
Naquele convés que afundava no frio do Atlântico, os músicos do Titanic tocaram até o fim. A última melodia foi Amazing Grace — composta por um homem que, cego pela ambição e pelo pecado, reencontrou a luz em meio a uma tempestade. “Estava perdido, e fui encontrado. Era cego, e agora vejo.”
Essa mesma súplica ecoa nas palavras de Bartimeu, o cego que clamava: “Senhor, que eu veja!” E tornou-se também a oração que guiou São Josemaria por dez anos, até que os papéis dispersos da sua vida se uniram em uma iluminação definitiva. O pedido que parecia sem resposta foi, na hora certa, transformado em missão.
Ver além do que os olhos enxergam — isso é a visão sobrenatural. É perceber que as realidades humanas, tão banais à primeira vista, são cheias de valor eterno. Como uma árvore que mergulha suas raízes na terra, ergue o tronco ao céu e se abre em frutos, assim também a alma aprende a conectar passado e futuro, o humano e o divino, o pequeno e o eterno.
Sem essa visão, a vida se fragmenta em pedaços soltos, como equações sem sentido. Com ela, cada detalhe — um encontro, uma palavra, um sofrimento — se transforma em linha que aponta para Deus.
Nossa Senhora, a Mulher que sabia “juntar as coisas no coração”, nos ensina a viver desse modo: acolher cada realidade com olhos iluminados pela graça, até ver nela não apenas o que é, mas o que Deus faz dela.
📌 Peçamos a graça de aprender a enxergar assim: com raízes firmes na fé, o tronco erguido ao céu e ramos cheios de frutos que revelem o amor de Deus em tudo.
📚 Referências
Gn 2,9; Gn 3,22; Ap 22,2 – A árvore da vida.
Mc 10, 46-52 – Bartimeu, o cego que clama: “Senhor, que eu veja.”
Lc 2,19 – Maria “guardava todas essas coisas, meditando-as em seu coração.”
Amazing Grace – John Newton.
São Josemaria Escrivá, Caminho, ponto 266.
Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes 43.
Bilquis Sheikh, Atrevi-me a Chamar-lhe Pai.