As universidades nasceram do desejo humano de compreender o mundo, de fazer perguntas, de duvidar, de abrir espaços para o pensamento. Mas o que acontece quando o próprio espaço que deveria abrigar o diálogo se fecha ao outro? Quando a busca pelo conhecimento é substituída pela tentativa de silenciar? A história mostra que momentos assim costumam deixar marcas profundas, não apenas nas instituições, mas na sociedade que elas refletem. Na última semana, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH) decidiu romper o convênio acadêmico que mantinha com a Universidade de Haifa, em Israel. Segundo o diretor, seria um “gesto simbólico” diante do que chamou de “crimes em Gaza”. Mas o gesto levantou uma série de questões: O que significa romper uma parceria acadêmica? Que impacto isso tem sobre estudantes e pesquisadores? E, sobretudo, o que essa decisão diz sobre o papel das universidades diante de conflitos políticos? Pra discutir esse tema, a gente conversa hoje com Marta Topel, professora do Departamento de Letras Orientais da USP.
Nos últimos meses, um aumento de incidentes antissemitas tem chamado atenção em universidades de países como França, Reino Unido, Alemanha e Espanha. Muitas vezes, críticas ao governo de Israel, que são legítimas em uma democracia, muitas vezes ultrapassam fronteiras e se transformam em hostilidade contra judeus e judias.
Movimentos como o BDS e certos discursos políticos têm sido apontados como fontes de intimidação para estudantes judeus, que relatam evitar usar símbolos judaicos ou expressar sua identidade por medo de represálias. Há também críticas à lentidão das universidades em reagir a casos de antissemitismo e também ao silêncio ou cumplicidade de parte do corpo docente. Para conversar sobre o tema com a gente, convidamos o Edgar Santos que é ativista e estudante da Universidade de Bristol, onde estuda Filosofia e Língua Portuguesa. Ele é membro da Union of Jewish Students (UJS) e presidente da Associação de Estudantes Judeus da Universidade de Bristol (Jsoc), onde representa estudantes judeus no espaço político no Reino Unido, na Europa e em Israel na luta contra o antissemitismo e na promoção dos direitos no meio universitário. Atualmente, faz um intercâmbio com o Labô na PUC, até Dezembro. Vive em Londres, embora tenha nascido em Portugal e seja filho de pais brasileiros.
Depois de 738 dias, os vinte reféns israelenses sequestrados no dia 7 de outubro de 2023 voltaram para casa. A libertação faz parte do acordo de cessar-fogo firmado entre Israel e o Hamas no Egito, com mediação dos Estados Unidos, Catar e Turquia. Em troca, Israel libertou quase dois mil prisioneiros palestinos, entre eles 250 condenados à prisão perpétua. Esse momento encerra a guerra mais longa da história recente de Israel, mas também abre uma nova fase de incertezas e desafios, tanto políticos quanto emocionais.
Essa volta dos reféns não encerra apenas um capítulo, ela expõe uma fratura que atravessa todo o país. Porque Israel não está voltando ao que era antes do 7 de outubro. Está voltando para um lugar desconhecido, onde a confiança virou dúvida e onde a palavra “segurança” já não significa o mesmo. Há quem veja nesse acordo uma vitória humanitária. Há quem veja uma capitulação política. E no meio disso, estão as famílias das vítimas israelenses e também das palestinas, tentando entender o que fazer com esse retorno tão tardio. A pergunta agora não é só “quem voltou?”, mas “quem somos depois disso?”.
Para falar sobre esse tema, a gente conversa hoje com Daniela Kresch, jornalista e correspondente do IBI em Israel, país onde ela reside há mais de duas décadas, testemunha direta desse processo.
A vida em Israel não é a mesma dois anos após o 7 de outubro, um evento que trouxe angústias e muita incerteza para a população da região. Nesse período de festas e começo de um novo ano judaico, que costumava ser de celebrações, os israelenses ainda lidam com a dor e a perda resultantes da guerra, da situação dos reféns e da população em Gaza.
Apesar do cenário pessimista, existe um desejo entre a população israelense de ver essa fase como temporária e de retomar uma rotina, mesmo que ela seja diferente da anterior.
Quem conversa com a gente hoje é a Revital Poleg, foi diplomata do Ministério das Relações Exteriores de Israel e Representante Geral da Agência Judaica no Brasil, e é colaboradora do IBI.
Pra quem não conhecia Charlie Kirk, ele era um norte-americano de 29 anos, ativista e comunicador de extrema-direita, grande defensor de Donald Trump, propagador de teorias conspiracionistas, como ideias de fraude nas eleições norte-americanas de 2020, marxismo cultural, globalismo e o negacionismo quanto às mudanças climáticas. Em 10 de setembro, Kirk foi assassinado durante um evento em uma universidade nos Estados Unidos e suas posições viraram tema de interesse no debate público não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.
A morte dele foi motivo de comoção entre algumas pessoas da comunidade judaica. Em Israel, por exemplo, teve até prefeito querendo homenagear Kirk com o nome de rua. Ele era visto como um defensor de Israel, e as homenagens vinham junto com fotos dele com a esposa em Jerusalém. Ainda que visto como um ativista a favor de Israel, Charlie Kirk tem um relevante histórico de declarações antissemitas. Ele disseminava teorias conspiratórias contra judeus, além de atacar outras minorias. Esse fenômeno nos trouxe a pensar sobre a ideia de um antissemitismo sionista, será que isso é possível?
Para nos ajudar a refletir sobre o tema conversamos agora com Daniel Douek, cientista social assessor do IBI e mestre em letras pelo programa de estudos judaicos e arábes da USP.
Sempre que nos deparamos com negacionismo, ou seja, a recusa em aceitar um fato comprovado e documentado, seja ele científico, histórico ou social, é importante nos perguntarmos: a quem e para que serve?
Com a guerra em curso em Israel, não poderia ser diferente. Sim, há quem negue os horrores da guerra, por mais factuais e concretos que sejam. E a pergunta que fazemos hoje é: isso é conveniente para quem? Nosso convidado é o historiador João Miragaya, que é assessor do IBI, e mora em Israel desde 2009.
Rosh Hashaná e Yom Kipur marcam o período mais intenso do calendário judaico. São dias de reflexão, de balanço pessoal e coletivo, mas também de esperança e renovação. O Ano Novo Judaico e o Dia do Expiação, conhecido também Dia do Perdão, convidam cada indivíduo a olhar para si, para os outros e para o mundo de uma forma mais profunda, em busca de transformação e reconciliação. Como define nosso convidado, é o período de "Copa do Mundo espiritual" do judaísmo.
As Grandes Festas judaicas, especialmente Rosh Hashaná e Yom Kipur, não falam apenas da relação entre cada pessoa e Deus, mas também da responsabilidade que cada um tem diante da comunidade e da sociedade. Como podemos ser melhores neste momento? E como podemos melhorar o mundo a partir dessa transformação?
Para responder a essas perguntas, recebemos hoje o rabino Lucas Lejderman, também conhecido como Pato, rabino do Círculo Israelita de Santiago, no Chile, que vai nos ajudar a mergulhar no sentido profundo desses dias e em como eles se conectam com a nossa realidade.
Há 20 anos, em agosto de 2005, Israel se retirava de Gaza, encerrando quase quatro décadas de ocupação direta sobre o território. A decisão, marcada por tensões internas e repercussões internacionais, transformou de maneira profunda a dinâmica política e social da região, e até hoje permanece como um ponto crucial para entender o conflito entre israelenses e palestinos.
O plano de retirada unilateral da Faixa de Gaza, conduzido pelo então primeiro-ministro Ariel Sharon, provocou uma das maiores rupturas políticas dentro de Israel. A decisão dividiu profundamente o partido Likud e abriu espaço para que seu maior rival, Benjamin Netanyahu, consolidasse sua liderança e se projetasse como a principal figura da direita israelense. Mas como esse momento histórico continua a reverberar, duas décadas depois, na política do país?
Para nos ajudar a responder a essa pergunta, recebemos Daniela Kresch, jornalista, correspondente do IBI em Israel, que acompanhou de perto todo esse processo e foi, inclusive, uma das últimas pessoas a deixar a Faixa de Gaza durante a retirada.
No tempo das redes sociais, muita gente sente necessidade de se ver representada. De ouvir vozes que expressam aquilo que elas próprias pensam e acreditam. Mas nem sempre as instituições dão conta dessa pluralidade. E é aí que surgem os coletivos: grupos de pessoas que compartilham ideias semelhantes e decidem se juntar para se expressar em conjunto, para terem relevância e voz.
Hoje a gente vai falar sobre os coletivos judaicos, que têm ganhado cada vez mais espaço e importância. Para isso, convidamos o Marcelo Semiatzh, integrante do coletivo Judeus e Judias pela Democracia de São Paulo, que tem atuado nos últimos anos como uma voz judaica em defesa das instituições democráticas e dos direitos humanos no Brasil.
No último dia 17, uma multidão de manifestantes tomou as ruas de Israel. Os protestos aconteceram em pontos diferentes do país, reunindo centenas de milhares de pessoas que exigiam a devolução de todos os reféns e o fim da guerra.Esse movimento representa mais de 70% da população israelense, e se tornou ainda mais urgente desde que o governo de Bibi Netanyahu anunciou que pretende prosseguir com a ofensiva, ocupar a Faixa de Gaza e entrar nas áreas onde os reféns estão mantidos. Para contar como foram as manifestações e como está o clima geral em Israel, convidamos a Mariana Iguelka, formada em Educação e Filosofia Judaica na Universidade Hebraica de Jerusalém, Coordenadora de Educação Não-Formal no Yad Vashem, que vive em Israel desde 2021
Em julho de 2025, o governo brasileiro deixou a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, conhecida como IHRA, na sigla em Inglês. O país era membro observador desde 2021. A medida não foi anunciada de forma pública pelo governo, mas causou indignação em alguns setores da comunidade judaica. O que a IHRA representa globalmente e de que forma a decisão do governo impacta o combate ao antissemitistmo no Brasil? Para falar do tema, convidamos o Carlos Reiss, coordenador-geral do Museu do Holocausto em Curitiba e que é delegado da IHRA - e até o momento não foi oficialmente comunicado dessa desvinculação.
No dia 30 de julho, aconteceu o lançamento da pesquisa "Percepções e narrativas da população brasileira sobre os judeus, o Estado de Israel e o conflito entre Israel e Hamas", no Museu Judaico de São Paulo. Esse estudo inédito é um retrato de como os brasileiros veem a situação no Oriente Médio e também os judeus.
A pesquisa foi realizada em parceria com o Instituto de pesquisa Ideia, com amostra quantitativa em todo o país e monitoramento das redes sociais.
Para falar um pouco sobre as principais descobertas e conclusões a partir dessa pesquisa, convidamos o Karl Schurster, que é doutor em história comparada pela UFRJ e pós-doutor em história pela Universidade Livre de Berlim. Professor livre docente em história contemporânea da Universidade de Pernambuco e investigador Maria Zambrano da Universidade de Vigo/Espanha. Autor de diversos artigos e livros sobre o Holocausto e os Fascismos, tendo vencido o prêmio Jabuti de ciências humanas em 2014.
No último dia 1º de julho, pela primeira vez desde o início da guerra, um jornalista em língua portuguesa cruzou a fronteira e entrou na Faixa de Gaza. Hoje, ele está aqui para contar sobre essa experiência.
Convidamos o jornalista Henry Galsky, editor do portal Israel de Fato, que é brasileiro e vive em Israel, para contar o que viu em Gaza, após um ano de insistência para que isso acontecesse.
O que você sabe sobre os drusos? Sabia que essa é uma das minorias que vivem em Israel? Mas não só. Os drusos são uma minoria árabe e vivem em uma região que abrange o Líbano, a Síria, Israel e as Colinas de Golã. Recentemente, os drusos entraram em pauta por serem alvo de perseguição pelo novo regime da Síria. Israel mantém laços estreitos com os seus 150 mil cidadãos drusos. Historicamente, os homens drusos servem nas Forças de Defesa de Israel, e esse é um dos motivos do crescente envolvimento israelense na Síria. Isso faz deles cidadãos israelenses como qualquer outro? Qual a situação dos drusos em Israel? Para compreender melhor o tema, convidamos Danny Zahreddine, bacharel em Relações Internacionais e doutor em Geografia pela PUC Minas, atua no Departamento de Relações Internacionais e na Academia da Polícia Militar de Minas Gerais. Como professor do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais da PUC Minas dedica-se ao estudo dos conflitos internacionais, geopolítica, política externa brasileira e o Oriente Médio. Atualmente é Diretor do Instituto de Ciências Sociais da PUC Minas e também coordena o grupo de estudos do Oriente Médio e Maghrebi.
O que acontece quando a gente olha para identidades que não costumam ser pensadas juntas? Como isso se transforma quando essa experiência é atravessada também pela negritude? Existe espaço, no debate público brasileiro, para pensar a judeidade e a negritude como experiências que se cruzam? A identidade judaica, muitas vezes associada a uma branquitude europeia, consegue abarcar histórias que também passam pela diáspora africana?
Quando falamos sobre interseccionalidade, estamos mesmo dispostos a enfrentar os desconfortos que surgem? Ou seguimos reforçando visões limitadas sobre o que é ser judeu, o que é ser negro, e quem pode ocupar determinados espaços?
No episódio de hoje, a gente abre espaço para pensar como essas duas experiências, ser judeu e ser negro, podem coexistir, se confrontar e se reforçar mutuamente, tanto no plano individual quanto no coletivo. Pra isso, a gente conversa com o professor Edilmar Alcantara dos S. Junior. Licenciado em Ciências Sociais (UFRJ). Bibliotecário e Mestre em Biblioteconomia (UNIRIO). Bibliotecário no Instituto Benjamin Constant. Membro do Grupo de Pesquisa Tecnologia Educacional e Deficiência Visual (GPTec). Pesquisa sobre relações sociais, religião, competência informacional, empoderamento do indivíduo, gênero e minorias e também coordenador do laboratório judeidade e negritude do IBI.
Nos últimos meses, o mundo viu Israel no centro de um dos conflitos mais traumáticos de sua história recente. Ao mesmo tempo, dentro e fora do país, vozes críticas se multiplicaram, não necessariamente contra a existência do Estado judeu, mas contra os rumos tomados pelo governo, o prolongamento da guerra e o esvaziamento de valores democráticos que deveriam sustentar a sociedade israelense.
É nesse contexto que o Instituto Brasil-Israel inicia um novo ciclo. Um ciclo que quer reafirmar que defender Israel não é repetir slogans, mas enfrentar dilemas. Que ser sionista, hoje, é mais do que uma identidade, é um compromisso ético. E que o pluralismo, mesmo quando incômodo, é a única base sólida para uma comunidade democrática. Nosso convidado de hoje é o Pedro Kelson, o novo diretor-executivo do IBI. E essa entrevista não é só uma apresentação: é uma conversa sobre o que está em jogo quando se decide, conscientemente, ocupar esse lugar, com responsabilidade, escuta e coragem política.
A gente perguntou pro ChatGPT o que é o conceito de assimilação dentro do judaísmo. E a resposta dele foi a seguinte: Assimilação é o processo pelo qual judeus abandonam práticas religiosas, culturais, tradições e identidade judaica, adotando os costumes, valores e modo de vida da sociedade majoritária (geralmente não judaica). É um assunto delicado, sem respostas certas ou erradas.
Nós somos três pessoas que tinham tudo pra estar fora da comunidade judaica, mas estamos dentro. Bastante dentro. Essa conversa vai ser divida em três perguntas: Por que ficamos? E o que nos faz pensar em sair? E o que projetamos para o futuro?
Nos últimos anos, o papel dos Estados Unidos nos conflitos no Oriente Médio tem sido cada vez mais questionado. Seja em Gaza, onde Israel mantém uma ofensiva militar desde outubro de 2023, seja nas tensões mais recentes com o Irã, os EUA continuam sendo peça-chave, seja por apoio logístico, por pressão diplomática ou até por envolvimento militar direto. Mas afinal, o que os EUA ganham com isso? E o que essa atuação diz sobre sua política externa, seus limites e seus interesses estratégicos?
Pra entender o papel dos Estados Unidos no atual cenário geopolítico do Oriente Médio, a gente conversa hoje com Karina Stange Calandrin, assessora do IBI, professora de Relações Internacionais, pesquisadora do Instituto de Relações Internacionais da USP e colunista da Revista Interesse Nacional.
No último feriado prolongado, aconteceu em São Paulo a Marcha para Jesus. O evento tem como foco o público evangélico - mas, quem via de longe, poderia pensar que se tratava de uma manifestação pró-Israel. E de certa forma, podemos até dizer que era. Por que essas bandeiras estavam ali e qual a relevância dessa associação feita entre Israel e evangélicos?
Daniel Douek, assessor do IBI e cientista social, esteve na Marcha para Jesus e traz hoje pra gente um pouco das percepções que ele teve do evento e de toda essa conjuntura que associa o conservadorismo com o Estado judeu.
Falar sobre a escalada de tensão entre Israel e Irã é mergulhar em uma das histórias mais complexas e estratégicas do Oriente Médio contemporâneo. Por trás das manchetes sobre ataques aéreos, mísseis e drones, existe um histórico de alianças, rupturas e rivalidades que moldam a geopolítica da região há décadas. A relação entre os dois países, que hoje parece marcada apenas pela hostilidade, já foi de intensa cooperação. E entender como esse cenário mudou, e o que está em jogo agora é fundamental para interpretar os riscos de uma guerra regional.
A diferença entre olhar esse conflito à distância e acompanhar de perto, com fontes dentro de Israel, é gigantesca. A leitura dos fatos passa a ganhar nuances que nem sempre aparecem no noticiário internacional. Para isso, o podcast "E eu com isso?" desta semana recebe Henrique Cymerman, jornalista, correspondente internacional há mais de 30 anos.