Este episódio é a primeira parte de um balanço crítico sobre três grandes da antropologia britânica que trabalhamos até aqui, em episódios anteriores: Radcliffe-Brown, Malinowski e Evans-Pritchard.
Mais do que nomes fundadores, eles representam três modos de conhecer o outro e construir o fazer antropológico: observar, conviver e traduzir.
A partir dessa tríade conceitual, percorremos três eixos fundamentais: quem é esse "outro" estudado pelo(a) antropólogo (a); quem é esse(a) antropólogo(a)? o que é o conhecimento produzido e como o(a) antropólogo(a) deve agir para tornar esta produção possível?
Esse dois episódios são, portanto, mais que uma comparação: é um convite à reflexão crítica sobre as heranças, limites e possibilidades de pensar a antropologia não como uma ciência positiva, mas como ciência da presença, da convivência, da tradução e da interpretação.
Vem navegar com a gente!
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Edward Evan Evans-Pritchard (1902-1973) é uma das figuras mais notáveis da antropologia britânica do século XX, e sua trajetória intelectual reflete uma transformação profunda no modo como a disciplina concebe seus objetos, métodos e fundamentos epistemológicos.
Inicialmente influenciado pelo estrutural-funcionalismo de Radcliffe-Brown, com quem manteve relações acadêmicas próximas, Evans-Pritchard começou sua carreira preocupado com a organização social e os sistemas de parentesco, realizando extensos trabalhos de campo entre os Azande e os Nuer no Sudão.
Suas etnografias, como Witchcraft, Oracles and Magic among the Azande e The Nuer, são consideradas clássicos por sua profundidade analítica e por seu compromisso com o método empírico.
No entanto, já nesses trabalhos, é possível notar um deslocamento em relação à tradição funcionalista: ao invés de apenas buscar a função social das práticas, ele começa a valorizar a lógica interna das culturas estudadas, reconhecendo que o pensamento nativo possui uma racionalidade própria.
Esse deslocamento teórico se consolida nos anos 1950, quando Evans-Pritchard passa a defender uma concepção da antropologia não mais como ciência natural, mas como ciência do espírito, próxima da história e da filosofia.
Inspirado por R.G. Collingwood e Wilhelm Dilthey, ele propõe que a tarefa do antropólogo é a reconstrução interpretativa dos sistemas simbólicos, e não a explicação causal de fenômenos sociais.
Essa perspectiva hermenêutica é fortemente visível em Nuer Religion, obra em que a religião é tratada como expressão existencial e simbólica, e não como mero reflexo de estruturas sociais.
Suas reflexões sobre tradução cultural, o papel da fé, os limites do racionalismo e as tensões entre ciência e crença revelam um autor que busca incessantemente conciliar sua formação acadêmica com uma profunda sensibilidade ao humano.
Evans-Pritchard também exerceu influência institucional duradoura, consolidando Oxford como centro de excelência em antropologia e formando gerações de pesquisadores.
Embora tenha sido criticado por não problematizar suficientemente o colonialismo, sua obra representa uma inflexão decisiva rumo a uma antropologia mais ética, reflexiva e comprometida com a escuta e a alteridade.
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Bronislaw Malinowski revolucionou a antropologia ao criar o método etnográfico durante seu trabalho de campo nas Ilhas Trobriand, onde viveu intensamente a vida nativa, entre 1915 e 1918. Um dos trabalhos de campo mais prolongados da história da Antropologia.
Sua abordagem inovadora – a observação participante – substituiu os estudos de gabinete de seus predecessores – ou mesmo o trabalho etnográfico sem a devida imersão, que já era realizado à sua época –, mostrando que para entender uma cultura era preciso vivenciá-la (e não apenas "visitá-la").
Seu funcionalismo psicobiológico propunha que todas as instituições culturais atendem a necessidades humanas básicas: biológicas (como alimentação), instrumentais (organização social), afetivo-emocionais (enfrentamento do medo e da insegurança) e integrativas (religião, comunicação, arte).
Ele mostrou que os mitos não eram meras histórias, mas "cartas de autoridade" que legitimavam normas, transmitiam conhecimentos práticos e ofereciam conforto psicológico. Ao analisar a religião e a magia, revelou seu caráter pragmático: os rituais mágicos dos trobriandeses surgiam apenas em situações de risco (como pesca em alto-mar), nunca em atividades controláveis, funcionando como mecanismos para reduzir a ansiedade.
Seu estudo do Kula, sistema de trocas cerimoniais, mostrou como mito, magia e economia se entrelaçavam numa instituição total que criava alianças entre ilhas.
Malinowski superou o evolucionismo ao provar que essas culturas não era nada primitivas e que possuíam uma lógica funcional e instrumental, o que as igualava à lógica europeia. Apenas com soluções diferentes para problemas humanos universais.
Seu legado permanece ao ensinarmos que, para compreender qualquer prática cultural, devemos perguntar sobre seu funcionamento na vida real das pessoas daquela comunidade.
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A visão de Alfred Radcliffe-Brown sobre mito e religião está profundamente ancorada em sua proposta de funcionalismo estrutural. Para ele, a importância social dessas práticas culturais não se limite a serem expressões subjetivas de fé, mas por desempenharem papéis fundamentais na manutenção da coesão social e da estrutura organizacional das sociedades humanas.
Em vez de buscar a origem dos mitos ou a verdade das crenças, Radcliffe-Brown queria entender o que essas narrativas e rituais fazem dentro do sistema social — ou seja, qual a sua função.
Na sua perspectiva, o mito é uma narrativa simbólica que legitima e reforça normas sociais, justificando regras de conduta, papéis sociais e instituições. Ele ajuda a dar sentido à organização da vida coletiva e sustenta o tecido moral da sociedade. Já a religião é entendida como uma instituição coletiva, onde os rituais funcionam como meios para reafirmar valores compartilhados, fortalecer laços entre os membros do grupo e manter a ordem social. Tanto o mito quanto a religião são vistos, assim, como instrumentos que mantêm a sociedade em equilíbrio e garantem sua reprodução ao longo do tempo.
Radcliffe-Brown analisou essas ideias na prática em campo, já incorporando o espírito do método etnográfico. Entre os nativos australianos, por exemplo, observou como os mitos totêmicos estruturavam regras de exogamia e fortaleciam os vínculos entre clãs. Já entre os Lozi da África Ocidental, mostrou como o culto aos ancestrais servia para legitimar a autoridade política e mediar conflitos sociais. Em ambos os casos, ficou claro para ele que a função dos mitos e rituais não era simplesmente religiosa ou simbólica, mas estrutural — eles ajudavam a organizar a vida social como um todo.
Apesar das críticas que vieram depois — principalmente pela falta de atenção à mudança social e à agência individual —, Radcliffe-Brown foi pioneiro ao propor que mito e religião devem ser estudados como partes integrantes de um sistema social interdependente. Seu trabalho abriu caminho para uma compreensão mais sociológica da religião e inspirou gerações de antropólogos a olhar para além das crenças, enxergando os rituais e narrativas como formas de moldar e sustentar a convivência humana.
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Neste episódio, Antropocast convida Heloísa Buarque de Almeida (FFLCH/USP) e Tatiana Amendola (ESPM) para um bate papo sobre Feminicídio, Violência contra mulher (e de gênero, por extensão), Feminismo e outros assuntos correlatos.
Esta foi uma conversa gravada em 2020, recuperada para relançamento por continuar extremamente atual, além de ser uma bela aula sobre questões de gênero na antropologia.
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Estamos em nossa terceira expedição: uma exploração nesta fabulosa ilha do Mito, onde estamos ancorados.
Neste episódio vamos começar a explorar o Mito sob a ótica da Teoria Funcionalista (também chamada de Funcionalismo Britânico) . E, para começar, vamos entender o que é exatamente uma abordagem funcionalista dos fatos da sociedade e da cultura.
O Funcionalismo nas ciências sociais, especialmente na Antropologia e na Sociologia, é uma linha teórica consolidada por Durkheim e em 1937 teria sido assim batizada por Malinowski em um artigo que ele escreveu para a Encyclopaedia Britannica. Seu foco é pensar a sociedade como um sistema composto de partes interdependentes.
Cada instituição, prática ou norma dentro de um contexto social desempenha uma função específica que contribui para a coesão e estabilidade social.
Inspirado pela biologia, essa abordagem sugere que, assim como órgãos no corpo humano estão associados num sistema para manter a saúde, o equilíbrio do corpo, diferentes instituições sociais (como a família, a religião e o governo) também trabalham juntas para manter a sociedade em equilíbrio. O foco está em entender como as normas e valores são internalizados pelos indivíduos, garantindo o funcionamento harmonioso do todo.
O Funcionalismo rejeita o modelo diacrônico, universalista e historicamente determinista do Evolucionismo, que classificava as sociedades em uma escala linear e universal de progresso. Em vez disso, ele analisa cada sociedade dentro de seu próprio contexto, com foco no presente e nas funções que as instituições exercem agora.
Junto com o Culturalismo Norte-Americano, o Funcionalismo introduziu um rigor científico consistente na Antropologia, especialmente ao criar o método etnográfico.
Vamos entender melhor os pontos centrais desta teoria antes de entrarmos nas análises de Malinowski, Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard sobre o fenômeno do mito.
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A trilha sonora utilizada neste episódio é livre de direitos autorais.
Neste episódio, o Antrpocast te convida a embarcar numa viagem fascinante pelo pensamento do último dos pensadores evolucionistas que estamos analisando: Lucien Lévy-Bruhl.
Ele foi um filósofo francês que, bastante influenciado pelos trabalhos de Tylor e sobretudo de James Frazer, lá no início do século XX, mergulhou na antropologia, intrigado com a forma como os diferentes povos interpretam o mundo.
Sua formação orignial foi no campo da Filosofia Moral. No entanto, como professor da Sorbonne e colega de Durkheim, foi bastante influenciado pelos ventos da Escola Sociológica Francesa (e também do positivismo de Augusto Comte), trazendo um viés empírico para suas preocupações com a moral: ele quer investigar como exatamente as sociedades criam e veiculam os valores que orientam os comportamentos das pessoas: e é aí que entra o mito!
Ao investigar as histórias aparentemente irracionais dos mitos e os fenômenos místicos das religiões das sociedades ditas "primitivas", ele procura entender de que maneira isso pode revelar o funcionamento da mentalidade desses povos.
Para isso, ele vai desenvolver dois conceitos importantes: mentalidade pré-lógica e participação mística.
Importante compreender que por "pré-lógico" ele não indica que esses povos sejam "irracionais" ou "menos inteligentes" do que os povos ocidentais. Significava que ainda não tinham atingido o estágio conquistado pela lógica formal tal como posta pela tradição do pensamento ocidental, que ele entende como sendo o mais sofisticado.
A ideia é que as experiências de mundo vividas por estas sociedades eram permeadas por uma visão mágica e simbólica que é diferente do pensamento analítico e científico predominante no Ocidente.
O conceito de "participação mística" é um dos conceitos que o tornaram conhecido. Essa ideia descreve como, nas sociedades tradicionais, as pessoas não se veem separadas do mundo natural ou do sobrenatural — elas se sentem conectadas a tudo ao seu redor, desde animais e plantas até os espíritos e deuses.
Nesse contexto, o mito funciona como uma espécie de “língua” que expressa essa conexão profunda.
Outro ponto fascinante é como ele via a coexistência dessas mentalidades. Mesmo em culturas modernas, Lévy-Bruhl acreditava que o pensamento mítico não desaparecia completamente. Quer um exemplo? Pense em superstições, horóscopos, ou na forma como muitas pessoas interpretam coincidências como "sinais do destino". Isso mostra que o mágico e o racional convivem dentro de nós.
Mas é claro, as ideias de Lévy-Bruhl não passaram sem críticas. Muitos estudiosos disseram que sua abordagem dava margem a interpretações etnocêntricas, sugerindo que o pensamento ocidental era superior.
Com o tempo, sua visão foi sendo revisada e aprimorada, mas a noção de que diferentes culturas pensam de formas distintas continua sendo uma contribuição valiosa.
Então, o que podemos levar da perspectiva de Lévy-Bruhl? O mito, para ele, é uma janela para um modo de experiência do mundo que vai além do racional. Ele nos lembra que existem muitas maneiras de entender e se relacionar com a realidade, e que o pensamento mítico não é algo do passado, mas uma dimensão viva que ainda permeia nossas vidas.
Ficou curioso? ouça o episódio e aprenda um pouco sobre esse fascinante e importante pensador. E sobre como o pensamento mítico, mágico, místico co-existe com o pensamento científico, lógico.
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As trilhas sonoras utilizadas neste episódio são livres de direitos autorais.
As contribuições de James Frazer são essenciais para entender os estudos sobre mito e religião na antropologia.
Sua obra mais famosa, “O Ramo de Ouro”, é uma verdadeira exploração das crenças e rituais humanos, misturando ciência, literatura e história.
Além desta obra, “Totemismo e Exogamia” é outro trabalho importante, em que ele analisa o mito no contexto das sociedades totêmicas como elemento constituinte das suas construções identitárias.
Para Frazer, os mitos e os rituais não eram apenas histórias ou práticas curiosas, mas formas profundas e universais de os seres humanos lidarem com questões fundamentais, como a morte, a renovação da vida e a ordem do cosmos. Eram buscas de explicações e construções de sentidos.
Uma de suas contribuições mais marcantes foi a teoria dos três estágios do pensamento humano: magia, religião e ciência.
Segundo Frazer, os primeiros humanos acreditavam que podiam controlar o mundo diretamente por meio da magia. Quando essa abordagem se mostrou insuficiente, surgiram as religiões, onde os humanos passaram a apelar a forças ou deuses sobrenaturais para influenciar o mundo. Por fim, a ciência emergiu como uma forma de compreender a realidade com base na lógica e na observação.
Apesar dessa progressão, Frazer argumentava que traços de magia e religião permaneciam profundamente enraizados, mesmo em sociedades modernas.
A importância de James Frazer para a antropologia vai além de suas teorias. Ele abriu o caminho para uma abordagem comparativa dos mitos e rituais, influenciando não apenas a antropologia, mas também a psicologia, a literatura e os estudos religiosos. Embora suas ideias sejam questionadas e reinterpretadas hoje, Frazer permanece uma referência indispensável para quem deseja entender como os mitos e os rituais moldam a experiência humana.
Estas e outras questões são analisadas neste episódio.
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Edward Burnett Tylor, antropólogo inglês com uma importância muito grande na história de formação nossa disciplina, sendo frequentemente reconhecido como um dos "heróis" fundadores da Antropologia Cultural.
Ele teve um papel fundamental na consolidação do Evolucionismo como o primeiro quadro teórico criado com certo rigor científico, com sistematização e com método para interpretar os fatos da cultura. Foi o principal pesquisador que pavimentou os estudos sobre religião na Antropologia.
Em sua obra "Primitive Culture" (1871), Tylor propôs que os mitos não eram meras fantasias, mas sim tentativas iniciais de explicar fenômenos naturais e existenciais. Funcionavam como uma forma rudimentar de ciência, produtos de uma mentalidade pouco elaborada e simplória que tentava oferecer os primeiros ensaios de explicações sobre aquilo que era inexplicável, o que era misterioso.
Eram manifestações de uma mentalidade rudimentar, pré-lógica.
Ele introduziu o conceito de animismo, sugerindo que as primeiras crenças religiosas atribuíam alma e vida a objetos inanimados e fenômenos naturais, como uma maneira de dar sentido ao mundo ao redor.
Tylor também identificou "sobrevivências" — vestígios de antigas crenças animistas que persistem em culturas modernas, como superstições e tradições populares.
Embora sua perspectiva evolucionista seja hoje considerada eurocêntrica e simplista, as contribuições de Tylor foram fundamentais para estabelecer o estudo antropológico dos mitos e das religiões e a pavimentar a Antropologia como ciência.
Neste episódio, o Antropocast explora elementos de sua teoria sobre os mitos no contexto religioso, além de discutir aspectos importantes do evolucionismo e das suas contribuições para a consolidação da Antropologia no campo científico.
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No momento inicial de fundamentação da antropologia, as formas de religiosidade das sociedades australianas, das sociedades africanas e ameríndias atraíram bastante a atenção dos primeiros antropólogos. E dentro do espírito religioso dessas sociedades, eles encontraram um rico e exuberante material mitológico.
Estamos no universo da Teoria Evolucionista, a primeira escola de pensamento que consagrou a Antropologia no campo das ciências.
Fazer esta abordagem sobre o Evolucionismo não se restringe a uma questão de erudição, de saber um pouco da história da antropologia.
De caráter fortemente etnocêntrico, polêmica e bastante ambígua, embora tenha o mérito de ter fundado a antropologia como ciência, essa linha teórica foi responsável pelos principais preconceitos e compreensões equivocadas a respeito das chamadas sociedades tribais (ou sociedades sem estado na África, Américas ou Polinésia, por exemplo) e que ficaram muito enraizados no senso comum (e até mesmo em vários ramos científicos). Muitas das raízes profundas do fenômeno do racismo, por exemplo, também estão ancoradas nesta escola de pensamento que vigorou na Europa e Estados Unidos entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX.
Neste episódio, mantendo seu caráter introdutório de apresentar a Antropologia para não iniciados e iniciantes, o Antropocast percorre alguns pontos centrais da Teoria Evolucionista no seu escopo geral, preparando o ouvinte para se debruçar sobre a análise do mito segundo esta teoria que virá no próximo episódio.
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Quando se consulta o verbete "mito" num dicionário comum (de língua portuguesa, por exemplo), encontra-se, entre outras definições, a definição de mito como sendo "lenda", "fábula". Isso acontece até num dicionário de grego moderno.
No entanto, se considerarmos que estes quatro termos (mito, lenda, fábula e parábola) se referem a estilos narrativos, estilos de contar histórias, vamos encontrar, tanto em dicionários especializados quanto em alguns autores que se dedicaram a analisar esses temas, diferenças consideráveis.
A partir desta dúvida que é bastante recorrente, neste episódio é feita uma reflexão sobre as diferenças entre Mito, Lenda, Fábula e Parábola.
Nossa reflexão aqui tem como fio condutor as análises feitas no campo da teoria literária e também no campo da da antropologia.
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Mito, verdade ou fantasia?
A palavra mito teve sua origem na Grécia antiga.
Neste episódio, exploramos o seu sentido original entre os gregos e como este termo extrapolou esse sentido original e passou a ter vários outros sentidos, quase sempre associado a algo fantasioso, ilusório ou mesmo "mentira" (como na expressão "mitomania").
Qual ou quais as verdades do mito?
Os mitos se circunscrevem a sociedades tradicionais ou estariam presentes também nas sociedades urbanas, industrias e da tecnologia?
Essas e outras questões são exploradas neste episódio da nossa expedição de navegação pelo território do mito.
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Iniciando nossa terceira expedição, vamos começar a explorar um tema fascinante: o mito.
Vamos percorrer densas florestas e grandes trilhas do mito e da mitologia, a partir da ótica da Antropologia. Em cada episódio, uma abordagem diferente e instigante que procurará contribuir para a ampliação do entendimento do mito como um fenômeno cultural e complexo.
Ancoramos nesta grande ilha, repleta de trilhas que devemos explorar a cada episódio. Nossa pergunta âncora geral, que vai nos orientar nos vários episódios desta expedição, é a seguinte: como a antropologia vem pensando o mito como fenômeno cultural?
A partir desta pergunta geral, vamos aprofundar em algumas abordagens específicas, incluindo aí diálogos com a psicanálise, com a semiótica, e outras áreas afins.
Aqui nesta primeira parada, vamos conversar sobre os três episódios anteriores. As histórias sobre a criação do mundo que foram narradas. Estas histórias se situam, dentro do grande universo do mito, como mitos primordiais, dos quais os demais derivam. O que são exatamente as sagas cosmogônicas (ou cosmogonias)? O que elas revelam sobre os grupos sociais que as criam? Qual a sua importância para nós, seres humanos?
A partir destas reflexões, seguiremos refletindo sobre este fenômeno que encanta a tanta gente!
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Com este episódio, encerramos a série de três capítulos com narrativas de sagas cosmogônicas e antropogônicas segundo várias tradições culturais.
A partir do próximo episódio, iniciaremos uma série de análises sobre o fenômeno do mito a partir da ótica a Antropologia e de algumas áreas ciências humanas.
Neste episódio são narradas as seguintes histórias.
1. Cosmogonia maia
Narração: Christiane Coutheux
Texto compilado e adaptado de Popol Vuh – Popol Vuh: o esplendor da palavra antiga dos Maias-Quiché, tradução crítica de Josely Vianna Baptista; Maya Mythology: Myths and Folklore of the Mayan Civilization, de Sebastian Berg.
2. Cosmogonia japonesa
Narração: Guilherme Umeda
Texto compilado e adaptado de Kojiki: Mitología japonesa, Dioses y Emperadores, de Kevin Tembouret; Mitología japonesa: Leyendas, mitos folclore del Japón antiguo, de Masaharu Anesaki; As melhores histórias da mitologia japonesa, de Carmen Seganfredo.
3. Cosmogonia celta.
Narração: Christiane Coutheux
Texto compilado e adaptado de O Livro Da Mitologia Celta, de Claudio Crow Quintino; Celtic Mythology, de J. A. MacCulloch; Os mitos celtas: Um guia para deuses e lendas antigas, de Miranda Aldhouse-Green e Caesar Souza.
4. Cosmogonia inca.
Narração: Veronica Goyzueta
Texto compilado e adaptado de Incan Mythology and Other Myths of the Andes, de Gred Rosa; Mitología Inca: el pilar del mundo, de Javier Tapia e Handbook of Inca Mythology, de Paul Steele
5. Cosmogonia Hindu.
Narração: Rose Figueiredo
Texto compilado e adaptado de Classical Hindu Mythology: a Reader in the Sanskrit Puranas, vários autores. Handbook of Hindu mythology, George Mason. As Melhores Historias Da Mitologia Hindu, de Ademilson Souza Franchini e Camen Seganfredo.
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Neste episódio, o segundo da Terceira Expedição, vamos ouvir mais algumas histórias de criação da mundo e da humanidade, segundo algumas tradições culturais.
1. Cosmogonia Yanomami
Narração: Rose Figueiredo.
Texto compilado e adaptado de A queda do céu, Davi Kopenawa Yanomami e Bruce Albert.
2. Cosmogonia Judaico-Cristã.
Narração: Fred Lucio
Texto compilado e adaptado de A Bíblia Hebraica (Tanah); A Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas.
3. A queda da humanidade na tradição judaico-cristã.
Narração: Fred Lucio
Texto compilado e adaptado de A Bíblia Hebraica (Tanah); A Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas.
4. Cosmogonia Viking.
Narração: Guilherme Umeda
Texto adaptado da Edda em Prosa (ou Edda de Snorri), de Snorri Sturluson; Edda Poética, anônimo; Mitologia Nórdica, de Neil Gaiman.
5. Cosmogonia Grega.
Narração: Christiane Coutheux.
Texto compilado e adaptado da Teogonia e Os Trabalhos e os dias, ambos de Hesíodo; A Ilíada e A Odisseia, ambos de Homero; Os Mitos Gregos, de Robert Graves; Mitologia Grega, Junito de Souza Brandão; Mito e Pensamento entre os Gregos, Jean-Pierre Vernant.
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Com este episódio, o Antropocast entra em sua Terceira Expedição: uma viagem de navegação pelo universo fascinante do mito e da mitologia, numa abordagem antropológica.
Começamos com três episódios com narrativas de criação do mundo (Cosmogonias) e do ser humano (antropogonia) segundo várias tradições antigas espalhadas pelo mundo.
As narrativas selecionadas para esses três primeiros episódios da série foram concebidas como ilustrativas de análises e reflexões que virão pela frente.
Ante ao vastíssimo corpo de mitos disponibilizado em formato digital ou impresso, foram selecionadas 14 narrativas que foram compiladas e adaptadas a partir das várias fontes consultadas (primárias e secundárias). Após esses três episódios, entraremos numa reflexão sobre como o problema do mito foi tratado ao longo da tradição de formação da antropologia. Vamos aproveitar para detalhar as diferenças entre as abordagens mais significativas para a construção de uma leitura contemporânea sobre o fenômeno do mito.
Começamos, neste episódio, com cinco versões dos mitos de criação e/ou épicos (heroicos) segundo as tradições indicadas abaixo e suas respectivas fontes de adaptação livre.
1. Cosmogonia Apapocuva Guarani.
Narração: Guilherme Umeda
Texto compilado e adaptado de A Lenda da Criação e Destruição do Mundo como fundamento da religião dos Apapocuva Guarani, de Curt Unkel Nimuendaju; Ayvu rapyta: textos míticos dos mbyá-guarani, de León Cadogan; Aspectos fundamentais da cultura guarani, de Egon Schaden; A fala sagrada: mitos e cantos dos indios guarani, de Pierre Clastres; A Terra Sem Mal: o profetismo tupi-guarani, de Hélène Clastres.
2. Cosmogonia suméria (Babilônia antiga).
Narração: Christiane Coutheux
Texto adaptado de Enuma Elish, A criação épica da Babilônia. Anônimo. Edição consultada: The Standard Babylonian Creation Myth, de Philippe Talon.
3. A epopeia de Gilgamesh
Narração: Guilherme Umeda
Texto compilado e adaptado de Ele que o abismo viu: Epopeia de Gilgamesh, de Sin-leqi-unninni.
4. A história do dilúvio - tradição suméria
Narração: Celso Cruz
Texto compilado e adaptado de Ele que o abismo viu: Epopeia de Gilgamesh, de Sin-leqi-unninni.
5. Cosmogonia yorubá.
Narração: Marcos Silva e Silva
Texto compilado e adaptado de Lendas Africanas dos Orixás, de Pierre Verger; A Sabedoria dos Orixás, de Reginaldo Prandi; Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi.
O que poderia haver em comum entre o Totemismo e a sociedade de consumo?
O fenômeno do totemismo foi uma das primeiras manifestações culturais analisadas pela nascente antropologia no século XIX e que despertou um grande debate acerca da condição humana.
Inicialmente foi identificado como uma manifestação religiosa, fundada num misticismo pueril e irracional. As sociedades então chamadas "totemistas" foram classificadas como intelectualmente indigentes, estando na "infância mental da humanidade".
Como reação a esta visão etnocêntrica, o funcionalismo identificou no totemismo um princípio de classificação que atenderia a uma função de organização social.
Estas visões foram questionadas pelo estruturalismo que enxergava no fenômeno uma organização do pensamento que manifesta uma sofisticada lógica simbólica que, abusando da linguagem figurada, tematizava a relação Natureza e Cultura.
Dos estudos sobre Religião, passando pela psicanálise, a epistemologia e a ontologia, o totemismo tem sido um fértil terreno para se pensar diferentes aspectos das culturas humanas.
A partir dos anos 1980, antropólogos como Marshall Sahlins, Everardo Rocha e Roberto Da Matta, mostraram que, guardadas as devidas proporções, intensidades e formas, o totemismo está muito presente nas sociedades urbanas e industriais.
Utilizaram os princípios do totemismo para analisar aspectos simbólicos do sistema capitalista, como a publicidade e o consumo.
Desta forma, o fenômeno extrapola as chamadas sociedades tradicionais - onde ele foi identificado e analisado inicialmente - e se revela igualmente presente, de forma ressignificada, reelaborada e atenuada, em nossa sociedade industrial.
Afinal, o que é o fenômeno do totemismo e qual sua importância para as ciências humanas, e a antropologia em particular?
O que ele fala sobre nós, seres humanos?
É um fenômeno cuja abrangência se circunscreve às sociedades onde ele foi documentado de forma plena, ou ele encontra ecos e reverberações em nosso mundo urbano e industrial contemporâneo?
São alguns aspectos pensados neste episódio.
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Avançando em nossa navegação no denso arquipélago da cultura, vamos aprofundar a reflexão explorando a ruptura da dicotomia NATUREZA/CULTURA.
Este episódio explora uma perspectiva não positivista de construção da Antropologia, a partir das contribuições de várias etnografias contemporâneas com destaque para as contribuições de um ex-orientando de Claude Lévi-Strauss, o antropólogo francês Philippe Descola.
A base clássica para esta reflexão remonta às análises feitas por Émile Durkheim, Marcel Mauss e, principalmente, Claude Lévi-Strauss, que revelaram formas de pensamento e de relação com o mundo que não se pautam pela maneira cindida e dicotômica com que o pensamento ocidental se construiu.
Esses trabalhos foram importantíssimos para iniciar esse processo de desconstrução do preconceito etnocêntrico de que as sociedades chamadas tribais seriam irracionais, vivendo na ilusão do mito e nas formas de pensamento que foram classificadas como pré-lógicas. E que o pensamento eurocentrado representaria um modelo universal deste relacionamento com o mundo.
Desafiando a ideia, universalmente concebida e percebida, de uma natureza completamente apartada do ser humano, Descola propõe 4 formas distintas de pensamento (epistemologias) e de existir, de ser no mundo (ontologias): o naturalismo, o totemismo, o animismo e o analogismo.
Ele argumenta que entender a maneira como as sociedades ameríndias percebem essas diferenças ontológicas é essencial para uma compreensão mais profunda da diversidade cultural e das relações humanas com o meio ambiente.
Com essa base, Descola se torna um dos principais pensadores que, ao trazer de maneira profunda uma perspectiva crítica da relação entre natureza e cultura, oferece uma perspectiva concreta de novos modelos para pensar a Ecologia, a Sustentabilidade, a exploração dos recursos... aspectos importantes do mundo contemporâneo.
Algo que vem se mostrando absolutamente necessário e urgente.
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Website: https://fredlucio.net/
Dando uma pausa nas nossas reflexões sobre as questões teóricas envolvendo o par dicotômico Natureza/Cultura, neste episódio, no formato Antropocast convida, batemos um papo com a designer gráfica Marise De Chirico (@marisedechirico) sobre as relações entre o campo do Design e a Antropologia.
A partir da sua própria trajetória de vida, e de uma disciplina eletiva que ela ministra (intitulada Design e Ativismo), nossa convidada navega por reflexões pensando o Design como uma ciência social aplicada e sobre como a perspectiva das ciências sociais podem ajudar a enfrentar os desafios (teóricos, metodológicos e práticos) do campo do design.
As referências citadas no episódio estão no site do Antropocast (fredlucio.net).
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Agradecimento especial à Christiane Couteux, pela leitura dos poemas de Ryane Leão.
Referências:
Pequeno manual antirracista
Djamila Ribeiro
Companhia das Letras, 2019
Emprecariado — Todo mundo é empreendedor. Ninguém está a salvo
Silvio Lorusso
Clube do livro do design, 2023
Descolonizando afetos: Experimentações sobre outras formas de amar
Geni Núñes
Paidós, 2023
Políticas do design: Um guia (não tão) global de comunicação visual
Ruben Pater
Ubu, 2022
Arte e Ativismo: Antologia
André Mesquita, Charles Esche e Will Bradley
MASP, 2021
Links:
podcast lombada