
Ao celebrarmos o Dia Mundial das Missões, o Evangelho deixa-nos uma pergunta exigente: “Quando o Filho do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?” Esta interrogação toca-nos a todos e alarga o horizonte das “missões”. Não são apenas os territórios longínquos onde Cristo é desconhecido; hoje, uma grande parte da missão da Igreja é evangelizar de novo as terras de antiga cristandade — os “nossos” territórios — onde muitos se dizem cristãos, mas a fé esmoreceu.
Uma coisa é praticar ritos; outra é viver da fé. O ideal é que os ritos brotem da fé e a alimentem, mas nem sempre acontece assim. Ter fé é, antes de tudo, manter uma relação viva com Jesus Cristo: ligar o nosso coração ao coração do Senhor. Por isso, detenhamo-nos na oração, experiência humana decisiva para nos unirmos a Deus num tempo obcecado por produtividade e eficácia.
A primeira leitura mostra-nos dois “lugares”: Josué combate no vale, enquanto Moisés sobe ao monte com a vara de Deus. Quando Moisés ergue as mãos, Israel vence; quando as baixa, perde terreno. Dois companheiros colocam-lhe uma pedra para se sentar e sustentam-lhe os braços até ao pôr do sol. A vitória nasce desta oração perseverante e comunitária. Assim é a vida cristã: vale e monte, ação e intercessão, o concreto do dia a dia e a elevação da oração. Precisamos de tempos e espaços que nos recordem que, ao subir “geograficamente”, deixamos o coração elevar-se para Deus. Mas essa subida deve tocar o vale das nossas lutas diárias; não pode haver rutura entre o que rezamos e o que vivemos.
Jesus ensinou-nos a rezar o Pai-Nosso. Antes de apresentarmos pedidos (“quero isto, preciso daquilo”), começamos pela relação: “Pai”. Pedimos que o seu Nome seja santificado e que venha o seu Reino. A oração verdadeira alinha o nosso desejo com o desejo de Deus; deixa que Ele converta o nosso coração. Para isso, é essencial a leitura e meditação da Palavra — e também dos grandes textos da tradição —, que nos endireitam por dentro e nos põem na direção do Reino. Como exorta São Paulo a Timóteo, permaneçamos firmes no que aprendemos desde a infância: as Escrituras conduzem-nos à sabedoria que salva.
Deus também nos educa na oração. Como um pai que não dá batatas fritas todos os dias à criança, o Senhor nem sempre concede o que pedimos de imediato. Dá-nos, porém, o que verdadeiramente nos faz bem, a médio e longo prazo. Daí a necessidade da perseverança. O Evangelho apresenta a viúva — a mais vulnerável numa sociedade patriarcal — que insiste até obter justiça de um juiz sem coração. Se até um juiz injusto cede, quanto mais Deus fará justiça aos seus eleitos! Muitas vezes desanimamos porque não respeitamos o “tempo de Deus”: ou ficamos só no vale da agitação, sem subir ao monte, ou subimos sem descer ao compromisso. A sabedoria do coração ajuda-nos a esperar o tempo favorável.
Neste mês do Rosário, valorizemos uma forma de oração simples e comunitária. Rezar o terço é meditar os mistérios da vida de Jesus. Seria ótimo, sempre que possível, ler o trecho bíblico correspondente a cada mistério: assim, a repetição torna-se contemplação e a contemplação torna-se escola de sabedoria. Rezemos para que a nossa meditação nos faça crescer na fé que salva — não a “salvação” que a nossa cabeça imagina, mas a que Deus oferece, a única que liberta e nos faz verdadeiramente felizes.
Que o Senhor nos conceda esta unidade de vida: ritos que brotam da fé, fé que se alimenta da oração, oração que ilumina a missão — no vale e no monte — até que o Reino venha, e Ele nos encontre firmes na fé.