Há Pérolas que são. Há outras que antes de o serem - ou de os outros serem - já o eram.
É o caso da Quinta da Serradinha onde a família do António Marques da Cruz já seguia pelo caminho do biológico e da sustentabilidade ainda pouco se pensava o tema em Portugal. A natureza e o homem, em equilíbrio, de mãos dadas em tudo o que se faz na Serradinha, desde a viticultura, passando pela adega e acabando na garrafa, sempre com a devida protecção.
Na casa da joaninha a conversa deu sustento científico aos ideais que se engarrafam, passando pelas inspirações que viram irmandades e pelas muitas amizades, de norte a sul, que enriquecem o António e quem, como nós, bebe tão generosas palavras.
Há pérolas que são as estrelas, outras preferem guardar a glória para os outros e escolhem antes apresentar-nos constelações inteiras.
É o caso da Nádia Desidério, sommelier daquele que é provavelmente o melhor restaurante português, o Belcanto em Lisboa. Por lá a estrela é o chef, os pratos, e os copos, repletos com uma lista quase infindável de produtores.
O foco é o nacional que depois a Nádia casa cuidadosamente com magia, com o que sai da cozinha. Visitamos duas produtoras da carta, falamos sobre o que as acompanha, o que torna os projectos fascinantes - e como isso é um ingrediente extra mas não menos importante à mesa.
No meio de tanta precisão, uma nota para a familiaridade porque mesmo num restaurante com duas estrelas, é essencial sentirmo-nos em casa.
Há Pérolas que descobriram a terra e depois há aquelas que nascem nela. É o caso da Joana Vivas, arqueóloga de formação, que durante uns anos só não tinha ainda percebido o que queria escavar - e com que propósito.
Uma de cinco primos, a quarta geração da Quinta do Olival da Murta, que fez uma espécie de reset na forma de pensar, cultivar, vinificar, e se lançaram à descoberta. Arrancaram vital, arriscaram no moscatel e agora seguem-se as pêras - afinal, estão no Oeste... - maçãs e também algum olival, que até já está no nome.
A Serra que os empurra para o mar e dá nome aos vinhos pode ser Oca mas o mesmo não se pode dizer do projecto - ou desta conversa.
Se fazer um vinho pode não ser tarefa fácil, imaginem trabalhar quatro projectos diferentes em três regiões: Dão, Beira Interior e Madeira. Não é para todos mas é para a Pérola desta semana.
A Mariana Salvador, que faz os vinhos Textura, Ethos e também Barbeito, andou um pouco por todo o mundo mas foi no Dão que encontrou a casa. Foi lá, no coração de Portugal, que há quase cinco anos se lançou num projecto próprio de nome Revela.
Como é que se consegue isto tudo? A Mariana explica que entre as recompensas de um percurso por vezes cansativo, o equilíbrio é a máxima: para a vida, para a vinha, para o vinho. E com isso não tem tido medo de inovar numa região onde por vezes a tradição fala mais alto, mantendo o Norte na inspiração que são os Nebbiolo de Barolo.
Há Pérolas que simplesmente o são, há Pérolas que são achados e depois há Pérolas que são simplesmente incontornáveis. São poucas as figuras esse estatuto no mundo do vinho mas, em Portugal, Dirk Niepoort é certamente uma delas.
Do peso que não sentiu, ao peso que agora deixa à geração seguinte, passando pelo que transformou e continua a transformar numa empresa familiar centenária, cobrimos de tudo um pouco - tatuagens, regiões, paixões -, numa conversa incrivelmente bem regada.
No meio do sucesso e de tanta experimentação, não deixa de impressionar a vontade de continuar a fazer mais e melhor. A cereja no topo do bolo é uma pequena revelação, em primeira mão, sobre qual a próxima aventura.
Na Bairrada o Pato é uma espécie de ave Real mas mesmo com essa linhagem, a descomplicação da Maria João Pato anda de mão dada com a irreverência que a levou a lançar um projecto como os Duckman Wines mesmo debaixo do nariz do pai Luís.
Foi com um misto de sensações que este Porco encarou a nossa mais recente Pérola, não tivesse pela frente uma Bairradina… e sabemos bem há animais que não se dão bem por aqueles lados.
Entre Leitões, que aprendi, vão muito bem com espumante, a ambição de cada vez menos intervenção e mais sustentabilidade, tivemos uma conversa honesta sobre os desafios da região. Falámos também de uma inspiração que é família, capaz de comover.
Uma das ‘regras’ deste podcast é que tem de ser em Português e foi nos antípodas deste nosso cantinho que me encontrei com o João Corbett, uma Pérola escondida entre as colinas da região de Marlborough, na Nova Zelândia
De Campinas, até ao Awatere Valley e aos Vinhos Loveblock, onde é o responsável pela viticultura, mas sem esquecer um bom churrasco brasileiro, numa conversa que é a janela perfeita para um projecto, um país, uma cultura e uma região tão distantes.
Um feliz acaso - intermediado por um dos anteriores convidado - que tem tanto de fortuito como de especial.
O Pedro Marques é uma daquelas Pérolas que está tão à mão de semear que quase poderia passar despercebido. Baseado na zona de Torres Vedras -- a uns meros trinta minutos de Lisboa -- é lá que tem produzido os já célebres vinhos Vale da Capucha.
Entre o amor ao vinho, que se sente na voz, e a proximidade à capital, há um desassossego que o tem levado a atirar-se para outros projectos, como os vinhos Las Vedras, também em Torres Vedras, e, mais recentemente, a Quinta do Paraíso, na zona da Arrábida.
Uma conversa com uma inspiração adocicada que abre portas a uma curiosa revelação e que deixa muita água na boca.
"Goliardo é quem quiser," dizem, mas poucos haverá que o sejam tanto como Sílvia Bastos e Nadir Bensmail, respectivamente Sultana e Gran Vizir desse grande projecto que são Os Goliardos.
Uma "associação" de amigos produtores, como lhes chamam, que já foi um bar, é Vinho ao Vivo, foi uma série de cursos de vinhos, foi Vini Corsari, é distribuição, consultoria, venda ao público e de há uns anos para cá é também produção, no formato Tomaralmá. E será que ficam por aí? Uma conversa de fazer correr o vinho e com um "produtor inspiração" de deixar água na boca.
A nossa segunda Pérola não é fácil de encontrar... Ora está na ponta leste do país, por Portalegre, ora está na ponta Oeste, por Carcavelos, ou até mesmo perto de Colares. 'Chef' que se reinventou Produtor, Vítor Claro, dos vinhos Dominó e Ferreira & Claro diz que não abdicou da primeira paixão para seguir a segunda.
Ficamos a saber que a apresentação ao mundo dos vinhos foi feita por uma amizade 'de luxo', a que se seguiram - garante! - uma sequência de felizes acasos que o levaram aos terroirs frescos onde trabalha. No limite, vale nem que seja pela voz grave do Vítor, perfeita para este tipo de coisas.
A nossa primeira pérola é o Diogo Baeta, vigneron da Adega Viúva Gomes. Debruçamo-nos sobre o terroir de Colares, os custos de produção numa zona onde não só é difícil cultivar mas também encontrar terrenos para o fazer e, finalmente, sobre o mercado que os vinhos 'bravos' da região têm (ou não...).
Nota: o Diogo é um amigo de longa data, com quem estudei na faculdade.