
Rosa Egipcíaca foi a primeira mulher negra a publicar um livro no Brasil. Religiosa, africana, libertou-se da escravidão e foi considerada uma santa antes de ser aprisionda pela Inquisição. Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz nasceu em 1719, em Ajudá, atual Benim, na África. Com seis anos, foi sequestrada por traficantes de escravos e trazida para o RJ, onde foi vendida. Era ainda uma menina quando seu senhor a “desonestou” (estuprou), e aos 14 anos foi vendida novamente e enviada para Minas Gerais. Durante mais de 15 anos, R.E. foi obrigada a se prostituir, até contrair uma doença misteriosa que inchava todo seu corpo. Passou a ter visões místicas; abandonou o meretrício e doou para os mais pobres todas as poucas riquezas que tinha acumulado nesses anos de serviço. Suas visões, cada vez mais frequentes e intensas, trouxeram problemas permanentes: acusada de feiticeira, R. E. foi tão açoitada até ficar com o lado direito de seu corpo permanentemente paralisado. Fugiu de Minas para o RJ, onde foi acolhida pelos franciscanos, que admiravam a intensidade de sua fé e disciplina: seus prolongados jejuns, a autoflagelação, o empenho em aprender e ler e escrever. Em 1751, R. fundou Recolhimento do Parto, um local destinado a receber ex-prostitutas, e passou a atrair mais e mais fiéis em seus rituais que misturavam o catolicismo com tradições religiosas africanas. Em 1763, após desentendimentos com o clero, R.E. é denunciada e passa a ser considerada uma herege pela Igreja Católica. Aprisionada pela Santa Inquisição e levada a Portugal para julgamento, Rosa jamais renegou ou desmentiu suas visões e experiências místicas. Autora de a “Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas”, R.E. é a primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil. Das suas mais de 250 páginas, poucas sobreviveram: o livro foi queimado por ser considerado heresia. R.E., a santa africana, morreu em 1771, ainda sob o domínio dos inquisidores. Em 2023, a Unidos da Viradouro usou sua trajetória como inspiração para o enredo do carnaval da escola.