
Os discos de vinil de macumba revelam uma camada complexa da vida cultural brasileira, em que o som dos terreiros, dos pontos cantados e das giras se transformava em mercadoria, objeto de curiosidade e também de devoção. Essas gravações, ao mesmo tempo em que documentavam práticas religiosas afro-brasileiras, circulavam num mercado que oscilava entre o fascínio e o preconceito, a exotização e o respeito. Ouvir e colecionar esses discos hoje é revisitar essa ambiguidade histórica – em que o país consumia e admirava aquilo que, socialmente, insistia em marginalizar – e reconhecer neles um arquivo sonoro fundamental da espiritualidade e da criatividade popular brasileira.