O historiador Carlos Fico acaba de lançar o que já nasce como um clássico: “Utopia Autoritária Brasileira” (Editora Crítica), com um subtítulo que anuncia o que entrega com fartura de dados e evidências: “Como os militares ameaçam a democracia brasileira desde o nascimento da República até hoje”. Nas últimas linhas da apresentação, anuncia: “Este é meu último livro. Apesar de ele tratar da nossa ‘melancólica trajetória nacional’, tive muito prazer em escrevê-lo”. Tentamos demovê-lo da decisão no curso da “reconversa”, sem muito sucesso, por ora ao menos. A obra é, sem dúvida, oportuna, mas não nasceu das melancolias e miasmas do bolsonarismo. A pesquisa tem uma longa trajetória e vem à luz num momento em que a democracia está, sim, prestes a punir golpistas, inclusive militares. Sabemos todos a que custo. O historiador Fico faz uma impressionante genealogia dos golpes que sacudiram a República — houve até um “da legalidade” — e provoca: no Brasil, não importa saber apenas como morrem as democracias, mas “como as ditaduras morrem”. Isso também fala muito sobre a nossa história. Inteligente, instigador, imperdível.
O documentário “Apocalipse nos Trópicos”, de Petra Costa, estreou na Netflix no dia 14 de julho. Em menos de um mês, foi acessado mais de um milhão de vezes. O título da obra evoca o último livro do Novo Testamento e investiga como a perspectiva apocalíptica, que antevê o fim dos tempos e um posterior renascimento, se espraia entre os pobres, com a multiplicação de denominações evangélicas e neopentecostais. Não é estranha a esse ponto de vista a ideia do “aceleracionismo”: provocar eventos que possam literalmente acelerar o fim do mundo como o conhecemos em busca de um novo amanhecer, que trará Cristo de volta à Terra. Tal prefiguração vem marcada por um forte viés ideológico, de extrema direita, caudatária da “guerra cultural” contra o progressismo, originada nos Estados Unidos. Em “Democracia em Vertigem”, de 2019, Petra já havia exercitado com excelência o que chama “cinema de ensaio, não de tese” — vale dizer, ela não busca no que filma a manifestação exemplar de uma leitura preconcebida da realidade; são os acontecimentos, flagrados por sua câmera, que plasmam um pensamento e uma leitura da realidade. Assistam a uma das conversas mais fascinantes havidas neste podcast, em que a diretora também se mostra como talvez jamais o tenha feito em público. Sim, Petra já cuida do próximo filme e nos conta em primeira mão: “É um faroeste”. Imperdível.
Vinicius de Carvalho é ministro da Controladoria-Geral da União. A CGU, um ente do governo, e a Polícia Federal, do Estado, resolveram meter a mão num vespeiro e desmontaram um esquema fraudulento de desconto de contribuições dos vencimentos dos aposentados do INSS, que agora começam a ser ressarcidos. A oposição empreendeu uma guerra de desinformação sobre o assunto, e houve um inequívoco custo político para a gestão Lula, de modo que a face de uma operação necessária, de defesa dos segurados, acabou sendo lida, em muitos casos, pelo avesso. Nem por isso a CGU parou. Segundo o ministro, a orientação do presidente foi uma só: ir até o fim. Conhece-se pouco o trabalho de um órgão que tem uma dupla missão: defender o patrimônio da União por intermédio de uma auditoria financeira permanente e avaliar a efetividade da alocação de recursos para saber se as políticas de governo estão dando resultado. Não poderia haver conversa mais oportuna para inaugurar a nova temporada deste podcast. Imperdível.
Prefeito de Recife, reeleito com uma votação consagradora, ele assumiu a presidência do PSB e se projeta como uma liderança de alcance nacional. Bisneto, neto e filho de políticos, o bate-papo em “Reconversa” revela que não estamos diante de um caso de mero “filhotismo”, tão entranhado na cultura política brasileira, a que se chama, hoje em dia, “nepo baby”. Sim, o “João” que disputa espaço de modo bastante eficaz nas redes entendeu a linguagem destes tempos e deixa nos parceiros de (re)conversa a firme impressão de que precisa ser mais ouvido em Brasília por aqueles que dão combate ao frentão que se alinha contra os interesses populares. Ele destaca que o combate a esse reacionarismo não se resume a embates ideológicos com a extrema direita — no fim das contas, ela aposta nisso. Resume: “As pessoas querem saber como a sua vida pode melhorar” e quais são as políticas públicas que concorrem para isso. Um exemplo? A esquerda precisa enfrentar a questão da segurança. E, diz ele, é possível fazê-lo sem incorrer em demagogia. Aos 31 anos, parece ser um alento contra o “museu de grandes novidades” de que faz propaganda o conservadorismo burro. Vale a pena.
Gilberto Bercovici, professor da USP e uma das referências do Direito Econômico, não tem receio de colocar a sua imensa biblioteca a serviço do Brasil. Faz sentido falar em “receio” em casos assim? Infelizmente, hoje em dia, sim. Com paciência e método, Bercovici evidencia como os interesses de uma minoria, que atendem a cartórios, fantasiam-se, muitas vezes, de uma demanda pública. O professor tem a uma tese a que precisamos urgentemente prestar atenção: a Presidência da República está sendo esvaziada no país há muitos anos, e isso, ele demonstra, não vem nem em benefício da democracia nem dos pobres. A balcanização do Poder Executivo atende, justamente, às demadas das elites piratas. Conversa imperdível.
O bate-papo fascinante com um dos maiores jornalistas do país, que dirigiu dois ícones das revistas da Abril: a “Placar” e a “Playboy”. Nesta última, Juca, formado em sociologia, mudou os padrões da publicação nos EUA e onde quer que fosse editada mundo afora. E a questão central dizia respeito à ética. Ele tem história, mas não é passado. Colunista do UOL, com programa na TVT, está presente nos mais importantes debates que há no país. Estrela do jornalismo esportivo, nunca se negou a tratar o futebol por aquilo que também é: um discurso político. No UOL Prime, em companhia de Pedro Lopes, fez o podcast “Neymar”. Houve tentativa de censura prévia, que, felizmente, não prosperou. E, claro, falamos sobre a CBF. Ainda que pareça surrealismo, a questão tem a cara do Brasil — no caso, de um Brasil que precisa mudar. Imperdível.
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, falou ao podcast sobre a operação de combate às fraudes contra os aposentados do INSS e explicou por que a ação é técnica, não político-partidária. Não é partidária, mas o Planalto tem lado nessa história: a CGU, um órgão do governo, colabora ativamente com a PF, que é um ente do Estado. E isso é apenas um fato. A própria administração resolveu enfrentar a bandidagem, sabendo que se tornaria alvo dos adversários. Rodrigues ainda expõe em detalhes por que a PEC da Segurança Pública “é urgente e necessária”. Além da integração de dados — dos boletins de ocorrência à biometria — o que não ameaça o sigilo das investigações —, há a questão central: o financiamento da área. Perguntamos a Rodrigues quem não quer a aprovação da proposta. Sabe-se, claro!, que as várias faces do crime organizado se opõem às medidas, mas também há aqueles que a elas reagem por picuinhas político-eleitoreiras. Uma conversa imperdível com o homem que retirou a PF do noticiário político-policial de uma maneira virtuosa: seus agentes voltam a ser notícia porque investigam, não porque são investigados.
A deputada Tabata Amaral, do PSB de SP, é coautora de um projeto de regulação das redes que combate as ações criminosas e nada tem a ver com censura. Sob o pretexto de garantir a liberdade de expressão, a turma do vale-tudo alvejou o texto. Mas ela não desiste. Nascida em novembro de 1993, em seu segundo mandato, integra a bancada minoritária de apenas 25 deputados eleitos em 2022 na faixa entre 21 e 30 anos. Ela assente, no entanto, com a tese de que juventude não é categoria de pensamento e de que as ideias velhas também podem povoar a cabeça dos jovens. A deputada faz ainda um alerta sobre o que já não é mais só um espectro a rondar o país, mas uma realidade concreta: o crime organizado se infiltra em esferas do Estado e da disputa eleitoral, e combatê-lo é uma prioridade. Qualquer que seja a configuração política de 2026, Tabata assegura: estará alinhada com o campo progressista. Eis uma jovem parlamentar que lê o presente à luz da história, em dias um tanto estranhos, em que, no pior sentido da expressão, alguns contemporâneos já nascem póstumos. Não perca.
Matias Spektor — fundador, professor titular e vice-diretor da Escola de Relações Internacionais da FGV — está de volta ao Reconversa. O podcast convida um especialista em relações internacionais e na interação econômica entre os países num esforço de enxergar um pouco além das brumas da indeterminação do presente. Para Spektor, “na cosmogonia de Trump, importam China, Rússia e Índia”, o que, por ora ao menos, importuna menos o Brasil. Ocorre que a irrelevância, nesse jogo, não é um bom lugar. Spektor avalia que o modelo “trumpista” reúne muitos elementos para dar errado, mas adverte que será sempre uma tolice menosprezar o poderio da economia americana. A realidade é assim mesmo: complexa, ambígua, num mundo cheio de riscos. E a política externa brasileira? Falta, ele diz, visão estratégica tanto à direita como aos progressistas. Venha com “Reconversa” para tentar entender esses círculos da indeterminação. O professor é um grande companheiro de viagem.
“Reconversa” bateu um papo fascinante com Reginaldo Prandi, professor emérito do Departamento de Sociologia da USP, que se especializou no estudo das religiões. Falamos, claro!, também sobre o catolicismo três dias antes de o conclave eleger o novo papa. Ninguém adivinhou o nome do Sumo Pontífice, nem era o propósito, mas as trilhas que levam à ciência foram percorridas. Prandi é autor de mais de 30 livros, incluindo sociologia propriamente, mitologia e ficção. Um de seus trabalhos, muitos deles premiados, completa 25 anos agora e se tornou um clássico: “Mitologia dos Orixás”. O podcast perguntou a Prandi o que leva determinadas correntes religiosas a um materialismo exacerbado, numa mistura de Deus com uma espécie de empreendedorismo. Ele responde: “A religião nada mais faz do que oferecer uma base considerada legítima para um processo de mudança que já está em curso, e os segmentos que decidem brigar com a realidade são sempre perdedores”. Mais uma (re)conversa imperdível.
Leonardo Trevisan é historiador, mestre em economia e doutor em Ciência Política pela USP, com pós-doutorado pela University of London e pela Warwick University. Professor da PUC-SP e da Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor de uma vasta obra e um dos analistas mais lúcidos deste mundo em transe e em trânsito. O poderio dos EUA é incontrastável no presente, mas as escolhas das elites políticas e econômicas contam, para lembrar Padre Vieira, a “história do futuro”. Afinal, se todos temos “certa herança marxista”, para citar uma expressão, que virou livro, de José Arthur Giannotti, cumpre indagar: a quais interesses serve Donald Trump? Esse é um dos enigmas que tentamos desvendar com Trevisan. Papo obrigatório!
Maria Silvia Bastos Marques é secretária de Projetos Estratégicos da Prefeitura do Rio. Não é o primeiro cargo que exerce na administração pública: já foi secretária da Fazenda da cidade e presidente do BNDES. Tem uma carreira de ineditismos também no setor privado: foi a primeira mulher a presidir a Companhia Siderúrgica Nacional, a Icatu Seguros e o banco de investimentos Goldman Sachs Brasil. É autora do livro “Vontade Inabalável – Os erros e acertos de uma executiva pioneira”. O nosso bate-papo começou com o poema “Com Licença Poética”, de Adélia Prado, que termina assim: “Vai ser coxo na vida é maldição pra homem./Mulher é desdobrável. Eu sou.” E ser mulher num ambiente ainda dominado por homens, com fama de não tergiversar sobre seus objetivos, remete-nos ao título desta prosa: certo dia, em meio a homens vetustos, ela abriu a sua agenda decorada com as “Meninas Superpoderosas”. Vamos ver o que aconteceu.
“Reconversa” recebeu Simone Schreiber, desembargadora do Tribunal Regional Federal da Segunda Região, para um bate-papo sobre justiça, essa instituição “demasiadamente humana“, para apelar a um filósofo, no que ela pode ter de horror, mas também de maravilha. Professora de direito da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio), Simone reflete sobre a neutralidade do juiz — que, afinal, existe neste mundo, não no éter — e sobre a “solução justa”. Apelando ao bom humor, diz de si mesma pertencer à “galera dos direitos humanos”, expressão depreciativa que reacionários tentam pespegar nos defensores das garantias fundamentais. Sua dissertação de mestrado tem 34 anos e, vejam vocês!, conserva impressionante atualidade: “A Força do Argumento e o Argumento da Força - O Lobby dos Militares na Constituinte da Nova República”. Obteve o doutorado em 2007, sob a orientação de Roberto Barroso, que ora preside o STF, com uma tese que virou livro: “A Publicidade Opressiva nos Julgamentos Criminais”. Também esse tema está aí, candente: com alguma frequência, espera-se que o togado produza mais justiçamento do que justiça. Ninguém melhor do que Simone para esconjurar tanto a omissão como a espetacularização do Judiciário. Imperdível.
O economista e professor André Roncaglia é o diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional. À sua maneira, com rigor e sem alarde, nunca teve receio de andar na contramão. Estudava a “Escola Austríaca”, a preferida hoje de 10 entre 10 reacionários, especialmente porque nunca a entenderam, quando poucos por aqui davam bola à teoria. E, hoje, desafia a “doxa” conservadora, que sai por aí tonitruando: “O Brasil está na UTI“. A metáfora médica costuma ser a antessala dos chamados “remédios amargos”, que, claro!, têm sempre de ser ministrados contra os pobres. Numa entrevista iluminada, afirma Roncaglia: “É preciso, sim, que haja algum sacrifício para o país avançar, mas não o de quem está no andar de baixo”. E acrescenta: “Eu adoraria que os nossos ricos tivessem disciplina de mercado — a disciplina que eles gostam de empurrar aos outros. E eu acho que uma das maneiras de disciplinar a nossa elite é por meio de um programa de desenvolvimento, obrigando-a a se encaixar nesse programa. E ela vai ganhar! Olhem que punição!”. Uma das conversas mais fascinantes em 88 edições de “Reconversa”.
A palavra “marqueteiro” assumiu um sentido algo pejorativo em certos nichos, o que não é compatível com a capacidade analítica de Marcello Faulhaber, mas ainda define o profissional que pensa a estratégia de uma campanha política. Queria ser piloto, estudou no Colégio Naval, formou-se em engenharia, especializou-se em economia e trabalhou no mercado financeiro. Foi parar na vida pública, tornou-se subscretário do então prefeito Eduardo Paes, romperam, e ele decidiu ser, voltemos à palavra, o “marqueteiro” da vitoriosa campanha de Marcello Crivella à Prefeitura do Rio, em 2016. Reconciliado com o amigo, foi peça-chave nas campanhas de 2020 e 2024 do atual prefeito. Do Leme ao Pontal, passando pelos outros 91 municípios do Rio de Janeiro, todos avaliam que é inescapável que dispute o governo do Estado no ano que vem. Se acontecer, Faulhaber deve estar com ele. Neste papo em Reconversa, fica claro por que é considerado uma das figuras de ponta do marketing político no país. Fala com desenvoltura sobre os mais diversos assuntos, transitando em universos culturais bastante distintos, e consegue, para abusar de um clichê, “pensar fora da caixa”, mas nunca para aviltar os fundamentos da civilização. Conversa imperdível.O “marqueteiro” Marcello Faulhaber diz a Reinaldo e Walfrido: “Lula é favorito em 26 e vai ganhar”
Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Mauro Campbell Marques exerce a função de corregedor do CNJ, instituição que funciona há 20 anos no país, integrada por 15 conselheiros, e que, conforme o Artigo 103-B da Constituição, “zela pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura”. Também é o órgão encarregado de garantir que os nada menos de 91 tribunais apliquem o Artigo 37 da Constituição, vale dizer: obedeçam aos princípios da “legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. Como corregedor, Campbell pode investigar de ofício, bastando que tome conhecimento de alguma eventual irregularidade, qualquer um dos 18 mil juízes que há no Brasil, exceção feita aos integrantes do Supremo. Dado o tamanho da máquina, ele afirma que são poucos os magistrados investigados. Sim, conversamos com o ministro sobre os famosos “penduricalhos” que acabam furando o teto salarial da administração pública. O disciplinamento está em curso, ele diz, mas convém lembrar: boa parte nasce de leis, que não são feitas por juízes. Bater no Judiciário, como sabemos, é uma espécie de esporte nacional. E recorrer à Justiça também. Como fazer para coibir o excesso de demandas frívolas e de judicialização de conflitos que não precisariam chegar à cortes? Um papo imperdível.
Ele é mestre e doutor em geografia humana pela USP e enveredou para o campo da economia. Hoje, além de presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, da Prefeitura do Rio, é professor associado da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ) e dos programas de pós-graduação da instituição em Ciências Econômicas e Relações Institucionais. Foi também consultor sênior do Banco dos Brics nos anos de 2023 e 2024. Marxista sem medo de ser feliz nem solitário, tornou-se um estudioso da China e desafia alguns consensos sobre aquele país: ele nega, por exemplo, que os chineses tenham uma vocação imperialista. Para Jabbour, o Brasil cometeu um “erro chocante” ao se negar a integrar a “Nova Rota da Seda”. Fica fácil saber por que as direitas não gostam dele. Nesta entrevista, ele explica por que nem sempre se entende também com as esquerdas. Não perca o pensamento de Jabbour em estado puro.
O atual líder do PT na Câmara despontou na vida pública como presidente da UNE, entidade que liderou as manifestações em favor do impeachment de Collor. Ganhou projeção nacional e deu início a uma sólida carreira política. Neste papo com Reconversa, fala sobre os desafios do governo em tempos de redes sociais; as dificuldades enfrentadas por Lula em seu terceiro mandato; o papel do Supremo na defesa da democracia brasileira e a ascensão da extrema direita no Brasil e mundo afora e como enfrentá-la. Casado com a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), uma “mulher bonita”, o jovem estudante de medicina ganhou, quando alçado do movimento estudantil a uma figura de projeção nacional, os apelidos de “Lindobergh” e “Lindinho”. Não consta que tenha atrapalhado a sua trajetória política. A Polícia dos Adjetivos e certo tipo de cafajestagem apareceram bem depois. Uma baita conversa!
“Reconversa” recebeu Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP. Num bate-papo imperdível, afirma sobre a ascensão da extrema direita populista mundo afora: “Essa coalizão de forças violentamente articulada para demolir a democracia e tornar mais fácil a opressão, isso é fascismo. O problema de não usarmos essa palavra é não identificarmos, de forma compreensível, o risco que a gente corre. Muitos pesquisadores dizem: ‘Nós não podemos chamar de fascismo’. Tá bom! Vamos chamar do quê? Você pode comparar o que o Trump está fazendo com o que Stálin fazia? Pode. Mas o Trump é um stalinista? Agora, que existam elementos de fascismo escarrados no que ele está fazendo, existem.”Sobre o poder das redes, considera: “Esses grandes conglomerados, que chamo ‘Conglomerados Monopolistas Globais’, estão no centro do imaginário; estão no centro das representações que nós temos no mundo e estão roubando funções das cortes ou da lei para si (...). Isso traz elementos bastante perturbadores”. Você tem de ver.
Fabiano Contarato desafia clichês e “doxas”. Formado em direito, tornou-se delegado da Polícia do Espírito Santo e exerceu a função por 27 anos. É também professor de direito processual penal. Disputou o primeiro cargo público em 2018, no ano da voragem bolsonarista, e se elegeu senador pela Rede, migrando posteriormente para o PT. É o primeiro senador declaradamente homossexual. Casado desde 2011 com Rodrigo Goberio, ambos formam uma família com dois filhos. Tiveram de enfrentar as hostes da desqualificação e do preconceito com coragem e serenidade. Se a direita hostiliza Contarato por razões óbvias, não se pode dizer que seja unanimidade entre as esquerdas em razão de suas opiniões sobre segurança pública e aborto, por exemplo. Vale a pena acompanhar os relevos do pensamento do senador capixaba, que diz as coisas certas e exatas, entre outras coisas, sobre a Lava Jato e a atuação do Supremo. Reinaldo e Walfrido chegaram à conclusão de que o governo Lula tem de conversar mais com Contarato e de ouvi-lo com mais atenção.