
Saramago transforma a construção do convento de Mafra em metáfora sobre como grandes projetos do poder são sustentados por exploração sistemática de comunidades vulneráveis, mostrando a aliança entre Igreja, Estado e nobreza para usar trabalho popular em nome de ideais superiores que mascararam violência concreta. A obra desmonta retóricas do "bem maior" revelando seu custo humano real, questionando como sociedades avaliam trade-offs entre progresso e justiça social - uma crítica que antecipa dilemas contemporâneos sobre desenvolvimento econômico e direitos humanos, especialmente relevante para compreender como grandes obras de infraestrutura no Brasil operam com desapropriações, remoções e violências contra populações tradicionais, contando com marcos jurídicos que privilegiam interesses econômicos sobre direitos fundamentais das comunidades afetadas.