
Meu objetivo neste capítulo é ler a história das personagens Noemi e Rute a partir do movimento de migração presente no livro. Uma migração que se apresenta como tragédia e inevitável, tanto por causa da fome que assola a região de Belém, assim como por conta das redes de proteção e de solidariedade que se encontram dilaceradas, revelando que a migração é sempre uma ruptura dolorosa. Associado à migração, seria necessário acrescentar palavras fortes tais como instabilidade, insegurança, pobreza, marginalização, desespero, insegurança alimentar; mas, também, a busca pela dignidade e pela paz. Luza (2021, p. 27) faz uma importante observação ao afirmar que o “livro de Rute gira em torno da emigração de uma família de Belém para Moab e de volta para Belém”. A resistência, resiliência e esforços de duas mulheres – Noemi e Rute – conduzem à superação e sobrevivência em uma terra estranha, garantindo, dessa forma, a continuidade da vida. A busca por mobilidade de duas mulheres que lutam para sobreviver e se depararam com os muros que precisam ser rompidos deixa a clara impressão de que a sociedade se encontra artificialmente construída a partir dos conceitos de centro e periferia, que são inibidores da mobilidade.