CURSO DE PSICANÁLISE
(Espaço Psicanálise - clínica & ensino - aula: mai/23)
Autor: Nelson Barroso
CONHECIMENTOS PRELIMINARES
> Anatomia Linguística:
O corpo que a Psicanálise toma como objeto de estudos não se restringe ao biológico. Logo, não estudaremos os nomes nem as funções dos órgãos que sustentam o esqueleto humano. Sabemos que as emoções, o pensamento, as palavras, atingem o corpo biológico podendo causar-lhe afecções (psicossomática); assim como sabemos que um corpo pode ser derrubado apenas com uma palavra. Podemos dizer então que “corpo” e “alma” não estão separados, mas compõem um sistema complexo interligando psiquismo (“alma”) e o somático (“corpo”) através de uma “energia” ou “substância” localizada entre o psíquico e o somático: a LIBIDO.*
(*) “Ademais, é o progredir num tecido de equívocos, de metáforas, de metonímias que Freud evoca uma substância, um mito fluídico que ele intitula libido.” (Lacan, Televisão, p.23, 1993)
O segundo aspecto a ser abordado como preliminar ao estudo da Psicanálise é a metáfora.
Quando dizemos, por exemplo, que um sujeito ficou “aos pedaços” com uma notícia que recebeu, pensamos metaforicamente que ele se quebrou, ficou sem chão, ficou devastado. É a própria linguagem que o atingiu em cheio. Como isso é possível > Um primeiro ponto a ser estudado é a diferença entre o “eu” e o “sujeito”.
Um eu não é o sujeito!
A essas alturas você já deve estar pensando: Isso tá parecendo gramática! Calma! Não é bem assim…
Se digo:
Eu sou distinto de mim. Eu não sou o mesmo o tempo todo. Em mim existe algo que eu não sei; mas também existe algo que eu sei sem saber que sei. Logo, o “eu” não é uma “instância” (Freud) una, monolítica. O “eu” não é este que pensa estar no comando das suas emoções. Uma parte do “eu” é inconsciente. Eis aí a primeira evidência que vai dar sustentação e fundamento à Psicanálise:
> o INCONSCIENTE.
O aparecimento da Psicanálise, com Sigmund Freud, no final do século XIX é considerado como uma nova revolução copernicana: o “eu” perde para o Inconsciente seu status de centro da Consciência Humana. O “eu” (ego) não passa de uma das três “instâncias” que compõem o Inconsciente: EGO, ID, SUPEREGO. A recém surgida Psicologia Científica (meados do século XIX) sofre um ataque em seus pressupostos: Freud considerava que a Psicologia, com suas argumentações baseadas na Consciência (“...elementos estruturais em ligação estreita com os órgãos dos sentidos.”)* era apenas a ponta do iceberg, cuja base submersa é muito maior, ou seja, o Inconsciente. “No vasto domínio do inconsciente se encontram os impulsos, as paixões, as ideias e os sentimentos reprimidos.” (HALL-LINDZEY, 1984).
Após a morte de Freud seus “discípulos” e seguidores desvirtuaram sua obra. Quem afirmou isso foi o psicanalista Jacques Lacan, que então empreendeu uma imensa empresa para recolocar a Psicanálise de volta ao rigor ético e lógico tal como o mestre de Viena (Freud) havia construído.
Mas antes de falarmos de Lacan vamos explorar um pouco mais o Inconsciente freudiano:
>Como Freud chegou às verdades sobre o Inconsciente:
Octave Mannoni (um dos biógrafos de Freud) no livro “Freud, uma biografia ilustrada”, nos alerta para os “se” das contingências que levaram o pai da psicanálise às descobertas fascinantes que tornou possível sua construção:
“Aos biógrafos pôde parecer que alguma coisa em seu passado preparava Freud para suas descobertas, mas, igualmente, que foram acasos e encontros que o conduziram até elas. Se tivesse tido mais sucesso com seus cortes histológicos, se sua noiva não fosse amiga da Bertha Pappenheim, se seus professores lhe tivessem recusado a bolsa de viagem…”
Era uma novidade total o que se abria para Freud como um caminho para o tratamento da histeria. Não havia qualquer “senda já trilhada” que ele pudesse dar continuidade. Foi se propondo estabelecer um diálogo com a histeria que Freud, a despeito das oposições terríveis surgidas no meio médico
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