
O SOMBRIO E O LUMINOSO EM LILITH: UMA ANÁLISE DA FACE PSICORRELIGIOSA DO ETERNO DIVINO FEMININO EMCAIM, ROMANCE DE JOSÉ SARAMAGOMonografia apresentada ao curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal da Paraíba, (UFPB -Campus I), como requisito para a obtenção do título de Licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa.Orientador: Profº Dr. Hermano de França RodriguesUm dos indeléveis legados deixados pela Psicologia foi o de não poder, diante dos tempos primitivos que a inundava, explicar os enigmas próprios do ser feminino. Mesmo não obtendo respostas satisfatórias e profícuas sobre “o poder sombrio feminino”, especificamente no tocante à dinâmica do inconsciente coletivo, a teoria da psicanálise freudiana e da psicologia analítica jungiana, deixou reflexões, no mínimo, curiosas e sedutoras, capazes de fomentar descobertas mais consistentes sobre o discurso de que a mulher seria o “não todo”. Nessa linha de discussão, por meio da força alegórica que recobre a personagem feminina e demoníaca de Lilith, presente na narrativa de José Saramago, Caim (2009), debruçar-nos-emos sobre as tessituras subjetivas que escancaram semblantes, símbolos e arquétipos, a partir dos quais a feminilidade se esgarça, contorce-se e inscreve-se. Em meio à misoginia que ainda teima existir pela cultura machista, sentimos, ao ler a história em tela alegórica da Literatura, o caráter aterrador das memórias que escancaram as particularidades marcantes de um protagonismo em gestação, quase coadjuvante do feminino, que, acoplado à personagem do fratricida Caim, passa a delatar as lutas e infortúnios que marcam a subjetividade da mulher em terras dantes pertencentes ao culto da Grande Deusa e, por conseguinte, acabam por serem devastadas pelo culto ao Deus masculino construído pelo patriarcado. À vista disso, deixando-nos guiar pelos postulados psicanalíticos, desenvolvidos por Freud (1932), Lacan (1973-74), Jung (2000) e Hurwitz (2013), construiremos possíveis linhas de leitura que darão contornos mais nítidos às ações da personagem evidenciada, de modo a concatenar os índices psíquicos às coordenadas sociais, característicos dos espaços psicológicos complementares do corpo e da alma.