"Há um caminho que não se percorre com os pés, mas é trilhado com o coração.
A via contemplativa é isso:
Cessar o fazer e abrir-se ao Ser
É o chamado do coração
para voltar o centro,
Onde Deus nos espera em Silêncio"
Trilhar um caminho que vai da alienação perante Deus até o resgate do "Paraíso Perdido".
Thomas Merton vai então usar o "Mito do paraíso perdido" como símbolo da condição espiritual do Ser Humano. O paraíso perdido não como lugar geográfico do passado, mas como uma realidade interior esquecida.
O mito fala da queda da consciência.
Há um saber que enche a mente,
Mas não sacia o coração!
Que fala de Deus como se fosse possível
ConTê-lo em palavras.
Há outro saber que não se aprende nos livros
E que nasce quando tudo se cala,
No silêncio.
No primeiro eu falo,
No segundo eu escuto.
No primeiro tento controlar,
No segundo deixo-me conduzir
No primeiro o Eu se defende,
No segundo o Eu se rende.
Então percebo que Deus não é um objeto a ser estudado, mas uma Presença a ser acolhida.
Não é um conceito para a mente,
Mas um encontro para o coração.
Quando o saber se esgota e o silêncio se abre que finalmente conheço:
Não sobre Deus, mas Deus em mim.
"Já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim". (Gálatas 2:20)
Esvaziar-se
Não como quem perde,
Mas como quem abre espaço.
O Eterno se fez tempo
O Todo se curvou em silêncio
Num gesto de amor sem medida
Kenosis é esse chamado:
Descer,
Desarmar-se,
Ser pequeno,
Ser simples,
Ser nada,
Para que o Tudo floresça.
Não é anulação,
É revelação.
Quando o cálice se esvazia,
Pode finalmente ser preenchido.
E o coração
Livre de si mesmo, do Falso Eu
Torna-se morada do Mistério.
Ser Peregrino na Vida
Não sou dono do caminho,
sou apenas hóspede da estrada.
Meus pés, pisam terras
que não me pertencem
Sou Peregrino:
Aquele que não se fixa
nem em espaços físicos, nem mentais.
Que não se amarra a certezas rígidas
Não confunde a palavra com a verdade
nem o pensamento com a experiência
não se prende as corrente do "Já sei".
Sua sabedoria é despojada:
acolhe cada ideia como companheira de jornada,
mas deixa partir quando o caminho pede silêncio.
O Peregrino não caminha apenas para fora,
seu maior caminho é para dentro.
Carrego pouco,
mas dentro de mim levo tudo:
as perguntas, a sede, o desejo de encontrar-me em Deus.
Ser Peregrino da vida
é reconhecer que o destino é sagrado,
mas que o próprio percurso já é graça.
Há em ti um lugar silencioso
que não pode ser tocado pelas vozes do mundo.
Ali não entram as máscaras, nem as exigências do Ego, nem o ruído das comparações!
Esse lugar é tua morada secreta,
teu coração verdadeiro.
Nele não há necessidade de provar nada porque já é amado antes de qualquer gesto.
O falso Eu se agita, se veste de aplausos, deseja ser visto, reconhecido, admirado.
Corre atrás do brilho que não dura,
mas o verdadeiro Eu permanece tranquilo como a raiz escondida que sustenta a árvore.
Não precisa correr, pois o que busca já te habita.
Um cansa, o outro liberta!
Um é invenção frágil, o outro é recordação eterna!
O verdadeiro não é algo a conquistar, mas a recordar.
E nessa lembrança, nasce a liberdade de "Ser que és em Deus".
A expressão “falso eu” aparece em diferentes tradições espirituais e a teologia cristã, sobretudo a mística, faz dela um tema central para a vida interior.
Para Merton, o “falso eu” é a identidade construída a partir de máscaras sociais, desejos de poder, prestígio ou aprovação. É o eu alienado, que vive desconectado da sua fonte e do mistério.
O ego é um nome que damos à casa que construímos com medos e memórias. As paredes são de histórias antigas, o telhado, de comparações, as janelas, pequenas demais para ver o horizonte.
Ele nos protege, mas também nos aprisiona. Sussurra que somos a nossa profissão, nossas vitórias, nossas feridas. Convence-nos de que, se soltarmos o controle, desapareceremos.
Mas há um lugar, no fundo do silêncio, onde esse “eu” não tem domínio. Lá, não há paredes nem nomes, nem dentro nem fora,
nem eu nem tu — apenas o sopro sem origem que nos anima.
Ali, descobrimos que o ego não é um inimigo, mas uma sombra que se forma quando viramos as costas para a luz. Quando nos voltamos de novo para ela, a sombra se alonga, se dissolve, e tudo o que resta é o espaço aberto onde Deus respira em nós.
O ego é um nome, não a alma.
É a roupa que visto,não a pele que habito. É a sombra que me segue,não a luz que me guia.
Quando acredito que sou ele, perco-me.Quando o observo,liberto-me. O ego é útil na estrada, mas não é o destino.
O ego é o homem exterior, feito de títulos, medos e vaidades. Bate à porta de Deus com as mãos cheias de si mesmo e por isso não consegue entrar.
A alma, porém, é o homem interior, o silêncio onde Cristo habita. Ali, não há “eu” nem “meu”, apenas um coração aberto que se deixa possuir pelo Amor.
Morrer para o ego não é deixar de existir, é nascer de novo no lugar onde “já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim”.
Há tanto tempo caminhamos, correndo atrás de promessas que se desfazem no ar.
Buscamos fora o que sempre esteve perto.
Pelas ruas da pressa, pelas praças do ruído, esquecemos que havia um lar dentro de nós.
O silêncio é a chave esquecida no bolso.
Ao abri-lo, reencontramos um espaço que nunca deixou de existir.
Não há móveis antigos, nem paredes frias, há apenas presença.
Um calor que não vem de fora, uma luz que não precisa de lâmpadas.
No começo, o retorno assusta.
O silêncio nos apresenta os ecos que tentávamos evitar: medos, lembranças, feridas. Mas, como viajante que descansa depois de uma longa estrada, percebemos que até as sombras são familiares, e que, ao aceitá-las, ganham contornos de paz.
É então que entendemos o provérbio antigo:
O silêncio vale ouro.
Não pelo que evita, mas pelo que revela.
Ele nos mostra o ouro que carregamos:
a essência viva, o amor que somos, a luz que não se apaga.
No silêncio, retornamos para casa e descobrimos que a casa sempre fomos nós
e que o ouro sempre esteve aqui, brilhando no centro do nosso ser.
Parece que estamos falando da mesma coisa, mas são estados totalmente diferentes!
A solidão pode ser considerada um estado de "desconexão", de ausência de vínculos e de sentido. Na psicologia, a solidão pode ser vista como um alerta, já que o Ser Humano é ser relacional e quando desconectado de vínculos significativos, sua saúde Integral é afetada.
Aqui já temos um ponto de atenção! Muitas pessoas confundem ou rejeitam a meditação por acharem que essa é uma prática solitária, uma prática que me afasta dos outros, por isso precisamos entender o conceito de SOLITUDE.
Solitude, diferente da solidão, é um estado de "conexão". Existe uma escolha de estar só, em recolhimento, para um tempo nutritivo. Existe na "solitude" um desejo de retornar a si mesmo, de se reconectar com sua interioridade, com um lugar mais profundo em si mesmo.
Existe na solitude um "Silêncio fértil", que na Tradição Cristã é conhecido como: DESERTO FECUNDO (lembre-se da passagem de Jesus no deserto) ou RETORNO AO CENTRO.
A solidão pode até ser uma porta de entrada para a solitude, porque a dor de estar só, pode ensinar a estar consigo de forma plena, a tomar gosto pela própria companhia e nela descobrir um companheiro sempre Presente, mas nem sempre Percebido.
Nesse quesito podemos dizer que a Meditação Cristã, diferente de outras Práticas de Meditação, não é um "Vazio", mas uma "Presença"!
Para finalizar essa primeira parte do tema, vou deixar uma frase do teólogo e psicólogo holandês, um grande contemplativo, Henri Nouwen:
"Solitude é o lugar onde se nasce o verdadeiro amor pelo outro, pois só ali deixamos de usar o outro como preenchimento do nosso vazio"