
"Vanity Fair" é um romance de William Makepeace Thackeray publicado entre 1847-1848, subtitulado "A Novel Without a Hero" (Um Romance Sem Herói), considerado uma das sátiras sociais mais brilhantes da literatura vitoriana. A obra retrata a sociedade inglesa do início do século XIX através das trajetórias contrastantes de Becky Sharp e Amelia Sedley, explorando temas de ambição, hipocrisia social e a busca por status numa sociedade obcecada por dinheiro e posição.
Becky Sharp representa a anti-heroína por excelência: inteligente, ambiciosa e moralmente flexível, ela encarna a determinação de ascender socialmente através de qualquer meio necessário. Órfã pobre de origem francesa, Becky utiliza charme, astúcia e sedução para navegar pela alta sociedade inglesa, desafiando convenções sociais através de pura força de vontade e talento para manipulação.
Amelia Sedley personifica a heroína convencional do romance vitoriano: doce, passiva e devotada, mas também ingênua e frequentemente irritante em sua submissão. Filha de comerciante em decadência, ela representa virtudes femininas tradicionais que Thackeray simultaneamente celebra e critica, mostrando como bondade sem inteligência pode ser tanto admirável quanto frustrante.
A amizade entre Becky e Amelia, iniciada no seminário de Miss Pinkerton, estabelece contraste fundamental que estrutura toda a narrativa. Suas personalidades opostas - uma ambiciosa e calculista, outra gentil e passiva - permitem a Thackeray explorar diferentes estratégias femininas de sobrevivência numa sociedade patriarcal competitiva.
George Osborne encarna o jovem aristocrata superficial e egoísta que representa tudo que há de pior na alta sociedade. Seu casamento com Amelia resulta mais de pressão social que amor genuíno, e sua morte na Batalha de Waterloo liberta-a de um marido que nunca a valorizou adequadamente, embora ela continue idealizando sua memória.
William Dobbin representa o verdadeiro herói moral da narrativa: leal, generoso e constante em seu amor não correspondido por Amelia. Sua devoção silenciosa e sacrifícios desinteressados contrastam com o egoísmo dos outros personagens masculinos, oferecendo modelo de virtude masculina genuína numa sociedade corrompida.
Rawdon Crawley personifica o oficial militar dissoluto que se casa com Becky por interesse mútuo. Sua transformação gradual de libertino irresponsável em pai dedicado ilustra possibilidades de redenção moral, enquanto sua eventual desilusão com Becky demonstra limites da manipulação feminina.
Miss Crawley representa a solteirona rica cujo favor todos cortejam. Sua posição como fonte de herança potencial torna-a centro de intrigas familiares, permitindo a Thackeray satirizar a hipocrisia daqueles que fingem afeto por interesse financeiro.
A Batalha de Waterloo serve como pano de fundo histórico que afeta dramaticamente as vidas dos personagens. Thackeray utiliza este evento épico não para glorificar a guerra, mas para mostrar como grandes eventos históricos impactam vidas individuais, frequentemente de maneiras arbitrárias e irônicas.
O título refere-se à alegoria de John Bunyan em "O Peregrino", onde Vanity Fair representa o mundo material obsecado com bens terrenos. Thackeray utiliza esta metáfora para criticar uma sociedade onde valores espirituais são sacrificados por status social e riqueza material.
A técnica narrativa emprega um narrador onisciente que frequentemente interrompe a história para comentários irônicos sobre personagens e sociedade. Esta voz autoral intrusa cria distanciamento crítico que impede identificação emocional excessiva com os personagens, mantendo foco na crítica social.
A sátira social abrange múltiplas classes sociais, desde aristocracia decadente até burguesia emergente. Thackeray expõe hipocrisia, ganância e superficialidade que permeiam todos os níveis da sociedade inglesa, sugerindo que a corrupção moral não se limita a classes específicas.