
O Rio de Janeiro acordou sob o som de tiros, helicópteros e sirenes. Quatro policiais tombaram — dois civis e dois militares.
Do outro lado, cento e vinte suspeitos mortos. A operação mais letal da históriado país paralisou uma cidade inteira e expôs, de maneira cruel, o abismo em queo Brasil mergulhou quando o tema é segurança pública.
Essanão foi apenas mais uma operação policial. Foi um retrato de guerra. Um cenárioque, infelizmente, deixou de ser exceção.
Asfacções criminosas que atuam no Rio de Janeiro não são mais grupos decriminosos comuns: são exércitos armados, organizados, com hierarquia, recursose poder de fogo capaz de desafiar o Estado brasileiro.
Suasações não diferem, em intensidade e brutalidade, de atos terroristas. E oBrasil precisa ter coragem de reconhecer isso.
Essesgrupos espalham medo, controlam comunidades inteiras, impõem toque de recolhere cobram impostos ilegais.
Interferemem eleições, em políticas públicas e até no cotidiano das famílias.
É ocrime organizado substituindo o Estado — e, muitas vezes, vencendo.
Enquantoisso, nossas forças de segurança seguem na linha de frente, travando umabatalha desigual.
Sãohomens e mulheres que vestem a farda todos os dias com coragem, mas queenfrentam o inimigo sem o apoio necessário.
Faltaestrutura, falta treinamento, falta respaldo político; e sobra hipocrisia.
Porque,logo após o tiroteio cessar, surgem os mesmos discursos de sempre: políticosque fazem da tragédia um palanque, autoridades que correm para as câmeras,prometendo investigações, comissões e planos que nunca saem do papel.
O paísse acostumou à retórica do “estamos apurando”, do “vamos rever protocolos”,enquanto o crime se organiza, se moderniza e se fortalece.
É horade dizer com todas as letras: o Brasil está perdendo terreno para o crime. Eperder terreno significa perder soberania.
A criminalidadeque domina comunidades e estradas não é apenas um problema policial — é umaameaça à própria autoridade do Estado. É terrorismo interno. E o que está emjogo é a segurança de todos nós.
Ogoverno federal precisa compreender que não há mais espaço para medidastímidas. É necessário investir com seriedade, com estratégia, com continuidade.
Umplano nacional de segurança pública que una forças civis, militares e federais,com inteligência integrada, rastreamento de armas, combate ao tráfico e, sobretudo,políticas de prevenção que ofereçam oportunidades antes que o crime o faça.
Mas nãobasta agir apenas dentro do país. O Brasil precisa levantar a cabeça e dialogarcom outras nações. O fluxo de armas que abastece o crime organizado vem defora, muitas vezes cruzando fronteiras sem controle.
É deverdiplomático e moral do governo buscar acordos, parcerias e operações conjuntasque cortem essa raiz do mal. Enquanto isso, o mundo observa um país que sangradiante das câmeras, sem conseguir proteger seus cidadãos.
Aoperação no Rio de Janeiro não foi apenas um capítulo trágico: foi um alertainternacional de que o Brasil vive um colapso na segurança pública.
Mas étambém um chamado à ação. Porque, em meio ao caos, há policiais que nãodesistiram, comunidades que resistem e cidadãos que ainda acreditam que épossível mudar.
Paraisso, é preciso coragem — e união. Coragem para enfrentar os criminosos etambém para enfrentar o silêncio conveniente da política.
Uniãoentre governos, parlamentos e sociedade civil para construir uma política desegurança que vá além do improviso, além do espetáculo, além das manchetes.
OBrasil precisa decidir de que lado está. Do lado do medo ou do lado da lei. Dolado do discurso ou do lado da ação.