Sob o slogan “um povo heroico”, a Secretaria Especial da Cultura do governo brasileiro lançou no início de setembro um vídeo para celebrar os 198 anos da independência do Brasil. O mote central é o heroísmo e a história do povo brasileiro, valorizando o sacrifício pessoal em nome de uma causa maior. As duas figuras destacadas eram os Imperadores D. Pedro I e II, os quais os bustos aparecem no filme político, sob o mote da data do 7 de setembro. No entanto, o vídeo apresenta uma visão ultrapassada e sem crítica da história brasileira, valorizando os grandes nomes e enaltecendo marcos temporais arbitrários. Trata-se do mesmo governo que exalta como herói a figura de um torturador condenado e que tem como presidente da Fundação Cultural Palmares um indivíduo que busca negar a trajetória de Zumbi dos Palmares e apagar a importância o dia da consciência negra. Esse revisionismo serve aos objetivos do presente: um projeto político conservador, ligado ao capital financeiro internacional, ao desmonte do Estado, mas que se apresenta como patriota, se veste de verde e amarelo e seleciona heróis brasileiros específicos para justificar e apresentar seus atos. Tem razão Bertold Bretch ao afirmar que “infeliz é a nação que precisa de heróis”? Para quem serve a escolha desses heróis? Quem escolhe estes heróis? Quem são historicamente estes personagens selecionados como representantes da nossa história? Herói é coisa do passado?
O convidado desse episódio foi o professor Adriano Comissoli da Universidade Federal de Santa Maria.
Se você buscar pela palavra “feminismo” no Google, entre as notícias em língua portuguesa somente do último mês, encontrará centenas de referências: desde a cantora pop brasileira Luísa Sonsa contando como se descobriu feminista até a militante feminista negra Angela Davis ocupando a capa da famosa revista Vanity Fair.
Ao contrário das imagens correntes do feminismo como um movimento sectário, você também encontrará diversidade e pluralidade nessa busca. A fotógrafa mexicana Maya Goded declara que aprendeu outro feminismo com as mulheres indígenas. Em São Paulo, o feminismo asiático começa a ser introduzido na cena pública por brasileiras descentes de povos orientais. E são variadas as citações a feminismos negros na África e na diáspora, que já construíram importantes intelectuais no Brasil, como Sueli Carneiro, Lélia Gonzales e Djamila Ribeiro.
Enquanto isso, o Brasil perdeu 5 posições no ranking mundial da igualdade de gênero, além de ocupar o vergonhoso quinto lugar em número de feminicídios. Estudos sobre o impacto da pandemia de COVID19 também revelam que o desemprego atingiu 7 milhões de brasileiras, 2 milhões a mais do que o número de homens demitidos, e a violência doméstica contra mulheres aumentou em 5% desde o mês de março.
Com tudo isso a gente pergunta: Feminismo é coisa do passado?
Nesse episódio conversamos com a professora Mônica Karawejczyk da Pontifícia Universidade Católica do RS e tivemos a participação especial da professora Maiara Gonçalves da Silva.
Durante séculos o Tribunal do Santo Ofício, também conhecido como Inquisição, usou de seus poderes para controlar as crenças e os corpos de mulheres e homens. Delimitando o que era a verdadeira fé e como deveriam se comportar os verdadeiros cristãos, a Inquisição excluía da comunidade da fé todos aqueles que abraçassem formas diferentes de crença. Seus poderes de perseguição ao diferente incluíam desde a obrigação de que o “culpado” assumisse publicamente seu desvio, passando pela excomunhão, até a temida morte na fogueira.
No recente caso que envolveu a gravidez de uma menina de 10 anos em razão dos abusos sexuais que sofria desde os seis, a determinação judicial de que fosse realizado um aborto, baseado em dois dispositivos legais que garantiam esse direito à vítima, levou manifestantes católicos radicais à se manifestarem. Entre argumentos em defesa da vida do feto, circulavam ameaças de danação divina e de excomunhão àqueles que viabilizassem a interrupção da gravidez. E com isso perguntamos, inquisição é coisa do passado?
O episódio tem a participação especial do professor Angelo Faria de Assis da Universidade Federal de Viçosa e foi gravado com o professor Lucas Monteiro do Instituto Federal Farroupilha como convidado, no nosso primeiro bate-papo sobre o tema.
Nas últimas semanas, o governo federal começou a encaminhar uma reforma tributária fatiada para o Congresso, anunciando algumas possibilidades que ainda poderá submeter à aprovação, como a polêmica tributação do livro, produto que é isento de imposto no Brasil desde a Constituição de 1988. A ideia vem na contramão das propostas de especialistas em formação de leitores, além do próprio mercado editorial, um ramo da economia já bastante afetado pelas crises recentes. Parece que, assim como as artes, o livro ainda causa medo. Em todos os governos autoritários, ele é vigiado e censurado. Com o ultraliberalismo econômico do ministro Paulo Guedes, ele deve ser elitizado. Ainda mais elitizado. Em uma ou outra forma, restringe-se a difusão de ideias e a livre expressão. Mas o que é esse objeto e como ele se constituiu? Qual sua história? Porque ele é temido por alguns e amado por muitos? Afinal, o que pode o livro?
Contamos com a participação especial da professora Giselle Venancio da Universidade Federal Fluminense.
No segundo semestre de 2019 uma série de movimentos fervilhou em diferentes partes do mundo, de Hong Kong ao Equador, passando pelo Líbano e Chile até chegar na Escócia e na França. Nos últimos meses uma pandemia global e uma grave crise econômica colocam em xeque o sistema político e apontam para a necessidade de transformações decisivas na ação humana. Desde então, , a revolta contra o status quo pré-coronavírus só ganhou força: multidões cantando "vidas negras são importantes" e "basta" marcharam em diferentes partes do mundo, enquanto gravamos esse programa os trabalhadores de aplicativo paralisam suas atividades no Brasil. Em diferentes locais, guilhotinas foram colocadas nas ruas, monumentos foram derrubados, delegacias foram incendiadas e palavras de ordem contra os governantes e sobre os limites da política atual foram lançadas em diferentes línguas e entonações. A crise mundial, a crescente adesão popular aos movimentos de contestação e o acesso à informação pela internet, fora da mídia tradicional, pareciam sugerir que algo - se não uma revolução, pelo menos os passos iniciais de uma era revolucionária - estavam em andamento. Ainda que o seu potencial transformador não seja visível por completo nesse momento, os símbolos e a retórica revolucionária voltaram com força ao imaginário popular nos últimos tempos.
O episódio conta com a participação especial do Professor Luciano Figueiredo da Universidade Federal Fluminense, organizador da página de Facebook Impressões Rebeldes e perfil no Twitter @ImpressoesRbds
A onda de protestos por justiça racial iniciados depois da morte de George Floyd atravessou o Atlântico e com ela a rebelião dos manifestantes contra uma série de monumentos: de Padre Antônio Vieira em Portugal aos generais confederados nos estados do sul dos Estados Unidos, passando pelo Rei Leopoldo II na Bélgica, uma série de representações monumentais de figuras públicas estão sendo questionadas. E aí a gente pergunta, monumento é coisa do passado?
Participação especial da professora Ynaê Lopes dos Santos, da Universidade Federal Fluminense e idealizadora do Instagram @nossos_passos_vem_de_longe