
"Crime e Castigo" (1866) - Fiódor DostoiévskiRaskólnikov, jovem estudante empobrecido em São Petersburgo, desenvolve uma teoria sobre indivíduos extraordinários que teriam o direito de transgredir leis morais para alcançar objetivos superiores. Movido por essa filosofia e pela necessidade financeira, assassina uma velha usurária e sua irmã, mas é imediatamente consumido pela culpa e pelo terror psicológico. A narrativa acompanha sua deterioração mental, os jogos de gato e rato com o investigador Porfíri e seu relacionamento com Sônia, prostituta que representa a possibilidade de redenção através do amor e da fé. Dostoiévski explora as profundezas da psicologia humana, mostrando como o crime intelectualizado se transforma em tormento existencial que só pode ser aliviado através da confissão e da aceitação do sofrimento regenerador.
"Mrs. Dalloway" (1925) - Virginia WoolfClarissa Dalloway prepara uma festa em sua casa londrina durante um único dia de junho de 1923, enquanto a narrativa mergulha em sua consciência e na de outras personagens através da técnica do fluxo de consciência. Woolf entrelaça as reflexões de Clarissa sobre sua vida, seus relacionamentos e suas escolhas com a história paralela de Septimus Warren Smith, veterano da Primeira Guerra Mundial que sofre de transtorno de estresse pós-traumático. A obra explora temas como a passagem do tempo, a natureza fragmentária da identidade moderna, os traumas da guerra e as convenções sociais que moldam a experiência individual. O suicídio de Septimus funciona como contraponto sombrio à aparente normalidade da vida burguesa representada pela festa de Clarissa.
"Pedro Páramo" (1955) - Juan RulfoJuan Preciado viaja a Comala em busca de seu pai, Pedro Páramo, cumprindo promessa feita à mãe moribunda. Ao chegar à cidade, descobre que tanto seu pai quanto todos os habitantes estão mortos, mas continuam a existir como vozes espectrais que narram fragmentos de suas histórias. Através dessas vozes, emerge o retrato de Pedro Páramo como cacique autoritário que dominou a região através da violência e da manipulação, transformando Comala em território de morte e desolação. Rulfo constrói uma narrativa fragmentária onde a fronteira entre vida e morte se dissolve, criando uma alegoria poética sobre a história violenta do México rural e sobre a impossibilidade de escape do passado traumático.
Conexão Temática Central:As três obras convergem na exploração da culpa como força psicológica e social que molda profundamente a experiência humana. Cada narrativa apresenta diferentes modalidades da culpa - individual e moral em Dostoiévski, social e existencial em Woolf, coletiva e histórica em Rulfo - revelando como o peso do passado, seja pessoal ou coletivo, continua a assombrar o presente e a determinar as possibilidades futuras. A redenção surge como possibilidade distante que exige confronto doloroso com a própria responsabilidade.