O meu convidado começou com apenas oito anos, pedalando pelas ruas ainda escuras de Boa Vista, carregando uma cesta de pães e salgados que vendia de porta em porta. Naquela época, seu sonho era ser engraxate – porque via naquela pequena caixa de madeira algo que nunca teve: autonomia.Na adolescência, entrou na Escola Técnica Federal e começou a trabalhar como eletricista, prestando serviços para bancos, consertando câmeras de segurança, cofres e portas giratórias. Foi nessa rotina que se deparou com outra possibilidade: os concursos públicos. Alguns colegas do curso haviam sido aprovados para a Polícia Militar. Pela primeira vez, Vitor percebeu que também poderia conquistar uma aprovação em concurso e mudar de vida.Mas a trajetória não seria simples. Diagnosticado com TDAH em grau elevado, lidava com uma ansiedade constante que, muitas vezes, o paralisava antes das provas. Ainda assim, encontrou maneiras de usar essa inquietação a seu favor: estudava sozinho, dia e noite – às vezes dentro de ônibus, com uma pequena lanterna – enquanto percorria cidades inteiras a trabalho como eletricista.Nessa época, decidiu encarar o curso de Direito. Entre plantões, bicos e responsabilidades familiares, levou dez anos para concluir a faculdade. Em 2005, foi aprovado no concurso da Polícia Civil como agente, estudando por livros da época do colégio. Em 19 anos, acumulou experiência em operações de risco e investigações complexas. Mas o sonho maior continuava: tornar-se delegado. Agora, estudando de forma estruturada, veio a tão esperada nomeação como Delegado de Polícia em Goiás, fechando um ciclo que começou em uma bicicleta, com uma cesta de pães nas mãos.Vamos conhecer a história do aluno Gran Afonso Vitor Leite de Lima.