
A mesa estava posta. Pães, vinho, frutas secas, o murmúrio dos convidados — e um silêncio desconfortável. O fariseu Simão havia convidado Jesus para jantar, um gesto de cortesia, talvez até de curiosidade. Mas o olhar dele era calculado, distante, como quem mantém uma certa reserva para não comprometer a própria reputação.
Foi então que uma mulher entrou. Ninguém a esperava, e todos sabiam quem ela era. Uma pecadora. Deveria ser expulsa imediatamente — mas ela não foi. Permaneceu de joelhos, chorando aos pés de Cristo, lavando-os com lágrimas, enxugando-os com os cabelos e derramando perfume.Simão se irrita com a cena; Jesus a acolhe. Ele percebe o gesto de amor escondido na delicadeza de uma mulher que sabe amar com gestos concretos — e ensina que há uma forma de amor chamada urbanidade: o bom gosto da caridade, a ternura em pequenos detalhes.
Ser urbano é amar com atenção. É servir a mesa e esperar o outro se servir antes. É oferecer um copo d’água antes de falar de si. É lembrar um aniversário, ouvir com paciência, cuidar de um pequeno detalhe que ninguém notaria — mas que aquece um coração.
A urbanidade nasce da caridade, mas se expressa na forma humana do amor: nos gestos, no tom da voz, na maneira de olhar e de cuidar.Jesus, ao receber o carinho daquela mulher, nos mostra que a delicadeza também é uma força espiritual — e que até as boas maneiras podem ser santas quando nascem de um coração que ama.
Em um mundo onde a grosseria se confunde com sinceridade, a virtude da urbanidade é uma revolução silenciosa. Ela transforma o convívio, salva a convivência, devolve humanidade à fé.
E lembra que, entre o ruído e o descuido, o verdadeiro amor se manifesta não só nas grandes renúncias, mas nas pequenas gentilezas.
📌 “Os muitos pecados dela foram perdoados, porque ela muito amou.” (Lc 7,47)
__
📚 Referências