
Nazaré, 16 de maio de 2023
O meu avô Augusto teve uma taberna durante alguns anos na Rua Branco Martins e foi ali que passei tantas tardes a ver os homens (sim, os homens, porque naquele tempo as mulheres tinham tarefas imprescindíveis para assegurar) a jogar à malha. Era ainda muito pequeno e, por isso, ficava impressionado com a destreza e a técnica do meu avô e dos amigos e clientes, que se divertiam a atirar a malha e a tentar acertar no objeto. Após horas e horas de jogo, e muitos copos de vinho depois, a atenção deles divergia e, por fim, lá tinha a oportunidade de agarrar naquele objeto mágico e tentar também a minha sorte, até que eles se lembrassem de desfazer o jogo, obrigando-me a procurar outra ocupação. A nossa terra tem tradições que se perderam e que nos dizem muito, porque são reminiscências da nossa identidade pessoal e coletiva e que mereciam ser, pelo menos nalguns casos, recuperadas e evocadas. A capacidade que as crianças tinham de inventar jogos, de criar brincadeiras e gerar empatia praticamente sem recursos é algo que faz muita diferença. Hoje em dia, as crianças e, sobretudo, os jovens não conseguem viver sem um telemóvel. Mas sabem eles que ainda na década de 1970, e não foi assim há tanto tempo, só havia um canal de televisão e as emissões começavam a meio da tarde. Podemos ser felizes com pouco. Basta recorrer à imaginação e à criatividade e o nosso mundo tão pequeno, afinal, pode ser gigante.