
Embora o bairro do Bexiga seja tradicionalmente apontado como uma região multicultural e plural, a associação entre a região e sua memória italiana costuma se destacar em relação às suas demais representações. Embora trate-se de fato de um importante território da imigração italiana em São Paulo, o Bexiga está longe de se caracterizar apenas como um “bairro italiano”: foi nesta região, lembremos, que se desenvolveu um importante quilombo urbano em São Paulo, tornando-a também importante território negro da cidade.
Outros grupos, contudo, também ocupam o bairro, desenvolvem nele suas manifestações culturais e lhe dão vida — ainda que suas presenças sejam alvo de processos de apagamento ou marginalização por parte das demais representações do bairro. Nesta edição do Patrimoninar nós conversamos com Fernanda Vargas a respeito do Bexiga nordestino. Fernanda é cineasta e gestora cultural e é autora de dissertação de mestrado sobre a presença nordestina no Bexiga e co-diretura, junto de Daniel Fagundes, do documentário Oxente, Bixiga!, a respeito do mesmo tema.
O Bexiga concentra hoje cerca de 900 imóveis tombados — uma parcela significativa do total de bens culturais oficialmente reconhecidos no município de São Paulo. A maior parte desses bens, contudo, foi reconhecida em função de suas características estilísticas-arquitetônicas e pela eventual vinculação à memória italiana, eclipsando as manifestações culturais dos demais grupos presentes na região. Com efeito, hoje a população nordestina talvez constitua um dos grupos mais expressivos na ocupação do bairro, embora suas referências culturais e manifestações sejam ignoradas ou invisibilizadas nos processos de patrimonialização. Neste programa falamos sobre essas presenças, ausências, conexões e trocas, bem como sobre manifestações culturais explícitas no dia-a-dia do bairro que permanecem invisíveis em suas representações oficiais.
COMPLEMENTOS
A dissertação de mestrado de Fernanda Vargas, defendida na Universidade Federal do ABC em 2019, é intitulada Bixiga‒Mombaça, entre lugares, percursos e memórias e pode ser lida aqui.
Assista ao documentário Oxente, Bixiga!, dirigido por Fernanda Vargas e Daniel Fagundes.
Ouça também o Patrimoniar n. 2, com Gisele Brito, a respeito da memória negra no Bexiga e o Patrimoniar n. 4, com Claudia Alexandre, sobre o samba, a Vai-Vai e o candomblé.
Conheça alguns trabalhos do CPC sobre o Bexiga, como o livro Bixiga em artes e ofícios, publicado pela Edusp e o seminário Bixiga: território cultural.
Acompanhe a programação do CPC em usp.br/cpc e no perfil @cpcusp no YouTube, Facebook, Twitter e Instagram.
CRÉDITOS
O programa foi produzido por Eduardo Kishimoto e Gabriel Fernandes em outubro de 2023. A edição é de Eduardo Kishimoto. Este programa utiliza alguns trechos de áudio do documentário Oxente, Bixiga!, dirigido por Fernanda Vargas e Daniel Fagundes.