
No décimo primeiro Artifex retomamos o formato original e dedicamo-nos ao estudo em pormenor de uma das facetas mais celebradas de Leonardo da Vinci – a sua obra tratadística. Não obstante o carácter revolucionário daquele que será um dos maiores empreendimentos da sua vida - a construção de um imenso projecto didáctico e editorial - este será tardiamente publicado na versão de tratado de pintura em meados do século XVII, e sem a inclusão dos seus estudos anatómicos. De permeio, vicissitudes várias escreveram o destino de uma obra, cuja edição precoce poderia, quem sabe, ter alterado o percurso teórico da história da arte. Tanto o moralismo imposto pela contra-reforma, como o ambiente anticientificista gerado em torno da renovação teórica promovida pelo maneirismo, parecem ter influenciado negativamente a viabilidade editorial do Trattato. O carácter herético e a filiação incorrigível por uma concepção científica da arte, farão de Leonardo uma verdadeira persona non grata, tanto do mundo editorial, como dos principais círculos de amicizia das repúblicas italianas.