
Alambrado
farejei a seiva,
rastejei o chão,
senti o pulso da terra onde jaz meu bicho solto.
nem cabe
(e eu não cabia),
não cabia — e me apequenei.
desfiz-me nas margens,
onde o solo se estende como promessa
e a carne se dissolve no infinito
da mudez de um corpo que nunca antes.
o vento
me sussurra antigos mistérios
de minha dança selvagem em desatino voraz.
nem cabe, pensei,
(e eu não caberia)
nos limites de um corpo que já não é meu.
fui minha própria cerca, fui o arame,
fui o vazio que me preenche.
sou o pulso. sou a seiva.
sou o sussurro do vento.
permaneço com olhos de fúria
e a terra que me abraça em silêncio.