
A Rosana descobriu que a vida de sua criança não seguiria os caminhos esperados quando um exame revelou uma síndrome rara: higienesia gonodal mista, que mostrou que a criança tinha cromossomos masculinos (XY) mas genitália feminina.
A partir dali, a compreensão da Rosana sobre identidade e gênero mudou para sempre.
Desde cedo, os sinais estavam presentes na criança. Durante muito tempo, a mãe acreditou que fosse apenas teimosia. Até que, em uma festa de Ano Novo, a criança passou a noite inteira parada, emburrada com o vestido que lhe vestiram.
No fim, pediu para trocar de roupa: “essa roupa de menina é meu inimigo”. E com shorts e camiseta que lhe vestiram depois, correu e brincou como nunca. Ali ficou claro que não era birra, mas identidade.
A rotina da mãe e da criança passou a incluir longas viagens para exames e acompanhamento. Por conta da sua síndrome, a criança não desenvolveu o crescimento e, por isso, toma diariamente hormônio do crescimento, enquanto médicos observam se seu corpo responde mais a estímulos masculinos ou femininos.
Nesse momento, nem a mãe, nem a equipe médica se preocupam em definir se ela será menino ou menina, mas garantir saúde e um futuro.
Nesse processo, Rosana que não tinha conhecimento nenhum sobre o que acontece com sua criança, entendeu que seu papel é ser seu alicerce. Hoje, ela entende que seu papel não é impor escolhas, mas apoiar.
No mercado, quando alguém chama a criança de “menininho”, ela apenas observa o sorriso de alegria no rosto da criança. Em desenhos, a filha liga seu coração ao da mãe, reconhecendo nela o apoio para ser quem deseja ser.
A história da Rosana e sua criança mostra que não se tem respostas para os mistérios da vida, seja ele identitário ou genético.
E a partir disso, tudo que uma mãe ou um pai pode fazer é condicionar à sua criança amor, aceitação e respeito. Porque o mais importante é que essa criança cresça livre, feliz e sendo exatamente quem ela é.