelssohn) e uma obra do compositor português, o Impressões de um Conto. Ambas foram prensadas pela Sotero de Souza, em versão original para violão, embora nesta época as músicas para o instrumento fossem editadas em versões para piano, Alberto Baltar ter sido o primeiro compositor a publicar músicas para violão na cidade, entre 1908 e 1917 (as duas peças foram reeditadas no volume 4 do Violões na Velha São Paulo, LEGATO EDITORA).

José Martins Duarte de Mello, conhecido como Melinho de Piracicaba e o célebre discípulo paulistano de Josefina Robledo, Oswaldo Soares (1884-1966) foram alunos de Alberto Baltar, este último o identificou como o primeiro “acadêmico” do violão, antes da chegada da “Escola de Tárrega”. 

Gil-Orozco, tratado no episódio 3 desta série e Alberto Baltar foram os primeiros violonistas a transitarem no circuito musical mais formal da cidade, aproximando o instrumento do Conservatório e dos professores que ali lecionavam. Eles deram início à formação da rede de sociabilidades que deu sustentação para a formação do mundo do violão em São Paulo nas décadas seguintes. Ampliaram o cultivo do violão letrado, lecionando, compondo e adaptando músicas para o instrumento. Introduziram em São Paulo o repertório dos violonistas espanhóis do final do século XIX e início do XX, ligados a Julian Arcas e Francisco Tárrega, músicos que estabeleceram os parâmetros para o violão moderno. 

Bon jour, Papa é uma simples e melodiosa mazurca, de inspiração chopiniana, publicada pela casa Guitarra de Prata(s.d.), provavelmente na década de 1930, no Rio de Janeiro e dedicada ao violonista paulistano Oswaldo Soares. As ligaduras de expressão, não comuns na grafia para violão, podem apontar que Alberto Baltar tinha experiência com a escrita para piano. Composta de duas partes (ABA), ambas na tonalidade de mi maior, sendo que a segunda parte (B) desenvolve, em vinte e quatro compassos, material musical apresentado na primeira parte (A), ora estendendo, ora diminuindo, ora modulando as pequenas células motívicas, até desembocar na retomada da parte A, criando uma sensação de unidade à pequena obra.

Voice-over: Biancamaria Binazzi Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando. Músicas incidentais: Devaneios nº1 e Devaneios nº4, de Alberto Baltar. Violão, Flavia Prando. Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando.

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Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 3. Recuerdos de Pernambuco. Praxedes Gil-Orozco

Sejam muito bem-vindos!

No episódio de hoje, vamos falar sobre a valsa Recuerdos de Pernambuco, de Praxedes Gil-Orozco (1857 – 1916) Práxedes Gil-Orozco Bastidas foi um músico espanhol, da região de Valencia, cidade de Requena. Em 1889, ele embarcou com Martinez Toboso rumo à América Latina para uma série de concertos em duo, notadamente na Venezuela, Barbados, Trinidad y Tobago e Brasil. No Brasil, chegaram em meados de 1889, e há farta documentação em periódicos locais sobre a passagem do duo por vários estados: Rio de Janeiro, Pará, Maranhão, Fortaleza, Recife, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais. Em São Paulo fizeram duas séries de concertos. A primeira foi em junho de 1890 e retornaram à   cidade   em   novembro/dezembro do   mesmo   ano, desta vez apresentando-se em trio com a violinista italiana Giulietta Dionesi, recebendo críticas favoráveis do compositor Alexandre Levy

Em 1890, Martínez Toboso continuou seu giro solitário pelo continente americano, pois Gil-Orozco decidiu fixar residência em São Paulo, tendo sido um dos fundadores do diário La Iberia (1892), periódico em espanhol para a colônia de imigrantes residentes na cidade e de diversas associações de apoio aos imigrantes espanhois. Gil-Orozco foi fundamental para a história do violão paulistano, sendo reconhecido como o primeiro violonista a realizar concertos solo na cidade. Representou comercialmente, a partir de 1901, a Pascual Roch & Cia, fábrica de violões com sede em Valencia, na Espanha. Foi também proprietário de uma fábrica de cordas, A Torcedoura Valenciana de Orozco & Blanes situada no bairro da Mooca, inaugurada em 1903. 

Em 1906, ele participou de um recital no Salão Steinway, ao lado dos mais importantes músicos locais, uma prática que caminha na contramão do discurso dominante da historiografia nacional, que posicionou o violão, quase exclusivamente, como instrumento marginalizado na sociedade brasileira.

Gil-Orozco deixou mais duas composições além da valsa Recuerdo de Pernambuco, Gavota e Maria, mazurca. Há ainda uma peça perdida, La Gitanilla. Recuerdo de Pernambuco, uma evidente alusão ao estado do nordeste brasileiro, onde realizou recitais com Toboso.

A valsa, com indicação de andamento moderato, é uma peça brilhante e dançante. É composta de duas partes (AB), em forma ternária (ABA), sendo a primeira (A) em lá maior e a segunda (B) em mi maior. A peça foi dedicada a Fernando Martinez Checa (1858-1933), pintor espanhol, da mesma cidade valenciana que Gil-Orozco Voice-over: Biancamaria Binazzi

Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar

Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.

Músicas incidentais: Gavota e Maria, mazurca, de Praxedes Gil-Orozco, Flavia Prando, violão.

Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando

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Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 2. Recordação Saudosa. Theotonio Gonçalves Correa

Olá, sejam muito bem-vindos! Neste segundo episódio, vamos tratar da obra Recordação Saudosa, uma Mazurca do compositor paulistano Theotonio Gonçalves Côrrea (1846 –1892)

 Conforme já abordado no primeiro episódio, na cidade de  São Paulo, o circuito de partituras para o violão teve início somente na década de 1930. Parte dessa produção chegou até os dias atuais via manuscritos, ou em versões para piano. Recordação Saudosa, mazurca de Theotônio Gonçalves Correa é a mais antiga composição de um violonista que foi localizada até o momento na cidade, ela foi impressa pela Casa Levy, cerca de 1885. Embora tenha recebido versão para piano, há notícias de jornal evidenciando que a composição era original para violão e foi encontrada uma versão manuscrita para o instrumento. Theotônio foi chamado de violonista de mais valia em artigo anônimo abordado no episódio 1 do nosso podcast. Ele participou da primeira apresentação pública com violão registrada pela imprensa da cidade (1878). Foi um evento na Escola Americana promovida em benefício das vítimas da seca no Nordeste e Theotonio se apresentou em duo com Manoel Maximiano de Toledo. É provável que ele tenha sido ainda o primeiro violonista a publicar músicas em São Paulo. São de autoria dele ao menos mais duas peças além da Recordação Saudosa, todas publicadas ainda no período imperial. No ano de 1882, o Correio Paulistano anunciou a edição de um tango paulista de sua autoria Pery, partitura até o momento não localizada.

Na partitura de Recordação Saudosa, existe a seguinte nota: “do mesmo autor de Pery, Tango, e Dodonquinha, Polka”, esta última a terceira obra de Theotonio que se tem conhecimento, também extraviada. A peça traz a indicação de mazurca sentimental, mas bem que poderia chamar-se mazurca caipira. Destaca-se particularmente a terceira parte, que apresenta sequências de terças eportamentos característicos da música caipira, evocando a viola e o ambiente rural da pequena cidade nos tempos do Império. Theotonio Gonçalves Côrrea teve um filho, Theotonio Côrrea, o Theotoninho, também músico, compositor e violonista que atuou na radiofonia e fonografia na cidade. Falaremos mais sobre Theotonio filho em programa futuro.

Ouça o álbum completo
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Voice-over: Biancamaria Binazzi
Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar

Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.

Músicas incidentais: Rapaziada do Brás, Alberto Marino. Violão, Flavia Prando; Violão 7 cordas, Lamartine Jr.

Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando
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Histórias dos Violões na Velha São Paulo
Episódio 1. Lágrimas de Saudades! Venâncio José Gomes da Costa Junior

Na cidade de  São Paulo, o circuito de partituras para o violão teve início somente na década de 1930. Parte dessa produção chegou até os dias atuais via manuscritos, ou em versões para piano, caso da peça Lágrimas de Saudades!, de Venâncio José Gomes da Costa Junior ou Venancinho Costa, como era conhecido. Ele entrou para a Academia de Direito em 1862, sendo contemporâneo e parceiro do poeta Fagundes Varela. Venâncio era compositor, hábil violonista e dividiu com o poeta Varela noitadas, boemia e a autoria de modinhas e serenatas, entre as quais Noite Saudosa.

Os indícios de uma atividade violonística e de uma rede de sociabilidades ligada ao instrumento em São Paulo tem origem no estabelecimento do curso de direito em 1828. Com ele, a cidade recebeu estudantes de diversas localidades do país que trouxeram instrumentos musicais, promoveram saraus e serestas, encenaram peças teatrais e fundaram jornais, fundamentais para o rastreamento das atividades do passado. O curso do Direito do Largo do São Francisco, portanto, transformou a vida cultural da pequena e isolada cidade de menos de 20.000 habitantes e foi determinante para o desenvolvimento musical  e para o cultivo do violão na cidade.

Lágrimas de Saudades, uma valsa editada para piano pela Casa Bevilacqua, recebeu versão para violão de Edmar Fenício e é a peça de abertura do álbum Violões na Velha São Paulo, tendo sido gravada em um instrumento de época, um violão romântico do final do século XIX, de construtor anônimo. 

Ouça o álbum completo
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Músicas incidentais: Rapaziada do Brás, Alberto Marino. Violão, Flavia Prando; Violão 7 cordas, Lamartine Jr.
Noite Saudosa, Venâncio José Gomes da Costa Jr e Fagundes Varela. Viola de arame, Gisela Nogueira; violão romântico, Giacomo Bartoloni, canto Sandro Bodilon (Em Paisagem Sonora, Anna Maria Kieffer, Selo Sesc). 

Concepção, criação, pesquisa e narração: Flavia Prando
Voice-over: Biancamaria Binazzi
Dramatização dos trechos dos periódicos: Artur Mattar
Vinheta: Sabãozinho, João Avelino de Camargo, arranjo Edmar Fenício. Violão, Flavia Prando.
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Informações sobre as músicas gravadas no álbum Violões da Velha São Paulo, fruto da pesquisa de doutorado que Flavia Prando defendeu na ECA/USP, sob orientação da professora Flavia Camargo Toni. A pesquisa trouxe à tona a história da música para violão na São Paulo do final do século XIX e início do XX, período anterior à formação do circuito de partituras para o violão, o que significa que muitas das obras do disco foram resgatadas de manuscritos ou arranjadas a partir de versões para piano. Cada música ganha um episódio. Nesta primeira temporada são treze capítulos que trazem a história do compositor, da obra e do contexto sócio cultural da cidade, no intuito de enriquecer a audição das gravações e divulgar a trajetória dos artistas e da cidade sob um ponto de vista musical.




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1 year ago
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Histórias dos Violões na Velha São Paulo

Esta série de episódios traz as histórias da músicas gravadas no álbum Violões da Velha São Paulo, trabalho fruto da pesquisa de doutorado que Flavia Prando defendeu na ECA/USP. A instrumentista, em sua pesquisa, trouxe à tona a história da música para violão na São Paulo do século XIX, período anterior à formação do circuito de partituras para o instrumento, o que significa que muitas das obras do disco foram resgatadas de manuscritos ou arranjadas a partir de versões para piano. 
Cada música ganha um episódio, são treze capítulos, nesta primeira temporada, que trazem a história do compositor, da obra e do contexto da cidade de São Paulo, no intuito de enriquecer a audição da gravações e divulgar a trajetória dos artistas e da cidade sob um ponto de vista musical. 
Aborda-se um pouco da história do violão brasileiro e das valsas, mazurcas, gavotas e choros cultivados no país. 
Flavia Prando