
Escritora gaúcha radicada no Paraná e no Tocantins, mestra e doutora com estágio pós-doutoral em Direito. Vencedora do 38.º Prêmio Yoshio Takemoto de Literatura 2024 (Haicai). Autora dos livros Pinte-me de Azul (Mondru, 2023 –Troféu Capivara Reconhecimento Literário, no Prêmio Literário da Cidade de Curitiba 2024) e Sorrir, esse sacrifício (TAUP, 2024).
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UM CORPO QUE CAI
Mulher, te dei morada, mas...
essa boca humilhada
esses olhos gencianos
onde estão teus dentes?
Mulher, te dei caminho
de veias, para resvalar o sangue quente
de pernas, para levar teus sonhos ao cio
de línguas, para friccionar tuas traduções
e há glossários, para necessárias desobediências
Mulher, te dei desejos
Cordas e sons de cantar a vida úmida
Mas essa dobradiça repetindo
rangendo mecânica dor
esgotada
e seca
qual trapo perdido, escorregando no vazio
movimenta insana inanição
Mulher oceânica
investiga teus rastros
e tenha em ti um poema
porque um corpo que cai
é o mesmo que se levanta