
O perdão, na sua essência, é um ato de graça — uma dádiva de reconciliação diante da transgressão. Promete libertação, não apenas para o infractor, mas sobretudo para a vítima, sobrecarregada pelo peso do ressentimento ou da tristeza. Por trás da sua aparente simplicidade, no entanto, palpita um profundo paradoxo: o perdão, enquanto acto absoluto e incondicional, parece impossível.
No cerne da impossibilidade do perdão palpita a irreversibilidade do dano. Perdoar não significa apagar, mas testemunhar o que foi feito — um erro que altera permanentemente a existência. O tempo não cura feridas; limita-se a cobri-las com sedimentos de memória. A cicatriz permanece, e com ela, o lembrete de que o passado não pode ser desfeito. O perdão, portanto, não absolve; apenas coexiste com uma realidade imutável.
Como pode, então, alguém perdoar um ato que remodelou fundamentalmente os contornos de uma vida? A própria ideia de perdão parece frágil diante da permanência inflexível de certos danos.
Será o perdão uma vertigem ou um salto? Atracção pelo abismo ou um mergulho? Para aprofundar estas questões nada como, no dia 24 de Maio, às 15h, aparecer na Capela de Santa Marta e partilhar a presença da Sónia Monteiro, com quem - por entre sandálias, baleeiros, amputações e regressos - tentaremos perceber a que sabem as alfarrobas dos porcos.
Um podcast da Capela de Santa Marta (Lisboa), com a assinatura de Paulo Ramos.
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© Pascal Comelade, El Pianista del Antifaz (Because Music, 2013) – Spinoza Was a Soul Garagist.