
Seja bem-vinda/o ao conversas do Ateliê!
Na mesa temos Felipe Freller, André Magnelli e Lucas Faial Soneghet. Nesse episódio conversamos sobre liberalismo.
O liberalismo não saiu da agenda política ou acadêmica desde sua gênese. Nas ciências sociais, permanece seja como pano de fundo implícito ou como objeto explícito de reflexão. Já foi criticado, rejeitado, reabilitado e criticado novamente. O atual contexto geopolítico fomenta a retomada do termo por alguns motivos: a ascensão da extrema direita ao redor do mundo, em particular sua combinação com pautas econômicas autodenominadas liberais ou denominadas por seus detratores e críticos como “neoliberais”; a guerra entre Rússia e Ucrânia, agravada após invasão russa no território ucraniano em 2022; o conflito no Oriente Médio entre Israel e o HAMAS; a reeleição do presidente Donald Trump nos Estados Unidos e suas medidas protetivas nacionalistas que contrariam a longa tradição de abertura econômica do país, um signo do liberalismo no século XX.
Na história do pensamento político, o liberalismo tem raízes nos séculos XVII e XVIII, com pensadores como Locke, Montesquieu e Adam Smith. Os iluministas escoceses, franceses e ingleses desafiaram a monarquia absolutista e o Antigo Regime em nome de uma ordem fundada nos direitos naturais do indivíduo humano, fundamentados racionalmente. No lugar da tradicional divisão de trabalho baseada em linhagem, parentesco e subsistência, o livre mercado das transações entre produtores e consumidores. No lugar da ordem política sacramentada por Deus e pela hereditariedade, um arranjo de indivíduos racionais que entram em acordo acerca dos modos de reger sua vida em comum. Durante a Guerra Fria, o liberalismo volta ao palco como a opção associada ao capitalismo e oposta ao socialismo. Na perspectiva de países do bloco ocidental, ser “liberal” significava o oposto de governos autoritários como o recém derrotado regime nazista e o ameaçador espectro comunista da União Soviética.
Tal narrativa é inevitavelmente simplista. Dentro do liberalismo há variações: o liberalismo social-democrata keynesiano está distante do liberalismo da escola austríaca de Hayek, e não é igual ao “liberalismo utópico” clássico, para parafrasear Pierre Rosanvallon. O adjetivo “liberal” é usado em conexão a vários substantivos – o feminismo liberal, por exemplo, diferencia-se do radical e do marxista – e adquire sentido diferente a depender do contexto nacional. Ser liberal nos Estados Unidos não é a mesma coisa que ser liberal no Brasil. Ante tal riqueza de significados, muitos dos quais se contradizem, e ante o momento atual em que grupos e nações outrora proximamente identificados com a tradição liberal parecem estar se comportando de maneira peculiarmente errática, como falamos de liberalismo? Antes ainda, por que falar dele? Estaríamos assistindo o ocaso dessa vertente, sinalizado pelos ataques às suas instituições características, como a imprensa e o Estado democrático de direito? O que podemos aprender com um novo olhar sobre o liberalismo hoje?
Tópicos: Liberalismo; Política; Teoria política.
Youtube: https://youtu.be/3G_lLpdj8js
Spotify:
Torne-se sócio-apoiador do Ateliê Clube!
Clique no link para apoiar o Ateliê de Humanidades nos regimes Padrão, Premium e Sócio-leitor e receba quinzenalmente uma conversa com um dedo de prosa, um tanto de inteligência e um bocado de questões do momento. Você encontra as opções de apoio na página inicial do site, clicando em "Torne-se Sócio-Apoiador Aqui": https://ateliedehumanidades.com/