
Pe. Santiago Artero
O Regnum Christi nos motiva e orienta a viver a nossa vida espiritual como uma relação dinâmica de amor com Deus (cf. RFARC. 3), me parece ressoar a palavra de São Paulo: que o Senhor conduza os vossos corações para o amor de Deus e a perseverança de Cristo (2Tes 3,5). À luz dessa Palavra busquemos olhar para o estilo de vida espiritual do apóstolo.
O Senhor Jesus é quem conduz o dinamismo de amor do coração de apóstolo. A referência ao coração expressa -na Escritura- toda a realidade humana, o núcleo do nosso ser, por tanto sintetiza a nossa inteligência, vontade, consciência, afetos; não só a sensibilidade ou sentimentos. Nesse nível do nosso ser, no nosso coração, é onde Jesus Cristo busca reinar para ajudar-nos a viver na relação de amor dinâmica, não estática, parada, estagnada, pouco criativa, conformista.
O amor já implica movimento, se é autêntico amor nos move para fora de nós, para fora do nosso egocentrismo, nos impulsa a sair ao mundo para buscar fazer o bem as pessoas que encontrarmos. É, portanto, um movimento com uma clara intencionalidade: realizar o bem, ou de outro modo: colaborar com o reinado de Cristo no nosso coração e nos corações das pessoas; isso é fruto de uma vida espiritual vivida como relação de amor com Deus, como o Regnum Christi nos lembra.
Encontramos aqui um grande desafio para o apostolo, pois o fim orienta os processos afetivos, orienta o coração. Assim sendo, somos convidados a ir paulatinamente orientando nosso coração, nossa pessoa, nossas intenções, opções, à luz do ideal de vida cristã: o amor a Deus e ao próximo, segundo a expressão de Jesus no evangelho.
No fim, quem orientará o dinamismo do nosso coração será o egoísmo em algumas das suas manifestações como o emotivismo, a sensibilidade impulsiva ou medrosa, o acomodamento no mais fácil ou cómodo, a nossa dificuldade de mudar, de deixar alguns apegos ao mundo, à carne (aquilo que alimenta nossas limitações ou vícios de comportamento).
Convido-te a olhar para essa orientação do nosso coração, da qual fala São Paulo, que no grego se traduz literalmente: “conduza os vossos corações para o amor de Deus” e a Bíblia de Jerusalém traduz “para o amor a Deus” a partir dessa diferencia na tradução me veio uma pergunta: Orientar a minha vida para o amor de Deus, é um ideal ou um idealismo? É possível ou é uma bela expressão e mais nada?
Devemos orientar o nosso coração para alguma meta, para algo ou alguém. Não podemos ir à deriva, sem rumo; no fim das contas, quem pretende assim viver, só está orientando-se para onde as grandes manifestações do seu egoísmo (a soberba ou a sensualidade) indicarem!
Orientar a minha vida para o amor de/a Deus: quero ver nessa expressão duas possibilidades, uma passiva (amor de Deus) o amor que Deus nos têm; e uma possibilidade ativa (amor a Deus) a expressão do nosso amor para com Deus, a nossa correspondência ao amor de Deus.
Orientar nosso coração para “o amor de Deus”: nos convida em todo e sempre a buscar conservar a consciência da grande notícia, do grande evangelho: Deus me ama. Ele o criador e me ama; aquele que tudo o criou e o sustenta, ele me ama. É uma atitude de receptividade, de acolhida, uma realidade na qual somos totalmente passivos, só recebemos, não fazemos nada para poder merecer ou provocar esse amor. Simplesmente Ele nos ama. Isso nos leva, uma e outra vez a buscar contemplar, admirar-nos, maravilhar-nos, dessa realidade: quem me ama? Como é seu amor? Como expressa o seu amor por mim? Porque me ama? Para que me ama? O que ganha me amando? Desde quando me ama? Até quando me amará? Cada resposta é um Evangelho, uma boa noticia, uma noticia salvífica, que preenche de sentido a minha existência.