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Na mesa temos Bia Martins, André Magnelli e Lucas Faial Soneghet. Nesse episódio conversamos sobre as denúncias na sociedade contemporânea. Parece que todos os dias há uma nova denúncia tomando de assalto as notícias. O mundo das redes sociais é um terreno fértil para whistleblowers, denunciantes e críticos. Movimentos como o #MeToo, a hashtag #meuprimeiroassédio e práticas de cancelamento virtual, que incluem tanto o boicote de produtos ou pessoas até a acusação direta em plataformas digitais, parecem cada vez mais comuns. Comportamentos que outrora permaneciam ocultos ou eram manejados sem serem exposição enfrentam hoje o teste do tribunal público. Tais práticas e suas consequências são alvos de diferentes avaliações. Para alguns, é o resultado justo de anos de violência, privação e silenciamento de grupos vulneráveis e marginalizados que hoje encontram uma forma de fazer suas vozes serem ouvidas. Para outros, é um erro de percurso ou um exagero denunciativo que muitas vezes serve somente para manipular e deslegitimar pessoas em posição de poder e autoridade. É inegável, porém, que uma quantidade imensa e sem precedentes de pessoas pode se fazer valer de plataformas digitais para se queixar, expor suas questões e ser ouvido, ou pelo menos tentar. Quais são as consequências dessa extensão das vias de comunicação?
Dinâmicas de denúncia, acusação ou nomeação não são, porém, uma novidade do mundo digital. No clássico sobre as práticas e crenças de bruxaria entre os Azande, o antropólogo britânico Evans-Pritchard analisa como o delicado e importante circuito de acusações, defesas e justificativas é crucial para a manutenção de fronteiras sociais, a coibição de comportamentos percebidos como nocivos à comunidade e a explicação de desventuras variadas. O sociólogo francês Émile Durkheim viu nos mecanismos de punição e reparação um indício importante do que uma sociedade é. Segundo seu argumento, infrações ao senso de certo e errado, bem e mal, vigentes em sociedades modernas são punidas de maneira racional, impessoal e burocrática. Porém, a vingança e a punição exemplar, típicas de sociedades tradicionais, ainda emergiriam em casos particularmente escandalosos ou em momentos de crise social.
Não obstante a entonação evolucionista do argumento, a questão continua pertinente. O que podemos falar sobre a sociedade numa era de denúncias? O que há de novo e o que é somente a sociedade com seus modos normais de denúncia e reparação? Quais são as consequências? Como proceder em uma esfera pública efervescente com acusações, rapidamente cambiante, polarizada e fragilizada?
No segundo bloco, exclusivo para sócio-apoiadores, falamos da série Adolescência (2025), de Jack Thorne e Stephen Graham, disponível na Netflix. Passamos pelos tópicos discutidos no primeiro bloco e conversamos mais sobre uso de mídias sociais na infância e adolescência, regulação das redes e masculinidade.
Tópicos: Denúncia; Assédio; Redes Sociais; Masculinidade.
Youtube: https://youtu.be/m6R9SubfE7w
Fontes:
Caso Escola Base: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/03/28/caso-escola-base-30-anos.htm
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