
Quando temos a ideia de um juiz vingativo, a imagem do publicano coloca tudo no seu verdadeiro sítio. Deus não nos castiga; Ele é um Pai misericordioso que nos ama e apenas espera que, como o publicano, digamos: "Senhor, sou pecador, tem compaixão de mim."
Como diz o Salmo, "não serão castigados os que n’Ele confiam". Mas confiar em Deus não é um salvo-conduto para fazermos o que queremos; é uma atitude cultivada ao longo da vida.
Na própria liturgia, o Ato Penitencial não serve apenas para confessar pecados. É, sobretudo, o momento de tomar consciência de que precisamos da Sua misericórdia e de nos deixarmos abraçar pelo Seu amor, que nos restitui a dignidade.
Quando nos sentimos amados e perdoados por Deus, a consequência natural é amar, dar e perdoar. Não por obrigação, mas como fruto desse amor recebido. Este amor dá-nos "óculos novos" para ver a vida com esperança, valorizando o que está bem, em vez de apenas criticar o que está mal. É um bom exame de consciência: somos o fariseu que critica ou o publicano que se abre à graça?
Como São Paulo, podemos olhar para a nossa história reconhecendo os nossos erros, mas sempre numa perspetiva de esperança. Deus nunca nos abandona, mesmo quando nós O abandonamos.
A proposta central é, pois, cultivar a humildade. Deus ama-nos tal como somos, mesmo as partes de nós que não aceitamos. Sentirmo-nos amados por Ele transforma-nos e leva-nos a amar o próximo, especialmente os mais sós e pobres.
Mas atenção: humildade não é desprezar-se. Humildade é verdade. É tomar consciência da nossa verdadeira estatura: somos criados à imagem de Deus, imensamente amados por Ele, e, ao mesmo tempo, limitados e frágeis. Quando nos deixamos amar na nossa fragilidade, assumimos a dignidade que o Senhor nos quer dar: a de sermos homens e mulheres libertos, plenos, vivendo em comunhão alegre com Ele.