
Nesta obra monumental que coroa a série "Conflito dos Séculos", Ellen G. White apresenta uma interpretação abrangente da história humana através da lente do conflito cósmico entre Cristo e Satanás. Diferente de abordagens puramente históricas ou teológicas, o livro integra narrativa histórica meticulosa, interpretação profética e aplicação espiritual para revelar o fio condutor subjacente aos grandes movimentos religiosos desde a destruição de Jerusalém até a consumação final do plano divino. Esta perspectiva distintiva posiciona eventos aparentemente desconexos como manifestações visíveis de uma batalha invisível pelos princípios do governo divino e pela lealdade de seres inteligentes.
A perseguição dos primeiros cristãos sob o Império Romano é apresentada não meramente como fenômeno político, mas como estratégia satânica para corromper a igreja através de compromissos com paganismo quando tentativas de destruí-la pela força fracassaram. White traça meticulosamente como práticas e crenças pagãs gradualmente infiltraram-se no cristianismo durante os séculos III e IV, particularmente após a "conversão" de Constantino, estabelecendo fundamentos para a apostasia medieval que ela identifica como cumprimento das profecias apocalípticas sobre o "homem do pecado" e a "besta".
A ascensão do papado recebe análise histórica detalhada, com White documentando a gradual consolidação de poder eclesiástico, a supressão das Escrituras, e a introdução de doutrinas não-bíblicas como purgatório, indulgências, transubstanciação e invocação de santos. Particularmente significativa é sua interpretação da mudança do sábado para o domingo como "sinal" do poder eclesiástico que cumpre profecias de Daniel sobre o poder que "cuidaria em mudar os tempos e a lei". Esta seção estabeleceu interpretação historicista das profecias apocalípticas que se tornaria distintiva da escatologia adventista.
A Reforma Protestante é apresentada como intervenção divina para restaurar verdades bíblicas perdidas, com White oferecendo retratos detalhados de reformadores como Lutero, Zwinglio, Calvino e Knox. Significativamente, ela interpreta a Reforma não como evento concluído, mas como processo progressivo destinado a continuar até a restauração completa da verdade bíblica. Sua avaliação equilibrada reconhece tanto as conquistas monumentais dos reformadores quanto suas limitações em compreender plenamente verdades como o sábado, o estado dos mortos e o santuário celestial.
O Grande Despertar e os movimentos mileritas do século XIX são interpretados como cumprimentos específicos de profecias apocalípticas, particularmente a mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14. White oferece testemunho pessoal como participante do movimento adventista de 1844, descrevendo tanto a fervorosa expectativa quanto o "grande desapontamento" quando Cristo não retornou conforme esperado. A subsequente descoberta da doutrina do santuário celestial e do juízo investigativo é apresentada como chave hermenêutica que explicou o desapontamento e estabeleceu fundamento para o movimento adventista do sétimo dia.
Os capítulos finais projetam-se ao futuro, descrevendo sequência de eventos que White prevê ocorrerão antes da segunda vinda de Cristo. Particularmente controversa é sua previsão de que os Estados Unidos, através de união de protestantes apóstatas com catolicismo romano, estabelecerá "imagem da besta" que imporá observância dominical obrigatória, cumprindo Apocalipse 13. Esta crise final sobre a lei de Deus precipitará o "alto clamor" da terceira mensagem angélica, o derramamento da chuva serôdia, o fechamento da porta da graça, e finalmente o retorno glorioso de Cristo.