
O carnaval é o momento do ano em que o samba é tornado um espetáculo exibido pela televisão e acompanhado por milhões de pessoas. Contudo, como manifestação e referência cultural de diversos grupos sociais, o samba, o carnaval e todas as práticas associadas a este importante bem cultural são caracterizados por inúmeras camadas de significado, ação e memória — e apenas a superfície dessas camadas é devidamente capturada durante a sua espetacularização televisiva. São muitas as conexões entre o samba e o carnaval e a ancestralidade, a religiosidade e a memória negra: muitos dos signos ligados a essas conexões permanecem invisíveis ou ignorados. O samba, o carnaval e a religiosidade de matriz africana foram alvo de inúmeros processos violentos de repressão e silenciamento ao longo de sua existência, tornando sua prática hoje uma forma de reafirmação da resistência — contudo, processos de repressão e silenciamento continuam operando nos dias atuais, como aqueles que levaram ao despejo da escola de samba Vai-Vai de sua sede no bairro do Bexiga, em São Paulo.
Nesta edição do Patrimoniar conversamos com Claudia Alexandre a respeito de suas pesquisas no campo da ciência da religião sobre o samba, o carnaval, o candomblé e a escola de samba Vai-Vai.
Claudia é mestre e doutora em Ciência da Religião pela PUC-SP, é jornalista e pesquisadora com ampla atuação no jornalismo musical e na cobertura do samba e do carnaval paulistano. É colunista do programa O samba pede passagem da Rádio USP e foi comentarista do carnaval paulista na Globonews. Criou em 2018 a plataforma digital BR Brazil Show, na qual apresenta o programa Papo de bamba. É autora de diversos livros, entre os quais Orixás no terreiro sagrado do samba — Exu e Ogum no candomblé da Vai-Vai, fruto de suas pesquisas em ciência da religião.
O programa foi produzido e editado por Eduardo Kishimoto e Gabriel Fernandes em fevereiro de 2023. A edição é de Eduardo Kishimoto.