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Parte de uma crônica minha, sobre o BBB, publicada no Portal Paralelo 29
No episódio de hoje, Jerônimo e Piedade mudam-se para o cortiço. São um casal de portugueses trabalhadores, comprometidos, sérios, que guardam o que recebem para pagar o colégio da filha. Jerônimo passa a administrar a pedreira e aumenta os lucros de João Romão.
Antes de ir para o RJ trabalhar em pedreira, logo que chega ao Brasil, Jerônimo tinha ido trabalhar no campo, mas se desestimula com os empregos no meio rural, porque o Brasil é então muito atrasado e ainda explora trabalho escravo, o que dificulta que os imigrantes tenham chance de bons salários nas lavouras. No cortiço, Jerônimo se torna respeitado e vira o conselheiro.
As descrições do Aluísio Azevedo são tão ricas que a gente quase consegue ver as personagens, né? Com as expressões faciais e tudo. É assim pra vocês também? É uma narrativa muito visual. Ele era desenhista e parece que iniciava a composição das personagens a partir de esboços coloridos. E o resultado são personagens que pulam da página e ficam nítidos na nossa imaginação.
Leitura da minha crônica "Boicote", publicada no Portal Paralelo 29
No último episódio, vimos como o cortiço começou, a partir da ambição de João Romão. E graças ao trabalho árduo da Bertoleza. Ela foi enganada por João, que usa a sua economia pra comprar a alforria no início da construção das primeiras 3 casinhas. E entrega pra ela um documento falso de escrava liberta, feito por ele. Naquela noite, João e Bertoleza comemoram com uma garrafa de vinho do Porto. Ela celebra a suposta liberdade. Ele comemora ter adquirido uma escrava. Porque Bertoleza só mudou de dono. Ela tinha uma espécie de acordo com o antigo senhor, de mandar uma quantia em dinheiro mensal pra ele em troca de viver onde ela quisesse e trabalhar para seu sustento. Bertoleza não era uma escrava fugida, ela tinha um acordo com o antigo senhor, que sabia onde ela estava. João Romão é prático e usa Bertoleza como uma escrava útil em diversas frentes: ela trabalha como um bicho, cozinha e dá lucros com a venda das quitandas, faz as vezes de atendente na mercearia dele, lava e arruma as roupas dele, e é uma mulher pra ele usar sem precisar gastar com prostitutas.
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, ou apenas Aluísio de Azevedo, foi um multitarefas. Escritor, diplomata, caricaturista, jornalista, desenhista e pintor. Nasceu em 1857, em São Luís, no Maranhão, e morreu em 1913, em La Plata, na Argentina.
Ele era formado pela Academia Imperial de Belas Artes, do Rio de Janeiro. Em 1878 precisou retornar a São Luís em função do falecimento do pai. Como tinha que sustentar a família, iniciou na atividade literária. Seu primeiro livro publicado é Uma lágrima de mulher, em 1879.
Azevedo inaugura o Naturalismo no Brasil, com o romance O mulato, em 1881, mesmo ano da publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, que é a obra que inicia o realismo no Brasil. Então o Naturalismo acontece simultaneamente ao Realismo ao Parnasianismo.
O naturalismo foi um movimento literário que aconteceu de 1880 até, mais ou menos, 1893. Como o nome sugere, remete ao que é natural, instintivo, sem retoques. Os três movimentos, naturalismo, realismo e parnasianismo se opõem ao romantismo na temática, que aconteceu antes. O romantismo gostava de idealização, de imaginar cenários europeus ou idílicos, de mulheres angelicais ou uma atmosfera de sonhos, com histórias heroicas ou românticas e sofridas. No naturalismo a narrativa se detém na mediocridade do cotidiano, mostra personagens quase como bichos, lutando pela sobrevivência a qualquer custo. Nada é idealizado, é a vida nua e crua, com sujeira, mau caratismo, pobreza, toda feiúra que a miséria pode ter. O naturalismo se interessa por preconceitos, taras individuais e uma linguagem longe do que a gente tem hoje como “politicamente correto”. Teve manifestações também no teatro e nas artes plásticas. O precursor desse movimento na literatura foi o francês Émile Zola, com a obra O romance experimental, de 1880. Só um ano antes de Azevedo lançar O mulato.
Paulina Chiziane nasceu em 1955 e cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo, capital e também a maior cidade do Moçambique. Atualmente ela mora na Zambézia, que é uma província da região centro do país. Paulina foi a primeira mulher a publicar um romance no Moçambique. Isso aconteceu só em 1990, quando ela escreveu Balada de amor ao vento. Eu adoro esse título, Balada de amor ao vento.
Hoje vou falar sobre Carolina Maria de Jesus e te convidar a reler ou conhecer a obra literária dessa escritora brasileira que foi uma mulher do povo. Ela nasceu em Sacramento, MG, em 1914, e morreu de uma crise de asma em São Paulo, em 1977, aos 63 anos. Nasceu em ano de guerra mundial e a vida dela foi uma batalha contra a pobreza e contra a fome. Boa parte da vida foi catadora de papel e assim sustentava os 3 filhos. No material que coletava pra vender, ela encontra restos de caderno e tocos de lápis, e com eles escreve diários de sua rotina de mãe solteira, negra e pobre. Carolina era articulada, era o que hoje a gente chamaria uma líder comunitária, porque falava pela sua localidade. E foi assim que conheceu o jornalista Audálio Dantas, em 1958, a pessoa que colaborou para tornar público o primeiro livro dela, e que seria o grande sucesso de Carolina: Quarto de despejo – diário de uma favelada. Dantas faz a ponte entre ela e o mundo editorial
Nísia Floresta Brasileira Augusta ou, mais usualmente, Nísia Floresta foi o pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto. Ela nasceu em Papari, RN, em 1810, e faleceu nos arredores de Rouen, na França, em 1885. Contribuiu para o avanço da educação feminina no país porque entendia a importância da educação para a valorização social do gênero feminino, questão que sempre foi do interesse de Nísia. Foi escritora, professora e fundadora de colégios para meninas, além de precursora do feminismo no Brasil, e feminismo é aqui entendido como ação consciente empreendida na defesa do sexo feminino.
Desta vez estou postando 2 episódios pertinho um do outro, porque os dois são celebrações pelo Dia Internacional da Mulher. No último episódio, li 2 poemas da portuguesa Florbela Espanca, “A mulher” I e II. Hoje vou ler um texto que postei na coluna de cultura do Portal Paralelo 29, que é uma sugestão literária.
Florbela Espanca inicia oficialmente sua trajetória como poeta aos 22 anos. Ela não se liga oficialmente a nenhum movimento literário. Na época, vigorava o Modernismo em Portugal. As principais características da poesia de Florbela são sentimentalismo, erotização e feminilidade.
Suas primeiras tentativas de promover as suas poesias falharam. Foi jornalista e estudou Direito em Lisboa. Em 1919, publica o livro de Sonetos chamado Livro de Mágoas. Em 1922, tem publicado o soneto Prince Charmant.... Em 1923, é publicada sua segunda coletânea de sonetos, Livro de Sóror Saudade, edição que foi paga pelo pai dela.
No último episódio, li a minha primeira colaboração para o Portal Paralelo 29, “Bovarismo coletivo”. Hoje vou ler parte de outra crônica para esse site, “Se há fatalismo nos nomes”, que foi publicada em 21 de fevereiro de 2021. O texto completo pode ser acessado em paralelo29.com.
No último episódio, li o conto “O bebê de tarlatana rosa”, de João do Rio. É um conto com temática de Carnaval, mas que revela um enredo macabro. No episódio de hoje, vou ler uma colaboração minha para a coluna de cultura do portal Paralelo 29, que é um site jornalístico com notícias de Santa Maria, no RS, e região. Esta crônica foi publicada em 7 de fevereiro de 2021, e pode ser lida em paralelo29.com.
“O bebê de tarlatana rosa” é um conto escrito em 1910 e ambientado na cidade do Rio de Janeiro, onde o escritor morava. João do Rio é pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, jornalista, cronista, tradutor e teatrólogo. Ele viveu no final do século XIX e início do século XX, entre 1881 e 1921, e ficou conhecido por seu estilo dândi, polêmico, e representante da belle époque carioca.
Então Dubliners, ou Dublinenses, como eu vou usar aqui, é o livro de contos desse escritor considerado um marco da literatura moderna ocidental pelos experimentos que fez com a linguagem. É um livro lançado em 1914 e reúne 15 contos. James Joyce é irlandês, nasceu em Dublin, viveu entre 1882 e 1941, e nesses contos ele faz uma crítica à mentalidade dos habitantes de sua cidade natal, mas por metonímia, a crítica se estende a toda República da Irlanda. Lembra que a Irlanda é um país dividido desde 1921, entre República, que fica ao sul, com capital em Dublin, e Irlanda do Norte, um território menor, ao norte, vinculada ao Reino Unido, com capital Belfast.
Essa mentalidade a que Joyce se opunha é moldada pelo catolicismo, pela moral da Igreja Católica do início do século XIX e que teve muita influência na formação social irlandesa, inclusive interferindo nas vidas privadas. Por exemplo, como criticava o uso de contraceptivos, as famílias católicas acabavam sendo muito numerosas, e com isso tendiam ao empobrecimento, como a gente viu no episódio sobre Jonathan Swift.
Neste episódio, finalizo a leitura do romance Amor de perdição, do português Camilo Castelo Branco. No último episódio, vimos que João da Cruz foi morto pelo filho do almocreve que ele tinha matado há 10 anos, e que o pai de Simão o ajudou a se livrar da forca por assassinato, gerando a dívida de honra com a família Botelho, que faz com que o ferrador se torne protetor de Simão. Vimos que a comunicação entre Teresa e Simão foi restabelecida graças a João e à mendiga, que volta à cena. Mariana melhorou da doideira e volta a ficar “presa” junto com Simão, sendo sua empregada. Sim, porque ela passa o dia na cela junto, como se estivesse cumprindo pena.
Amor de perdição foi publicado em 1862 e é interessante perceber as diferenças de recepção da obra naquele tempo e agora. A sociedade era completamente diferente, os valores eram outros, as mulheres tinham menos representatividade e a diferença social, no sentido de o que uma pessoa de uma classe ou de outra podia atingir na vida era ainda pior que hoje. Notem a diferença de tratamento, por exemplo, em relação a alguém com a idade do protagonista. Simão Botelho tem 18 anos e é tratado pelo narrador e dentro da trama como um homem feito, naquele momento em que ele chora por Mariana e o narrador diz que “chorou então aquele homem de ferro”. Hoje, uma pessoa de 18 anos é tratada mais como um adulto em formação ainda, um jovem adulto, deixando a adolescência. E com isso as expectativas que se tem de alguém nessa faixa etária são outras. O narrador faz referência ao tipo de amor dessa idade, como se fosse talvez o ponto alto da vida pra desenvolver o sentimento. Sem dúvida, é uma visão romântica e em consonância com as características do período literário.
No episódio de hoje, chamo atenção ao tratamento dispensado ao corpo feminino, principalmente quando pobre.
Na leitura de hoje, vimos que Simão estava esperando a comitiva de Tadeu Albuquerque chegar ao convento de Viseu pra buscar Teresa e transportá-la ao convento de Porto. Quando vê Baltasar, Simão e ele discutem e o vilão é morto com um tiro. Teresa desmaia e Simão se entrega à autoridade. Há uma tentativa do meirinho de ajudar Simão, por ser filho do corregedor. Mas ele tá decidido a ser preso, pagar pelo crime e até morrer em nome de salvar Teresa do convento. O que não acontece, porque ela é levada de todo jeito.
Mesversário! 6 meses do Literatura Oral! Obrigada ouvintes! (foi mal o barulho da obra no fundo!)
Amor de perdição é comumente comparado a Romeu e Julieta, de Shakespeare, porque trata do amor entre dois jovens de famílias rivais. Mas o enredo também lembra um outro título de Shakespeare, Muito barulho por nada, porque até agora Simão e Teresa nem sequer nunca se encontraram, tudo que fizeram foi conversar pelas janelas dos quartos, que ficavam uma de frente pra outra, já que são vizinhos em Viseu. E olha quanto sofrimento essa história já gerou: dois empregados foram mortos, Simão baleado e quase morto, Teresa confinada contra vontade num convento, prometida de ser deserdada pelo pai. Pra nós que somos leitores de outro momento histórico, que vivemos outros valores e somos acostumados a narrativas mais realistas, esse enredo romântico soa por vezes cômico ou bobo.