O episódio de hoje fala sobre a relação entre os paulistas e os bandeirantes, explorando suas origens e impactos históricos. O livro que li alguns capítulos se chama "Uma história do Brasil – Trajetórias e sentidos: formação do Brasil no período colonial", de Henrique Cavalcanti de Albuquerque, do qual gostaria de compartilhar alguns fatos interessantes.

Um dos grandes escritores brasileiros do século passado, Mário de Andrade, ficava fascinado com o fato de como a cidade de São Paulo, tão isolada do mar, em tão pouco tempo pôde ter se transformado na cidade mais rica do país. Ele começou a criar uma narrativa heróica, colocando os bandeirantes como esses heróis.

Hoje em dia, sabemos que, na verdade, São Paulo não era uma cidade isolada e de difícil acesso, pois, se fosse assim, os bandeirantes não teriam conseguido sair de São Paulo desbravando o interior do Brasil. Sabemos que o acesso difícil era do litoral a São Paulo, pois havia a Serra do Mar, uma floresta totalmente fechada que ninguém se arriscava a atravessar. Mas, pelo interior, São Paulo era bem aberta. O rio Tietê, um dos rios mais importantes do estado de São Paulo, possuía saídas para todo o interior do país, inclusive para fora dele. Era mais fácil chegar de modo fluvial a Buenos Aires, partindo de São Paulo, navegando por esse rio, do que ir ao Rio de Janeiro saindo de São Paulo. O Tietê possuía excelentes afluentes que possibilitavam a conexão com a Bacia Platina, permitindo alcançar, por rotas terrestres, outra bacia: a Amazônica. Em outras palavras, quase todo o interior da América do Sul, dos Andes à Serra do Mar, passando pelo Pantanal, Cerrado, sul da Amazônia e Pampas, podia ser conectado por vias fluviais. São Paulo era um porto interno.

Somente quem sabia desse porto interno eram os indígenas. Os bandeirantes eram paulistas miscigenados, metade portugueses e metade indígenas, e, assim, herdaram os saberes indígenas junto com a aprendizagem portuguesa. Para continuar acesse: