
Ela girava no ar, de ponta-cabeça, enquanto o mundo congelava ao redor. Auschwitz, 1944. Naquela noite, Edith Eger dançou. Não porque sentia alegria — os pais haviam sido mortos poucas horas antes. Ela dançou para sobreviver. Para salvar sua irmã. E sem saber, sua acrobacia se tornou uma forma de oração. Um “sim” corporal, silencioso, diante do absurdo.
Anos depois, ela escreveria: “A escolha é nossa: seremos vítimas ou não?”. Porque até nos lugares mais sombrios, ainda podemos responder com o que temos: um gesto, um olhar, uma entrega. A fé não é uma ideia para admirar. É uma decisão que se encarna. Uma escolha que se expressa em gestos, em ações, em carne.
E é aí que tropeçamos tantas vezes: quando a fé se torna apenas inspiração sem ação. Quando os propósitos se acumulam no papel, mas nunca se transformam em pão repartido, em tempo dado, em amor que custa. São Josémaria escreveu:
“Concretiza. Que os teus propósitos não sejam fogos de artifício, que brilham um instante para deixarem, como realidade amarga, uma vareta de foguete, negra e inútil, que se joga fora com desprezo.” (Caminho, 247)
Não se trata de fazer muito. Mas de fazer algo. De sair do campo das ideias para o campo do real. Como Cristo, que não apenas pensou em nos amar — Ele veio, suou, sofreu, entregou-se até a última gota.Ele concretizou o Amor.
E nós, o que temos feito com as boas intenções? É hora de escolher entre o brilho vazio dos fogos ou a luz firme de um ato de amor.
📚 Citações
A bailarina de Auschwitz, Edith Eva Eger.
Viktor Frankl, O homem em busca de sentido.
Caminho, S. Josemaria Escrivá.