
Nazaré, 4 de maio de 2023
Para quem, como eu, fui criado ali bem junto à Sub-Vila, olhar para a forma como aquela artéria tem vindo a perder importância ao longo dos últimos anos é uma dor de alma. A voragem dos dias leva-nos muitas coisas, entre as quais as referências. Aquela rua teve, em tempos, dois espaços míticos da nossa terra: a loja do Sr. Abílio, onde todos os jovens encomendavam os livros escolares e material e tinham no proprietário um fiel defensor dos seus interesses junto das editoras, e a loja do Sr. Carlos da Drogaria, outro comerciante de fibra e de um amor impossível de quantificar pela nossa terra. Felizmente ainda temos a minha querida Júlia das Flores ou o Joaquim Alfredo como representantes de uma geração de comerciantes que eram, na verdade, muito mais que meros comerciantes. Eles faziam parte da nossa vida. Da nossa família. Da nossa comunidade. Os tempos mudaram e, felizmente, outros negócios de relevo se instalaram naquela que é uma artéria essencial na Nazaré, mas aquela rua, que podia ser um verdadeiro centro comercial a céu aberto, merece mais. Nos últimos tempos, têm chovido críticas a propósito das obras na Sub-Vila. Como não conheço os contornos do processo, não vou opinar. Mas de duas coisas tenho a certeza: a primeira é que ninguém gosta de obras enquanto elas decorrem e, por isso, o desagrado é natural; a segunda, e bem mais importante, é que aquela rua precisa ser valorizada e, por isso, tudo o que ali se faça é uma boa notícia.