Num tempo em que as histórias eram perpetuadas porque tinham suas origens fomentadas pela cultura oral, os contos de fadas como são retratados atualmente, não eram nada dóceis e nem com um final feliz. Neste conto, Andersen nos leva para os tempos catárticos que caracteriza a tragédia grega em detrimento a inversão eufemista das versões produzidas pela Disney. Atentando para o contexto do recorte sincrônico feito neste episódio ao texto-conto do autor, mas, sem descartar o percurso diacrônico que a obra nos faz intuir sobre a nossa época literária contemporânea, este episódio pretende dar conta da perspectiva posta em análise, investigando quais seriam as possíveis motivações que levaram a personagem do conto, Karen, a amputar suas próprias pernas em intensa angústia e dor, num movimento redentor e moralizante, acreditando em sua psique de menina, estar pagando por seus pecados pela prática transgressiva da inveja e vaidade aos olhos da lei cristã. Para tanto, além do mote central no conto de Andersen(1805-1875), recorremos aos estudos de Bataille (2013) sobre interdito e transgressão, bem como o texto basilar do Sade (1989-2006), que nos levará a refletir o curioso fenômeno cultural que, leva o leitor a ter interesse nessas narrativas até hoje, evocando a teoria de Lacan(1958-1959; 1974-1975). Adentrando no conceito de gozo pautado pela leitura do conto e, na intersecção que há entre o real e imaginário, que leva às subversões da moralidade para a ascensão ao gozo.
Seria o sadismo o motivo dessa história ainda causar espanto e curiosidade na sociedade cada vez mais reacionária? Ou seria uma forma de gozar pelo outro, infringindo-o punição que a cena de uma amputação de membros pode satisfazer a pulsão do leitor numa narrativa, a priori, tão infantiloide?
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