
Hoje a Palavra de Deus oferece-nos um fio comum: a cura que Deus realiza para nos devolver a vida inteira. Na primeira leitura, do Segundo Livro dos Reis, vemos o general sírio Naamã, leproso e desesperado, que procura o profeta Eliseu. O homem de Deus não lhe pede façanhas extraordinárias; manda-o apenas mergulhar sete vezes no Jordão. Naamã resiste: “Só isto? E logo nesse rio, tão modesto?” Mas cede ao bom conselho, confia, cumpre a palavra recebida e fica curado: a sua carne torna-se como a de uma criança. Não ganhou apenas pele nova; recebeu um coração novo. O pagão orgulhoso regressa agradecido e crente no Deus verdadeiro. Por isso pede um pouco de terra de Israel: quer, na sua terra, adorar somente o Senhor. É a lógica da graça: não se compra nem se paga; acolhe-se com gratidão e transforma a vida.
No Evangelho (Lc 17), Jesus caminha “entre a Samaria e a Galileia”, fronteira simbólica entre quem se julga dentro e quem é tido por fora. Dez leprosos, à distância, gritam: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”. Ele responde com uma palavra que põe em marcha: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”. A cura acontece a caminho. E um — precisamente um samaritano, o excluído — volta para agradecer e dar glória a Deus. A salvação de Deus destina-se a todos e, tantas vezes, é acolhida primeiro por quem menos esperaríamos.
Aqui está a pedagogia da salvação em três verbos: pedir, caminhar e agradecer. Primeiro, pedir: reconhecer a nossa pobreza e suplicar a misericórdia. Depois, caminhar: obedecer à Palavra, pôr os pés na estrada, colaborar com a graça com a nossa decisão, esforço e perseverança. Finalmente, agradecer: não apenas um “obrigado” de cortesia, mas um estilo de vida que dá glória a Deus amando os seus preferidos — todos, e de modo especial os pobres e excluídos.
Quando isto acontece, não se cura apenas uma ferida ou um sintoma; cura-se a biografia inteira. O essencial não é só a saúde do corpo: é o sentido renovado da vida. Por isso, amar a Deus e ao próximo não são apêndices devotos; são a forma concreta de acolher a salvação. Uma autêntica vida cristã não se reduz a ritos ou palavras; prolonga o gesto de Jesus: aproximar, perdoar, curar, reintegrar.
A segunda leitura recorda: “Se formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo” (2 Tim 2,13). É esta fidelidade que quebra o círculo do mal e inaugura o círculo do bem: quanto mais acolhemos o seu amor, mais nos deixamos curar por dentro; quanto mais nos sabemos amados, mais nos damos aos irmãos; e quanto mais nos oferecemos, mais experimentamos a alegria de sermos amados e humanizados por Deus.
Peçamos, então, a graça de viver estes três passos todos os dias. Pedir com humildade, caminhar com confiança na Palavra, agradecer com a vida inteira. Assim, como Naamã, receberemos um coração novo; e, como o samaritano, voltaremos para dar glória a Deus — não só com os lábios, mas com gestos que levam cura e reconciliação a quem encontramos no caminho.