
O Governo Federal anunciou há cerca de um mês mudanças nas bolsas de produtividade em pesquisa, propondo discussão sobre a eliminação do nível "Pesquisador 2", que passaria a ser chamado de "Pesquisador 1E", e incluindo as taxas de bancada no enxoval de apoio aos pesquisadores do nível 2 (ou 1E). O tema é relevante porque, além de constituírem óbvio prêmio ou complemento salarial, as bolsas de produtividade em pesquisa conferem prestígio aos contemplados. Por exemplo, essas bolsas são usadas como medidas de qualidade dos programas de pós-graduação e garantem acesso a alguns editais, cujas coordenações são reservadas aos níveis mais altos da classificação.
Por conta disso, os comitês de assessoramento e a comunidade científica investem bastante energia na discussão sobre critérios de classificação de pesquisadores, apresentando muitos itens de avaliação e formas de transformar os critérios em números que permitam a proposição de listas ordenadas no final. Mas a pergunta que se impõe é: classificar pesquisadores é importante e necessária para quê e por quê ?
Em verdade, se o objetivo for simplesmente descrever aqueles que atuam de forma profissional na área de pesquisa, bastaria uma única categoria: o pesquisador do CNPq. Nesse caso, os classificados seriam aqueles que atenderem eventualmente os critérios propostos pela instituição. Supondo que seja necessário por alguma razão separar os pesquisadores em função da experiência acumulada (para ocupar postos de representação ou coordenar redes complexas de pesquisa), talvez fossem necessárias apenas duas categorias: pesquisador júnior e pesquisador sênior.
De fato, a classificação de pesquisadores em categorias 1A, 1B, 1C, 1D e 1E (ou 2) é absolutamente desnecessária. Aparentemente, o único propósito de estabelecer esse tipo de classificação é modular o acesso aos recursos financeiros, criar uma espécie de carreira no CNPq (o que é descabido, pois não há vínculo funcional da massa de pesquisadores com o CNPq) ou montar uma estrutura hierárquica (o que também é descabido, porque não existe relação de obediência ou comando entre pesquisadores que atuam em projetos ou instituições). Não há, portanto, qualquer necessidade de que existam pesquisadores generais, capitães, cabos ou soldados no sistema nacional de geração de conhecimento, pois somos todos igualmente pesquisadores do país.
Creio que a comunidade científica e os comitês de assessoramento deveriam aproveitar essa janela de oportunidade para dar CTRL-ALT-DEL e responder a seguinte pergunta fundamental: é necessário classificar pesquisadores por quê e para quê ? Só depois deveriam se debruçar sobre critérios de avaliação e procedimentos algorítmicos de classificação. Quem sabe não nos vemos livres de muitos deles de uma vez ?
https://www.gov.br/cnpq/pt-br/assuntos/noticias/cnpq-em-acao/cnpq-e-mcti-anunciam-o-adicional-de-taxa-de-bancada-para-bolsistas-nivel-2-pq-e-dt
https://correiodoestado.com.br/cidades/pesquisadores-do-cnpq-terao-progressao-de-nivel-a-partir-de-agosto/191878/