
O pai proposto por Freud não é apenas aquele que educa,sustenta ou dá o nome. Ele é também ausência, interdição, memória e mito. Como vimos no episódio anterior do Mirante, em Totem e Tabu, Freud inventa uma cena inaugural da cultura: um pai assassinado, devorado pelos filhos, que retorna como lei e como culpa. Esse pai arcaico funda a civilização ao ser eliminado. É a partir da perda que o pai se torna simbólico, aquele que marca um limite entre o desejo e o mundo.
Na história do sujeito, o pai, ao entrar como um terceiro,atravessa a relação com a mãe — não para ocupar seu lugar, mas para separar a dupla mãe-bebê. Essa separação é o que possibilita o sujeito desejar. O pai — ou a função que chamamos paterna — civiliza, introduz a lei, dá nome às coisas,oferece um lugar no mundo. Mas esse lugar nunca está garantido de antemão. Há sempre um resto, uma angústia, um enigma sobre o que é, afinal, ser pai ou ter um pai.
Hoje, em tempos de paternidades plurais — homoafetivas,trans, compartilhadas, presentes, ausentes —, seguimos tentando reinventar o que significa cuidar, limitar, nomear, amar.
Jorge Lyra e Maria Lucia Ferreira Alvarenga são nossosconvidados neste episódio sobre Paternidades. Jorge Lyra é um dos coordenadores do Instituto Papai e Maria Lucia Ferreira Alvarenga é psicóloga e psicanalista da Sociedade de Psicanálise de Brasília. Eles nos ajudarão a pensar o assuntoem tempos em que a cultura comemora essa função com o “dia dos pais”, e tem se interrogado sobre o que é, afinal, ser pai — ou ocupar esse lugar — num mundo em transformação.