
A enfermeira americana que criou o primeiro serviço de cuidados paliativos dizia que o morrer se parece com um nascimento ao contrário.
Três semanas antes do fim, o corpo começa a se afastar do mundo: recusa o alimento, prefere o silêncio, dorme mais do que fala. É como se a alma fosse se recolhendo para o deserto — o mesmo deserto de que fala o profeta Oséias: “Eu vou seduzi-la, levando-a para o deserto e falando-lhe ao coração.”
A morte, então, não é um castigo. É um chamado. É o momento em que Deus nos toma pela mão e nos conduz para um lugar onde não há mais máscaras, nem ruído, nem distração — só o coração e Ele.
É ali que o amor deixa de ser promessa e se torna encontro.
Há quem tema a morte como se ela fosse o fim, e há quem a ignore como se nunca fosse chegar. Mas para o cristão, a morte é um ato de confiança: o último “sim” que damos Àquele que sempre nos amou.
É o salto da fé para os braços de um Pai.
Oséias descreve essa entrega com palavras de casamento: “Eu me casarei contigo para sempre, com amor e carinho.”
Morrer, à luz da fé, é o momento em que a alma, cansada das ilusões, volta a chamar Deus de “meu marido” — não mais “meu Baal”. Não busca mais o que Ele pode dar, mas o próprio Deus que dá.
São Josemaria escreveu:
“Quando eu Te vir pela primeira vez, Senhor, esconderei minha fronte em Teu regaço e chorarei como uma criança.”
É isso o que acontece com quem morre em paz: o choro já não é de medo, mas de ternura. O olhar que um dia evitou o de Deus por vergonha, agora o procura por amor.
E então tudo se cumpre: a fé se transforma em visão, a esperança se faz posse, e o amor — aquele amor que começou tímido, entre quedas e recomeços — se torna eterno.
📌 “Eu te desposarei para sempre, conforme a justiça e o direito, com amor e carinho.” (Os 2,19)_________📚 Referências