
Apresentação: Marina Lencastre
Professora Catedrática Jubilada da Universidade do Porto. Professora Catedrática na Universidade Fernando Pessoa. Psicoterapeuta e Supervisora Científica e Clínica na Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica.
Convidado:
Paulo Azevedo
Psicoterapeuta psicanalítico e Supervisor Clínico. Membro Especialista e Formador na Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica. Mestre em Psicologia Clínica do Desenvolvimento. Editor na Revista Portuguesa de Psicanálise.
Resumo:
A conversa deste podcast desenvolve-se a partir da questão central “Onde para o Édipo no século XXI”. Será que ainda faz sentido incluir esta noção fundamental da primeira psicanálise no trabalho psicoterapêutico contemporâneo? Será que uma abordagem simbólica do Édipo permite a sua adequação aos problemas que são trazidos atualmente à psicoterapia? Na relação diádica entre a criança pequena e a sua mãe entra, a certa altura, um terceiro, geralmente o pai, mas poderão ser outros significativos no ambiente infantil, que ajudarão à separação e ao desenvolvimento de competências exploratórias, de comunicação e simbólicas na criança.
O Édipo é isso, uma posição interna do desenvolvimento na origem da capacidade de separação, de adiar a gratificação e de gerir a atividade pulsional mais crua, assim como de gerir as emoções associadas, do encontro com a frustração e o compromisso, do interesse pelo símbolo e pela possibilidade de continuar a viver de forma saudável mesmo na ausência do objeto securizante que é o primeiro objeto de amor. No adoecer há regressão para modos de funcionamento mais primários e mais crus, que podem acontecer na pessoa, mas também nos grupos e, por vezes, nas próprias nações. Nessas alturas manifestam-se as personalidades psicologicamente mais adaptadas ao estado caótico da sociedade e podem surgir os líderes despóticos e psicopáticos.
O comportamento animal pode ajudar a compreender aspetos da natureza humana, desde os mais positivos como a empatia, o vínculo, a amizade e o amor, mas também os aspetos mais sombrios como a agressão, a destrutividade, a inveja e o ciúme, mostrando quais as suas funções e também como se sublimam em obras de arte ou na literatura. Para Paulo Azevedo, o Édipo hoje define-se como uma função e acontece no jogo das identificações dentro das dinâmicas familiares, sociais e também culturais.