
"Eu quero e mereço um busto no Parque São Jorge. Por tudo que eu fiz."
A idade não mudou Vaguinho, não. Pelo contrário. Ele consegue ter o olhar mais claro sobre tudo que viveu. Sua importância aos clubes que defendeu, principalmente o Atlético Mineiro, e, lógico, o Corinthians.
"Sei da minha relevância nos gols, nas assistências e, também no espírito, na personalidade dos títulos que conquistei.'
A primeira grande história no futebol de Vaguinho demonstra a força de sua personalidade. Contratado pelo Corinthians, junto ao Atlético Mineiro, em 1971, encontrou o clube sob o domínio de Rivellino. Ele era o craque e tinha o apelido de Reizinho do Parque.
"Nunca baixei a minha cabeça para ninguém. Logo em um dos meus primeiros jogos eu dominei a bola, ele pediu, mas eu resolvi chutar e ela foi fora. Ele passou a gesticular, me jogar contra a torcida. Quando descemos para o vestiário, começamos a nos xingar. Não tive dúvida. Dei um tapa na cara do Rivellino, sim. A partir daquele disse, passou a me respeitar. Hoje somos amigos. Foi uma situação de jogo, mas importante para ganhar meu espaço no Corinthians."
Outra foi a final do Paulista de 1974, contra o Palmeiras. O Brasil todo esperava que o Corinthians acabasse o jejum de 20 anos sem títulos. "Eu sempre achei uma maneira de ganhar dinheiro além do futebol. E criei uma agência de jogadores. E vendi o Ronaldo, ponta direita do Atlético Mineiro, para o Palmeiras. E foi justo ele que marcou o gol do título contra nós...."
E ele viu o Rivellino ser massacrado pela mídia, pela torcia. Foi escolhido culpado pelo fracasso. "Ele chorou desesperado no vestiário. Sabia que o mundo cairia em cima dele. E caiu. Foi uma enorme covardia o que fizeram com ele. Eu o apoiei como pude. Tudo partiu do presidente Vicente Matheus. E o vendeu para o primeiro clube que apareceu, o Fluminense."
Uma história singela com Zé Maria. O lateral, sinônimo de masculinidade, sempre foi sério na concentração. Um certo dia, Vaguinho, resolveu dar um tapa na sua bunda diante dos companheiros de time. Zé Maria não teve dúvida. Pegou um revólver e o colocou na cabeça de Vaguinho e dizendo que ele repetisse o tapa, iria tomar um tiro. "O que eu pensei? Que ele fosse atirar. Amo o Zé Maria, ele é meu irmão. Foi uma brincadeira boba. Que eu nunca mais repeti, lógico..."
Até que chegou a inesquecível decisão do Paulista de 1977. Contra a Ponte Preta. A relação de Vaguinho e Brandão sempre foi instável. Embora artilheiro, jogador importantíssimo o treinador acreditou que depois da primeira vitória dos três jogos, na segunda partida, deveria atuar com Basílio. E deixar Vaguinho na reserva. "Eu fiquei louco. Como assim? Primeiro trancaram os portões da concentração e os auxiliares do Brandão passaram a me seguir. Eu queria fugir, ir embora. Quando vi que não iria começar o segundo jogo, que tinha tudo para ser o decisivo, apelei.
"Sabia que o Brandão acreditava em vida após a morte. E ele tinha perdido um filho. Falei que havia sonhado com o filho. E ele tinha me dito que o Corinthians perderia o título se eu não jogasse. O Brandão ficou com aquilo na cabeça, tenso."
Veio a segunda partida. Vaguinho seguia irritadíssimo e decidiu entrar com os 11 titulares em campo. O Corinthians teve 12 atletas agradecendo a torcida, o que era absurdo, na época. "Eu não iria sair na foto histórica? De jeito algum." Veio o jogo. E a Ponte venceu. 2 a 1. Vaguinho procurou Brandão. "Seu filho não tinha falado?"
Chegou a terceira partida. E lógico que Vaguinho foi titular. E o Corinthians conseguiu quebrar o tabu. Campeão Paulista de 1977, depois de 23 anos. "Fizemos história. Sempre com recursos limitados."